Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
Descontos médios foram de 83% sobre o valor das dívidas e, em algumas
situações, o abatimento chegou a ultrapassar 96% do débito
Cerca de 15,06 milhões de pessoas negociaram mais de R$ 53
bilhões em dívidas pelo Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas
de Pessoas Físicas, o Desenrola Brasil, que terminou nesta segunda-feira
(20), segundo dados do governo.
Pelos
dados do governo, a Faixa 1, que contempla pessoas com renda de até
dois salários mínimos ou inscritas no Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e dívidas até R$ 5 mil, teve um
total de 5,06 milhões de pessoas, em um montante de R$ 25,57 bilhões.
Já a Faixa 2, voltada às pessoas com renda mensal entre dois salários
mínimos até R$ 20 mil e cujas dívidas bancárias foram inscritas em
cadastros de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022, teve R$ 26,5
bilhões em renegociações para 3 milhões de pessoas que procuraram o
programa.
Quanto às dívidas de até R$ 100 foram, cerca de 7 milhões de pessoas buscaram o Desenrola com abatimento de R$ 1 bilhão.
Segundo
o governo, os descontos médios foram de 83% sobre o valor das dívidas
e, em algumas situações, o abatimento chegou a ultrapassar 96% do valor
devido. Os pagamentos podem ser à vista ou parcelados, sem entrada e com
até 60 meses para pagar.
Inicialmente,
as renegociações acabariam em dezembro do ano passado, mas a medida foi
prorrogada duas vezes e o programa encerrou neste 20 de maio.
O
aumento da procura após a unificação do Desenrola com os aplicativos de
bancos, do Serasa Limpa Nome e o Caixa Tem justificou a prorrogação. Em
março, os débitos do Desenrola também passaram a ser renegociados nas
agências dos Correios.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou sua participação na
abertura da Marcha dos Prefeitos. Ele irá ao evento nesta terça-feira,
21, em Brasília. Será às 10h no Centro Internacional de Convenções do
Brasil (CICB).
A Marcha dos Prefeitos, cujo nome oficial é
XV Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, é realizada do dia 20 ao
dia 23 deste mês. O movimento pressiona o governo pela desoneração da
folha dos municípios.
São
Paulo, 20 – A balança comercial brasileira registrou superávit
comercial de US$ 1,131 bilhão na terceira semana de maio. De acordo com
dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgados nesta
segunda-feira, 20, o valor foi alcançado com exportações de US$ 6,286
bilhões e importações de US$ 5,155 bilhões. No mês, o superávit
acumulado é de US$ 4,201 bilhões e, no ano, de US$ 31,936 bilhões.
Até
a terceira semana do mês, a média diária das exportações registrou
queda de 2,4% na comparação com a média diária do período em 2023, com
queda de 8,8% em Agropecuária; avanço de 5,5% em Indústria Extrativa e
baixa de 1,6% em produtos da Indústria de Transformação.
Já
as importações tiveram crescimento de 11,5% no período, também na
comparação pela média diária, com avanço de 64,1% em Agropecuária; alta
de 83,8% em Indústria Extrativa e crescimento de 5,3% em produtos da
Indústria de Transformação.
Analistas elevam projeção para Selic este ano pela 3ª semana seguida, a 10% (Crédito: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)
Reutersi
Analistas
consultados pelo Banco Central voltaram a elevar a projeção para a taxa
básica de juros ao final deste ano, com perspectiva de inflação mais
alta e menos crescimento, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta
segunda-feira, 20.
O levantamento, que capta a percepção do
mercado para indicadores econômicos, apontou que a expectativa para a
Selic este ano agora é de 10,0%, de 9,75% antes, na terceira semana
seguida de elevação. Para 2025 a projeção continua sendo de 9,0%.
A
revisão se dá na esteira de uma redução no ritmo de afrouxamento
monetário pelo Comitê de Política Monetária do BC, que fez este mês um
corte de 0,25 ponto percentual na Selic, para 10,50% ao ano, após seis
quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa. Também foi abandonada a
indicação para passos futuros da política monetária.
Na semana
passada, a ata desse encontro mostrou que todos os diretores defenderam
uma política monetária mais contracionista, cautelosa e sem indicação
futura sobre os juros, apesar da divisão no colegiado sobre a
intensidade do corte na Selic.
IPCA e PIB
A pesquisa
semanal com uma centena de economistas mostrou ainda elevação na
estimativa para a inflação a 3,80% em 2024 e 3,74% em 2025, de 3,76% e
3,66% antes. Para os dois anos seguintes a conta para a alta do IPCA
segue em 3,50%.
O
centro da meta oficial para a inflação em 2024, 2025 e 2026 é de 3%,
sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou
menos.
Por outro lado, a perspectiva para o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) este ano caiu 0,04 ponto percentual, a 2,05%, mas
para 2025 foi mantida em 2,0%.
Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir
o posto de presidente da Petrobras, Magda Chambriard herda não somente o
cargo, mas o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a
confiança do mercado financeiro
Uma batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só pelo
ex-CEO Jean Paul Prates, que acaba de ser demitido, como também pelos
outros executivos que ocuparam o posto
Debate passa pelo aumento dos investimentos da estatal, risco de
diminuição dos dividendos e o domínio da tão falada "interferência
política"
O ex-senador Jean Paul Prates foi demitido do cargo de presidente da Petrobras (PETR4)
na terça-feira (14) após semanas em um processo de fritura, acentuado
depois que a companhia optou por reter parte dos dividendos
extraordinários em março. Magda Chambriard, indicada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o posto, herda o cargo e o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro. Uma
batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só por Prates, mas
pelos outros executivos que ocuparam a mesma posição.
Chambriard é a 7ª pessoa a sentar na cadeira mais importante da Petrobras em cinco anos; e não é uma novata
na companhia. Servidora de carreira na estatal, ela é engenheira,
especializada em exploração e produção de petróleo e foi diretora-geral
da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
nomeada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012.
Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor são
unânimes: em termos de experiência e adequação ao cargo, trata-se de um
nome técnico. O receio, no entanto, é o direcionamento político do
mandato. Um dos motivos que derrubou Prates do posto de CEO da Petrobras, entre outras questões, foi a intenção do Executivo de buscar por um perfil de comando menos “pró mercado”.
“O primeiro desafio que ela terá é passar credibilidade para o
mercado”, diz Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren
Investimentos. “Chambriard tem um viés mais desenvolvimentista, em linha
até com que o governo estava buscando para esse novo presidente da
Petrobras. É um histórico menos pró-mercado do que o Prates, mais
ponderado e que conseguiu assumir uma postura bem interessante na
companhia.”
O principal desafio da executiva à frente da estatal, na visão dos
agentes do mercado, é conciliar a pressão política pelo aumento de investimentos
e manter a confiança de investidores. A ideia de direcionar o capex
(recursos voltados para os investimentos) da companhia para projetos
como refino ou a área petroquímica desagrada analistas, que veem os
negócios como pouco rentáveis em comparação ao “core business” da
companhia, a exploração do pré-sal.
Como Chambriard parece ter sido indicada ao cargo para tal missão, já começará tendo que superar a desconfiança do mercado.
A incerteza com o direcionamento do novo mandato na Petrobras fez o BB Investimentos rebaixar a recomendação
das ações da petroleira de compra para neutra. Em relatório, o analista
Daniel Cobucci destaca que a dúvida em relação a “qual será o mandato”
da executiva é pertinente porque, em se tratando de uma empresa estatal e
listada em bolsa, existe uma inerente divergência entre os interesses
de alguns dos stakeholders da companhia. E aponta que não está claro se a
sucessão vai significar uma mudança de rumo em uma companhia que vinha
com “boa execução e excelentes perspectivas”.
“A mudança no comando da companhia não deixa claro quais princípios
serão mantidos e quais serão modificados, elevando as incertezas em um
momento onde o desconto relativo da companhia já não se encontra tão
vantajoso”, avalia o BB.
Chambriard não será a primeira CEO da estatal a ter a difícil missão
de equilibrar os interesses do governo com o dos acionistas
minoritários. Como mostramos aqui, as trocas no comando da Petrobras foram comuns nos últimos anos.
Nos quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças no cargo. À época, os
presidentes da estatal foram pressionados pelo Palácio do Planalto por
causa da alta dos preços dos combustíveis,
que corroía o poder de compra da população e atrapalhava a candidatura à
reeleição do então mandatário do Executivo, enquanto se viam obrigados a
seguir o preço de paridade internacional do petróleo.
Jean Paul Prates, entre 2023 e 2024, viveu o dilema de manter o nível
de pagamento dos dividendos a investidores e ter caixa para aumentar os
investimentos.
Para onde vão os investimentos?
A alocação dos US$ 102 bilhões destinados para os investimentos é o
principal ponto de preocupação dos investidores com a gestão de
Chambriard. Segundo apuração da Coluna do Estadão, a
ex-diretora-geral da ANP se reuniu com o ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira, nesta quarta-feira (15) e garantiu acelerar os
projetos voltados para o mercado de gás e de fertilizantes. A demanda é
vista como prioridade para o governo, mas não andou no ritmo desejado
quando Prates estava à frente da estatal.
Chambriard também é favorável ao retorno de projetos em refinarias,
área de atuação defendida pelo presidente Lula. Nos próximos cinco anos,
a previsão é que a estatal desembolse cerca de US$ 17 bilhões em
projetos de refino, transporte e comercialização em várias unidades do
Brasil. O objetivo é ampliar a capacidade de produção de diesel.
Uma das iniciativas neste sentido foi a retomada das obras da
refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, no estado de Pernambuco, em janeiro
deste ano. O investimento na unidade já estava previsto no plano
estratégico 2024-2028 da Petrobras, além de fazer parte do Novo Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC).
No entanto, os esforços do governo para esta linha de negócio são
alvos de críticas do mercado financeiro por estar fora do seu “core
business” e pelo elevado custo que esses investimentos exigem da
companhia. “Uma obra de refinaria nova é orçada por R$ 4 bilhões e taxa
interna de retorno de 20% ao ano. Os gastos estouram (aumentam acima do
previsto) devido a um projeção subestimada de investimentos e aos
desvios de recursos. No fim, são investidos R$12 bilhões e a taxa de
retorno fica negativa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante
Investimentos.
A preocupação também se baseia na demanda futura, quando os projetos
estiverem consolidados, diante do movimento mundial de transição
energética. “Será um aumento adicional, colocando recursos em uma classe
de ativos em franco declínio e cujos os produtos de origem fóssil podem
já ter demanda reduzida quando estiverem prontos daqui a uma década”,
pontuou o BB Investimentos em relatório divulgado nesta quarta-feira
(15). Já os projetos de baixo carbono que possuem um orçamento de US$
11,5 bilhões no atual plano estratégico da empresa também devem ser
avaliados com atenção redobrada pelos investidores.
Apesar de avaliarem os investimentos como necessários, os analistas
pontuam que há um ceticismo no mercado em relação à capacidade da
companhia em otimizar os recursos em iniciativas com boas
previsibilidades de retorno. “Os projetos exigem uma gestão cuidadosa
para demonstrar sua viabilidade financeira e alinhamento com os
objetivos de longo prazo da empresa”, afirma Sidney Lima, analista da
Ouro Preto Investimentos.
Dividendos no radar
O perfil de Chambriard, mais alinhado aos interesses do governo, dá
sinais ao mercado de que os gastos com investimentos podem ganhar ainda
mais espaço nos próximos planos estratégicos da companhia. Como
consequência, o período de dividendos
generosos aos acionistas pode chegar ao fim, com os investidores sendo
obrigados a se contentar com o pagamento mínimo estabelecido pelo
estatuto da companhia.
Conde, da Levante, argumenta que a possibilidade dessas mudanças com a
nova gestão pode se concretizar quando houver a divulgação dos
resultados operacionais referente ao segundo trimestre. “Quando sair o
próximo resultado, iremos ter uma especulação do mercado se a Petrobras
irá distribuir dividendos extraordinários ou não. Na minha visão, há
mais chances de não termos mais dividendos extraordinários (com a nova
gestão)”, pontua o analista.
Segundo dados da Quantum Finance, os investidores com posição em
ações ordinárias da Petrobras (PETR3) receberam cerca de R$ 33,47 por
ação em proventos no acumulado de 2018 até agora. Já os papéis
preferenciais (PETR4) distribuíram um total de R$ R$ 34,32 durante o
mesmo intervalo de tempo.
Os dados mostram que o dividend yield
da companhia já vem caindo, apesar de ainda permanecerem elevados para a
média das empresas brasileiras. Em 2022, o yield da PETR3 e da PETR4
foi de expressivos 59,70% e 68,32%, respectivamente. Em 2023, caiu para
18,59% e 19,81%.
A queda de Prates
Jean Paul Prates foi demitido do comando da Petrobras na noite da
terça-feira (14), após 473 dias no cargo. A frente da estatal, o
ex-senador liderou mudanças importantes, que incluem o fim da política
de preço de paridade de importação (PPI) e alterações na política de
dividendos da companhia.
Apesar do ceticismo inicial, Prates conseguiu se colocar como um
quadro técnico e um nome de “razoabilidade” na visão do mercado. Aos
poucos, as principais incertezas de analistas em relação à gestão
petista da estatal foram amenizando e as ações da companhia conseguiram
se recuperar frente aos patamares bastante descontados que eram
negociados à época das eleições presidenciais, em 2022. Como mostramos aqui, a PETR4 teve alta de 115% no período em que o ex-senador esteve à frente do cargo de CEO.
Este é um dos principais motivos por trás da reação negativa do
mercado com a sucessão na estatal. Magda Chambriard é considerada um
quadro técnico, mas, segundo analistas, sua indicação reforça os temores
de interferência política. A PETR3 encerrou esta quarta-feira (15) com
uma desvalorização de 6,78%, a R$ 40,01. A PETR4, por sua vez, caiu
6,04%, a R$ 38,40. Com o desempenho, a Petrobras perdeu R$ 34,05 bilhões em valor de mercado no pregão.
Como mostramos aqui, os grandes bancos ainda recomendam a compra das ações da Petrobras; veja os principais argumentos.
O capital se fortalece com as crises que ele mesmo fomenta.
Porto
Alegre segue debaixo d'água, e o tamanho do estrago ainda é
imensurável, mas o prefeito Sebastião Melo, do MDB, já anunciou o plano:
irá contratar a consultoria Alvarez & Marsal para recuperar a cidade.
A
história dessa contratação é tocante. “Um dos sócios dessa empresa é
gaúcho, porto-alegrense. Ele se sensibilizou com o processo e nos
procurou para ajudar”, disse Melo. A Alvarez & Marsal não irá cobrar
pelo trabalho nos primeiros seis meses – mas o plano já prevê
atividades para além do período gratuito.
A
benevolência esconde o contexto. Vou começar pelo mais básico. A
Alvarez & Marsal é uma consultoria que atua para recuperar aqueles
casos quase impossíveis de crise corporativa. Empresas envolvidas em desastres ambientais, em grandes condenações e de reputação duvidosa.
Aqui
no Brasil, por exemplo, atuou após os crimes ambientais de Mariana e
Brumadinho e com empresas que foram investigadas pela operação Lava
Jato, como o Grupo Odebrecht e as construtoras OAS e Queiroz Galvão.
(O
rol de clientes não impediu, no entanto, que Sergio Moro fosse
contratado pela consultoria logo após deixar o ministério da Justiça de
Bolsonaro, mas essa é outra história que você pode ler aqui.)
Nos
EUA, a Alvarez & Marsal atuou na reestruturação de Nova Orleans
depois do furacão Katrina em 2005 – uma tragédia que, devido à
magnitude, tem sido bastante comparada com o que está acontecendo no Rio
Grande do Sul. Na ocasião, 1,5 mil pessoas morreram e 80% da cidade
ficou debaixo d'água, completamente colapsada.
No domingo, o Fantástico fez uma reportagem em tom esperançoso mostrando como foi a recuperação de Nova Orleans – e o que os gaúchos podem aprender com ela.
A
história de superação da cidade pode ser, sim, lida com essa lente
inspiradora. Mas a economia de recuperação de desastres tem um lado
sombrio, e é a tempestade perfeita para os urubus da crise criarem novas
fronteiras de acumulação de capital – e implantarem as reformas e
medidas antipopulares que tanto desejam.
É o fenômeno descrito como capitalismo de desastre.
O caso de Nova Orleans, por exemplo, é um dos exemplos analisados pela
autora canadense Naomi Klein no seu livro "A doutrina do choque – a
ascensão do capitalismo do desastre".
Esse
conceito de "choque" vem do economista Milton Friedman, vencedor do
Nobel de Economia em 1976 e um dos principais influenciadores da linha
econômica liberal dos Chicago Boys.
Friedman
argumentava que só as crises econômicas poderiam produzir mudanças. Ou
seja: o período após um trauma coletivo é o mais propício para reformas
que, em outras ocasiões, dificilmente seriam aceitas. Privatizações
radicais, por exemplo.
Intercept Brasil
Agro abre oportunidades
para startups e pequenos negócios em Goiás
O setor representa 60% do PIB do Estado, o equivalente a R$ 195 bilhões
Agronegócio do Brasil
Soja, pecuária bovina de corte e milho são as atividades que mais
impulsionam a economia de Goiás
Copyright Sérgio Lima/Poder360 - 15.mai.2020
Vitória Queiroz
12.mai.2024 (domingo) - 6h00
O agronegócio representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto) de Goiás,
segundo a Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás). Principal
responsável pela economia do Estado, o setor se destaca em termos de
oportunidades para pequeno...
Precisamos pensar como a natureza e copiar ou ajudar a
implementação das soluções que ela usa para sairmos desta e ter
esperança de um futuro
Vista aérea de áreas alagadas de Porto
Alegre: Arena do Grêmio, aeroporto Salgado Filho e os Bairros Sarandi,
Humaitá e Ilhas. Foto: Giulian Serafim/PMPA
Arno Kayser (*)
A enchente de 2024 é, de longe, a
pior da história da presença civilizada no Rio Grande dos Sul. Entre
Abril e Maio choveram cerca de mil milímetros de chuva. Mais da metade
do esperado para um ano inteiro. É bem provável que ela vai passar a ser
o parâmetro tomando o lugar da grande enchente de 41 no imaginário
popular.
As águas invadiram áreas baixas de
diversos locais do Vale do Sinos e outras regiões do Estado. Na região
metropolitana se romperam diques e em Porto Alegre o sucateado sistema
de proteção das cheias falhou completamente e grande parte da capital
ficou debaixo de água.
Um detalhe tem que ser lembrado. Os diques do Vale do Sinos
foram locados bem perto do rio e deixaram uma parte do banhado do lado
“seco” que acabou atraindo o povo sem outra opção de moradia para lá.
Uma verdadeira armadilha. Isso para deixar áreas realmente altas para
ocupação por gente em melhor situação econômica. Curiosamente o que
também ocorreu em 1824 quando o império queria fazer a colônia onde hoje
é o parque da Floresta Imperial em Novo Hamburgo, mas o dono da terra
junto ao passo de São Leopoldo (terras doadas pela Coroa, por sinal)
convenceu o representante local da colonização a comprar sua terra e
assentar povo na beira dos banhados do Sinos.
Essa área roubada ao banhado poderia
estar ajudando a segurar o nível da enchente mais tempo e não seria uma
área de risco humano se tivesse ficado como reserva natural a exemplo do
parque da imperatriz em São Leopoldo ou o banhado da estrada da
integração em Novo Hamburgo. Tivessem respeitado os banhados e talvez o
centro de são Leopoldo hoje ficasse em Novo Hamburgo.
O mesmo caso ocorre em Canoas, Esteio
e Sapucaia onde as partes mais atingidas são os assentamentos humanos
localizados em antigos banhados e várzeas.
São detalhes que afetam muitas vidas e
mostram como é importante que decisões importantes sejam tomadas com
muito debate popular e com apoio da ciência.
Os diques foram erguidos nos anos da
ditadura militar e São Leopoldo foi iniciado no império. Democracia era
algo que não existia nesses dois momentos históricos.
O Comitesinos propôs um mapeamento
das áreas de risco de todo o vale e tentou orientar os municípios, pelo
menos a não deixar ocupar com mais urbanização essas regiões. Quem mais
resistiu foi a gestão pública de Canoas e algumas das suas entidades
empresariais. Curiosamente foi a cidade com mais gente fora de casa e
que defendia que a estrada do parque (BR448) fosse construída como um
grande dique para poder se expandir no sentido do rio. Se isso tivesse
ocorrido certamente os danos da enchente seriam maiores ainda.
Hoje pagamos um preço terrível por erros do passado no processo de ocupação do território.
Outra coisa que fica evidente é que
um dos problemas do RS é que estão exterminando os órgãos técnicos
científicos onde trabalha a inteligência do Estado que é capaz de gerar
as soluções. É triste, mas é verdade. A cultura de serviço público vai
se perdendo e chega num ponto que ficamos sem rumo. No meu setor junto à
Fepam se aposentaram três das cinco pessoas que tinham quando entrei.
Houve uma reposição em 10 anos. Faz quatro anos que esperamos
substituição dos outros dois. Em breve os mais velhos se aposentam não
vai ter ninguém para ensinar transmitir a experiência que o setor
acumulou para quem chegar.
A
Metroplan, que trabalha com o tema da proteção de inundações, perdeu
muito pessoal. A Fundação Zoobotânica que estudava a nossa
biodiversidade foi extinta.
Nada contra a iniciativa privada
trabalhar para o Estado. Muitas vezes é necessária. Mas o serviço
público é essencial para conduzir a gestão. É assim em todos os países
desenvolvidos. Sem serviço público de qualidade um país fica como os
países pobres da África. Um verdadeiro salve se quem puder em meio a um
caos de lutas internas entre grupos rivais, como já ocorre em alguns
locais de nossos grandes centros.
Outro fato a ser analisado nesse
contexto é que o voluntariado tem limite. Ainda que sua contribuição
seja um exemplo magnífico da solidariedade humana o fato é uns dias
depois de a tragédia deixar de ser pauta da grande mídia a maioria dos
voluntários volta para casa até porque não são profissionais e tem que
cuidar de suas vidas. Quem vai seguir é o serviço público. É assim
sempre. Só que não se falam disso em muitos veículos de imprensa.
Especialmente os aliados com a ideia do estado mínimo que ajudou muito a
levar o RS a esse estado de calamidade.
O país hoje está cheio de jovens bem
preparados. Muitos que gostariam de trabalhar no serviço público. Em
vinte anos como servidor público trabalhei com pelo menos quarenta
estagiários. Muitos nos procuraram porque queriam se tornar servidores
públicos. Alguns até passaram em concurso e trabalham no setor público. O
jovem que entrou no meu setor foi meu estagiário. Mas tem muitos que
não recebem oportunidade. Alguns até vão embora do Brasil. Desperdiçando
a sua qualificação, pois lá vão ser trabalhadores de serviços para
gente com pouca formação.
Também irrita um pouco a política de
algumas empresas privadas de previsões meteorológicas especializadas em
fazer manchetes catastrofistas para atrair leitores para suas páginas na
internet recheadas de anunciantes. Quando muitas das suas previsões
trágicas não ocorrem ficam quietos como as videntes que todo novo ano as
revistas de fofocas entrevistam para prever o que virá. Cientificamente
são capacitadas, mas não nos parece correto que lucrem atemorizando as
pessoas e faturando em cima da espetacularização da desgraça (como,
aliás, também o fazem muitos veículos de mídias para aumentar a
audiência de seus programas). Os serviços de alerta de risco devem ser
ponderados e objetivos em suas manifestações. Dar a informação precisa é
fundamental para que os alertas sejam levados a sério pela população.
Abusar do sensacionalismo só atrasa a formação de uma cultura de
prevenção.
Também vemos nessas horas que muitos
técnicos que seguem com dificuldades para aceitar que precisamos de
tecnologias que cooperem com a natureza para lidar com os desafios que
as mudanças climáticas nos impõem. Ainda há muitos que insistem que
devemos buscar soluções tecnológicas que no fundo só ampliam os danos ao
planeta. Como os caras que defendem destruir a vegetação das áreas de
proteção permanente para fazer açude para combater as secas ao invés de
propor recuperar essa vegetação para ela retomar seu papel no equilíbrio
da dinâmica das águas das nossas bacias hidrográficas. Ou gente que
propõe abater as florestas das encostas para que o peso das árvores não
derrubar o solo dos morros.
Uma ideia muito debatida é fazer um
canal de saída para o mar na Laguna do Patos ao norte de Rio Grande para
baixar mais rápido as águas represadas em Porto Alegre e arredores.
Alegam que ao fazer a BR 101 no litoral médio se construiu um grande
dique que bloqueou saídas da Laguna para o mar que existiam antes
retendo mais água na Laguna. Apontam como exemplo disso a barra falsa
do Bojurú onde essa solução poderia ser implantada.
A Laguna dos Patos se formou no
último milhão de anos. Obra de um ciclo de recuos e avanços do mar ao
longo de pelo menos quatro transgressões marinhas. O leito da BR 101
esta na parte mais alta do litoral médio num divisor de água. Não
constitui barreira construída pela humanidade do sistema de drenagem
natural para o mar. Por conta dessa faixa de terra é que a Laguna existe
e não é parte do oceano como antes da sua formação. As barras de
saídas de água para o mar no litoral médio são do sistema de lagoas do
conjunto da Lagoa do Peixe e outras ao longo da costa. A barra falsa do
Bojurú pode ser uma paleo saída pro mar. Mas hoje ela corre para o oeste
assim como os cursos d’água da Lagoa do Casamento e do rio Gravataí que
em eras geológicas mais antigas corriam para o mar. Um canal assim
funcionaria nos dois sentidos conforme a maré ou os ventos. E poderia
salinizar toda a Laguna trazendo problemas para a irrigação de arroz e
potabilização de água para as cidades do entorno e afetando em muito a
biodiversidade do local que é fonte de renda para muitas famílias.
Essa ideia faz pensar. Caso tenhamos
um buraco no telhado onde entra a chuva o que é melhor fazer? Fazer o
conserto do telhado ou aumentar o tamanho do ralo para inundação passar
mais rápido? Nesse caso me parece mais inteligente consertar o telhado.
No caso do RS o conserto significa a recuperação das matas ciliares nos
rios gaúchos, melhorar as praticas de agricultura para controlar a
erosão e mesmo construir pequenos açudes ao nível de produtor que
poderão ajudar na próxima seca que a maioria esquece no momento da
enchente. Isso também pode ajudar a conter a erosão que assoreia os
rios.
Falando em assoreamento também se
ouve que alguns velejadores defendem que se retire toda a areia do fundo
do Guaíba para aumentar o canal de drenagem do Lago. E que ela seja
usada para usos diversos, como material de construção. Fato que só não
ocorre por conta de oposição dos Ecologistas (quase os culpando pela
tragédia, por sinal).
A areia que está no fundo do Guaíba,
segundo estudos feitos pela UFRGS, infelizmente está contaminada por
metais pesados, decorrentes da poluição das indústrias metal-mecânica e
dos curtumes gaúchos. Por isso é melhor não usar o resíduo da dragagem
dos canais em usos que não sejam construções de ilhas artificiais como a
do clube Jangadeiros. Também por essa razão não se recomenda minerar
areia no leito do Guaíba. Mexer nesses metais que hoje estão
quimicamente estabilizados no fundo poderia trazer sérios prejuízos à
qualidade da água e até o risco de inviabilizar seu uso para potabilizar
para consumo humano.
Esses exemplos mostram que muita
gente não entendeu que o paradigma tecnológico que levou a sociedade a
situação atual de desequilíbrio ambiental não tem capacidade de trazer
soluções para a crise que vivemos. Precisamos pensar como a natureza e
copiar ou ajudar a implementação das soluções que ela usa para sairmos
desta e ter esperança de um futuro para a humanidade no planeta.
Pro fim outra coisa que chama a
atenção nessa enchente é que muita gente tende a definir o que está
sendo visto no RS como cenas de guerra. Vamos combinar que assistimos
cenas de uma tragédia decorrente das mudanças climáticas combinadas com
décadas de devastação ambiental e negacionismo político neoliberal
dominando a máquina pública. Não têm ninguém bombardeado os atingidos
pela enchente. Cena de guerra é em Gaza ou na Ucrânia e em outros
conflitos mundo afora. Pergunta em qualquer desses lugares se eles não
trocariam de lugar com os gaúchos agora. Falar em cena de guerra é
fortalecer a cultura da violência. É fazer propaganda da militarização
das soluções dos problemas do mundo. A mesma lógica de guerra que
constrói muros entre nações ricas e pobres e mata os inocentes, em
diversos lugares do mundo.
Falar em cenas de guerra também é
descaracterizar o debate das mudanças climáticas. O que não contribui em
nada para a construção de políticas de superação das causas dos
aumentos da temperatura no planeta. Temos que falar em paz e
solidariedade nesse momento. Em reduzir emissões de gases estufa. Em
políticas públicas de adaptação. Não precisamos reproduzir, sem pensar, a
linguagem da cultura de competição que está destruindo as
possibilidades de vida humana e outros seres no planeta.