quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Como um sulista tornou-se o Barão do Guaraná na floresta amazônica

 


Sílvio Proença desbravou o interior do Amazonas e empreendeu ao beneficiar a fruta típica da região 
 
 
"Nós nos preocupamos com o social e com a produção orgânica", afirma Sílvio Proença, um gaúcho que deixou o Sul para viver na floresta amazônica

 

A Guaraná do Brasil Agro completou duas décadas de atividades no Amazonas. Com sede em Maués, interior do estado, e produtora do Barão do Guaraná, um dos mais conhecidos produtos em pó, ela se transformou em referência de beneficiamento do guaraná com características sustentáveis e de alto valor agregado. Centenas de produtores rurais orgânicos fornecem matéria-prima, que é cuidadosamente beneficiada e distribuída no mercado local e nacional. "Nós nos preocupamos com o social e com a produção orgânica. Nesses 20 anos, construímos uma história de integração com os produtores rurais e com nossos clientes", afirma Sílvio Proença, também conhecido carinhosamente como "Barão do Guaraná'', um gaúcho de Esteio, que deixou o Sul para viver na floresta amazônica.

Proença atingiu uma posição de credibilidade regional que fez de sua carreira como microempresário do agronegócio de floresta um exemplo de persistência, sustentabilidade e responsabilidade. Ganhou medalha do Mérito Industrial do Ano como Microindustrial de 2009 pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). O Sebrae Amazonas deu todo o suporte abrindo caminho para cursos e consultorias sobre gestão administrativa e financeira para o empresário. "Eles conseguiram ver logo no começo que o meu negócio teria sucesso pelo que representa de sustentabilidade ambiental e fortalecimento da economia do interior, com algo genuinamente amazonense: o guaraná", recorda Proença. A iniciativa foi precursora de beneficiamento do guaraná em uma escala reduzida, mas com sustentabilidade e qualidade final dos seus produtos oriundos da capital mundial do guaraná: Maués.

A Guaraná do Brasil Agro beneficia os grãos do guaraná existentes em Maués. Os fornecedores são pequenos produtores locais da agricultura familiar. O guaraná é conhecido como um tônico cerebral e tem propriedades naturais, que auxiliam a manter a memória e a constante ativação dos neurônios. É potente anti-inflamatório, modelador sanguíneo e auxilia na prevenção de acidentes vasculares cerebrais e infarto. É consumido pelos indígenas Sateré Mawes há mais de dois mil anos. Maués é uma das cidades com taxas de longevidade mais elevadas do Brasil. No município a média de vida local é de 82 anos. Dentre tantas outras experiências, o guaraná possibilitou realizações de sonhos ao gaúcho e, após mais de meio século vivido, ele diz que o sentimento é de gratidão. "Esse sentimento, após os 60, parece que vem com mais nitidez. A gente sente a pulsação maior. Trabalho com um produto do bem, que energiza as pessoas, que dá ânimo. Comigo não poderia ser diferente", emociona-se.

"A cachaça está entre as melhores do mundo e nós tentamos fazer uma coisa diferente. Não inventamos a roda, simplesmente a saborizamos com sabores regionais aqui da Amazônia, como açaí e o camu-camu. Eu trabalho principalmente com o licor do guaraná, e os clientes começaram a pedir para fazer a cachaça com guaraná, que fizemos e, posteriormente, criamos novos sabores. Estamos sempre testando", conta Proença. Segundo ele, o principal problema enfrentado na produção da cachaça saborizada é a logística para o escoamento do produto, feito em Maués. Além disso, trabalhando exclusivamente com garrafas de vidro, o empresário também busca fazer reutilização destes vasilhames, trazendo também uma noção de sustentabilidade. "Fazemos questão de trabalhar com garrafas de vidro, pois o sabor em si é outro. Além disso, mesmo tendo a facilidade de produzir a cachaça aqui, o escoamento dessa produção é difícil, já que o meio de transporte aqui é fluvial, sendo tudo mais demorado e caro. Mas a questão talvez não seja o produto em si, mas a produção dessa iguaria, pela qual as pessoas pagam um valor alto", detalha o Barão do Guaraná.

Arquiteto por formação, Proença, de 59 anos, virou filho de Maués e personalidade do município após popularizar a batida do guaraná na cidade. O guaraná é Patrimônio Cultural do Amazonas. Há 20 anos em terras maueenses, o Barão do Guaraná, como é conhecido, inventou a bebida "Turbinado", que energiza os turistas e moradores com muita virilidade e disposição. O "pub" de sua propriedade virou um atrativo turístico para quem quer se energizar com o sabor da natureza. "Quando vim pela primeira vez para cá, me encantei com a ilha da Vera Cruz. Que paraíso, que lugar lindo. Inclusive morei durante oito meses lá. E, durante esse período, vi que os moradores tinham o costume de consumir o guaraná, alcançando mais disposição. Vi idosos acima dos 90 anos trabalhando ainda. E tive a ideia de aprimorar o guaraná batido em uma bebida rica de energia", explica o empresário.

Casado com uma maueense, Proença se especializou no fruto energético e percorreu o mundo divulgando a bebida turbinada. Do guaraná nasceram os derivados do fruto, como o chá, o licor, a limonada à base de guaraná, e tantas outras iguarias feitas por ele. "Essa terra é mágica, é linda por natureza. Há 20 anos, eu via o caboclo da região consumindo o guaraná, mas o turista não tinha isso à disposição. Nós compartilhamos o guaraná para todo mundo. Hoje, o Turbinado, que é patenteado por mim, popularizou-se na cidade. A gente vê as pessoas felizes na cidade, os interiores são todos parecidos, mas aqui é diferente. E esse diferencial, essa energia, vem do guaraná", orgulha-se. "Estou sempre aprendendo e conversando com o guaranacultor, com o homem do campo, com o caboclo. Inclusive eu não sou barão, né? A gente está aqui lutando, aprendendo. É uma licença poética, porque não sou um barão, mas é uma maneira de homenagear todo produtor em si. Foi graças a isso, a esse tempo e ao apoio do Sebrae, que a gente ganhou alguns prêmios como empreendedor", relata o Barão do Guaraná.

 

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Airbus negocia compra de unidade de cibersegurança da Atos por até 1,8 bilhão de euros

 


Airbus negocia compra de unidade de cibersegurança da Atos por até 1,8 bilhão de euros

Oferta indicativa da Airbus sugere que o valor do negócio poderá ficar entre 1,5 bilhão e 1,8 bilhão de euros, incluindo dívidas, segundo a Atos. (Crédito: Divulgação)

 

A companhia francesa de tecnologia da informação Atos disse nesta quarta-feira (3) que está em negociações exclusivas com a Airbus para vender sua unidade de cibersegurança, a BDS.

A oferta indicativa sugere que o valor do negócio poderá ficar entre 1,5 bilhão e 1,8 bilhão de euros, incluindo dívidas, segundo comunicado da Atos.

Na Bolsa de Paris, por volta das 7h20 (de Brasília), a ação da Atos caía 2,8%, depois de chegar a saltar até 12% mais cedo no pregão francês, enquanto a da Airbus recuava 1,6%.

IPCA fecha 2023 em 4,62% e fica abaixo do teto da meta pela 1ª vez desde 2020

 

Em dezembro, inflação do país foi de 0,56%, sexto mês seguido em alta; meta para este ano era de inflação de 3,25%, com margem de tolerância que poderia ir de 1,5% até 4,75% 

 

Transportes tiveram o maior impacto na inflação do ano em 2023
Transportes tiveram o maior impacto na inflação do ano em 2023 Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ligia Tuonda CNN

O número é menor que os 5,79% registrados no ano anterior, e ficou abaixo do teto da meta pela primeira vez desde 2020.

A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), colegiado ligado ao Ministério da Fazenda, para este ano era de uma inflação de 3,25%, mas com uma margem de tolerância que poderia ir de 1,5% até 4,75%.

Em dezembro, a inflação do país foi de 0,56%, sexto mês seguido em alta.

Tanto o número do ano quanto o do mês vieram acima do esperado pelo mercado, de 0,48% e 4,56%, respectivamente, segundo pesquisa da Reuters.

Transportes foram maior impacto do ano

O grupo de transportes teve o maior impacto anual na inflação do ano, quando a gasolina acumulou alta de 12,09%.

Com o maior peso entre os subitens do IPCA, a gasolina exerceu no ano a maior contribuição individual (0,56 p.p.) para o resultado geral. “Vale lembrar que a gasolina teve o impacto da reoneração dos tributos federais e das alterações nas cobranças do ICMS”, diz o gerente do IPCA, André Almeida.

Dentro do grupo transportes, o IBGE destaca ainda as altas de emplacamento e licença (21,22%) e das passagens aéreas (47,24%).

Do lado das quedas, o destaque fica para automóveis novos (2,37%), cujos preços desaceleraram em relação a 2022 (8,19%), enquanto os dos usados recuaram 4,80%.

“Como os preços dos automóveis subiram em 2022, o IPVA refletiu essa alta no ano seguinte”, diz André.

O segundo maior peso do índice foi o grupo de Alimentação e bebidas (1,03%), que tem o maior peso no IPCA.

Esse grupo ajudou a segurar o índice de 2023, destaca André. “Houve quatro quedas seguidas no meio de ano, o que contribuiu para esse resultado. A queda na alimentação no domicílio reflete as safras boas e a redução nos preços das principais commodities no mercado internacional, como a soja e o milho”, diz.

No grupo, o destaque fica para os preços da alimentação no domicílio (-0,52%), com a deflação do óleo de soja (-28,00%) do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%).

Outros grupos de destaque no acumulado do ano foram Saúde e cuidados pessoais (6,58%) e Habitação (5,06%).

Clima impactou preço de alimentos em dezembro

Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em dezembro. A maior variação (1,11%) e o maior impacto (0,23 p.p.) vieram do grupo Alimentação e bebidas, cujos preços sofreram com o clima.

“O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas, que são mais sensíveis a essas variações climáticas”, explica André Almeida.

O especialista destaca a quinta alta consecutiva no preço do arroz, que sofreu com o clima desfavorável, e o feijão, pressionado tanto pelo clima adverso quanto pelo aumento do custo de fertilizantes.

O grupo transportes foi o segundo maior impacto de dezembro, com destaque para passagens aéreas (8,87%), que continuaram subindo pelo quarto mês seguido.

Por outro lado, todos os combustíveis pesquisados (-0,50%) tiveram deflação: óleo diesel (-1,96%), etanol (-1,24%), gasolina (-0,34%) e gás veicular (-0,21%).

“Pelo fato de a gasolina ser o subitem de maior peso entre os 377 pesquisados pelo IPCA, com essa queda, ela segurou o resultado no índice do mês”, ressalta André. Em dezembro, os preços desse combustível caíram pelo terceiro mês consecutivo.

 

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/ipca-fecha-2023-em-462-e-fica-abaixo-do-teto-da-meta-pela-1a-vez-desde-2020/

União Europeia investiga irregularidades na parceria entre Microsoft e OpenAI

 

Após crise interna na empresa criadora do ChatGPT, Microsoft ganhou assento no conselho 

 

CEO da Microsoft diz que empresa "adora" missão e independência da OpenAI
CEO da Microsoft diz que empresa "adora" missão e independência da OpenAI 25/01/2023 - REUTERS/Gonzalo Fuentes

Brian Fungda CNN

Washington

A União Europeia está investigando a parceria da Microsoft com a OpenAI e se ela pode justificar uma investigação formal de fusão, disseram autoridades da UE na terça-feira (9).

O anúncio reforça a crescente pressão contra a OpenAI, uma das empresas mais influentes na indústria de inteligência artificial, depois que uma crise de liderança de alto nível em meados de 2023 resultou na demissão abrupta e na reintegração do CEO da empresa, Sam Altman.

Com a crise, a Microsoft, que já era uma das principais investidoras da empresa, conseguiu um assento sem direito a voto no conselho da OpenAI.

A medida da UE segue um anúncio semelhante feito por autoridades antitrust do Reino Unido em dezembro e uma reportagem da Bloomberg afirmando que a Comissão Federal de Comércio dos EUA estava conduzindo investigações sobre a empresa.

A Microsoft disse anteriormente que não possui nenhuma parte da OpenAI e que ganhar um assento no conselho da empresa não é o mesmo que uma fusão.

A OpenAI, por sua vez, disse que o assento no conselho não dá à Microsoft controle sobre as operações da startup.

A Comissão Europeia, o braço executivo da UE, disse em comunicado na terça-feira que “está verificando se o investimento da Microsoft na OpenAI pode ser revisto sob o Regulamento de Fusões da UE”.

O inquérito faz parte de um esforço mais amplo para avaliar a concorrência no campo da IA, ao passo que as autoridades estão revendo contratos comerciais que outras startups de IA têm com grandes empresas de tecnologia, observou a comissão.

Muitos destes acordos tendem a envolver compromissos de utilização de apenas um ou dois fornecedores de nuvem, ou investimentos de grandes empresas tecnológicas sob a forma de créditos gratuitos de computação em nuvem que, segundo os críticos, correm o risco de “reter” os programadores de IA como clientes.

A Comissão Europeia acrescentou que busca a opinião do público sobre a concorrência na IA, bem como na indústria da realidade virtual, e pediu a “vários grandes players digitais” informações relacionadas com o estudo.

“Os mundos virtuais e a IA generativa estão se desenvolvendo rapidamente”, disse Margrethe Vestager, uma importante autoridade antitrust da UE.

“É fundamental que estes novos mercados permaneçam competitivos e que nada impeça o crescimento das empresas e o fornecimento dos melhores e mais inovadores produtos aos consumidores.”

O investimento da Microsoft na OpenAI inclui créditos em nuvem e também passou a integrar a tecnologia da OpenAI nos serviços da Microsoft.

“Não existe OpenAI sem que a Microsoft se incline profundamente para fazer parceria com esta empresa em sua missão”, disse o CEO da Microsoft, Satya Nadella, à colaboradora da CNN, Kara Swisher, no podcast de Swisher em novembro.

Nadella afirma que a Microsoft “adora a missão” da OpenAI. “Nós até amamos sua independência. Não temos problemas com isso”, concluiu o CEO.

O anúncio da UE ocorre no momento em que Vestager deverá se reunir com vários CEOs de tecnologia nos Estados Unidos esta semana para discutir questões de concorrência.

Matéria originalmente publicada em inglês na CNN Internacional

 

 https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/uniao-europeia-investiga-irregularidades-na-parceria-entre-microsoft-e-openai/

Volume transportado pela Rumo em dezembro sobe 15,3% na comparação anual

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A Rumo transportou 6,20 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) em dezembro do ano passado, alta de 15,3% na comparação anual e queda de 5,9% sobre os volumes transportados em novembro. Em 2023, a Rumo transportou 77,26 bilhões de TKU, um crescimento de 3,1% na comparação com o ano anterior. O resultado ficou dentro da meta de crescimento prevista pela empresa de transportar entre 76 bilhões e 78 bilhões de TKU no ano passado.

Produtos agrícolas

Os produtos agrícolas responderam por 5,11 bilhões de TKU no mês passado, uma alta de 17,1% na comparação com dezembro de 2022 e queda de 7,7% comparado com novembro.

Os maiores volumes transportados foram de milho (2,97 bilhões de TKU), farelo de soja (941 milhões de TKU) e fertilizantes (542 milhões de TKU). No ano, a Rumo transportou 64,37 bilhões de TKU, uma alta de 4,3% na comparação com 2022.

Produtos industriais

Já os produtos industriais somaram 741 milhões de TKU em dezembro de 2023, queda de 4,7%, na comparação com igual mês de 2022, e alta de 2,5%, na comparação com novembro. Os maiores volumes transportados foram combustíveis (471 milhões de TKU) e madeira, papel e celulose (220 milhões de TKU).

Em 2023, foram transportados 9,07 bilhões em produtos industriais. O resultado representa uma queda de 4,4%, ante 2022.

Em contêineres, a Rumo transportou 353 milhões de TKU em dezembro de 2023, uma alta de 14,6%, na comparação com mesmo mês de 2022, e subiu 7,0%, na comparação com novembro. No ano, a empresa transportou 3,82 bilhões de TKU em contêineres, alta de 2,0% ante 2022.

Casino diz que regulador dispensou consórcio da obrigação de fazer oferta por ações

 Groupe Casino logo Stock Photo - Alamy


O regulador financeiro da França (AMF, pela sigla em francês) dispensou um consórcio formado por EP Equity Investment, Fimalac e Attestor da obrigação de fazer uma oferta pública por ações do Casino Guichard-Perrachon, segundo comunicado divulgado pelo grupo varejista francês na quarta-feira (10).

No começo da semana, o Casino já havia informado que a Comissão Europeia – braço executivo da União Europeia (UE) – autorizou o consórcio a assumir o controle do varejista, como parte de sua reestruturação financeira.

O Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no Brasil, reiterou no comunicado mais recente que a conclusão da reestruturação dependerá da aprovação do Ministério de Economia da França e de outras questões regulatórias.

Como está a Americanas (AMER3) após 1 ano do escândalo dos R$ 40 bilhões

 


Em dezembro de 2023, a companhia conseguiu maioria para aprovar sua recuperação judicial.

 

Como está a Americanas (AMER3) 1 ano após o escândalo dos R$ 40 bilhões?

Americanas entrou com recuperação judicial em janeiro de 2023 após escândalo de rombo e fraude (Crédito: Divulgação / Americanas)

Com ações a R$ 0,84, a Americanas S.A. (AMER3) amarga um ano desde o anúncio do escândalo envolvendo inconsistência contábil de R$ 20 bilhões – corrigidos depois para um rombo que, com a dívida bruta da companhia, somavam R$ 40 bilhões. 

Mais de 5,5 mil demissões até o final de 2023 e 95 lojas fechadas fazem parte do espólio do escândalo. A holding tenta se recuperar no mercado financeiro, em paralelo com a aprovação do plano de recuperação judicial fechando 2023. Para analistas, o PRJ aprovado deu fôlego, mas a imagem da Americanas está cada vez mais distante de um retorno ao clube das maiores varejistas do país.

Resumo

  • Americanas entrou com recuperação judicial em janeiro de 2023 após escândalo de rombo e fraude;
  • Em junho, um relatório emitido pela própria companhia apontou bilhões de reais em fraudes e lançamentos indevidos;
  • Em novembro, a empresa demitiu, no período de uma semana, mais de 5,5 mil colaboradores.
  • A empresa admitiu que ainda possuía R$ 21,1 bilhões em dívidas, sem contar o endividamento bancário.
  • Até setembro de 2023, a varejista fechou 95 lojas.

“Neste momento a [possibilidade de] falência está afastada, principalmente com a aprovação do plano de recuperação judicial que foi realizado agora em dezembro. Pela própria natureza da recuperação judicial, será necessário acompanharmos as ideias, processos e procedimentos que nela foram estabelecidos e postos em prática”, explica Rafael Zuanazzi, advogado empresarial e sócio da Russell Bedford Brasil.

No plano de recuperação judicial proposto, os bancos passarão a ser acionistas do negócio, pela conversão de R$ 12 bilhões de dívidas em ações. “Há uma grande complexidade sobre a forma do aceite da recuperação, mas aparentemente a relação está normalizada, dentro de um novo contexto”, reforça Zuanazzi.

Para Daniel Nogueira, sales de Renda Variável InvestSmart XP, existe uma dificuldade grande de posição por parte das casas de research para o papel, além da complicada projeção dos números e aplicação dos modelos matemáticos. “Temos uma empresa em que os reais números dos últimos anos vieram à tona há pouco tempo, uma imagem fragilizada frente ao público por conta da fraude e um cenário ainda difícil de juros altos, mesmo que em tendência de queda”, afirma.

Anúncio do rombo e renúncia de CEO: relembre o caso

A fraude veio à tona em 11 de janeiro de 2023, por meio de fato relevante, anunciando a inconsistência contábil de R$ 20 bilhões e a saída de Sergio Rial, CEO da empresa, que deixou o cargo após 10 dias na holding, seguido de André Covre (diretor financeiro e de relações com investidores), que também “abandonou o barco”.

No dia 13, a agência Fitch de classificação de risco rebaixou o rating de crédito da Americanas “AA+(bra)” para “CC(bra)”; a sigla representava o risco alto de calote no mercado.

O BTG Pactual, então na lista dos principais credores, apresentou uma liminar para derrubar a Tutela de Urgência, garantida pela Americanas no dia anterior. Tratava-se de um pedido de proteção judicial para ‘segurar’ o prazo de pagamento de dívidas, já reclamadas por acionistas, por 30 dias. A medida também garantia que somente após esse prazo seja apresentado um pedido de recuperação judicial.

Logo em seguida, a Justiça do Rio negou o pedido do BTG, que afirmava, em petição, se referindo a Lemann, Sicupira e Telles:

“Os três homens mais ricos do Brasil (com patrimônio avaliado em R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial “do bem”, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio.

No dia 19 de janeiro de 2023, a Americanas ingressou na justiça buscando proteção via recuperação judicial, relatando dívida de R$ 40 bilhões. A empresa afirmava ter R$ 100 milhões em caixa; o 3G Capital anunciava, na mesma época, uma possível ajuda de R$ 6 bilhões.

As ações das Americanas (AMER3) caíram de R$ 10,41 em 6 de janeiro de 2023 para R$ 0,84 em 10 de janeiro de 2024. A desvalorização passou dos 90%.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada em 17 de maio de 2023 para investigar as operações e práticas comerciais da varejista. Porém concluiu os trabalhos sem apontar responsáveis pelo rombo bilionário. Parte do colegiado apontou “blindagem” ao trio do 3G Capital, e o relator, deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), afirmou não haver provas suficientes para responsabilizar os culpados.

Fraude comprovada

Em 14 de junho, a Americanas admitiu a fraude nas contas da empresa. O documento confirmava também que o ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, fora da holding desde dezembro de 2022, fez parte do rombo.

Por meio de fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a varejista notificou que as fraudes vinham de contratos fictícios de Verba de Propaganda Cooperada (VPC), uma quantia negociada entre fornecedores e varejo para cobrir eventuais custos com publicidade e propaganda. O comunicado informava:

  • Diversos contratos de VPC artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da companhia atingiram o saldo de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022;
  • Ausência de lançamentos de juros sobre operações financeiras, que deveriam ter transitado pelo resultado da companhia ao longo do tempo, totalizando o saldo de R$ 3,6 bilhões em 30 de setembro de 2022. Portanto, no que diz respeito aos resultados da companhia ao longo do tempo, a fraude descrita ajudou a incrementá-lo em R$ 25,3 bilhões.

“Com a saída de nomes da diretoria e a contratação de empresa independente para analisar o fato, foi divulgado comunicado ao mercado relatando que as tais inconsistências eram fraude, sendo no mesmo documento estabelecido que a antiga diretoria tinha conhecimento do ocorrido, porém isentou os conselheiros e acionistas de qualquer participação”, recorda Zuanazzi.

O que vem por aí

Quase um ano depois, a Americanas recebe, em julgamento do plano de recuperação judicial, um aporte de R$ 24 bilhões com a aprovação em Assembleia Geral de Credores. O pagamento será dividido entre os três principais acionistas e os bancos credores. Hoje, a empresa é comandada por Leonardo Coelho, no cargo de CEO, e Camille Faria, como CFO.

Em comunicado para a Dinheiro, a varejista reforça que o plano dará “início ao pagamento das dívidas e à capitalização de R$ 24 bilhões, com aporte de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência e conversão de dívidas de R$ 12 bilhões pelos credores financeiros”.

“O objetivo da companhia para os próximos anos é continuar a ser o operador de varejo mais simples e diverso do país, com presença em todo o Brasil, suporte de uma robusta malha logística, um marketplace que privilegia a experiência de consumidores e sellers e o relacionamento próximo com seus milhares de clientes. Esta base sustentará o sucesso da implementação do Plano Estratégico de Negócios, que possibilitará atingir, em 2025, Ebitda superior a R$ 2,2 bilhões, com caixa e recebíveis na ordem de R$ 2,5 bilhões e dívida financeira bruta de até R$ 1,5 bilhão.”

O PRJ aguarda homologação, que deve ocorrer ainda em janeiro de 2024. Instituições como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, fundos do Itaú, BTG e Banco Votorantin estão entre os credores que acordaram previamente em apoiar o plano.

“2024 é o ano em que vai ser visto se o plano tem sucesso ou não. Deve haver um bom relacionamento, principalmente da diretoria executiva da empresa, um conselho muito bem formado com visão do momento que a empresa está passando; as relações entre os três principais acionistas, os bancos, os credores têm que ser muito bem administradas. Se passar dessa forma, com alinhamento entre uma excelente gestão e relação tripartite, aí a partir de 2025 é que a empresa pode sim dar o seu salto e se reerguer”, avalia Roberto Gonzalez, especialista em governança corporativa.