terça-feira, 21 de maio de 2024

Mais de 15 milhões de pessoas negociaram R$ 53 bi em dívidas pelo Desenrola, diz governo

 


Descontos médios foram de 83% sobre o valor das dívidas e, em algumas situações, o abatimento chegou a ultrapassar 96% do débito

Pelos dados do governo, a Faixa 1 teve um total de 5,06 milhões de pessoas, em um montante de R$ 25,57 bilhões.
Pelos dados do governo, a Faixa 1 teve um total de 5,06 milhões de pessoas, em um montante de R$ 25,57 bilhões. 14/02/2023 REUTERS/Adriano Machado

Cristiane Nobertoda CNN

Cerca de 15,06 milhões de pessoas negociaram mais de R$ 53 bilhões em dívidas pelo Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas, o Desenrola Brasil, que terminou nesta segunda-feira (20), segundo dados do governo.

Pelos dados do governo, a Faixa 1, que contempla pessoas com renda de até dois salários mínimos ou inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e dívidas até R$ 5 mil, teve um total de 5,06 milhões de pessoas, em um montante de R$ 25,57 bilhões.

 Já a Faixa 2, voltada às pessoas com renda mensal entre dois salários mínimos até R$ 20 mil e cujas dívidas bancárias foram inscritas em cadastros de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022, teve R$ 26,5 bilhões em renegociações para 3 milhões de pessoas que procuraram o programa.

Quanto às dívidas de até R$ 100 foram, cerca de 7 milhões de pessoas buscaram o Desenrola com abatimento de R$ 1 bilhão.

Segundo o governo, os descontos médios foram de 83% sobre o valor das dívidas e, em algumas situações, o abatimento chegou a ultrapassar 96% do valor devido. Os pagamentos podem ser à vista ou parcelados, sem entrada e com até 60 meses para pagar.

Inicialmente, as renegociações acabariam em dezembro do ano passado, mas a medida foi prorrogada duas vezes e o programa encerrou neste 20 de maio.

O aumento da procura após a unificação do Desenrola com os aplicativos de bancos, do Serasa Limpa Nome e o Caixa Tem justificou a prorrogação. Em março, os débitos do Desenrola também passaram a ser renegociados nas agências dos Correios.

 

 https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/mais-de-15-milhoes-de-pessoas-negociaram-r-53-bi-em-dividas-pelo-desenrola-diz-governo/

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Lula confirma participação na Marcha dos Prefeitos nesta terça-feira

 Lula divulga nova foto oficial como presidente | Política | G1


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou sua participação na abertura da Marcha dos Prefeitos. Ele irá ao evento nesta terça-feira, 21, em Brasília. Será às 10h no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB).

A Marcha dos Prefeitos, cujo nome oficial é XV Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, é realizada do dia 20 ao dia 23 deste mês. O movimento pressiona o governo pela desoneração da folha dos municípios.

Balança tem superávit comercial de US$ 1,131 bilhão na 3ª semana de maio

 

Balança comercial: veja ranking dos principais parceiros do ...

São Paulo, 20 – A balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 1,131 bilhão na terceira semana de maio. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgados nesta segunda-feira, 20, o valor foi alcançado com exportações de US$ 6,286 bilhões e importações de US$ 5,155 bilhões. No mês, o superávit acumulado é de US$ 4,201 bilhões e, no ano, de US$ 31,936 bilhões.

Até a terceira semana do mês, a média diária das exportações registrou queda de 2,4% na comparação com a média diária do período em 2023, com queda de 8,8% em Agropecuária; avanço de 5,5% em Indústria Extrativa e baixa de 1,6% em produtos da Indústria de Transformação.

Já as importações tiveram crescimento de 11,5% no período, também na comparação pela média diária, com avanço de 64,1% em Agropecuária; alta de 83,8% em Indústria Extrativa e crescimento de 5,3% em produtos da Indústria de Transformação.

Mercado eleva projeção para Selic ao final do ano pela 3ª semana seguida, a 10%

 


Analistas elevam projeção para Selic este ano pela 3ª semana seguida, a 10%

Analistas elevam projeção para Selic este ano pela 3ª semana seguida, a 10% (Crédito: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

Analistas consultados pelo Banco Central voltaram a elevar a projeção para a taxa básica de juros ao final deste ano, com perspectiva de inflação mais alta e menos crescimento, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira, 20.

O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, apontou que a expectativa para a Selic este ano agora é de 10,0%, de 9,75% antes, na terceira semana seguida de elevação. Para 2025 a projeção continua sendo de 9,0%.

A revisão se dá na esteira de uma redução no ritmo de afrouxamento monetário pelo Comitê de Política Monetária do BC, que fez este mês um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, para 10,50% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa. Também foi abandonada a indicação para passos futuros da política monetária.

Na semana passada, a ata desse encontro mostrou que todos os diretores defenderam uma política monetária mais contracionista, cautelosa e sem indicação futura sobre os juros, apesar da divisão no colegiado sobre a intensidade do corte na Selic.

IPCA e PIB

A pesquisa semanal com uma centena de economistas mostrou ainda elevação na estimativa para a inflação a 3,80% em 2024 e 3,74% em 2025, de 3,76% e 3,66% antes. Para os dois anos seguintes a conta para a alta do IPCA segue em 3,50%.

O centro da meta oficial para a inflação em 2024, 2025 e 2026 é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Por outro lado, a perspectiva para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano caiu 0,04 ponto percentual, a 2,05%, mas para 2025 foi mantida em 2,0%.

sábado, 18 de maio de 2024

O que Magda Chambriard deve enfrentar como presidente da Petrobras (PETR4)

 

Nova CEO assume a missão de equilibrar planos do governo com o ceticismo do mercado; investimentos preocupam

 

O que Magda Chambriard deve enfrentar como presidente da Petrobras (PETR4)
Magda Chambriard, a nova CEO da Petrobras. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
 
  • Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o posto de presidente da Petrobras, Magda Chambriard herda não somente o cargo, mas o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro
  • Uma batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só pelo ex-CEO Jean Paul Prates, que acaba de ser demitido, como também pelos outros executivos que ocuparam o posto
  • Debate passa pelo aumento dos investimentos da estatal, risco de diminuição dos dividendos e o domínio da tão falada "interferência política"

O ex-senador Jean Paul Prates foi demitido do cargo de presidente da Petrobras (PETR4) na terça-feira (14) após semanas em um processo de fritura, acentuado depois que a companhia optou por reter parte dos dividendos extraordinários em março. Magda Chambriard, indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o posto, herda o cargo e o desafio de conciliar os interesses do governo sem perder a confiança do mercado financeiro. Uma batalha que, até aqui, parece ter sido perdida não só por Prates, mas pelos outros executivos que ocuparam a mesma posição.

Chambriard é a 7ª pessoa a sentar na cadeira mais importante da Petrobras em cinco anos; e não é uma novata na companhia. Servidora de carreira na estatal, ela é engenheira, especializada em exploração e produção de petróleo e foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), nomeada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012.

Os especialistas ouvidos pelo E-Investidor são unânimes: em termos de experiência e adequação ao cargo, trata-se de um nome técnico. O receio, no entanto, é o direcionamento político do mandato. Um dos motivos que derrubou Prates do posto de CEO da Petrobras, entre outras questões, foi a intenção do Executivo de buscar por um perfil de comando menos “pró mercado”.

“O primeiro desafio que ela terá é passar credibilidade para o mercado”, diz Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren Investimentos. “Chambriard tem um viés mais desenvolvimentista, em linha até com que o governo estava buscando para esse novo presidente da Petrobras. É um histórico menos pró-mercado do que o Prates, mais ponderado e que conseguiu assumir uma postura bem interessante na companhia.”

O principal desafio da executiva à frente da estatal, na visão dos agentes do mercado, é conciliar a pressão política pelo aumento de investimentos e manter a confiança de investidores. A ideia de direcionar o capex (recursos voltados para os investimentos) da companhia para projetos como refino ou a área petroquímica desagrada analistas, que veem os negócios como pouco rentáveis em comparação ao “core business” da companhia, a exploração do pré-sal.

Como Chambriard parece ter sido indicada ao cargo para tal missão, já começará tendo que superar a desconfiança do mercado.

A incerteza com o direcionamento do novo mandato na Petrobras fez o BB Investimentos rebaixar a recomendação das ações da petroleira de compra para neutra. Em relatório, o analista Daniel Cobucci destaca que a dúvida em relação a “qual será o mandato” da executiva é pertinente porque, em se tratando de uma empresa estatal e listada em bolsa, existe uma inerente divergência entre os interesses de alguns dos stakeholders da companhia. E aponta que não está claro se a sucessão vai significar uma mudança de rumo em uma companhia que vinha com “boa execução e excelentes perspectivas”.

“A mudança no comando da companhia não deixa claro quais princípios serão mantidos e quais serão modificados, elevando as incertezas em um momento onde o desconto relativo da companhia já não se encontra tão vantajoso”, avalia o BB.

Chambriard não será a primeira CEO da estatal a ter a difícil missão de equilibrar os interesses do governo com o dos acionistas minoritários. Como mostramos aqui, as trocas no comando da Petrobras foram comuns nos últimos anos.

Nos quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, foram quatro mudanças no cargo. À época, os presidentes da estatal foram pressionados pelo Palácio do Planalto por causa da alta dos preços dos combustíveis, que corroía o poder de compra da população e atrapalhava a candidatura à reeleição do então mandatário do Executivo, enquanto se viam obrigados a seguir o preço de paridade internacional do petróleo.

Jean Paul Prates, entre 2023 e 2024, viveu o dilema de manter o nível de pagamento dos dividendos a investidores e ter caixa para aumentar os investimentos.

Para onde vão os investimentos?

A alocação dos US$ 102 bilhões destinados para os investimentos é o principal ponto de preocupação dos investidores com a gestão de Chambriard. Segundo apuração da Coluna do Estadão, a ex-diretora-geral da ANP se reuniu com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta quarta-feira (15) e garantiu acelerar os projetos voltados para o mercado de gás e de fertilizantes. A demanda é vista como prioridade para o governo, mas não andou no ritmo desejado quando Prates estava à frente da estatal.

Chambriard também é favorável ao retorno de projetos em refinarias, área de atuação defendida pelo presidente Lula. Nos próximos cinco anos, a previsão é que a estatal desembolse cerca de US$ 17 bilhões em projetos de refino, transporte e comercialização em várias unidades do Brasil. O objetivo é ampliar a capacidade de produção de diesel.

Uma das iniciativas neste sentido foi a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, no estado de Pernambuco, em janeiro deste ano. O investimento na unidade já estava previsto no plano estratégico 2024-2028 da Petrobras, além de fazer parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No entanto, os esforços do governo para esta linha de negócio são alvos de críticas do mercado financeiro por estar fora do seu “core business” e pelo elevado custo que esses investimentos exigem da companhia. “Uma obra de refinaria nova é orçada por R$ 4 bilhões e taxa interna de retorno de 20% ao ano. Os gastos estouram (aumentam acima do previsto) devido a um projeção subestimada de investimentos e aos desvios de recursos. No fim, são investidos R$12 bilhões e a taxa de retorno fica negativa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

A preocupação também se baseia na demanda futura, quando os projetos estiverem consolidados, diante do movimento mundial de transição energética. “Será um aumento adicional, colocando recursos em uma classe de ativos em franco declínio e cujos os produtos de origem fóssil podem já ter demanda reduzida quando estiverem prontos daqui a uma década”, pontuou o BB Investimentos em relatório divulgado nesta quarta-feira (15). Já os projetos de baixo carbono que possuem um orçamento de US$ 11,5 bilhões no atual plano estratégico da empresa também devem ser avaliados com atenção redobrada pelos investidores.

Apesar de avaliarem os investimentos como necessários, os analistas pontuam que há um ceticismo no mercado em relação à capacidade da companhia em otimizar os recursos em iniciativas com boas previsibilidades de retorno. “Os projetos exigem uma gestão cuidadosa para demonstrar sua viabilidade financeira e alinhamento com os objetivos de longo prazo da empresa”, afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Dividendos no radar

O perfil de Chambriard, mais alinhado aos interesses do governo, dá sinais ao mercado de que os gastos com investimentos podem ganhar ainda mais espaço nos próximos planos estratégicos da companhia. Como consequência, o período de dividendos generosos aos acionistas pode chegar ao fim, com os investidores sendo obrigados a se contentar com o pagamento mínimo estabelecido pelo estatuto da companhia.

Conde, da Levante, argumenta que a possibilidade dessas mudanças com a nova gestão pode se concretizar quando houver a divulgação dos resultados operacionais referente ao segundo trimestre. “Quando sair o próximo resultado, iremos ter uma especulação do mercado se a Petrobras irá distribuir dividendos extraordinários ou não. Na minha visão, há mais chances de não termos mais dividendos extraordinários (com a nova gestão)”, pontua o analista.

Segundo dados da Quantum Finance, os investidores com posição em ações ordinárias da Petrobras (PETR3) receberam cerca de R$ 33,47 por ação em proventos no acumulado de 2018 até agora. Já os papéis preferenciais (PETR4) distribuíram um total de R$ R$ 34,32 durante o mesmo intervalo de tempo.

Os dados mostram que o dividend yield da companhia já vem caindo, apesar de ainda permanecerem elevados para a média das empresas brasileiras. Em 2022, o yield da PETR3 e da PETR4 foi de expressivos 59,70% e 68,32%, respectivamente. Em 2023, caiu para 18,59% e 19,81%.

A queda de Prates

Jean Paul Prates foi demitido do comando da Petrobras na noite da terça-feira (14), após 473 dias no cargo. A frente da estatal, o ex-senador liderou mudanças importantes, que incluem o fim da política de preço de paridade de importação (PPI) e alterações na política de dividendos da companhia.

Apesar do ceticismo inicial, Prates conseguiu se colocar como um quadro técnico e um nome de “razoabilidade” na visão do mercado. Aos poucos, as principais incertezas de analistas em relação à gestão petista da estatal foram amenizando e as ações da companhia conseguiram se recuperar frente aos patamares bastante descontados que eram negociados à época das eleições presidenciais, em 2022. Como mostramos aqui, a PETR4 teve alta de 115% no período em que o ex-senador esteve à frente do cargo de CEO.

Este é um dos principais motivos por trás da reação negativa do mercado com a sucessão na estatal. Magda Chambriard é considerada um quadro técnico, mas, segundo analistas, sua indicação reforça os temores de interferência política. A PETR3 encerrou esta quarta-feira (15) com uma desvalorização de 6,78%, a R$ 40,01. A PETR4, por sua vez, caiu 6,04%, a R$ 38,40. Com o desempenho, a Petrobras perdeu R$ 34,05 bilhões em valor de mercado no pregão.

Como mostramos aqui, os grandes bancos ainda recomendam a compra das ações da Petrobras; veja os principais argumentos.

 

 

Eles veem oportunidade na tragédia no RS

 

Alvarez & Marsal | LinkedIn


O capital se fortalece com as crises que ele mesmo fomenta.

Porto Alegre segue debaixo d'água, e o tamanho do estrago ainda é imensurável, mas o prefeito Sebastião Melo, do MDB, já anunciou o plano: irá contratar a consultoria Alvarez & Marsal para recuperar a cidade.

A história dessa contratação é tocante. “Um dos sócios dessa empresa é gaúcho, porto-alegrense. Ele se sensibilizou com o processo e nos procurou para ajudar”, disse Melo. A Alvarez & Marsal não irá cobrar pelo trabalho nos primeiros seis meses – mas o plano já prevê atividades para além do período gratuito.

A benevolência esconde o contexto. Vou começar pelo mais básico. A Alvarez & Marsal é uma consultoria que atua para recuperar aqueles casos quase impossíveis de crise corporativa. Empresas envolvidas em desastres ambientais, em grandes condenações e de reputação duvidosa.

Aqui no Brasil, por exemplo, atuou após os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho e com empresas que foram investigadas pela operação Lava Jato, como o Grupo Odebrecht e as construtoras OAS e Queiroz Galvão. 

(O rol de clientes não impediu, no entanto, que Sergio Moro fosse contratado pela consultoria logo após deixar o ministério da Justiça de Bolsonaro, mas essa é outra história que você pode ler aqui.)

Nos EUA, a Alvarez & Marsal atuou na reestruturação de Nova Orleans depois do furacão Katrina em 2005 – uma tragédia que, devido à magnitude, tem sido bastante comparada com o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Na ocasião, 1,5 mil pessoas morreram e 80% da cidade ficou debaixo d'água, completamente colapsada. 

No domingo, o Fantástico fez uma reportagem em tom esperançoso mostrando como foi a recuperação de Nova Orleans – e o que os gaúchos podem aprender com ela. 

A história de superação da cidade pode ser, sim, lida com essa lente inspiradora. Mas a economia de recuperação de desastres tem um lado sombrio, e é a tempestade perfeita para os urubus da crise criarem novas fronteiras de acumulação de capital – e implantarem as reformas e medidas antipopulares que tanto desejam.

É o fenômeno descrito como capitalismo de desastre. O caso de Nova Orleans, por exemplo, é um dos exemplos analisados pela autora canadense Naomi Klein no seu livro "A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo do desastre".

Esse conceito de "choque" vem do economista Milton Friedman, vencedor do Nobel de Economia em 1976 e um dos principais influenciadores da linha econômica liberal dos Chicago Boys. 

Friedman argumentava que só as crises econômicas poderiam produzir mudanças. Ou seja: o período após um trauma coletivo é o mais propício para reformas que, em outras ocasiões, dificilmente seriam aceitas. Privatizações radicais, por exemplo.

 

 Intercept Brasil

Agro abre oportunidades para startups e pequenos negócios em Goiás O setor representa 60% do PIB do Estado, o equivalente a R$ 195 bilhões Agronegócio do Brasil Soja, pecuária bovina de corte e milho são as atividades que mais impulsionam a economia de Goiás Copyright Sérgio Lima/Poder360 - 15.mai.2020 Vitória Queiroz 12.mai.2024 (domingo) - 6h00 O agronegócio representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto) de Goiás, segundo a Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás). Principal responsável pela economia do Estado, o setor se destaca em termos de oportunidades para pequeno...

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/poder-empreendedor/agro-abre-oportunidades-para-startups-e-pequenos-negocios-em-goias/)
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Reflexões sobre a enchente de 2024 (por Arno Kayser)

 Chuvas no RS: Nasa divulga imagens de satélite que mostram ...



Vista aérea de áreas alagadas de Porto Alegre: Arena do Grêmio, aeroporto Salgado Filho e os Bairros Sarandi, Humaitá e Ilhas. Foto: Giulian Serafim/PMPA

Arno Kayser (*)

A enchente de 2024 é, de longe, a pior da história da presença civilizada no Rio Grande dos Sul. Entre Abril e Maio choveram cerca de mil milímetros de chuva. Mais da metade do esperado para um ano inteiro. É bem provável que ela vai passar a ser o parâmetro tomando o lugar da grande enchente de 41 no imaginário popular.

As águas invadiram áreas baixas de diversos locais do Vale do Sinos e outras regiões do Estado. Na região metropolitana se romperam diques e em Porto Alegre o sucateado sistema de proteção das cheias falhou completamente e grande parte da capital ficou debaixo de água.

Um detalhe tem que ser lembrado. Os diques do Vale do Sinos foram locados bem perto do rio e deixaram uma parte do banhado do lado “seco” que acabou atraindo o povo sem outra opção de moradia para lá. Uma verdadeira armadilha. Isso para deixar áreas realmente altas para ocupação por gente em melhor situação econômica. Curiosamente o que também ocorreu em 1824 quando o império queria fazer a colônia onde hoje é o parque da Floresta Imperial em Novo Hamburgo, mas o dono da terra junto ao passo de São Leopoldo (terras doadas pela Coroa, por sinal) convenceu o representante local da colonização a comprar sua terra e assentar povo na beira dos banhados do Sinos.

Essa área roubada ao banhado poderia estar ajudando a segurar o nível da enchente mais tempo e não seria uma área de risco humano se tivesse ficado como reserva natural a exemplo do parque da imperatriz em São Leopoldo ou o banhado da estrada da integração em Novo Hamburgo.  Tivessem respeitado os banhados e talvez o centro de são Leopoldo hoje ficasse em Novo Hamburgo.

O mesmo caso ocorre em Canoas, Esteio e Sapucaia onde as partes mais atingidas são os assentamentos humanos localizados em antigos banhados e várzeas. 

São detalhes que afetam muitas vidas e mostram como é importante que decisões importantes sejam tomadas com muito debate popular e com apoio da ciência.

Os diques foram erguidos nos anos da ditadura militar e São Leopoldo foi iniciado no império. Democracia era algo que não existia nesses dois momentos históricos.

O Comitesinos propôs um mapeamento das áreas de risco de todo o vale e tentou orientar os municípios, pelo menos a não deixar ocupar com mais urbanização essas regiões. Quem mais resistiu foi a gestão pública de Canoas e algumas das suas entidades empresariais. Curiosamente foi a cidade com mais gente fora de casa e que defendia que a estrada do parque (BR448) fosse construída como um grande dique para poder se expandir no sentido do rio. Se isso tivesse ocorrido certamente os danos da enchente seriam maiores ainda.

Hoje pagamos um preço terrível por erros do passado no processo de ocupação do território.

Outra coisa que fica evidente é que um dos problemas do RS é que estão exterminando os órgãos técnicos científicos onde trabalha a inteligência do Estado que é capaz de gerar as soluções. É triste, mas é verdade. A cultura de serviço público vai se perdendo e chega num ponto que ficamos sem rumo. No meu setor junto à Fepam se aposentaram três das cinco pessoas que tinham quando entrei. Houve uma reposição em 10 anos. Faz quatro anos que esperamos substituição dos outros dois. Em breve os mais velhos se aposentam não vai ter ninguém para ensinar transmitir a experiência que o setor acumulou para quem chegar.

 A Metroplan, que trabalha com o tema da proteção de inundações, perdeu muito pessoal.  A Fundação Zoobotânica que estudava a nossa biodiversidade foi extinta.

Nada contra a iniciativa privada trabalhar para o Estado. Muitas vezes é necessária. Mas o serviço público é essencial para conduzir a gestão. É assim em todos os países desenvolvidos. Sem serviço público de qualidade um país fica como os países pobres da África. Um verdadeiro salve se quem puder em meio a um caos de lutas internas entre grupos rivais, como já ocorre em alguns locais de nossos grandes centros.

Outro fato a ser analisado nesse contexto é que o voluntariado tem limite. Ainda que sua contribuição seja um exemplo magnífico da solidariedade humana o fato é uns dias depois de a tragédia deixar de ser pauta da grande mídia a maioria dos voluntários volta para casa até porque não são profissionais e tem que cuidar de suas vidas. Quem vai seguir é o serviço público. É assim sempre. Só que não se falam disso em muitos veículos de imprensa. Especialmente os aliados com a ideia do estado mínimo que ajudou muito a levar o RS a esse estado de calamidade.

O país hoje está cheio de jovens bem preparados. Muitos que gostariam de trabalhar no serviço público. Em vinte anos como servidor público trabalhei com pelo menos quarenta estagiários.  Muitos nos procuraram porque queriam se tornar servidores públicos. Alguns até passaram em concurso e trabalham no setor público. O jovem que entrou no meu setor foi meu estagiário. Mas tem muitos que não recebem oportunidade. Alguns até vão embora do Brasil. Desperdiçando a sua qualificação, pois lá vão ser trabalhadores de serviços para gente com pouca formação.

Também irrita um pouco a política de algumas empresas privadas de previsões meteorológicas especializadas em fazer manchetes catastrofistas para atrair leitores para suas páginas na internet recheadas de anunciantes. Quando muitas das suas previsões trágicas não ocorrem ficam quietos como as videntes que todo novo ano as revistas de fofocas entrevistam para prever o que virá. Cientificamente são capacitadas, mas não nos parece correto que lucrem atemorizando as pessoas e faturando em cima da espetacularização da desgraça (como, aliás, também o fazem muitos veículos de mídias para aumentar a audiência de seus programas).  Os serviços de alerta de risco devem ser ponderados e objetivos em suas manifestações. Dar a informação precisa é fundamental para que os alertas sejam levados a sério pela população. Abusar do sensacionalismo só atrasa a formação de uma cultura de prevenção.

Também vemos nessas horas que muitos técnicos que seguem com dificuldades para aceitar que precisamos de tecnologias que cooperem com a natureza para lidar com os desafios que as mudanças climáticas nos impõem. Ainda há muitos que insistem que devemos buscar soluções tecnológicas que no fundo só ampliam os danos ao planeta. Como os caras que defendem destruir a vegetação das áreas de proteção permanente para fazer açude para combater as secas ao invés de propor recuperar essa vegetação para ela retomar seu papel no equilíbrio da dinâmica das águas das nossas bacias hidrográficas. Ou gente que propõe abater as florestas das encostas para que o peso das árvores não derrubar o solo dos morros.

Uma ideia muito debatida é fazer um canal de saída para o mar na Laguna do Patos ao norte de Rio Grande para baixar mais rápido as águas represadas em Porto Alegre e arredores. Alegam que ao fazer a BR 101 no litoral médio se construiu um grande dique que bloqueou saídas da Laguna para o mar que existiam antes retendo mais água na Laguna.  Apontam como exemplo disso a barra falsa do Bojurú onde essa solução poderia ser implantada.

A Laguna dos Patos se formou no último milhão de anos. Obra de um ciclo de recuos e avanços do mar ao longo de pelo menos quatro transgressões marinhas. O leito da BR 101 esta na parte mais alta do litoral médio num divisor de água. Não constitui barreira construída pela humanidade do sistema de drenagem natural para o mar. Por conta dessa faixa de terra é que a Laguna existe e não é parte do oceano como antes da sua formação.  As barras de saídas de água para o mar no litoral médio são do sistema de lagoas do conjunto da Lagoa do Peixe e outras ao longo da costa. A barra falsa do Bojurú pode ser uma paleo saída pro mar. Mas hoje ela corre para o oeste assim como os cursos d’água da Lagoa do Casamento e do rio Gravataí que em eras geológicas mais antigas corriam para o mar. Um canal assim funcionaria nos dois sentidos conforme a maré ou os ventos. E poderia salinizar toda a Laguna trazendo problemas para a irrigação de arroz e potabilização de água para as cidades do entorno e afetando em muito a biodiversidade do local que é fonte de renda para muitas famílias.

Essa ideia faz pensar. Caso tenhamos um buraco no telhado onde entra a chuva o que é melhor fazer? Fazer o conserto do telhado ou aumentar o tamanho do ralo para inundação passar mais rápido? Nesse caso me parece mais inteligente consertar o telhado. No caso do RS o conserto significa a recuperação das matas ciliares nos rios gaúchos, melhorar as praticas de agricultura para controlar a erosão e mesmo construir pequenos açudes ao nível de produtor que poderão ajudar na próxima seca que a maioria esquece no momento da enchente. Isso também pode ajudar a conter a erosão que assoreia os rios.

Falando em assoreamento também se ouve que alguns velejadores defendem que se retire toda a areia do fundo do Guaíba para aumentar o canal de drenagem do Lago. E que ela seja usada para usos diversos, como material de construção. Fato que só não ocorre por conta de oposição dos Ecologistas (quase os culpando pela tragédia, por sinal).

A areia que está no fundo do Guaíba, segundo estudos feitos pela UFRGS, infelizmente está contaminada por metais pesados, decorrentes da poluição das indústrias metal-mecânica e dos curtumes gaúchos. Por isso é melhor não usar o resíduo da dragagem dos canais em usos que não sejam construções de ilhas artificiais como a do clube Jangadeiros.  Também por essa razão não se recomenda minerar areia no leito do Guaíba. Mexer nesses metais que hoje estão quimicamente estabilizados no fundo poderia trazer sérios prejuízos à qualidade da água e até o risco de inviabilizar seu uso para potabilizar para consumo humano.

Esses exemplos mostram que muita gente não entendeu que o paradigma tecnológico que levou a sociedade a situação atual de desequilíbrio ambiental não tem capacidade de trazer soluções para a crise que vivemos. Precisamos pensar como a natureza e copiar ou ajudar a implementação das soluções que ela usa para sairmos desta e ter esperança de um futuro para a humanidade no planeta.

Pro fim outra coisa que chama a atenção nessa enchente é que muita gente tende a definir o que está sendo visto no RS como cenas de guerra. Vamos combinar que assistimos cenas de uma tragédia decorrente das mudanças climáticas combinadas com décadas de devastação ambiental e negacionismo político neoliberal dominando a máquina pública. Não têm ninguém bombardeado os atingidos pela enchente. Cena de guerra é em Gaza ou na Ucrânia e em outros conflitos mundo afora. Pergunta em qualquer desses lugares se eles não trocariam de lugar com os gaúchos agora. Falar em cena de guerra é fortalecer a cultura da violência. É fazer propaganda da militarização das soluções dos problemas do mundo.  A mesma lógica de guerra que constrói muros entre nações ricas e pobres e mata os inocentes, em diversos lugares do mundo.

Falar em cenas de guerra também é descaracterizar o debate das mudanças climáticas. O que não contribui em nada para a construção de políticas de superação das causas dos aumentos da temperatura no planeta. Temos que falar em paz e solidariedade nesse momento. Em reduzir emissões de gases estufa. Em políticas públicas de adaptação. Não precisamos reproduzir, sem pensar, a linguagem da cultura de competição que está destruindo as possibilidades de vida humana e outros seres no planeta.

(*) Agrônomo, Ecologista e Escritor

 

 https://sul21.com.br/opiniao/2024/05/reflexoes-sobre-a-enchente-de-2024-por-arno-kayser/