terça-feira, 26 de março de 2024

Indústria vai defender conclusão de acordo Mercosul-UE em reuniões com Macron

 Retrato oficial do presidente francês Emmanuel Macron é ...


O presidente da França, Emmanuel Macron, ouvirá, durante sua passagem de três dias pelo Brasil, apelos de empresários da indústria pela conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia. Opositor da versão atual do acordo, o presidente francês chega ao Brasil dois meses após pedir à Comissão Europeia a desistência do tratado com o bloco sul-americano.

A agenda ambiental e as parcerias bilaterais, incluindo a assinatura de 15 atos entre os países, estão no foco da visita que Macron inicia nesta terça, ao desembarcar em Belém, no Pará, a sede da conferência do clima da ONU, a COP30, no ano que vem.

O acordo comercial será, contudo, colocado em pauta nos encontros que Macron terá com empresários do setor produtivo.

Em paralelo ao fórum bilateral a ser realizado na tarde da quarta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que terá a participação, entre outros, do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o líder francês terá também na sede da entidade patronal paulista reuniões reservadas com empresários.

Em um dos encontros marcados, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, pretende defender diante de Macron que o acordo com o Mercosul trará benefícios a ambos os lados, com a diversificação das exportações e a ampliação da rede de parceiros comerciais dos países dos blocos.

A entidade entende que o acordo representa uma oportunidade para a indústria brasileira voltar a ter relevância na pauta comercial com a União Europeia, que no ano passado comprou US$ 46,3 bilhões em produtos do Brasil.

A retirada do imposto de importação na Europa, conforme estimativa da CNI com base em dados de 2022, beneficiaria aproximadamente R$ 13 bilhões em produtos da indústria de transformação.

A pauta ganhou peso na agenda da CNI após uma consulta divulgada em outubro mostrar que, para três em cada quatro empresas e associações industriais, o acordo com o bloco europeu deve ser tratado como prioritário.

Conforme a CNI, com base em dados de 2022, a cada R$ 1 bilhão exportado para a União Europeia são gerados 21,4 mil vagas de trabalho no Brasil, número superior à contribuição aos empregos dos embarques para a China, de 15,7 mil postos.

Louis Dreyfus Company assina acordo para aquisição da Cacique

 

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A Louis Dreyfus Company (LDC) e a Companhia Cacique de Café Solúvel (Cacique) anunciaram nesta terça-feira, 26, que as empresas assinaram um acordo vinculativo para a aquisição de 100% das ações da Cacique pela LDC. O valor do negócio não foi informado pelas empresas no comunicado.

A Cacique é considerada uma das maiores produtoras, processadoras e exportadoras independentes de café solúvel do mundo em termos de volume, com atividades em mais de 70 países.

A companhia tem dois ativos de processamento no Brasil (Londrina – PR e em Linhares – ES) e um total de cerca de 1.000 funcionários.

O CEO da LDC, Michael Gelchie, disse na nota: “Este desenvolvimento está alinhado com a estratégia da LDC de diversificar os fluxos de receita por meio de linhas de produtos de valor agregado – neste caso, acelerando a expansão dos negócios de café solúvel da LDC, iniciada recentemente no Vietnã com a operação de café solúvel liofilizado da joint venture iLD Coffee Vietnam, para posicionar a LDC entre os maiores produtores de café solúvel do mundo.”

“Esta aquisição expandirá ainda mais os negócios da LDC no Brasil, onde o Grupo atua há mais de 80 anos, complementando nossas operações de comercialização de café verde existentes no País”, acrescentou o Head Global de Café da LDC, Ben Clarkson.

O acordo está sujeito a aprovações regulatórias e às condições habituais de fechamento.

Contas do governo têm rombo de R$ 58,4 bi em fevereiro, pior resultado para o mês em 28 anos

 


Governo central registra pior resultado primário para meses de fevereiro, com rombo de R$ 58,4 bi

Governo central registra pior resultado primário para meses de fevereiro, com rombo de R$ 58,4 bi (Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

 

O governo central registrou déficit primário de R$ 58,444 bilhões em fevereiro, pior saldo para o mês da série histórica iniciada em 1997, informou o Tesouro Nacional nesta terça-feira, 26.

O rombo do mês, composto pelos resultados de Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social, é 37,7% maior que o saldo negativo de 40,614 bilhões de reais observado no mesmo mês do ano passado.

De acordo com o Tesouro, o déficit de fevereiro é fruto de uma alta real de 27,4% na despesa total, que atingiu 190,938 bilhões de reais, enquanto a receita líquida — que exclui transferências para governos regionais — teve crescimento real de 23,4%, a R$ 132,494 bilhões.

“O aumento real nas despesas totais pode ser explicado principalmente pelo pagamento de precatórios no montante de 30,1 bilhões de reais”, disse o Tesouro em nota.

Com o dado do mês, o resultado primário do governo central acumulado em 12 meses foi de déficit de R$ 252,9 bilhões em valor corrigido pela inflação, equivalente a 2,26% do Produto Interno Bruto (PIB).

No primeiro bimestre, o governo central acumula superávit de R$ 20,941 bilhões, ante saldo positivo de R$ 38,292 bilhões no mesmo período de 2023.

Ata do Copom sinaliza novo corte de 0,50 ponto na Selic na próxima reunião

 


Real - Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Nesta terça-feira, 26, o Banco Central divulgou a última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) na qual sinaliza um novo corte de 0,50 ponto na taxa Selic para a próxima reunião, marcada para os dias 7 e 8 de maio.

No documento divulgado, o Copom reiterou que a diretoria antevê a redução na Selic apenas “na próxima reunião”, não mais “nas próximas reuniões”, como vinha afirmando anteriormente.

O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente, mas considera maior flexibilidade em suas decisões.

“Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o documento.

A redução antecipada da taxa na mesma magnitude para a próxima reunião se dá por “uma mudança na incerteza e não no cenário-base”, diz.

“Tal alteração reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária. Por fim, reforçou-se que seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base”.

Na última quarta-feira, 20, o Copom realizou a sexta redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano.

Para onde vai a Selic?

Alguns componentes do Copom avaliam que pode ser necessária uma redução no ritmo de cortes dos juros básicos caso as incertezas se mantenham elevadas à frente, mostrou a ata da última reunião do colegiado.

“Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir”, informou o BC no documento.

“Avaliou-se a conveniência de alguma indicação para a decisão de junho, para a qual o Comitê ainda não havia feito qualquer comunicação”, explicou o colegiado na ata.

O mercado debate agora a chamada taxa terminal da Selic. Ou seja, quando o BC irá encerrar o ciclo de cortes. “Avaliamos que o BC irá cortar o juro em apenas mais 75bps, deixando a Selic em 10%, com cortes de 50bps e mais um de 25bps”, diz Étore Sanchez, da Ativa.

O mercado manteve em 9% ao ano a mediana das projeções do Relatório de Mercado Focus para a Selic no encerramento de 2024 pela 13ª semana consecutiva. Considerando apenas as 77 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2024 também seguiu em 9% ao ano.


https://istoedinheiro.com.br/ata-do-copom-sinaliza-novo-corte-de-050-ponto-na-selic-na-proxima-reuniao/

sexta-feira, 22 de março de 2024

VW vai lançar ônibus elétrico made in Brazil

 


Volkswagen começa produção no segundo semestre em Resende (RJ) e as primeiras entregas ocorrerão no início de 2025. Cidades como Brasília, São Paulo e Rio já demonstraram interesse

 

 

O e-Volksbus: por enquanto, a ideia é ser um veículo urbano, não para viagens interestaduais (Crédito:Divulgação)

 

A Volkswagen Caminhões e Ônibus apresentou oficialmente seu primeiro ônibus elétrico, batizado de e-Volksbus, que começará a ser produzido no centro mundial de engenharia da companhia em Resende (RJ), a partir do segundo semestre deste ano, com as primeiras entregas para o início de 2025.

Projetado para o uso urbano, o chassi Volkswagen terá uma capacidade de suportar 22 toneladas e uma autonomia de até 250 quilômetros.

O veículo virá com sistemas de carregamento que podem entregar 100% de carga em três horas ou ainda ser otimizado em até 1 hora e meia, a depender da estrutura disponível.

Segundo a empresa, há estudos internos em andamento para troca de componentes da bateria que permitiria a carga em 40 minutos. Além disso, o sistema de frenagem regenerativa ajuda a maximizar a autonomia da bateria e a reduzir o desgaste dos freios, além do sistema Eco-Drive Mode, que ajusta o consumo de energia do veículo.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus vai fabricar os chassis utilizando uma solução de arquitetura modular, que permite a produção em sua fábrica desde um micro-ônibus de nove metros até um superarticulado de 23 metros.

A VWCO vai produzir o chassi, mas sua fábrica, em Resende, comporta operações de empresas parceiras para a montagem das carrocerias.

O e-Volksbus não será o primeiro veículo elétrico da empresa, que lançou o caminhão urbano e-Delivery em 2021, utilizado para operações last mile e outras entregas dentro das cidades, já em operação por grandes distribuidoras de bebidas como Ambev e Coca-Cola.

O presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes, afirmou à DINHEIRO que, apesar de ainda não haver uma carteira de pedidos firmes, já existe o interesse manifestado por diversas cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, São José dos Campos e Brasília.

(Divulgação)

“Advogamos por incentivos do governo para ajudar municípios a comprar ônibus elétricos, uma espécie de Finame Verde.”
Roberto Cortes, CEO da VWCO

Segundo o executivo, o projeto já é pensado há 12 anos. “Em 2012 começou a se estudar o caminhão elétrico, que foi desenvolvido a partir de 2017 e lançado em 2021. A partir daí, começou a se projetar o e-Volksbus, em teste desde maio do ano passado”, disse.

Segundo a empresa, houve muita sinergia com o caminhão e-Delivery, além do know-how acumulado. Os dois veículos, inclusive, são dotados de tecnologias e componentes compartilhados para fazer frente às severas condições de operação no País. Outro diferencial do veículo é a proteção contra inundação, adequando o produto às realidades brasileiras.

Também estará equipado com sistema de ajoelhamento para maior acessibilidade dos passageiros e a suspensão pneumática integral. “Nosso compromisso é com a mobilidade e a redução das emissões nos centros urbanos, projetamos o ônibus para as condições do uso na cidade, queremos ajudar a diminuir a emissão de gases estufa”, disse. “Estamos no meio de um ciclo de investimentos de R$ 2 bilhões, de 2021 a 2025, que visa buscar energia limpa e maior eficiência dos veículos.”

Em Resende (RJ), centro mundial de engenharia da VWCO, são fabricados o e-Delivery e o e-Volksbus, os primeiros elétricos da empresa (Crédito:Divulgação )

PREÇO ALTO

O valor de um ônibus elétrico pode chocar o leitor, como disse o próprio Roberto Cortes. Um coletivo movido a diesel da Volkswagen custa em média de R$ 850 mil já pronto (dependendo da configuração). Já as primeiras unidades do elétrico custarão por volta de R$ 2,35 milhões cada.

O valor, afirmou Cortes, apesar de assustar inicialmente, é compensado por seu custo de produção 70% mais barato, que “paga a diferença” em até três anos de uso, diante das economias com o diesel e a manutenção mais simples e mais barata.

A tendência, no entanto, com a produção em escala, é de baratear o produto, disse o executivo, que defende que o governo federal, por meio do BNDES, crie algum programa de incentivo ou financiamento.

Outro desafio para a expansão dos ônibus emissão zero é a infraestrutura para o carregamento. Para o executivo da VW, é uma questão solucionável e, com a troca da frota paulatina, as empresas vão criar as condições ao longo do tempo.

Sobre projetar esses grandes veículos com maior autonomia, para viagens interestaduais, afirmou que por enquanto a montadora vai focar no uso urbano. “Para longas distâncias nós vemos maiores dificuldades na oferta de pontos de recarga, vai necessitar muito investimento ainda.”

Cresce intercâmbio entre a “garotada madura” da geração prateada

 


Principal agência do Brasil, STB cria programas especiais para pessoas com mais de 50 anos, público que já representa 13% dos clientes da empresa

 

 

Christina Bicalho, VP da STB, destaca aumento da participação dos 'Silver Foxes' nas vendas da agência (Crédito:Divulgação)

 

A crença de que estudar no exterior é coisa de adolescente ficou no passado. Cada vez mais, a chamada geração prateada (referência a pessoas com cabelos brancos ou poucos cabelos) busca agências de intercâmbio atrás de programas internacionais que se encaixem em seus atuais momentos de vida. Grandes empresas do ramo já despertaram para esse nicho.

Especialmente após a pandemia, a busca por cursos no exterior por pessoas, digamos, mais maduras, cresce em alta velocidade. A STB, maior agência brasileira de intercâmbio, criou recentemente um segmento em seus negócios com foco nesse público, chamado de “Silver Foxes” (raposas prateadas na tradução livre, uma referência à cor prateada dos cabelos grisalhos).

Segundo a STB, em 2023 esse público representou 13% das vendas da agência, contra uma fatia de apenas 3% em 2019, antes da pandemia. Um salto de 333%.

Christina Bicalho, vice-presidente da STB, disse que adultos mais experientes veem o intercâmbio como oportunidade de descobrir o mundo, realizar antigos sonhos, fazer networking e aproveitar o tempo para focar em suas áreas de interesse. “O mercado de intercâmbio evoluiu muito nos últimos anos”, afirmou a executiva, ao apontar que aumentou a procura, de forma orgânica, de pessoas com 40 anos ou mais, que já tinham um certo nível de inglês, mas queriam aprimorar, e de pessoas que tinham um sonho de desenvolver uma habilidade nova, mudar de carreira. “As escolas lá fora notaram esse movimento em todo o mundo e começaram a trabalhar em cima disso”, disse Bicalho.

A feira de intercâmbio realizada pela STB no dia 16 de março, em São Paulo, tinha filas para entrar que dobravam a esquina do hotel Renaissance, nos Jardins. (Crédito:Mateus Silva)

MERCADO EM ALTA

Segundo a executiva, o mercado para os 50+ tem enorme potencial de crescimento, pois tendem a ter:
algum conforto financeiro,
mais de tempo disponível,
e uma maturidade maior de conhecimentos.

Por enquanto, os programas preferidos desse público são os cursos de idiomas de curta duração, de até quatro semanas, de acordo com dados da Associação Brasileira de Intercâmbio (Belta).

Entre os cursos mais procurados por essa faixa, o de idiomas lidera com 69%, enquanto treinamentos profissionalizantes estão em segundo, com 14,5%. Segundo dados da associação, no ranking etário da procura por intercâmbios, a faixa 50+ saltou de 8º lugar em 2019, para 7º em 2022.

Após a forte turbulência vivida na pandemia da Covid-19, a STB atualizou sua oferta de programas e mostrou força na recuperação. A companhia fechou 2023 com faturamento 25% maior que 2022 e 30% sobre 2019, antes da pandemia.

Para 2024, a empresa estima crescimento de 20% na receita. A projeção da STB é mais otimista que a do mercado.

Segundo o presidente da Belta, Alexandre Argenta, espera-se por um crescimento de 5% a 10% no mercado brasileiro em 2024. “Entendo que o mercado voltou à normalidade em 2023. Esperamos que essa estabilidade siga em 2024, com números superiores aos de 2022 e 2023.”

O otimismo da STB e da Belta tem se mostrado plausível. A fila para entrar em uma feira de intercâmbio, no dia 16 de março, em São Paulo, dobrou esquinas no bairro dos Jardins. Em meio a centenas de adolescentes e universitários, era comum ver pessoas de cabelos brancos em busca de informações nos estandes das escolas estrangeiras. Bicalho, da STB, atribui a atração desse público pela maior e mais personalizada oferta de programas. “Há poucos dias atendi um grupo de sete senhoras que queria ir para a Itália estudar italiano e história da arte. Encontramos para elas um programa na qual elas estudam o idioma pela manhã, e de tarde fazem os cursos de arte, visitam museus…”, afirmou.

Aos 54 anos, ele foi estudar na Itália

(Divulgação)

Em 2022, aos 54 anos, o professor universitário Ary Altman investiu cerca de 1,5 mil euros (aproximadamente R$ 8.500 na cotação atual) em um curso de italiano de curta duração em Milão, na Itália. “Eu tinha acabado de conquistar a cidadania italiana e já estudava o idioma no Brasil, mas queria me aprofundar tanto na língua quanto na cultura. Como meus filhos já estavam grandes, resolvi tirar esse sonho do papel”, disse.

Em Milão, Altman se hospedou em uma residência estudantil, com alunos de todas as idades e de todos os lugares do mundo. Nos finais de semana, realizou viagens para Roma e Florença.

“A maioria [na residência estudantil] era de jovens, mas também tinha gente mais da minha idade, foi uma experiência muito enriquecedora, a interação com todo mundo foi excelente”, disse.

O investimento, naquela ocasião, custeou sua passagem aérea, o curso de italiano de duas semanas, a acomodação e seguro viagem. Importante resaltar que o valor varia de acordo a escola, curso, tipo de acomodação e duração da estadia.

https://istoedinheiro.com.br/cresce-intercambio-entre-a-garotada-madura-da-geracao-prateada/

“A empresa que não está fazendo um piloto de IA começa a ficar muito para trás”, diz Cleber Morais, da AWS

 


Para o executivo que ocupa o mais alto cargo em vendas da Amazon Web Services no País, a inteligência artificial será o grande diferencial competitivo este ano — e a divisão de nuvem da gigante do e-commerce está preparada para atender a uma eventual demanda exponencial

 

 

Cleber Morais, da Amazon Web Services: "Os mesmos serviços de segurança que fornecemos para um grande banco eu levo para uma empresa média e pequena ao custo do que elas forem usando" (Crédito:Divulgação)

 

Com mais de 30 anos na indústria de TI, o diretor-geral de vendas da AWS América Latina, Cleber Morais, tem um recado para empresas de todos os setores: quem não investir em tecnologia vai dançar. Morais atuou na Schneider Electric, Bematech, Avaya e Sun Microsystems. Em 2021 e 2022 foi eleito um dos 50 líderes de TI mais influentes na Ibero-América. Ele não entrega a expectativa de crescimento local da Amazon Web Services para 2024. Assim como não diz quantos clientes tem no Brasil. Nem o volume de crédito que a empresa disponibilizou em 13 anos no País. Faz parte do jogo, disputado num mercado que mal chega a 10% de sua potencialidade, e que deve ter em 2024 seu ano de explosão. A bomba? Inteligência Artificial (IA). “Nosso objetivo global é treinar 29 milhões de pessoas em nuvem, que é a infraestrutura necessária para Inteligência Artificial”, disse à DINHEIRO. Nos próximos dois anos, segundo a Gartner, as aplicações nativas em nuvem estarão no centro de 95% das iniciativas digitais. A AWS diz estar preparada para esse tsunami tecnológico que deve arrastar para a nuvem uma gigantesca carga de trabalho de centenas de corporações — grande parte vinda de IA. A empresa oferece 240 serviços, como armazenamento, bancos de dados, redes, análises, aprendizado de máquina e Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), dispositivos móveis, segurança, desenvolvimento, implantação e gerenciamento de mídia e aplicativos.

A AWS diz ser o maior serviço de computação em nuvem desde 2006, quando foi inaugurada. O que fez a divisão ganhar mercado e manter a liderança?
Uma expressão diz que “não existe algoritmo de compressão para experiência”. Como pioneiros, ganhamos muita experiência. Começamos levando capacidade computacional através da internet [o cliente paga conforme consome]. Esse movimento partiu da necessidade das startups, segmento no qual temos hoje 80% de share no Brasil. No mundo, a AWS está com startups como Uber, Netflix, Airbnb; no Brasil, estamos com Vetex, Quinto Andar e outras. E, claro, começamos a treinar o mercado. E fomentar com créditos: a AWS deu mais de US$ 3,5 bilhões de créditos para startups iniciarem negócios. Nubank e iFood usaram crédito da AWS.

Depois de startups, qual setor veio a seguir no consumo desse serviço?
A segunda indústria foi a das fintechs. Elas perceberam que era possível inovar no segmento financeiro operando um mercado que demanda inovação. PicPay, PagSeguro e o próprio Nubank começaram a oferecer um modelo de negócio e acessibilidade aos clientes, e o mercado passou a sofrer transformação através da inovação. A partir desse momento, os grandes clientes, como BTG, Inter e Itaú, entenderam que precisavam mais agilidade e flexibilidade. No Itaú, 70% dos workloads [processamento da ponta do cliente] rodam na nuvem. Natura, Embraer e Petrobras vieram praticamente nessa mesma fase.

“O ponto importante é que, quando olhamos para o futuro, a nuvem é a grande base da Inteligência Artificial. Não existe IA sem a nuvem.”

Qual é o momento atual dos negócios baseados na nuvem?
É o das pequenas e médias empresas. Os mesmos serviços de segurança que fornecemos para um grande banco eu levo para uma empresa média e pequena ao custo do que elas forem usando.

Pequenas e médias são estratégicas para a AWS ou uma obrigação?
Essas empresas são core da nossa estratégia. Temos desde os grandes clientes, como bancos, até pequenos que utilizam solução via integrador ou da própria AWS, como segurança, armazenamento… Essas pequenas empresas estão com seu legado muito antigo, têm sofrido problemas de segurança ­— e a AWS tem parceiros e conhecimento interno para ajudá-las.

Colocá-las em um ambiente contemporâneo representa mais custo, certo?
A AWS precisa entender, convencer e educar a pequena empresa. Para isso temos milhares de parceiros que conhecem nossa estrutura e levam suporte. Como a Vetex, a Creditas… Esse é um diferencial competitivo.

Quantas empresas já estão na nuvem no Brasil?
Menos de 10%. A gente até tem a sensação de que está todo mundo na nuvem quando usamos Alexa, Uber ou Netflix. Ou mesmo o Pix. O tamanho ainda é pequeno.

Desses 90% restantes, quais setores devem liderar a demanda por nuvem nos próximos anos?
Setor financeiro no Brasil sempre andou na frente da utilização tecnológica. Brasil é referência global. Nubank esteve conosco num evento para 60 mil pessoas apresentando seu case. O agro tem capacidade financeira para usar tecnologia como diferencial competitivo. Dois setores que vêm expandindo muito são insurance tech [seguros] e saúde, que depende de dados, monitoramento, histórico.

Além de telemedicina, como o segmento de saúde pode puxar a demanda por nuvem e outros serviços da AWS?
Desde o hospital, que pode ter o benefício da nuvem e da IA (Inova HC); de um laboratório de análises clínicas (Fleury e Dasa) ou de um laboratório de pesquisas, como a Merck ou a Pfizer, que durante a pandemia encurtou um ciclo de produção de vacina de oito para dois anos. Sem capacidade computacional isso não seria possível. As farmácias também entram nessa.

Ou seja, quem se atrasar no uso de TI vai perder competitividade, é Isso?
Não tem mais como você não utilizar tecnologia como diferencial competitivo. As empresas que não migrarem para este modelo estão fora. O ponto importante é que, quando olhamos para o futuro, a nuvem é a base da Inteligência Artificial. Não existe IA sem a nuvem. E você usa grandes volumes de dados a um custo adequado. IA sempre esteve no nosso core a agora estamos mergulhados neste serviço.

Podemos prever uma demanda exponencial de IA. O Brasil está capacitado?
Sim. Desde que apostamos no Brasil há 13 anos como nossa 8ª região do mundo — uma região significa cluster de datacenters, para permitir baixa latência, alta disponibilidade e segurança —, investimos US$ 3,8 bilhões no crescimento dessa estrutura. Isso impactou o ecossistema de fornecedores em mais US$ 4,8 bilhões.

“Dois setores que vêm expandindo muito são insurance tech [seguros] e saúde, que depende de dados, monitoramento, histórico.’’

O Magazine Luiza entrou no segmento de serviço de nuvem com a Magalu Cloud. Eles advogam ter os equipamentos todos no Brasil e que isso torna mais fácil trabalhar e entender o processo e o cliente…
Nós temos isso há 13 anos aqui. Temos 33 regiões no mundo, onde você pode ter um serviço que roda fora do Brasil. Temos coisas para garantir uma baixa latência e os dados concentrados aqui; e existem coisas que podem rodar em outras regiões. A AWS é uma das mais bem preparadas para receber esse boom.

Qual vai ser o impacto da IA nos negócios nos próximos anos?
O JP Morgan calcula que o impacto nos negócios nos próximos 10 anos será de US$ 7 trilhões. Isso mostra a exponencialidade que você está falando. Não se diz ‘se’ os clientes devem migrar para a nuvem, mas quando e como. O cliente que não está fazendo um piloto de IA começa a ficar muito para trás.

A AWS é mais o I ou o A do IA?
Eu diria que a AWS é mais o A. Temos três pilares de onde olhamos o futuro de forma a ajudar esses clientes. O primeiro é relativo à fundação. Você precisa ter processadores. Na IA, é preciso treinar os modelos. Nós temos nosso próprio processador que faz training e inferência. Isso sem contar outros em parceria com a Nvidia. Esse recurso já reflete no custo mais baixo para o cliente. Tem um segundo pilar que é o conceito de segurança e guard-rails. Ou seja, como eu posso usar um dado de maneira segura, sem que ele dê uma resposta diferente do que está no escopo da pergunta. A resposta tem que ser politicamente correta. O Bedrock [serviço da AWS] gerencia milhares de LLMs [Large Lenguage Model, um modelo de machine learning treinado para aprender a partir de enormes bases de dados], como ChatGPT, AI21… O terceiro é a aplicação: temos o CodeWhisperer, um software que acelera o desenvolvimento e traz IA para ajudar os programadores. Esses três layers nos preparam para a exponencialidade da demanda.

Nesse cenário de incremento da demanda, como a AWS lida com o crescimento da concorrência?
Como falei, se a quantidade de utilização de nuvem se resume a 10% do mercado, temos 90% para desenvolver. E não só pela AWS. O crescimento desse ambiente é bom para todo mundo. Aí entra a experiência de levar cada vez mais inovação para o cliente. No ano passado, desenvolvemos mais de cinco inovações de serviço por dia. O cliente sempre precisa mais agilidade e menor tempo de resposta. A concorrência é sadia para o mercado.

Qual a maior conquista desde que vocês começaram?
Democratizar a tecnologia. Temos cliente que gasta US$ 1 e outros que gastam milhões de dólares. No ano passado trabalhamos com mais de 600 clientes para entrar no ambiente deles, fazer consultoria praticamente de graça e ensinar esse potencial comprador dos nossos serviços a reduzir seus custos. Em alguns casos o cliente conseguiu obter redução de até 30% no gasto. Também ajudamos no entendimento da necessidade de inovação para aumentar sua produtividade e a satisfação do cliente dele. Desde o lançamento da AWS, em 2006, já reduzimos o preço do serviço 134 vezes.

Qual o segredo para baixar o preço?
Apostar em inovação o tempo todo. Temos processadores lançados quase anualmente. O cliente pode migrar de uma infraestrutura que vinha usando para uma mais atualizada, mais eficiente e tem benefício, em alguns casos, de até 40% no price performance. Mais que isso: ter volume maior de clientes traz benefício, que é repassado para o próprio usuário. E cada vez que o cliente trabalha de maneira mais eficiente ele trabalha para levar mais cargas de trabalho para aquele ambiente. Ou seja, eu dou benefício financeiro para ele, levo mais serviços a ele, ele utiliza de melhor forma e traz mais workloads ou traz mais serviços. E assim os dois crescem ao mesmo tempo.

Qual, na sua opinião, é a maior contribuição da AWS no Brasil?
Os unicórnios: 90% estão com a AWS. Não só fomentamos essas startups por meio de crédito, mas também com arquitetura, capacitação e treinamento. Capacitamos muitas pessoas em parcerias com universidades. Nosso objetivo global é treinar 29 milhões de pessoas em nuvem, que é a infraestrutura para Inteligência Artificial.