quarta-feira, 29 de maio de 2024

A privatização e a nova dinâmica do mercado de combustíveis na Bahia, por Adhemar S. Mineiro

 


No Nordeste, a turbulência internacional e a reoneração tributária devem impactar em especial o mercado de combustíveis da Bahia.

 

 

A privatização e a nova dinâmica do mercado de combustíveis na Bahia

por Adhemar S. Mineiro

 

Os primeiros meses de 2024 foram marcados por eventos que exerceram forte pressão potencial sobre os preços dos derivados do petróleo no Brasil. No plano internacional, o agravamento do conflito no Oriente Médio fez com que o Mar Vermelho, uma importante rota petroleira, se tornasse cenário de confrontos, forçando a utilização de vias de navegação mais distantes. Com isso, verificou-se um incremento nos custos de frete e de seguro marítimo, o que resultou na consequente elevação do preço final do óleo cru.

Paralelamente, no âmbito nacional, foi implementada a reoneração dos tributos federais (PIS/COFINS) e estaduais (ICMS) sobre os derivados de petróleo, cujo efeito nos preços desses produtos é esperado, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

A princípio, no Nordeste, a turbulência internacional e a reoneração tributária devem impactar em especial o mercado de combustíveis da Bahia. Nesse estado, a Acelen opera quase como um monopólio na região metropolitana de Salvador e no Recôncavo, beneficiando-se da proteção de mercado proporcionada pela distância e pela falta de capilaridade logística dos competidores. Além disso, tem mercado preferencial em áreas do Nordeste e do Norte de Minas Gerais.

Entretanto, caso haja um substancial aumento no diferencial de preços, a Petrobras poderia ameaçar o domínio de mercado da Acelen na região no longo prazo. Isso seria possibilitado, sobretudo, pelo incremento da produção nas refinarias do Sudeste e na RNEST, conforme planejado pela estatal. Nesse cenário, também deve-se considerar que, desde o início das operações na Bahia, a Acelen tem direcionado parte de sua produção para a fabricação de óleo bunker destinado à exportação, diminuindo assim sua oferta de derivados, como o diesel, para o mercado interno.

A Petrobras, quando divulgou sua nova política de preços em maio de 2023, sinalizou a intenção de explorar novos mercados. Para a empresa, a mudança possibilita mais flexibilidade para praticar preços competitivos, se valendo de suas melhores condições de produção e logística e disputando mercado com outros atores que comercializam combustíveis no Brasil. Essa vantagem competitiva pode ser ainda reforçada se houver avanços na otimização logística e na expansão do refino em unidades capazes de atender o Nordeste.

Com a política, a estatal se desobrigou da vinculação estrita aos Preços de Paridade de Importação (PPI), o que faz com que os preços internos não sejam imediatamente impactados pelas oscilações nos preços internacionais. Com mais flexibilidade, a estatal tem o potencial de desafiar os mercados e as margens de lucro de concorrentes, pressionando-os a reavaliar suas estratégias operacionais.

A reação dos competidores à liderança de mercado exercida pela Petrobras pode servir como um teste para a sua política de preços. De fato, já em maio de 2023, a Acelen modificou sua política de preços e, logo após, ainda no mesmo mês, foi notificada pelo Procon-BA exatamente por ter acompanhado o movimento da Petrobras e reduzido seus preços.

Outro ponto relevante é que, diferente dos atores privados, a Petrobras mitigou os impactos do retorno dos tributos federais e estaduais em âmbito nacional. Isso foi alcançado por meio da redução dos preços dos derivados em suas refinarias, de modo a absorver parte dos efeitos do retorno dos impostos quando as medidas fossem efetivadas.

A pressão nos preços internacionais do petróleo nos últimos dois meses, aliada à nova política de preços implementada pela Petrobras desde maio do ano passado, tem potencial para intensificar a concorrência nas regiões atendidas pela Acelen – já que a empresa é particularmente suscetível às flutuações internacionais.

Além disso, a melhoria da logística da Petrobras para atender à região a partir das unidades existentes – via investimentos realizados pela Transpetro em navegação de cabotagem e expansão de dutos –, bem como a volta da Petrobras ao setor de distribuição, representa um desafio adicional. Assim, a Acelen provavelmente terá que reconsiderar sua estratégia operacional e sua política de preços, que por manter a vinculação ao PPI, até então, servia como garantia de rentabilidade para seus investidores. A empresa pode precisar explorar formas de associação com a Petrobras, visando evitar a instalação de uma competição efetiva com a líder nacional do setor.

 

 

 https://jornalggn.com.br/desenvolvimento/a-privatizacao-e-a-dinamica-do-mercado-de-combustiveis-na-bahia/


Adhemar S. Mineiro – Economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)


Senado adia Mover e taxação de compras para semana que vem, mas garante manutenção de contratos

 Senado Fotos


O Senado adiou para a próxima terça-feira, 4, a votação do projeto de lei que regulamenta o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) e prevê cobrança de 20% de imposto de importação sobre compras internacionais de até US$ 50. A informação foi confirmada pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Ele também garantiu que a perda de efeito, na sexta-feira, 31, da Medida Provisória (MP) que criou os incentivos ao setor automotivo não impactará nos contratos que já foram estabelecidos.

“Ele (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado) teve a garantia de que esta lacuna temporal, de dias, é possível resolver”, disse Wagner, a jornalistas, ao ser questionado sobre eventual insegurança jurídica para as montadoras com a votação do projeto de lei do Mover após o vencimento do prazo da MP. “Os contratos não caducarão. Os investidores podem ficar tranquilos que será suprido”, emendou.

O Mover foi aprovado na noite desta terça-feira, 28, na Câmara, com alguns jabutis – trechos em projetos de lei que não têm relação com o conteúdo principal. Além da taxação do e-commerce estrangeiro, os deputados incluíram de última hora, por exemplo, política de conteúdo local para as atividades de exploração e produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, aplicável ao regime de concessão.

Essa medida foi criticada pelo Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural (IBP). “O dispositivo, incluído de última hora e sem o debate necessário com o setor produtivo, representa grave barreira para a viabilidade de projetos, tendo sido estabelecidos sem qualquer estudo técnico mais aprofundado”, avaliou a entidade em nota nesta quarta-feira.

Além disso, de acordo com o IBP, a medida suprime os poderes e prerrogativas do Ministério de Minas e Energia (MME), da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para fixar os índices de conteúdo local de acordo com as características de cada projeto, conforme a prática internacional.

Massa de salários em circulação na economia bate recorde em abril, aponta IBGE

 


Desemprego cai para 7,5% em abril, menor taxa para o período desde 2014.

Desemprego cai para 7,5% em abril, menor taxa para o período desde 2014 (Crédito: Arquivo / Agência Brasil)

A massa de salários em circulação na economia aumentou em R$ 23,046 bilhões no período de um ano, para o nível recorde de R$ 313,137 bilhões, uma alta de 7,9% no trimestre encerrado em abril de 2024 ante o trimestre terminado em abril de 2023. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com o trimestre terminado em janeiro de 2024, a massa de renda real subiu 1,1% no trimestre terminado em abril, R$ 3,296 bilhões a mais.

O resultado foi impulsionado tanto pelo crescimento no número de trabalhadores ocupados quanto pelo aumento no rendimento pago a quem estava trabalhando, apontou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Renda médio mensal subiu para R$ 3.151

O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma alta real de 0,8% na comparação com o trimestre até janeiro, R$ 25 a mais, para R$ 3.151.

Em relação ao trimestre encerrado em abril de 2023, a renda média real de todos os trabalhadores ocupados subiu 4,7%, R$ 143 a mais.

A renda nominal, ou seja, antes que seja descontada a inflação no período, cresceu 2,4% no trimestre terminado em abril ante o trimestre encerrado em janeiro. Já na comparação com o trimestre terminado em abril de 2023, houve elevação de 9,0% na renda média nominal.

Segundo Adriana Beringuy, a renda do trabalhador cresceu puxada pela expansão do emprego formal, que tem remuneração mais elevada que ocupações informais.

 

Catta Preta pediu socorro a procuradores de Curitiba antes de abandonar a Lava Jato e sair do País, mostra Spoofing

 


Advogada de delatores, Catta Preta apelou a Carlos Fernando e Deltan Dallagnol para proteger sua família; leia as mensagens

 

 

Um dos casos que mais causou rebuliço no início da Operação Lava Jato diz respeito à renúncia a diversos mandatos de defesa por parte da então advogada criminalista Beatriz Catta Preta, que vinha ganhando protagonismo fechando acordos de delação premiada com a força-tarefa de Curitiba. Ela foi responsável, por exemplo, pela primeira delação da Lava Jato, a de Paulo Roberto Costa.

Em 2015, após negociar pelo menos outras oito colaborações e faturar milhões de reais em honorários, ela decidiu fechar o escritório e ir morar no exterior alegando ter sofrido “ameaças veladas” por parte de interlocutores de congressistas que seriam implicados nas investigações por seus clientes. Entre eles estaria Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados.

Agora, nove anos após sua saída repentina da Lava Jato, diálogos apreendidos pela Operação Spoofing e acessados pelo Jornal GGN revelam que Catta Preta chegou a pedir socorro aos procuradores de Curitiba antes de tomar a decisão de abandonar a própria carreira para proteger a si e sua família.

A conversa – leia ao final – confirma que a advogada não só tinha medo das ameaças que recebeu para não depor à CPI da Petrobras, como teria se oferecido ao então procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para relatar extraoficialmente os casos de “violência” dos quais seus algozes seriam “capazes”.

Carlos Fernando: O seu receio é o de comparecer à CPI?
Beatriz Catta Preta: Também, a mesma pessoa está soltando as mentiras na imprensa e alimentando a CPI, para os interesses de uma pessoa só. Sei do que são capazes e relato a violência a vocês de forma extra oficial.

Além das alegadas ameaças, Catta Preta também demonstrou preocupação com a possibilidade de virar alvo da CPI. “Não posso ser transformada em investigada.”

Na troca de mensagens, os procuradores conversaram sobre as razões que teriam levado Catta Preta a abrir mão das defesas. Carlos Fernando chegou a mencionar que, além da pressão da CPI, o marido de Catta Preta também teria “problemas”, e advertiu aos colegas: “Por isso insisto sempre que devemos ficar de fora da escolha do advogado. Isso sempre é complicado.” A frase confirma o que por muitos anos foi denunciado na Lava Jato: que procuradores selecionavam ou barravam defensores de alguns réus.

 

O pedido de ajuda

 

Beatriz Catta Preta em entrevista aos Jornal Nacional

 

Os apelos de Catta Preta aos procuradores de Curitiba ocorreram um dia após ela anunciar o encerramento de sua carreira em uma entrevista ao Jornal Nacional, em 30 de julho de 2015. Carlos Fernando expôs no grupo com os colegas a mensagem recebida por ela no dia 31.

“Preciso de proteção a mim e minha família. A insistência do Presidente da CPI em me ouvir é encomendada. Mesmo com o Supremo dizendo que não devo falar à CPI, ele está dando declarações de que manterá minha convocação. Sou apenas uma advogada. Não posso ser transformada em investigada. Se permitirem minha ida à CPI, eu e minha família não teremos mais espaço neste País”, escreveu Catta Preta.

“Não tenho proteção ou segurança. Jornalistas estão amedrontando todos os meus familiares. O que está acontecendo é pessoal. Preciso realmente da ajuda da PGR [Procuradoria-Geral da República]”, concluiu. Carlos Fernando, por sua vez, prometeu encaminhar o caso à PGR.

Além de Carlos Fernando, Deltan Dallagnol também teria recebido as mensagens privadas de Catta Preta.

Em 2016, o jornalista Lauro Jardim revelou o teor de uma conversa privada entre Catta Preta e os investigadores da Lava Jato. Ela relatou ter se sentido ameaçada pelo doleiro Lúcio Funaro, tratado pela Lava Jato como operador de Eduardo Cunha, ao chegar em casa e vê-lo sentado no sofá brincando com seus filhos. Funaro era ex-cliente de Catta Preta e, por isso, teve acesso a sua intimidade. 

 

Confira trechos da Spoofing abaixo: 

 

26 Jul 15

 
11:58:28 Orlando SP Cf, o q Catta preta disse a vc para renunciar aos mandatos?
13:02:55 O que ela me perguntou foi se haveria possibilidade de reavaliar as condições do Júlio sem quebrar o acordo.
13:03:56 Ela disse que não queria ser advogada do Júlio se fossemos pedir a rescisão do acordo.
13:05:28 Disse a ela que enquanto não ajuizassemos um pedido de justificação, seria sempre possível um novo acordo.
13:05:36 Orlando SP Ok. Welter, vi q vc enviou o meu e-mail sobre Leonardo para o adv dele!!! Aquele em q digo q Leonardo “parece q vende mais do que
tem”!!!
13:06:07 Orlando SP Qual o motivo da renúncia ?
13:06:19 Orlando SP Pressão?
13:07:00 Athayde Vamos precisar do augusto em breve no caso angra. Ele pagou uma das intermediarias. Pelo q sei ele ta sem adv, ne?
13:08:40 Nem ideia. Mas realmente ela tinha o marido por trás. Ela chegou a me dizer que ela é o marido insistiam para que Júlio dissesse a verdade.
13:09:16 Creio que foi a manobra do Congresso, fora o marido ter problemas.
13:09:56 Por isso insisto sempre que devemos ficar de fora da escolha do advogado. Isso sempre é complicado.

30 Jul 15

 
19:40:52 Diogo Catta Preta deu entrevista para o JN. Disse que foi ameaçada pelo Eduardo Cunha

1 Jul 15


13:36:2
4 Dr., bom dia. Preciso de proteção a mim e minha família. A insistência do Presidente da CPI em me ouvir é encomendada. Mesmo com o Supremo dizendo que não devo falar a CPI ele esta dando declarações de que manterá minha convocação. Sou apenas uma advogada. Não posso ser transformada em investigada. Se permitirem minha ida à CPI, eu e minha família não teremos mais espaço neste País. Isso é uma atrocidade! Tenho filhos pequenos, que por conta das declarações deste Sr. estão sendo apontados e discriminados na escola e pelas famílias dos amiguinhos. Não tenho proteção ou segurança. Jornalistas estão amedrontando todos os meus familiares. O que está acontecendo é pessoal. Preciso realmente da ajuda da PGR.
13:36:40 Recebido de Catta Preta.
13:46:16 [31/7 13:36] carlos fernando: Vou encaminhar para a PGR. [31/7 13:36] Beatriz Catta preta: Foi para o Sr , Dr douglas e Dr Deltam , voces precisam me ajudar , tem nome e sobrenome, objetivo e motivo. Estou presa minha casa , em SP , tenho receios de sair , preciso de ajuda! [31/7 13:40] carlos fernando: É preciso delimitar exatamente o que acontece. O seu receio é o de comparecer à CPI? [31/7 13:42] Beatriz Catta preta: Tambem, a mesma pessoa esta soltando as mentiras na imprensa e alimentando a CPI, para os interesses de uma pessoa só. Sei do que sao capazes e relato a violencia a voces de forma extra oficial [31/7 13:42] Beatriz Catta preta: O Dr Figueredo não esta errado nos memoriais que apresentou na defesa do Julio.

https://jornalggn.com.br/noticia/catta-preta-pediu-ajuda-a-procuradores-antes-de-abandonar-lava-jato/

 

domingo, 26 de maio de 2024

Governo libera mais R$ 6,7 bi para compra de arroz

Fotos Arroz, 930.000+ fotos de arquivo grátis de alta qualidade

Duas medidas provisórias (MPs) foram editadas anteontem destinando mais R$ 6,7 bilhões para a importação de arroz beneficiado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo nota da Conab, a União destinou até agora R$ 7,2 bilhões para a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz como forma de enfrentar as perdas nas lavouras em razão das enchentes no Rio Grande do Sul.

O produto adquirido pela Conab será destinado à venda direta para mercados de vizinhança, supermercados, hipermercados, atacarejos e estabelecimentos comerciais. Esses estabelecimentos deverão vender o arroz exclusivamente para o consumidor final – que deverá pagar no máximo R$ 4 pelo quilo do cereal.

Moraes nega recurso de Bolsonaro contra inelegibilidade

 

A jogada de mestre de Alexandre de Moraes – Opinião ...

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negou um recurso da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e do seu candidato a vice em 2022, Walter Braga Netto, contra a decisão que declarou a inelegibilidade dos dois. O motivo da condenação foi o uso das comemorações do Bicentenário da Independência em Brasília e no Rio de Janeiro para fins eleitorais.

A defesa queria que o recurso fosse analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Antes disso, é preciso que o presidente do TSE analise se a ação cumpre os requisitos para ser enviada ao Supremo. Moraes entendeu que não. “A controvérsia foi decidida com base nas peculiaridades do caso concreto, de modo que alterar a conclusão do acórdão recorrido pressupõe revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, providência que se revela incompatível com o recurso extraordinário”, afirmou na decisão, que foi publicada hoje e assinada na última sexta-feira, 24.

Dia da Indústria: setor busca modernização, com inovação e compromisso sustentável

 Confederação Nacional da Indústria – Wikipédia, a ...


O programa Nova Indústria Brasil, lançado no início deste ano, é a grande aposta do governo Lula para reverter o processo de desindustrialização que afeta a economia brasileira nas últimas décadas. Depois de alcançar mais de 21% nos anos 1980, a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu para algo em torno de 10% em 2023, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Focada em inovação, modernização e transição energética, a nova política tem potencial para inverter esse movimento, desde que as propostas sejam implementadas conforme descritas no programa. “Trata-se de uma política pública moderna, que redefine escolhas para o desenvolvimento sustentável, com mais investimento, produtividade, exportação, inovação e empregos, por meio da neoindustrialização”, disse o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, Léo de Castro. Hoje, na comemoração do Dia da Indústria, o que setor pede é celeridade na adoção dessa nova agenda.

Por mais que o Brasil tenha tentado estratégias semelhantes – e as condições em relação ao século passado, principalmente, serem outras -, e o mundo ter se voltado para a inovação atrelada à economia de baixo carbono até antes da pandemia, a questão agora é saber como acelerar processos e evitar os erros do passado.

“Essa retomada da política industrial no Brasil ocorre, na verdade, com atraso, mesmo quando comparada com países da América Latina e outras nações em desenvolvimento. O mundo mudou muito em relação aos anos 90 e à forma como os países usam suas políticas, por exemplo, no comércio internacional. O exemplo mais categórico disso são os Estados Unidos com o plano Biden”, afirma o economista Marco Antônio Rocha, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o pesquisador, desde pelo menos 2012, o planeta, e principalmente os países desenvolvidos, já definiu os alicerces da chamada indústria 4.0.

CNI cobra agilidade


Além de chegar atrasado ao “baile” da inovação industrial – e os próprios dirigentes da CNI cobraram, nas últimas semanas, mais celeridade na implantação do Nova Indústria Brasil -, é preciso que os gestores fujam do que não deu certo no passado, segundo o economista Armando Castelar, professor da FGV Direito Rio e do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador associado do FGV IBRE. “O mais importante para que esse novo plano para o setor não volte a fracassar é entender que simplesmente proteger as empresas de baixa produtividade não vai tornar o setor mais competitivo a médio prazo.” A vocação de uma política industrial, segundo o pesquisador, deve ser exatamente o contrário.

“A principal causa da perda de participação da indústria de transformação no PIB é seu fraco desempenho em termos de produtividade: essa tem, de fato, caído”, diz Castelar. Segundo ele, os planos anteriores para o setor buscaram compensar isso com medidas de proteção contra importações mais baratas e competitivas, via barreiras às importações, exigências de conteúdo local e subsídios diversos, em especial via financiamento público com juros reais muito baixos ou mesmo negativos. “Essas medidas buscavam compensar a baixa produtividade, mas não aumentá-la”, avalia Castelar.

Mergulhar profundamente nas águas da inovação é uma das premissas essenciais para que as empresas brasileiras consigam ganhar terreno na participação do PIB, segundo Rocha, da Unicamp. “A questão da incorporação da agenda climática na indústria, tão exigida hoje, por exemplo, não pode ser um mantra. É um esforço que depende da modificação da estrutura produtiva do País, do investimento em ciência, tecnologia e inovação, itens que, historicamente, fazem parte de políticas nacionais.”

Se há um plano sobre a mesa com diretrizes modernas, e que aponta para setores industriais específicos, existem outros processos ainda mais delicados a serem atacados, segundo Rocha. “Para tudo o que vem sendo construído funcionar precisa, primeiro, de uma coordenação muito bem articulada das ações transversais relacionadas às compras públicas e ao fomento industrial e de inovação. O PAC deve dialogar muito bem com os esforços previstos na política relacionados, por exemplo, ao desenvolvimento de tecnologias para cidades resilientes, como as infraestruturas verdes. A segunda questão, e que mais me preocupa, é a capacidade fiscal do Estado. O fluxo de recursos, nesses casos, precisa ser estável.”

Sobre essas camadas mais elementares de uma política industrial existem outras igualmente importantes. A exacerbada competição internacional exige que investimentos vultosos sejam feitos, tanto do lado do governo quanto do lado privado. Sob pena de os setores nacionais ficarem pendurados apenas nos subsídios, sem terem resultados positivos para apresentar.

“Essa questão de atingir a competitividade internacional é um pouco mais complicada. Precisamos dobrar o nosso investimento em infraestrutura e dobrar os recursos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Isso apenas para atingirmos o benchmark”, afirma o pesquisador do Unicamp. Chegar a esse patamar, segundo os dados internacionais, significa ficar, ainda, atrás de países que estão no topo da inovação tecnológica global, caso de Estados Unidos, China, Alemanha e Coreia do Sul.

As perspectivas do Nova Indústria Brasil

1. Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar: fabricação de equipamentos para agricultura de precisão e máquinas e ampliação da capacidade produtiva da agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis

2. Complexo econômico industrial da saúde: ampliar a participação da produção no País de 42% para 70% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos. E contribuir para fortalecer o SUS e melhorar o acesso à saúde

3. Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis: ampliar em 25 pontos porcentuais a participação da produção na cadeia da indústria do transporte público sustentável

4. Transformação digital da indústria: investir no desenvolvimento de produtos digitais e produção nacional de semicondutores

5. Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas: aumentar o uso da biodiversidade pela indústria e reduzir em 30% a emissão de carbono da indústria nacional

6. Tecnologias para soberania e defesa nacionais: ações voltadas ao desenvolvimento de energia nuclear, sistemas de comunicação e sensoriamento, sistemas de propulsão e veículos autônomos e remotamente controlados