Edda Ribeiro
A última sexta-feira (10) ficou marcada com a quebra do Silicon Valley Bank,
maior banco dos EUA a desabar desde a crise de 2008. Fundado em 1983, o
banco tinha em posse o valor de US$175 bilhões, e focava nos
investimentos em startups de tecnologia. Entre os efeitos do colapso
estão o desespero de investidores, ações de outros bancos em queda e
movimentos rápidos do Federal
Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que se reúne nesta
segunda-feira (13) a portas fechadas para debater soluções.
O colapso do Banco do Vale do Silício
começou na última quarta-feira (8), quando a companhia anunciou perda de
quase US$2 bilhões ao tentar levantar capital para lidar com a fuga de
depósitos. O banco se notabilizou pelo foco em startups do Vale do
Silício, que enfrentam dificuldades pelo encarecimento do crédito e
avanço dos juros.
O que é o SBV e como ele quebrou
O SVB é um banco americano de médio porte mais focado – para não
dizer concentrado – no mercado de empréstimo para startups, conforme
explica Rafael Zuanazzi, sócio e advogado da Russell Bedford Brasil. O
SVB era predominantemente exposto às startups e as startups estão
sofrendo pelo alta dos juros e estão com dificuldades de conseguir
crédito. Devido a isso, precisaram sacar valores depositados na
instituição.
“Como todo o bancos, o SVB não possui dinheiro suficiente caso os
clientes decidam sacar valores em massa. Para arcar com o saque, eles
precisaram vender os títulos que possuíam e, como precisaram vender,
amargaram prejuízo. Com esse movimento, os clientes se assustaram e
acabaram por sacar ainda mais recursos, o que fez o banco vender mais
títulos”, explica Zuanazzi.
A queda [também] está associada a
operações mal conduzidas pelo banco, explica Mauro Rochlin, coordenador
do MBA de Gestão Estratégica e Econômica da Fundação Getúlio Vargas. “O
banco realizou empréstimos em condições arriscadas, e isso se desdobrou
em um número grande de inadimplentes, tornando-o insolvente. É o que
acontece com um banco que não consegue honrar seus compromissos”, diz.
Relação com juros altos
Vale lembrar que as taxas altas
atrapalharam as operações do banco, na medida em que tornaram mais caras
as captações que o banco fazia para honrar os empréstimos. Hoje, a taxa
básica de juros dos EUA aparece entre 4,50% e 4,75%.
“A alta da taxa de juros torna a
operação bancária mais cara. Os bancos captam dinheiro de um lado e
emprestam de outro; muitos dos empréstimos que fizeram aconteceram ainda
com taxas mais baixas. Nos últimos meses, as taxas nos EUA aumentaram,
tornando as operações mais caras “, acrescenta o coordenador da FGV.
Para Alexandre Espírito Santo, professor de economia do Ibmec RJ, o resultado é efeito de investimentos anteriores, como o boom de serviços digitais nos últimos 3 anos.
“Com a Covid-19, o governo americano e
o FED injetaram trilhões de dólares na economia, para reduzir os
efeitos recessivos. O mundo todo ficou dependente de serviços remotos,
beneficiando setores ligados ao digital. Fazia sentido que houvesse uma
grande quantidade de recursos sendo direcionados para esses setores e
muitas empresas fizeram investimentos que não apresentavam taxas de
retornos adequadas. Com o passar do tempo, e os resultados desses
investimentos mostrando-se frustrantes, investidores e acionistas
começaram a ficar ressabiados”, explica o professor.
EUA prometem garantia aos clientes
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC)
assumiu o controle da empresa controlada pela SVB Financial Group,
criando o Banco Nacional de Seguro de Depósito de Santa Clara (DINB),
que permite a depositantes acesso a seus depósitos segurados e tempo
para abrir contas em outras instituições seguradas.
“As instituições reguladoras e
autoridades americanas dizem que irão honrar os valores depositados no
banco. Isso atenuaria as perdas, mas é preciso esperar um tempo”,
defende o professor do Ibmec RJ.
“O medo é que clientes (depositantes)
que têm dinheiro em bancos pequenos em valores acima de US$250 mil –
teto que é garantido pelo fundo de crédito americano – não tenham
garantias. Mas o governo americano já afirmou que terá essa garantia, o
que é uma forma de evitar uma corrida bancária contra os pequenos
bancos”, explica Rochlin.
Risco de recessão volta para a pauta
Desde quinta-feira (9), a Bolsa
americana caiu e o setor financeiro lidera as perdas. A maior aversão ao
risco por parte de compradores [de ações] fez com que uma baixa
acontecesse. Efeitos como a queda de 70% das ações do First Republic Bank, outro banco americano, reforçam a ideia do colapso financeiro.
“A princípio, devem ser afetadas as ações de bancos médios e pequenos
(bancos semelhantes ao SVB em porte e função), bem como outas pessoas
jurídicas que tinham algum grau de exposição ao banco, ou seja, outro
banco que tinha alguma relação direta ao SVB”, acredita o sócio da
Russell Bedford Brasil. Ele alerta que também podem ser afetadas
empresas de tecnologia que tinham relação com o SVB, sendo empresas que
podem ter problemas até para pegar os funcionários.
“[Essa quebra] é um indicativo que precisa ser analisado com cuidado
no contexto do risco da recessão, afinal foi a dificuldade das startups
que levou ao saque prematuro de recursos”, expõe o advogado.
Há riscos para o Brasil?
O Nubank se apressou em informar neste sábado (11) não
ter “qualquer exposição” ao Silicon Valley Bank (SVB), maior
instituição financeira dos Estados Unidos a quebrar desde a crise
financeira de 2008. “A Nu Holdings Ltd. comunica aos seus acionistas e
ao mercado que nem a Companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm
qualquer exposição ao Silicon Valley Bank”, declarou a empresa em
comunicado divulgado no sábado.
Diretamente o impacto para o Brasil é baixo – considerando como um
todo. O banco era procurado por algumas startups brasileiras, que podem
ter problema de caixa por perda de valores. “Como não sabemos ainda
quais são, ficamos em compasso de espera neste quesito”, afirma
Zuanazzi.
Segundo Rochlin, o Nubank e outros
bancos brasileiros são afetados, pois se aumenta a aversão ao risco por
parte de investidores e compradores de ações e outros produtos
bancários. “Além disso, a quebra faz com que se busque ativos reais,
fugindo de bancos, o que pode fazer com que outros bancos com modelos
parecidos – no caso dos bancos digitais – sejam afetados por esse medo
de risco”, prevê o professor da FGV.