quarta-feira, 8 de agosto de 2012

México versus Brasil - Brasil e México há tempos se revezam no posto de maior economia da América Latina. Nos anos 90 do século passado, o PIB mexicano, apesar da grave crise financeira de 1994, cresceu de forma mais rápida e chegou a superar o brasileiro (em 37%, em 2002, se medido em dólar americano). Na primeira década do novo século, deu Brasil. Neste momento, a economia mexicana dá sinais de maior dinamismo, enquanto a brasileira começa a fraquejar.Mais importante que descobrir o vencedor de um suposto campeonato entre países é identificar as razões que permitiram ao Brasil crescer de forma mais vigorosa no período mencionado e as que estão levando o México a acelerar seu ritmo de expansão. Depois de praticamente dobrar a velocidade de crescimento nos anos 2000, a economia brasileira voltou a crescer a taxas medíocres (2,7% em 2011 e provavelmente menos de 2% em 2012). A mexicana, após quase uma década de baixo crescimento, avançou 3,9% no ano passado e neste ano, segundo estimativa do FMI, deve expandir-se à taxa de 3,6%.Economistas da Nomura Securities estimam que, sob as condições atuais, o México pode alcançar taxa média de crescimento anual de até 4,75% entre 2012 e 2022, enquanto o Brasil corre o risco de patinar, avançando, no mesmo período, a 3,25% ao ano, na melhor das hipóteses. Nesse ritmo, o PIB mexicano superaria o brasileiro dentro de dez anos. O recente sucesso brasileiro está relacionado ao boom dos preços de commodities deflagrado, em 2003, pelo rápido crescimento da China. Esse fenômeno fez o Brasil especializar-se na produção de commodities, realocando capital para essa área. O processo, na opinião de um grupo de analistas da Nomura liderado por Tony Volpon, provocou um impulso único na chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF).A estabilização da economia a partir de 1994 e as reformas econômicas realizadas naquela década, além da adoção do tripé metas para inflação-câmbio flutuante-disciplina fiscal, criaram as condições para a atração de capitais e a expansão do crédito doméstico, que saltou de 25% do PIB em 2005 para 50% do PIB agora. O maior acesso a crédito aumentou a demanda da população por bens e serviços, o que ajudou a incorporar milhões de pessoas ao mercado formal de trabalho e, assim, a reduzir o desemprego, que antes desse movimento estava em 13% nas regiões metropolitanas e hoje está em torno de 6%."A qualidade da força de trabalho também melhorou: o número de trabalhadores com educação terciária cresceu 7% ao ano, face a 5% uma década atrás, acrescentando outro impulso ao capital humano do Brasil", observa Volpon.Nesse período de bonança do Brasil, o México passou a maior parte do tempo digerindo os efeitos das turbulências financeiras dos anos 90 e também da crise de 2007/2008, cujo epicentro foi nos Estados Unidos, economia com a qual tem ligação umbilical. Mesmo tendo avançado em reformas estruturais, promovido privatizações, assegurado independência a seu banco central e fechado inúmeros acordos de livre comércio, entre os quais o Nafta (com EUA e Canadá), a economia mexicana teve crescimento decepcionante.A contribuição do capital humano ao PIB caiu de uma média anual de 1,1 ponto percentual no período 1992-2001 para 0,6% entre 2002 e 2010. Entre as razões, estão a emergência da China como potência exportadora de produtos industrializados, o baixo nível educacional do operário mexicano, um mercado de trabalho rígido, uma forte emigração para os EUA e a convivência com um enorme mercado de trabalho informal. Outros problemas são o controle estatal absoluto do setor de energia e a existência de oligopólios e monopólios nos setores privatizados (telecomunicações e cimento, por exemplo). A PTF caiu, no período, de 0,5% para 0,1%.Os economistas da Nomura acreditam que a sorte do México está mudando em função basicamente de dois fatores: o desaquecimento do mercado imobiliário americano, que está forçando imigrantes mexicanos a retornarem a seu país, e o aumento dos custos de trabalho na China. Multinacionais industriais estão procurando o México em busca de custos menores. Isso ajudará a aumentar a PTF da economia, que vai se beneficiar também da maior contribuição da força de trabalho ao crescimento. Um outro fator favorável é o renascimento da indústria americana, à qual a indústria mexicana está integrada.É importante observar que o avanço da PTF do México dependerá da aprovação, pelo Congresso, de algumas reformas. A equipe do candidato presidencial líder das pesquisas, Enrique Peña Nieto, tem defendido a desoneração da folha de pagamento. Os parlamentares discutem ainda mudanças que permitam maior flexibilidade no mercado de trabalho. Para analistas da Nomura, essas novidades podem elevar a contribuição da PTF ao crescimento em até dois pontos percentuais ao ano.No caso do Brasil, os analistas preveem que a contribuição do capital humano e da PTF será limitada daqui em diante, ao contrário do que ocorreu no período entre 2002 e 2010. Ademais, o modelo de crescimento adotado pelo país tem privilegiado o setor de serviços, de menor produtividade. A taxa de desemprego já está em sua mínima histórica, deixando pouco espaço para a contribuição da força de trabalho."O surto de crescimento da PTF no Brasil não é duradouro porque, por natureza, o setor de commodities (a exceção é o setor petrolífero) não incorpora grandes inovações tecnológicas, ou pelo menos não no mesmo ritmo que o setor industrial. Portanto, depois de um rápido 'take off' (decolagem), à medida que especializamos a nossa economia em commodities, com a indústria perdendo peso, nossa PTF cai e, portanto, também o nosso crescimento", diz Volpon, que divulgará estudo sobre o tema nesta quarta-feira.No fundo, a análise da Nomura revela ceticismo quanto à eficácia de inúmeras medidas que o governo Dilma Rousseff vem adotando para reduzir os custos de produção e investimento no Brasil. Uma parte do que o México quer fazer, como a desoneração da folha, o governo brasileiro já fez para 15 setores e vai ampliar a lista. Brasília prepara também, entre outras medidas, concessões ao setor privado em todas as áreas de infraestrutura. São ações que, uma vez implementadas, terão efeito positivo na capacidade de crescimento da economia. (Fonte: Valor Econômico)

Quando é lícito ter dinheiro em um paraíso fiscal Para pessoas físicas, operações por vias legais não oferecem vantagens tributárias

Quando é lícito ter dinheiro em um paraíso fiscal Para pessoas físicas, operações por vias legais não oferecem vantagens tributárias Priscila Yazbek, de Exame São Paulo - Os paraísos fiscais são mundialmente conhecidos pelas legislações flexíveis e pelas inúmeras tentativas de omissões de fortunas e pagamentos de impostos de forma ilícita por parte de empresários, políticos e outros endinheirados. É de se pensar que, “de limpo”, estes países possuem apenas as praias paradisíacas. E é um pouco por aí mesmo. Segundo advogados especialistas em direito tributário internacional, na maioria esmagadora dos casos, para a pessoa física que age dentro da lei a única vantagem dos paraísos fiscais são seus belíssimos hotéis, paisagens e suas atrações turísticas. Júlio Augusto Oliveira, especialista em direito tributário nacional e internacional e sócio do Siqueira Castro Advogados, explica que apesar das tributações baixas ou inexistentes nos paraísos fiscais, todo brasileiro que obtém algum tipo de renda nestes países deve pagar imposto de renda no Brasil e no paraíso fiscal. “O Brasil tem acordos com alguns países para que não ocorra a bitributação, mas, para os paraísos fiscais, estes acordos não são celebrados para não incentivar as relações comerciais entre estes países”, diz. O governo busca dificultar as operações nestes países justamente para que as suas vantagens tributárias em relação ao Brasil não provoquem uma fuga dos recursos brasileiros para os paraísos em busca de benefícios. As únicas operações financeiras que uma pessoa física pode realizar nos paraísos fiscais são a compra de imóveis e aplicações financeiras. As demais operações só podem ser realizadas por pessoas jurídicas. No caso da compra e da venda de imóveis, por exemplo, há incidência de impostos sobre transmissão de bens inter-vivos ou de herança, conforme o caso, além de tributos sobre eventuais lucros na hora da venda. Estes impostos devem ser pagos tanto no paraíso fiscal como no Brasil. O mesmo ocorre com as aplicações financeiras, cujos rendimentos serão tributados tanto aqui quanto lá fora. Dentro da legalidade, portanto, não existem vantagens tributárias para a pessoa física. A única vantagem de se investir em um paraíso fiscal seria, portanto, algo que torne de fato o investimento atrativo. Em outras palavras, comprar uma casa em Mônaco não vai trazer vantagens tributárias para a pessoa física, apenas o benefício de abrigar o proprietário aficcionado por Fórmula 1. “Em regra, todas as operações possíveis para pessoa física envolvem uma carga tributária no Brasil e outra no paraíso fiscal. Então, via de regra, quando a pessoa faz transações como pessoa física, sem envolver empresas, ela tende a não ter vantagens mediante a utilização de paraísos fiscais, se o fim for exclusivamente tributário”, esclarece Oliveira. Pessoas jurídicas Toda a discussão muda de aspecto em se tratando de pessoas jurídicas. O interesse nos paraísos fiscais se dá por dois motivos centrais: primeiro porque nesses lugares não é permitido ter acesso a informações sobre a composição societária das empresas ou sua titularidade; segundo porque os impostos - quando não são inexistentes - são bastante reduzidos, com alíquotas inferiores a 20%, segundo a Receita Federal. Como essas vantagens estão disponíveis apenas para pessoas jurídicas, muita gente abre empresas em paraísos fiscais para se aproveitar de uma menor tributação sobre os rendimentos de suas aplicações financeiras, seu patrimônio, ou ainda para proteger o patrimônio ao ser alvo de conflitos judiciais. Neste último caso, ocorre o seguinte: ao comprar um imóvel por meio de uma sociedade offshore (sociedade que se encontra além das fronteiras de um país) a operação fica protegida pela legislação local, que impede que sejam divulgadas informações sobre as composições das empresas. Portanto, se a justiça determinar o bloqueio ou o confisco dos bens do dono de uma sociedade offshore, o patrimônio que estiver em nome da empresa estará a salvo. Não haverá como provar que a empresa pertence ao réu, não sendo possível ligar os bens à pessoa. Outra vantagem que se busca obter pela sociedade offshore é a isenção do pagamento de impostos cobrados sobre a transferência do imóvel. “Na sociedade offshore, não se tributa a transferência porque o imóvel não é visto como um bem, mas como um ativo da sociedade. É como se fossem transferidas ações da empresa. Isto é feito legalmente dentro nos paraísos, mas no Brasil isso não seria possível”, explica Giovanni Caporaso, especialista em planificação fiscal internacional e dono do escritório Caporaso & PartnersLaw Office, situado no Panamá. Ou seja, para de fato obter as vantagens tributárias oferecidas pelos paraísos fiscais na hora de investir ou transferir bens, as pessoas físicas precisam criar empresas. Ocorre que abrir uma empresa apenas com essas finalidades é ilícito. Para que se justifique a criação de uma empresa é necessário que ela tenha de fato uma atividade, funcionários e uma estrutura que comprove sua atuação como pessoa jurídica. Empresas criadas apenas para fugir da tributação muitas vezes não têm substância econômica. Mas como a fiscalização é dificultada pela proteção que os paraísos fiscais oferecem às sociedades, essa prática ocorre aos montes sem ser percebida. Um exemplo de como a criação de uma empresa poderia ser feita de forma lícita é a seguinte: um brasileiro que possua cinco imóveis no Brasil resolve criar uma empresa nas Ilhas Cayman para desempenhar a atividade de administração desses imóveis no paraíso fiscal. A empresa teria que funcionar como se fosse uma sucursal de uma empresa brasileira. Aí sim a criação da pessoa jurídica faria sentido do ponto de vista legal. “Uma pessoa física que tenha imóveis espalhados pelo mundo inteiro precisa concentrar a administração dos imóveis em algum país. Neste caso, seria uma empresa de verdade e não haveria problema. Além de ser dona do imóvel, a pessoa precisa ter uma atividade de administração do imóvel no paraíso, por exemplo”, explica o sócio do Siqueira Castro. Giovanni Caporaso conta que atende muitos clientes que buscam abrir sociedades offshore no Panamá para fugir das altas cargas de impostos de seus países de origem. “Quando as pessoas têm a sensação de que a pressão fiscal em seu país é muito alta e as impede de progredir, elas procuram outras vias pelos paraísos fiscais”, explica. Segundo ele, os seus clientes que buscam abrir empresas no Panamá possuem renda entre 100.000 e 1 milhão de reais. “Uma pessoa que tem uma renda anual inferior a 20.000 reais anuais no Brasil não paga imposto, e uma pessoa que ganha 50.000 ou 60.000 reais ao ano paga um imposto pequeno. Então não é algo que traga problemas econômicos. Mas, no momento em que a tributação chega a 40% ou mais, a pessoa reage e já tenta evitá-la”, diz. Corporaso admite que os clientes o procuram sobretudo para escapar do que consideram tributações pesadas ou mesmo das leis burocráticas dos países de origem. Segundo ele, são pessoas que querem ocultar propriedades porque se casaram em comunhão de bens, ou que querem ter maior rentabilidade em um investimento. "Algumas coisas são ilegais no Brasil, mas são legais nos paraísos fiscais. E também acontece muita coisa que a Receita Federal não consegue rastrear se existe ou não", conclui