Transição
energética, proteção da Amazônia, recuperação do Cerrado degradado e o
acesso do Brasil ao bilionário mercado japonês de carne bovina estão
entre os temas que serão discutidos entre o primeiro-ministro japonês,
Fumio Kishida, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta
sexta-feira (3), em Brasília.
O
governo brasileiro deve aproveitar a visita do chefe do governo
japonês, a primeira desde 2014, para estreitar as relações políticas,
ambientais e econômicas, o que inclui a histórica reinvindicação para o
Brasil participar do mercado de carne bovina do Japão.
“O
presidente Lula mencionará essa intenção de diversificarmos as trocas
comerciais e eu acho que um grande objetivo é obtermos acesso ao mercado
japonês para a nossa carne bovina e a ampliação do acesso à carne
suína, a qual, por ora, apenas Santa Catarina está habilitada [a
exportar para o Japão]”, destacou o embaixador Eduardo Paes Saboia,
secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores
(MRE).
De acordo com o Itamaraty, o Japão importa cerca de 70% da
carne bovina que consome, o que representa de US$ 3 a US$ 4 bilhões do
ano. Desse total, 80% são importados dos Estados Unidos e da Austrália,
históricos aliados do país asiático. O MRE conta que, desde 2005, o
Brasil tenta, sem sucesso, entrar no mercado japonês de carne bovina.
“Hoje
a condição sanitária brasileira é muito melhor do que a de 2005.
Inclusive, em matéria de reconhecimento de áreas livres de febre aftosa
sem vacinação. Então, essa condição precisa ser reconhecida porque o
Brasil exporta para mais de 90 mercados de carne bovina”, completou o
embaixador.
Etanol
Outra
demanda do Brasil é a ampliação da participação do etanol brasileiro no
Japão. De acordo com o embaixador Saboia, o etanol brasileiro é melhor
que o de outros fornecedores do Japão, como os Estados Unidos.
“Todas
as medições objetivas e científicas atribuem ao etanol brasileiro,
inclusive o etanol de milho, uma eficiência energética maior que de
outros fornecedores” comentou.
Ainda segundo o Itamaraty, o Brasil
deve solicitar ao Japão que participe dos investimentos na chamada
neoindustrialização brasileira, programa do governo federal criado para
aumentar a participação da Indústria na economia, e também no novo PAC
[Programa de Aceleração do Crescimento], programa de infraestrutura que
depende de investimentos privados.
O primeiro ministro Kishida
será recebido pelo presidente Lula nesta sexta, às 9h30, no Palácio do
Planalto. Ele vem acompanhado por uma comitiva de 35 líderes
empresariais japoneses. Em Brasília, estão previstas assinaturas de
acordos nas áreas de cibersegurança, ciência e tecnologia, industrial e
de cooperação em agricultura e meio ambiente.
Após o almoço no
Itamaraty, o chefe do governo do Japão segue para o Paraguai. No sábado,
Fumio Kishida retorna ao Brasil para uma agenda com empresários e a
comunidade japonesa em São Paulo, que deve contar com a presença do
vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviço, Geraldo Alckmin.
Questões ambientais
O governo
brasileiro acredita que o Brasil pode ajudar o Japão em sua transição
energética. A ideia é que o país asiático invista em energia renovável
no Brasil para que o país possa exportar energia limpa para o Japão.
“80%
ou mais da energia consumida no Japão é importada e, boa parte dela, é
de fontes não renováveis. Então, o Japão também possui capacidade de
investir, de apostar na ampliação da energia renovável no Brasil, para
que nós possamos também ampliar a nossa vocação de potência de energia
renovável”, destacou Eduardo Paes Saboia, secretário do Itamaraty para
Ásia e Pacífico.
Além disso, um acordo entre Brasil e Japão deve
ser assinado para o país asiático financiar o programa brasileiro de
recuperação de áreas degradadas do Cerrado. Outro tema será o
investimento para o Fundo Amazônia, que desenvolve projetos para
proteção do bioma. O Japão foi o primeiro país asiático a investir no
Fundo com um total de U$S 14 milhões. “Mas nós queremos mais, eu acho
que é muito pouco”, comentou Saboia.
Geopolítica
O
representante do MRE destacou ainda que o governo brasileiro deve
aproveitar a visita do primeiro ministro japonês para reforçar as
agendas políticas comuns aos dois países, como o pleito para reforma do
Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
“São também países
que têm essa aspiração de ocuparem um assento permanente no Conselho de
Segurança ampliado e há valores comuns que serão objeto das conversas
entre os dois líderes”, disse Saboia.
O embaixador acrescentou que
todos os grandes temas internacionais podem estar na mesa de discussão,
uma vez que Brasil e Japão são membros do G20, grupo das 20 maiores
econômicas do mundo, incluindo a União Europeia e a União Africana.
Financiamento
climático para enfrentar as mudanças do clima, combate global à fome e
as guerras em curso estão entre os temas possíveis de discussão.
“Engajar o Japão na aliança global no combate à fome é algo que
certamente estará entre os chamados do lado brasileiro à parte
japonesa”, completou.
Relações históricas
O Japão é o
segundo principal parceiro comercial do Brasil na Ásia, atrás apenas da
China, e o 9º principal parceiro comercial do Brasil no mundo. O fluxo
comercial entre os dois países é de US$ 11,7 bilhões, com superávit
brasileiro de US$ 1,4 bilhão. O Japão ocupa a posição de 8º maior
investidor externo no Brasil, com estoque de cerca de US$ 28,5 bilhões.
O
Brasil exporta, principalmente, ferro, frango, café, alumínio e milho e
importa do Japão, principalmente, produtos manufaturados, como
autopeças, compostos químicos, instrumentos de medição e circuitos
integrados.
O Brasil ainda tem a maior população nipodescendente
fora do Japão, estimada em mais de dois milhões de pessoas. Já o Japão
abriga a 5ª maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 221
mil nacionais.