Uma tarifa comercial recíproca de 50% imposta ao Lesoto, a mais alta anunciada pelo presidente dos EUA,
matará o pequeno reino do sul da África que Donald Trump ridicularizou
no mês passado, disse um analista econômico nesta quinta-feira, 03.
O
Lesoto, que Trump descreveu em março como um país do qual “ninguém
nunca ouviu falar”, é uma das nações mais pobres do mundo, com um PIB
(Produto Interno Bruto) de pouco mais de US$ 2 bilhões.
O
país tem um grande superávit comercial com os Estados Unidos, graças
principalmente às suas exportações de diamantes e têxteis, incluindo
jeans Levi’s, para o mercado norte-americano.
Suas vendas para os Estados Unidos, que em 2024 totalizaram US$ 237 milhões, representam mais de 10% de seu PIB.
Na
quarta-feira, 2, Trump impôs novas e abrangentes tarifas aos parceiros
comerciais globais, derrubando décadas de comércio baseado em regras e
ameaçando aumentar os custos para os consumidores.
Ele
disse que as tarifas “recíprocas” eram uma resposta às taxas e outras
barreiras não tarifárias impostas aos produtos americanos. O Lesoto
cobra 99% de tarifas sobre os produtos americanos, de acordo com o
governo dos EUA.
Na África, a medida sinalizou o fim do acordo
comercial AGOA (Lei de Crescimento e Oportunidades para a África), que
deveria ajudar as economias africanas a se desenvolverem por meio de
acesso preferencial aos mercados dos EUA, segundo especialistas em
comércio.
A
iniciativa também aumentou as dificuldades para a região depois que
Trump desmantelou a Usaid, agência governamental que era uma das
principais fornecedoras de assistência ao continente.
“A tarifa
recíproca de 50% introduzida pelo governo dos EUA vai acabar com o setor
têxtil e de vestuário do Lesoto”, disse à Reuters Thabo Qhesi, analista
econômico independente baseado em Maseru.
A Oxford Economics
disse que o setor têxtil, com cerca de 40 mil trabalhadores, é o maior
empregador privado do Lesoto e responde por aproximadamente 90% dos
empregos no setor industrial e das exportações.
“Depois temos os
varejistas que vendem alimentos. E há os proprietários de imóveis
residenciais que alugam casas para os trabalhadores. Isso significa que,
se houver o fechamento de fábricas, o setor morrerá e haverá efeitos
multiplicadores”, disse Qhesi.
“Portanto, o Lesoto estará morto, por assim dizer.”
O
governo do Lesoto, uma nação montanhosa de cerca de 2 milhões de
habitantes cercada pela África do Sul, não fez comentários imediatos
sobre as tarifas comerciais na quinta-feira.
Seu ministro das
Relações Exteriores disse à Reuters no mês passado que o país, que tem
uma das maiores taxas de infecção por HIV/Aids do mundo, já estava
sentindo o impacto dos cortes na assistência, pois seu setor de saúde
dependia deles.
A fórmula usada para calcular as tarifas dos EUA
considerou o déficit comercial dos EUA em mercadorias com cada país como
um indicador de supostas práticas desleais e também a quantidade de
mercadorias importadas para os Estados Unidos daquele país.
Na
prática, países que importam apenas pequenas quantidades de mercadorias
dos EUA, como Lesoto e Madagascar, foram atingidos por tarifas mais
punitivas do que países muito mais ricos.
Esse também é o caso do
Vietnã, Nicarágua e Camboja, cujas exportações para os Estados Unidos
representam mais de 25% do PIB, de acordo com a Oxford Economics.
Um vendedor de milho em Maseru, Sekhoane Masokela, viu o anúncio de Trump como um motivo para buscar novos mercados.
“O
país dele (de Trump) não é o único, então ele está nos dando uma
oportunidade de cortar os laços com ele e procurar outros países. É
evidente que ele não quer mais ter nada a ver conosco”, disse Masokela.