Presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursa em fórum parlamentar do Brics em São Petersburgo
A Rússia está tentando convencer os países do Brics a construir uma plataforma alternativa para pagamentos internacionais que seria imune às sanções ocidentais quando receber os chefes de Estado do grupo para uma cúpula na próxima semana.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está empenhado em fazer do Brics — que se expandiu recentemente para incluir Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — um poderoso contrapeso ao Ocidente na política e no comércio global.
A cúpula de 22 a 24 de outubro na cidade de Kazan está sendo apresentada por Moscou como prova de que os esforços ocidentais para isolar a Rússia têm fracassado. O país deseja trabalhar com aliados para reformular o sistema financeiro global e acabar com o domínio do dólar.
O ponto central para isso é a proposta de um novo sistema de pagamentos baseado em uma rede de bancos comerciais ligados entre si por meio dos bancos centrais dos países do Brics, de acordo com um documento preparado pelo Ministério das Finanças e pelo banco central da Rússia, distribuído aos jornalistas antes da cúpula.
O sistema usaria a tecnologia blockchain para armazenar e transferir tokens digitais respaldados por moedas nacionais. Isso, por sua vez, permitiria que essas moedas fossem trocadas com facilidade e segurança, evitando a necessidade de transações em dólares.
A Rússia vê isso como uma forma de resolver problemas crescentes na liquidação de pagamentos comerciais, mesmo com aliados como a China, onde os bancos locais temem que possam ser atingidos por sanções secundárias dos Estados Unidos.
O documento russo acusa instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), de atender aos interesses dos países ocidentais e diz que elas precisam de “melhorias para atender melhor à economia global em evolução”. O ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, convocou os membros do Brics na semana passada para criar uma alternativa ao FMI.
Entre outras iniciativas para facilitar o comércio e o investimento, a Rússia também está propondo a criação de uma plataforma “Brics Clear” para liquidar o comércio de títulos.
O documento ainda pede uma melhor comunicação entre as agências de recomendação de crédito dos países membros e uma metodologia comum, mas não chega a propor uma agência conjunta do Brics, uma ideia que o grupo havia discutido anteriormente.
Mas, em um sinal de que Moscou precisará trabalhar duro para levar adiante suas propostas, a maioria dos membros do Brics enviou apenas autoridade de menor escalão — não ministros das Finanças ou presidentes de bancos centrais — para uma reunião preparatória na semana passada.
Para a cúpula em si, a Rússia diz que espera receber líderes de todos os nove membros do Brics e cerca de 15 outros países interessados em trabalhar como parceiros do grupo.
“O Brics é uma estrutura que não pode ser ignorada”, disse Yuri Ushakov, assessor do Kremlin, a repórteres na semana passada.