
Após o Nubank anunciar o fim do home office e a adoção do modelo de trabalho híbrido a partir de julho de 2026, decisão que causou tensão dentre os funcionários da fintech, uma carta-manifesto foi redigida e lida durante uma plenária com o Sindicato dos Bancários que ocorreu nesta quarta-feira, 12.
A reivindicação da carta-manifesto (leia abaixo) – que não foi assinada – é a reversão da decisão do Nubank sobre o fim do home office e, além disso, a recontratação de 14 funcionários que foram demitidos desde o anúncio da decisão.
Dos 14 desligados, 12 deles foram em virtude de comentários que a companhia considerou que violaram o código de ética da empresa durante a reunião do Zoom que anunciou o fim do home office – incluindo xingamentos e ofensas.
Ainda outros 2 foram desligados nesta semana por supostamente tentarem sabotar os sistemas da empresa.
“O Nubank esclarece que mantém um diálogo aberto e transparente com todas as entidades representativas apropriadas”, diz a fintech, em nota enviada à IstoÉ Dinheiro.
O novo modelo do Nubank, que entrará em vigor somente em julho de 2026, prevê dois dias de trabalho presencial por semana. A frequência exigida será aumentada para três dias por semana a partir de janeiro de 2027.
Essa regra valerá para cerca de 70% dos funcionários do banco.
A fintech, além disso, providenciará auxílio financeiro para funcionários que precisem se mudar para cumprir para com a regra e comparecerem à sede da empresa, localizada em Pinheiros, na capital paulista.
Há cinco dias, Neiva Ribeiro, presidente do Sindicado dos Bancários, fez uma postagem no LinkedIn declarando que a entidade ‘está em contato com a direção do Nubank’ desde o anúncio.
“Ao final da reunião, 12 trabalhadores foram demitidos por justa causa. O Nubank alega que os profissionais passaram do limite, enquanto os trabalhadores afirmam que apenas manifestaram seu descontentamento. O Sindicato exige que as demissões sejam revistas e que a empresa garanta que ninguém seja punido por expressar sua opinião ou protestar diante de uma decisão que o afeta diretamente.”
Leia na íntegra a carta dos funcionários do Nubank
Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países atuantes (Brasil, Colômbia e México) vêm através desta carta manifestar seu repúdio:
- ao fim unilateral do modelo remoto e a imposição do trabalho presencial a partir de 2026
- e às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia
Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa um número inédito e alarmante somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores.
Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, superando US$ 20 bilhões de lucro líquido [na verdade, em 2024, a fintech registrou US$ 2 bilhões em lucro líquido anual], consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina.
Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo de trabalho que já contempla períodos presenciais de uma semana a cada três meses e impulsiona a cultura, colaboração e o fortalecimento das equipes. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram, dos resultados que entregaram, de dia após dia construir a marca mais valiosa do Brasil e um dos melhores bancos do mundo, segundo a Forbes.
Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira.
Não nos concentraremos aqui no fato que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras e o próprio Nubank admitiu. Cabe mencionar que políticas de RTO [Return to Office, ou retorno ao escritório, em inglês] reduzem a satisfação média dos trabalhadores e provoca saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam.
Cuidadores familiares (especialmente mulheres), pessoas com deficiência e neurodivergentes são ainda mais afetadas por essas mudanças, causando impacto desmesurado no seu desempenho profissional e qualidade de vida. Por fim, deslocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica em uma perda de renda real e no decréscimo da qualidade de vida dos trabalhadores.
Portanto, com nossos direitos constitucionais a manifestação e a livre organização, viemos exigir:
- A REVERSÃO DO RTO, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical.
- Fim da PUNIÇÃO e RECONTRATAÇÃO IMEDIATA de todos os demitidos por expressarem de forma justa a sua indignação por tamanho impacto nas nossas vidas e nosso trabalho
Convocamos todes funcionários do Nubank a se somarem nessa luta
Entenda as demissões e a possível sabotagem
A reunião sobre a decisão contou com cerca de sete mil participantes, dos quais 12 demitidos sob alegações de violação do código de conduta da empresa.
A empresa afirma que não se tratou de protesto contra o modelo híbrido em si, mas sim de um comportamento considerado inapropriado no encontro.
“O Nubank reafirma que trabalha para preservar canais e rituais abertos para o livre debate entre seus funcionários, mas não tolera desrespeito e violações de conduta. O Nubank não comenta casos individuais de desligamento”, diz o banco, em nota enviada à IstoÉ Dinheiro.
No post do LinkedIn de Neiva Ribeiro, Presidente do Sindicato dos bancários, o CEO, David Vélez rebateu as críticas que endossadas por um ex-funcionário do banco na seção de comentários.
“Você tem pouca informação meu amigo. Você não faz ideia do tipo de linguagem e comportamento dessas pessoas. Confundiram um canal corporativo com rede social ou arquibancada de estádio. Você não aceitaria esse comportamento na sua própria casa. Um abraço”, disse.
No caso dos dois colaboradores desligados por justa causa por suspeita de planejar sabotagem de sistemas internos da empresa, não há muitos detalhes sobre qual plano havia sido balizado e a empresa não comenta o caso.
A IstoÉ Dinheiro conseguiu acesso a um memorando do CTO da empresa, Eric Young, que foi enviado aos funcionários por conta do episódio.
“Por meio de nossas operações regulares de Segurança da Informação, detectamos que dois funcionários estavam planejando sabotar sistemas internos. Agimos rapidamente para impedir que esses funcionários tomassem qualquer medida concreta em seu plano, utilizando nossas defesas robustas contra qualquer tipo de ameaça”, diz o comunicado.
“Os funcionários foram imediatamente demitidos e denunciados às autoridades. Todas as evidências serão entregues para as devidas providências, e não comentaremos investigações em andamento. Lembramos a todos os Nubankers que qualquer tipo de ameaça ao sistema financeiro é um crime federal e deve ser reportada imediatamente pelo Parker”, conclui o CTO do Nubank.
https://istoedinheiro.com.br/nubank-funcionarios-carta





