terça-feira, 30 de julho de 2013

Siemens enfrenta processo por cartel e presidente pode perder o emprego


29/7/2013 11:06
Por Redação, com agências internacionais e BdF - de São Paulo e Berlim

Peter Loescher deverá depor no processo movido contra a Siemens no Brasil
Peter Loescher deverá depor no processo movido contra a Siemens no Brasil


O presidente-executivo da Siemens, Peter Loescher, planeja, ainda que em vão, lutar por seu cargo na reunião do conselho de supervisão na quarta-feira, publicou um jornal nesta segunda, depois do grupo industrial alemão ter dito no fim de semana que iria demiti-lo. A pressão sobre Loescher aumentou depois do executivo ter repetidamente interpretado erroneamente o desenvolvimento da demanda nos principais mercados do grupo. A gota d’água parece ter vindo na semana passada, quando a Siemens cortou sua meta de margem de lucro para 2014.

Citando fontes da empresa, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung afirmou que Loescher só estava disposto a renunciar se o presidente do conselho Gerhard Cromme, que o contratou há seis anos, também deixasse o cargo. Caso contrário, Loescher esperava reunir a necessária maioria de dois terços para evitar ser demitido, embora fontes da diretoria tenham dito ao jornal que ele não tinha nenhuma esperança de sucesso. Fontes disseram que vice-presidente financeiro Joe Kaeser, que passou toda carreira na Siemens, era o candidato mais provável para substituir Loescher, numa troca bem vista pelos analistas.

Denúncias graves

Loescher enfrenta, além do declínio financeiro, a denúncia de que a empresa que dirige participou de um pesado esquema de corrução durante sucessivos governos do PSDB, em São Paulo, em cumplicidade com outras empresas internacionais na formação de um cartel para se apoderar de licitações públicas no Metrô e trens. Há provas de crime, mas pouco que sabe sobre a investigação. Há 20 anos, desde o governo Mário Covas e mantido pelos governos de José Serra e Geraldo Alckmin, o esquema envolve volumosas cifras pagas em propinas por aproximadamente 11 transnacionais, além do desvio de dinheiro público das obras do Metrô e da Companhia Paulista de Transportes Metropolitano (CPTM).

A Siemens, que também fazia parte do esquema, revelou que as empresas venciam concorrências com preços superfaturados para a manutenção e a aquisição de trens e para a realização das obras de expansão de linhas férreas tanto da CPTM, quanto do Metrô. Segundo investigações concluídas na Europa, a teia criminosa também vinculada a paraísos fiscais, teria onerado minimamente, até o momento, 50 milhões de dólares dos cofres públicos paulistas.

Ademais, informações recentes de um inquérito realizado na França apontam que parte da verba movimentada nas fraudes seria para manter a base sólida do esquema no Brasil, formada pelos governadores tucanos, funcionários de alto escalão do governo, autoridades ligadas ao PSBD e diversas empresas de fachada montadas para atuar na trama. Dessa forma, o financiamento de campanhas eleitorais aos governadores do PSDB foi constante desde o início da fraude na tentativa de manter a homogeneidade do esquema ilícito.

– Não dá para manter uma armação dessas sem uma base, um alicerce que garanta a continuação das falcatruas. Por isso José Serra e Alckmin, que se alteram no poder nos últimos anos, estão intimamente bancados e ligados a essa tramoia – acusa Simão Pedro, secretário municipal de Serviços.

Um dos executivos da Siemens, que prestou depoimentos ao Ministério Público paulista, confirma as acusações de Simão.

– Durante muitos anos, a Siemens vem subordinando políticos, na sua maioria do PSDB e diretores da CPTM – relata ao jornal semanal Brasil de Fato (BdF).

Agora, diante de provas contundentes, sobre o que seria um dos maiores crimes de corrupção da história envolvendo o transporte público no Brasil, políticos da oposição, autoridades no assunto e parte dos próprios metroviários questionam no momento a forma como a justiça brasileira vem tratando o caso. Para eles, o episódio ganhou apenas mais um capítulo com a delação da Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), pois a situação já é investigada e denunciada com vigor desde 2008 por países europeus. Porém, no Brasil, algo parece amarrar o andamento dos 15 processos abertos pelo Ministério Público, só em São Paulo.

A transnacional francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui são algumas das que fazem parte do esquema delatado pela Siemens. Após ganhar uma licitação, essas empresas geralmente subcontratavam uma outra para simular os serviços, e por meio da mesma realizar o pagamento da propina.

Em 2002, no governo de Geraldo Alckmin, a alemã Siemens venceu a disputa para manutenção preventiva de trens da CPTM. Para isso, subcontratou à época a MGE Transportes. A Siemens teria pagado a MGE R$ 2,8 milhões em quatro anos. Desse montante, ao menos R$ 2,1 milhões foram distribuídos a políticos do PSDB e diretores da CPTM.

Diversos nomes foram citados na delação da transnacional alemã que fariam parte da lista de pagamento de propinas das diversas empresas de fachada. São eles: Carlos Freyze David e Décio Tambelli, respectivamente ex-presidente e ex-diretor do Metrô de São Paulo; Luiz Lavorente, ex-diretor de Operações da CPTM; além de Nelson Scaglioni, ex-gerente de manutenção do Metrô paulista. Scaglioni, por exemplo, seria o responsável por controlar “várias licitações como os lucrativos contratos de reforma dos motores de tração do metrô, em que a MGE teria total controle” diz trecho do documento da delação.
No mais, outro ponto do depoimento do executivo da Siemens que vazou à imprensa cita Lavorente como o responsável por receber o dinheiro da propina e fazer o repasse aos políticos do PSDB e partidos aliados.

Silêncio no Tribunal

Se as provas estão às claras, a pergunta que paira no ar é por que a justiça brasileira, sendo previamente avisada por órgãos da justiça internacional europeia sobre casos parecidos que pipocavam, em outros lugares do mundo, envolvendo a Alstom, por exemplo, não tomou as devidas providências e permitiu que novos contratos fossem realizados com o governo paulista.

Em 2010, dois anos após as investigações terem se iniciado também no Brasil, José Serra estabeleceu um contrato de R$ 800 milhões com a Alstom para supostamente resolver o problema da superlotação dos trens do metrô. A alternativa era aumentar a malha ferroviária e modernizar o sistema do metrô nas linhas 1, 2 e 3.

Uma das exigências da Alstom, entretanto, era que os trens da composição fossem reformados pela mesma para que se adequassem ao novo sistema. “O orçamento apresentado pela transnacional francesa ficou mais caro do que se fossem comprar novos trens, mesmo assim Alckmin aceitou e bancou”, diz Paulo Pasim, secretário-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Com o término da implantação do sistema previsto para 2011, até o momento a empresa não viabilizou o prometido. “A Alstom não tinha as mínimas condições técnicas para realizar o projeto e ganhar a licitação, tanto é que estamos em 2013 e a empresa não conseguiu fazer o que foi prometido”, afirma Pasim.

Diante dos fatos, a reportagem do Brasil de Fato tentou contato com diversos promotores de Justiça para apurar sobre o andamento das investigações já instauradas contra a Alstom. O responsável pela investigação sobre a empresa francesa, o promotor Silvio Marques do Ministério Público Estadual, não quis prestar declarações.

Outros dois promotores foram procurados pela reportagem, Marcelo Mendroni, que investiga as irregularidades da linha 5 do Metrô, e Roberto Bordini. Ambos também preferiram não comentar sobre o assunto. Por fim, o promotor Saad Mazum, que investiga a improbidade administrativa do caso não foi encontrado até o fechamento da edição do BdF.

– O único lugar que o processo de investigação não foi levado adiante foi no Brasil. Nos outros países o desfecho foi mais rápido – lamenta Pasim. Na Inglaterra, França e Suíça, as investigações concluíram que a Alstom realizava pagamento de propina para ganhar licitações.

Também foi confirmado que os executivos da transnacional francesa estavam envolvidos em lavagem de dinheiro e fraude na contabilidade da empresa. O deputado federal Ivan Valente (PSOL) também reclama da demora e do silêncio da justiça brasileira frente aos crimes. Ele aponta que desde 2009 vem realizando uma série de denúncias contra as relações de irregularidades envolvendo o PSDB, a Alstom e a Siemens em licitações de obras públicas.

– Até agora esperamos resposta do promotor do processo Silvio Marques, mas sem sucesso – reclama.
Para Valente, é necessário, diante dessas novas denúncias, cobrar com rigor a Justiça para que todos os envolvidos sejam punidos verdadeiramente.

– Não cabe ao Cade ou ao Ministério Público conceder delação premiada a Siemens ou fazer acordo e aplicar multa às transnacionais envolvidas num caso de corrupção milionário como esse. Todos têm que pagar, inclusive Serra e Alckmin – cobra.

Siemens delatou

Ao expor à Justiça os detalhes do cartel formado por diversas transnacionais para avançar sobre licitações públicas envolvendo o metrô de São Paulo e os trens da Companhia Paulista de Transportes Metropolitano (CPTM), a alemã Siemens ficará livre de possíveis processos referentes ao caso.
Para o deputado federal Ivan Valente, não resta dúvida de que a Siemens agiu muito mais em busca de uma situação favorável a ela do que por um sentimento de honestidade ou arrependimento por fazer parte das irregularidades.

A atitude da Siemens é a tentativa de limpar a barra dela caso a situação viesse a público de outra forma, ainda mais nesse clima anticorrupção que vivemos nas ruas – imagina o deputado.

Ademais, a Siemens teria a intenção de formar um clima favorável para ganhar futuras licitações públicas no âmbito do transporte público na esteira dos grandes eventos esportivos, Copa do Mundo e Olimpíadas. Não por acaso, as empresas denunciadas pela Siemens: Alstom, Bombardier, CAF e a Mitsu apresentaram projeto para as obras do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, que será licitado em agosto.

– Por isso, de olho nos diversos negócios futuros no Brasil, a Siemens não queria se comprometer – conclui Valente.

Eike Batista e a fábula de Midas


Esta parábola poderia muito bem ser apropriada por Eike Batista, quem há pouco mais de um ano foi considerado o oitavo homem mais rico do mundo

Marcos Morita, re1


Era uma vez um monarca muito ganancioso conhecido como Midas, cujo sonho era ter toda a riqueza do mundo. Certo dia encontrou nos jardins de seu palácio um fauno (divindade com o dom da profecia), o qual havia fugido da morada de Dionísio, e que por este era muito estimado. Ao devolvê-lo, Dionísio concedeu-lhe como recompensa e gratidão a realização de um único desejo, qualquer que fosse. Sem pestanejar, pediu para tudo em que tocasse fosse convertido em ouro. Desejo concedido voltou a seu palácio, transformando os objetos ao seu redor. Após pouco tempo começou a notar as dificuldades ao realizar tarefas básicas como comer e beber, transformando em metal um simples pedaço de pão.

Esta parábola poderia muito bem ser apropriada por Eike Batista, quem há pouco mais de um ano foi considerado o oitavo homem mais rico do mundo, com patrimônio estimado em U$ 34,5 bilhões de dólares. Com o poder e ganância (exibidas pelo Mercedes Benz em sua sala de estar e suas declarações nada modestas), literalmente tudo o que tocava parecia virar ouro, com suas empresas e ações valorizando-se dia a dia. Admirado, cobiçado, laureado e elevado à categoria de ícone nacional do empreendedorismo, foi comparado a personagens históricos como Visconde de Mauá, que viveu na época de Dom Pedro II.

Apesar do colapso premente, assim como a incerteza na continuidade das operações de suas empresas, era brilhante o modelo de negócios arquitetado pelo mega empresário, o qual visava criar um conglomerado diversificado e único, construindo através da exploração de seus recursos internos e da integração entre suas unidades, importantes barreiras de entradas a seus oponentes, em setores já complexos por natureza. Elegi duas estratégias que melhor se aplicam ao caso, conhecidas na teoria como integração vertical e modelo VRIO, exploradas a seguir.

Integração Vertical: esta estratégia passa pela integração dos diversos elos da cadeia de valor, considerando cadeia como o conjunto de atividades para levar um produto ou serviço desde a matéria-prima até o consumidor final. Uma das vantagens em integrar as várias etapas está na redução das variações de preços devido ao aumento da demanda, quebras de safra, variações cambiais ou custos de oportunidade. Esta estratégia pode ser utilizada a jusante ou a montante, à medida que se avança ou se retrocede nos elos da cadeia.

Vejamos como isto funcionaria na prática. A petroleira OGX compraria plataformas do estaleiro OSX; que estaria localizado no porto em construção da LLX; que escoaria a produção da mineradora MMX; que contrataria a energia da geradora MPX; que utilizaria o gás explorado pela OGX.

A paródia com o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim”, é mera coincidência, o que não se pode dizer da integração a jusante e a montante, as quais tornariam o grupo altamente eficiente e rentável, controlando seus custos através da manutenção dos preços de seus principais insumos, reduzindo seus custos de transportes, logística e matéria-prima, assim como revendendo sua capacidade excedente aos competidores a preços de mercado, utilizando-se do oportunismo por deter os elos da cadeia produtiva.

VRIO: esta teoria menciona que uma empresa deve possuir recursos que sejam valiosos, raros, difíceis de imitar e explorados pela organização. Campos de petróleo, complexos portuários, mineradoras e geradoras de energia são por si ativos que se enquadram nessa definição. Juntos ou integrados dariam ao grupo EBX vantagens competitivas sustentáveis e duradouras. Infelizmente o empresário e seu grupo de executivos não conseguiu ou não teve tempo para colocar em prática os projetos, falhando na última letra do acrônimo, a qual trata da capacidade da organização da empresa no suporte à exploração dos recursos.

A falha na entrega dos projetos e as previsões super dimensionadas de seus poços de petróleo fez com que o feitiço se virasse contra o feiticeiro, provocando um efeito dominó em suas empresas, as quais interligadas começaram a cair como um castelo de cartas. Enfim, a história do mega empreendedor ainda terá muitos desdobramentos, servindo de pano de fundo como estudo de caso verdadeiramente verde e amarelo.

Voltando à história de Midas, chamou à atenção a queda surpreendente na fortuna de Eike, apurada pela agência Bloomberg em U$ 220 milhões. Apesar de o valor ser suficiente, conforme reportagem de Bárbara Ladeia, para realizar 1996 viagens suborbitais, passar três anos e meio bebendo uma garrafa diária do vinho mais caro do mundo, arrematar a ilha grega de Skorpios ou dar perda total em 149 Mercedes Benz iguais ao dirigido por seu filho Thor em um acidente, a corrosão em seu legado é surreal.

Como efeito de comparação e trazendo os valores ao mundo real, teriam sobrado míseros seis mil reais, a uma pessoa que tivesse um patrimônio de um milhão, soma insuficiente para dar entrada em um carro popular. Isto doeria no bolso de qualquer ser humano, agora imagine em alguém com a cobiça do tamanho de Eike, para quem talvez tivesse sido melhor morrer de fome, porém rico, muito rico. Tal qual a fábula de Midas.

INVESTIMENTO BRASILEIRO NO EXTERIOR AUMENTA 60%

INVESTIMENTO BRASILEIRO NO EXTERIOR AUMENTA 60% 

"A internacionalização é um caminho que vem sendo trilhado por todos os emergentes, e aqueles que não fizerem terão dificuldades em competir mais à frente. E o Brasil ainda faz pouco".

Com um cenário interno mais morno e várias barreiras de competitividade no país, como a inflação e o aumento dos custos, as empresas brasileiras aproveitam para expandir os negócios no exterior. É o que apontam os dados mais recentes do BC relativos aos investimentos brasileiros diretos no exterior. A parte desse montante destinada ao aumento de capital em outros países - aplicações feitas na criação, ampliação ou aquisição de novos negócios - teve aumento de 60,6% no primeiro semestre de 2013 ante o mesmo período em 2012. 

Até junho as empresas com sede no Brasil investiram US$ 11,3 bilhões em novos negócios no exterior, retomando um processo de internacionalização que, após uma leva de expansão em 2010 e 2011, havia perdido fôlego no ano passado. "Várias razões têm levado as empresas brasileiras a buscarem espaço fora", diz Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet. "Pode ser um mercado que já está saturado no Brasil, pode ser para estar mais próximo da matéria-prima, ou então para buscar em outros países expertise que não temos aqui." É o que acontece, por exemplo, com o setor de tecnologia da informação, diz Lima, citando o exemplo da Stefanini, empresa brasileira de tecnologia que fez diversas aquisições internacionais desde 2009, focadas principalmente no mercado dos Estados Unidos. O setor tem pouco peso na balança comercial, mas seu tamanho triplicou em 2013: os investimentos das companhias nacionais de TI em outros países passaram de US$ 11 milhões no primeiro semestre de 2012 para R$ 32 milhões nos seis primeiros meses deste ano. 

"É natural imaginar brasileiros investindo no exterior", diz Fábio Silveira, analista da GO Associados. "O risco do país piorou sob a ótica internacional, passa por piora doméstica, por período de inflação alta. Tudo isso estimula o investidor a pôr mais dinheiro lá fora." Isso não significa, porém, que esteja ocorrendo um desinvestimento no país e uma fuga do capital para outras regiões. "Os investimentos internos desaceleraram, mas não estão caindo", destaca Lima. Ele lembra que o nível de internacionalização das empresas brasileiras é ainda muito pequeno, mesmo se comparado a outros países emergentes. 

Entre 2011 e 2012, enquanto os emergentes aumentaram a sua participação no bolo total de investidores externos de 25,2% para 30,6% - os Brics passaram de 12,9% para 15,5% -, o Brasil perdeu espaço, com queda de US$ 3 bilhões no total de capitais aplicados fora do país, segundo dados da Unctad. "A internacionalização é um caminho que vem sendo trilhado por todos os emergentes, e aqueles que não fizerem terão dificuldades em competir mais à frente. E o Brasil ainda faz pouco", afirma Lima. 

(Fonte: Valor Econômico)


"A internacionalização é um caminho que vem sendo trilhado por todos os emergentes, e aqueles que não fizerem terão dificuldades em competir mais à frente. E o Brasil ainda faz pouco".

Com um cenário interno mais morno e várias barreiras de competitividade no país, como a inflação e o aumento dos custos, as empresas brasileiras aproveitam para expandir os negócios no exterior. É o que apontam os dados mais recentes do BC relativos aos investimentos brasileiros diretos no exterior. A parte desse montante destinada ao aumento de capital em outros países - aplicações feitas na criação, ampliação ou aquisição de novos negócios - teve aumento de 60,6% no primeiro semestre de 2013 ante o mesmo período em 2012.

Até junho as empresas com sede no Brasil investiram US$ 11,3 bilhões em novos negócios no exterior, retomando um processo de internacionalização que, após uma leva de expansão em 2010 e 2011, havia perdido fôlego no ano passado. "Várias razões têm levado as empresas brasileiras a buscarem espaço fora", diz Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet. "Pode ser um mercado que já está saturado no Brasil, pode ser para estar mais próximo da matéria-prima, ou então para buscar em outros países expertise que não temos aqui." É o que acontece, por exemplo, com o setor de tecnologia da informação, diz Lima, citando o exemplo da Stefanini, empresa brasileira de tecnologia que fez diversas aquisições internacionais desde 2009, focadas principalmente no mercado dos Estados Unidos. O setor tem pouco peso na balança comercial, mas seu tamanho triplicou em 2013: os investimentos das companhias nacionais de TI em outros países passaram de US$ 11 milhões no primeiro semestre de 2012 para R$ 32 milhões nos seis primeiros meses deste ano.

"É natural imaginar brasileiros investindo no exterior", diz Fábio Silveira, analista da GO Associados. "O risco do país piorou sob a ótica internacional, passa por piora doméstica, por período de inflação alta. Tudo isso estimula o investidor a pôr mais dinheiro lá fora." Isso não significa, porém, que esteja ocorrendo um desinvestimento no país e uma fuga do capital para outras regiões. "Os investimentos internos desaceleraram, mas não estão caindo", destaca Lima. Ele lembra que o nível de internacionalização das empresas brasileiras é ainda muito pequeno, mesmo se comparado a outros países emergentes.

Entre 2011 e 2012, enquanto os emergentes aumentaram a sua participação no bolo total de investidores externos de 25,2% para 30,6% - os Brics passaram de 12,9% para 15,5% -, o Brasil perdeu espaço, com queda de US$ 3 bilhões no total de capitais aplicados fora do país, segundo dados da Unctad. "A internacionalização é um caminho que vem sendo trilhado por todos os emergentes, e aqueles que não fizerem terão dificuldades em competir mais à frente. E o Brasil ainda faz pouco", afirma Lima.

(Fonte: Valor Econômico)

Lucro do Itaú no 1º semestre é maior que a economia de 33 países


Matheus Lombardi e Luiza Calegari
Do UOL, em São Paulo
O lucro de R$ 7,055 bilhões do Itaú Unibanco, no 1º semestre, é maior do que toda a economia de 33 países do mundo. Nos últimos quatro anos, o Itaú registrou os maiores lucros da história dos bancos brasileiros nos seis primeiros meses do ano.

Produto Interno Bruto em 2012

País PIB (em US$ milhões)
Eritréia 3.092
Guiana 2.851
Aruba 2.584
Burundi 2.472
Lesoto 2.448
Maldivas 2.222
República Centro-africana 2.139
Cabo Verde 1.897
Butão 1.780
Libéria 1.767
Belize 1.448
Timor Leste 1.293
Djibuti 1.239
Santa Lúcia 1.186
Antígua e Barbuda 1.176
Seychelles 1.032
Ilhas Salomão 1.008
Gâmbia 917
Guiné-Bissau 897
Granada 790
Vanuatu 785
São Cristóvão e Névis 748
São Vicente e Granadinas 713
Samoa 677
Ilhas Comores 596
Dominica 480
Tonga 472
Micronésia 327
São Tomé e Príncipe 264
Palau 228
Ilhas Marianas do Norte 187
Kiribati 176
Tuvalu 37
  • Fonte: Banco Mundial
De acordo com um levantamento feito pelo UOL, com dados do Banco Mundial, os ganhos do maior banco privado brasileiro apenas nos seis primeiros meses do ano (cerca de US$ 3,11 bi) são maiores do que o PIB (Produto Interno Bruto) de Aruba, Cabo Verde e Butão, por exemplo.
Os 33 países mais pobres do mundo ficam principalmente na África, Oceania, Ásia e América Central.
Em 2012, a economia brasileira foi considerada a 7ª maior do mundo (atrás de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido).

Bradesco ganha de 30 países

O lucro líquido do Bradesco de R$ 5,86 bilhões, no 1º semestre, foi o maior da história do banco para o período.
O resultado do segundo maior banco privado brasileiro é maior do que a economia de 30 países do mundo. 

Bancos brasileiros estão entre os que mais ganham com juros no mundo

Os juros cobrados pelos bancos brasileiros são um dos fatores que fazem os lucros serem cada vez maiores.
Segundo um levantamento do blog Achados Econômicos, o Itaú, apesar de ser só o 39º maior banco do mundo no ranking geral da revista britânica "The Banker", é o 13º quando o assunto é cobrança de juros.
O conglomerado financeiro recebeu US$ 27,687 bilhões com empréstimos no ano passado.
Os três maiores bancos do país (Itaú, BB e Bradesco) ganharam juntos US$ 72 bilhões com juros em 2012.

Entenda como é feito o cálculo do PIB

O PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país durante certo período. Isso inclui do pãozinho até o apartamento de luxo.
O índice só considera os bens e serviços finais, de modo a não calcular a mesma coisa duas vezes. A matéria-prima usada na fabricação não é levada em conta. No caso de um pão, a farinha de trigo usada não entra na contabilidade.
Um carro de 2011, por exemplo, não é computado no PIB de 2012, pois o valor do bem já foi incluído no cálculo daquele outro ano.

O primeiro fator que influencia diretamente a variação do PIB é o consumo da população. Quanto mais as pessoas gastam, mais o PIB cresce. Se o consumo é menor, o PIB cai.

O consumo depende dos salários e dos juros. Se as pessoas ganham mais e pagam menos juros nas prestações, o consumo é maior e o PIB cresce. Com salário baixo e juro alto, o gasto pessoal cai e o PIB também. Por isso os juros atrapalham o crescimento do país.

Os investimentos das empresas também influenciam no PIB. Se as empresas crescem, compram máquinas, expandem atividades, contratam trabalhadores, elas movimentam a economia. Os juros altos também atrapalham aqui: os empresários não gastam tanto se tiverem de pagar muito pelos empréstimos para investir.

Os gastos do governo são outro fator que impulsiona o PIB. Quando faz obras, como a construção de uma estrada, são contratados operários e é gasto material de construção, o que ele eleva a produção geral da economia.

As exportações também fazem o PIB crescer, pois mais dinheiro entra no país e é gasto em investimentos e consumo.
Ampliar

6 dicas para lidar com gerentes de bancos6 fotos

1 / 6
OS INTERESSES DO BANCO E DOS CLIENTES. O gerente de banco pode enfrentar um conflito de interesses. Ele deve atender as necessidades do cliente da melhor maneira possível, mas precisa cumprir as metas exigidas pelo banco em que trabalha. Leia mais Thinkstock
Ampliar

História dos bancos no Brasil32 fotos

26 / 32
Agência do Banco Itaú América, em de Juiz de Fora (MG) Leia mais Itaú/Divulgação

Relativa calmaria

Relativa calmaria

30 de julho de 2013
Autor: Denis Rosenfield

Denis Rosenfield2 
 
 
Toda “política econômica”, por definição, é “política” por envolver marcos institucionais, onde tanto podem se fazer presentes formas de intervencionismo estatal quanto modos mais livres de funcionamento do mercado, assim como o respeito ou desrespeito ao direito de propriedade. É graças ao modo mediante o qual os cidadãos tecem as suas relações institucionais e constitucionais que os processos propriamente econômicos encontram o seu lugar de funcionamento.

Se tal formulação já é verdadeira no marco mais geral, ganha ela particular significação quando vista na perspectiva de períodos pré-eleitorais e, mais precisamente, de crise, como essa enfrentada pela sociedade brasileira pós-jornadas de junho-julho. Note-se que estas últimas puseram a nu um sério problema de representação política, com os políticos e governantes em geral mostrando-se como separados, diria mesmo desapegados, em relação aos cidadãos do país.

O governo federal (e os estaduais e municipais), diante deste quadro, se mostrou desorientado, dissociando-se dos clamores populares. O país entrou em uma disputa partidária sobre a reforma política que nem nas ruas apareceu. O descolamento aumentou.

Mais particularmente, o país encontra-se em um processo de baixo crescimento econômico, a inflação encontra-se longe do centro da meta, com o governo contentando-se em dizer que ela não passará do teto da mesma meta, o que é uma evidente distorção. O emprego já começa a dar mostras de desaceleração, mantendo-se estável, com uma leve tendência de queda. O alarme já soou em um contexto que se apresenta como difícil de reeleição, em um jogo que, a persistir a atual situação, encontra-se zerado.

Decisões econômicas são urgentes. Seu componente político é inegável. O cálculo eleitoral comparece imediatamente. Ocorre que decisões que visem ao bem comum deveriam ser tomadas em suas perspectivas de médio e longo prazos. Ora, são bem essas que desaparecem do horizonte. O passado recente do país, envolvendo tanto o PMDB (Plano Cruzado e outros do governo Sarney) como o PSDB (crise cambial do governo FHC), mostra o quanto, por razões eleitorais, decisões econômicas maiores são postergadas, mergulhando o país, no presente dessas mesmas decisões, na crise e no imediatismo.

Como se já não bastassem a inércia econômica e as soluções “criativas” como a da contabilidade fiscal, o governo atual enfrenta-se com anseios cidadãos, não atendidos, que podem irromper novamente a qualquer momento, e muito provavelmente nos meses anteriores às eleições do ano próximo, quando dos preparativos e no próprio Mundial. O que esperar?

País entrou em uma disputa partidária sobre a reforma política quem nem nas ruas apareceu. O descolamento aumentou .

O governo optou por uma política econômica dirigista no nível estatal, não hesitando em interferir nos mecanismos de mercado, diante dos quais guarda uma desconfiança visceral. Responde aos problemas do mercado com mais intervencionismo, agravando os problemas que procura resolver. Quanto mais procura regular, mais desregulamentação produz. Os impasses e dilemas não cessam de se reproduzir. Vejamos alguns, salientando o seu caráter propriamente político.

Inflação. Não é de interesse político do governo que a inflação fuja do controle, embora não tome medidas que propriamente possam trazê-la para o centro da meta, salvo através de intervencionismos pontuais como a redução do preço da energia elétrica e a desoneração tributária de alguns setores, entre outros. A equação é política, porque um aumento da inflação recai predominantemente sobre as classes mais desfavorecidas, que sentem no bolso o aumento do custo de vida. Ora, essas classes são beneficiárias do Bolsa Família e constituem a nova classe ascendente. A inflação surge, então, como um problema político-eleitoral. O que faz o governo? Em vez de diminuir o peso da máquina estatal, reduzindo o seu custeio, responde com mais intervencionismo, e alimentando o processo inflacionário que busca equacionar.

Consumo da classe média. Muito tem sido criticado o fato de o governo privilegiar o crescimento da economia apostando no consumo em vez do investimento. O modelo baseado no consumo está dando mostras de esgotamento, visível nos pífios índices de crescimento do PIB. As autoridades econômicas, diante desse fato, só estão dando respostas pirotécnicas, falando idilicamente de um crescimento futuro que se desmente a cada dia. Perdem legitimidade e nada transmitem de confiança, elementos essenciais para uma economia de livre mercado.

Do ponto vista social, não parece haver, no curto prazo, horizonte para que isto se altere, salvo se a presidente optar por uma posição de estadista, alterando o rumo da política econômica, visando ao longo prazo. Ocorre que sua base eleitoral está ancorada em uma política expansionista de consumo, que se traduz em maior compra de automóveis, fogões, geladeiras, etc. Não é casual que, depois do Minha Casa Minha Vida, o governo adote uma política de equipamento eletrodoméstico dessas mesmas moradias. Os empréstimos bancários se multiplicam e as dívidas dos que os contraem só aumentam. A longo prazo, é altamente problemático, a curto rende dividendos eleitorais.

Responsabilidade fiscal. Nesse contexto, falar de responsabilidade fiscal torna-se, quando muito, um exercício de retórica, visando a transmitir uma confiança inexistente. Aliás, os cortes anunciados, da ordem de R$ 10 bilhões, só frustram ainda mais as expectativas. Há uma razão política de fundo para que isto aconteça, pois o governo nem bem consegue implementar as suas próprias políticas, por problemas evidentes de gestão. Boas iniciativas como privatização dos aeroportos, rodovias e nova lei dos portos tendem a ficar presas no emaranhado da incompetência e da burocracia. Faz parte dela também uma desconfiança em relação ao lucro.

Nesse meio tempo, as ruas estão cada vez mais dissociadas do que está sendo discutido no mundo político. A relativa calmaria atual pode ser o prenúncio de novas tempestades futuras.

Fonte: O Globo, 29/07/2013

Brasil deve atingir hoje marca de R$ 900 bilhões em impostos pagos

tributos



 

O Brasil deve atingir, por volta das 23h30 deste sábado (27), a marca de R$ 900 bilhões de impostos federais, estaduais e municipais pagos desde o primeiro dia deste ano, revelam dados do Impostômetro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

Neste ano, a marca será atingida seis dias antes do que no ano passado, o que comprova o crescimento da arrecadação tributária.

“Os cidadãos precisam ser informados sobre o quanto estão pagando. Queremos que todos saibam que nada é de graça –nem escola, nem hospital, nem serviço público algum”, afirma o presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, Rogério Amato.
Impostômetro:

O painel do Impostômetro foi inaugurado em 20 de abril de 2005 e está instalado no prédio da sede da ACSP. Também pela internet qualquer cidadão pode acompanhar o total de impostos pagos pelos brasileiros aos governos federal, estadual e municipal, de acordo com os Estados e municípios.

O sistema informa ainda o total de impostos pagos desde janeiro do ano 2000 e faz estimativas de quanto será pago até dezembro deste ano. Grande parte do valor que o consumidor paga pelos produtos que compra corresponde a impostos. A seguir, veja quais são os produtos que, no Brasil, têm mais tributos embutidos nos seus preços, segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) Arte/UOL.

Brasileiro trabalhou até 30/5 só para pagar tributos. O contribuinte brasileiro trabalhou até 30 de maio só para pagar impostos. Segundo cálculos do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), o brasileiro médio pagará de impostos neste ano o equivalente ao que ganhará durante 150 dias de trabalho (de 1º de janeiro até amanhã, 30 de maio).

A conta inclui todos os tributos –impostos, taxas e contribuições cobrados pelo governo federal, Estados e municípios. São itens como Imposto de Renda, IPTU, IPVA, PIS, Cofins, ICMS, IPI, ISS, contribuições previdenciárias, sindicais, taxas de limpeza pública, coleta de lixo, iluminação pública e emissão de documentos.
Brasil cobra imposto caro, mas é o que dá menos retorno à sociedade.

Segundo outro estudo do IBPT, o Brasil aparece entre os 30 países do mundo que mais cobram impostos do mundo pela quarta vez seguida. Também pela quarta vez, o país ocupa a lanterna em termos de qualidade dos serviços públicos prestados à população.
Quando se avalia a relação entre carga tributária e qualidade dos serviços públicos –como educação, saúde e transporte–, o Brasil fica atrás dos vizinhos Uruguai (13º) e Argentina (21º).

Estados Unidos, Austrália e Coreia do Sul ocupam as primeiras posições.

Fonte:  UOL, em São Paulo.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

As ONGs ficaram sem argumento


A bióloga que comanda a entidade de referência na defesa dos transgênicos afirma que os mitos caíram e anuncia uma nova geração de produtos geneticamente modificados na saúde e na nutrição

Por Eugênio Esber

A porto-alegrense Adriana Brondani trilhou dois caminhos distantes, quando não opostos, até chegar ao posto de diretora executiva do influente Conselho de Informações sobre Biotecnologia, CIB, em 2011. Um deles, naturalmente, foi a carreira acadêmica. Doutorou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e dirigiu suas pesquisas à biologia do câncer. A outra estrada que Adriana tomou, e que costuma ser bastante íngreme para cientistas, foi a comunicação.  Pela internet, e em programas de rádio e TV, encarou a tarefa de traduzir biotecnologia para jovens – um público normalmente crítico aos experimentos que resultam em alimentos geneticamente modificados. Nesta entrevista a AMANHÃ, Adriana sustenta que o cultivo de transgênicos se impôs no Brasil – e prevê que produtos como arroz e batata deverão ganhar variedades alteradas geneticamente não apenas para reforçar o valor nutricional de alimentos como, também, para gerar medicamentos.

Que dimensão está tomando o cultivo de transgênicos no Brasil?

Adriana-Brondani-350No ano passado, o Brasil foi o país onde a adoção de transgênicos mais cresceu. Se analisarmos a expansão mundial de transgênicos, em 2012, o Brasil foi responsável por 60% desse aumento. De 2011 para 2012, a área cultivada com variedades geneticamente modificadas no Brasil passou de 30 para 36 milhões de hectares. É um crescimento expressivo, de 21%. Hoje, o Brasil é o segundo país com o maior cultivo de transgênicos. A Argentina é o terceiro. Estados Unidos são o primeiro. Mas a diferença entre Brasil e Estados Unidos está ficando cada vez menor. Claro que a área plantada dos Estados Unidos é muito maior que o Brasil – até por uma questão de extensão territorial. Acontece, porém, que o Brasil teve um crescimento muito grande nos últimos anos, enquanto nos Estados Unidos a adoção de transgênicos já se mostra bastante estável.

Neste ritmo, que projeção é possível fazer para o Brasil?

Os transgênicos já representam 89% da nossa soja, 76% do milho e 50% do algodão. Em todos estes cultivos, o produtor vem adotando de forma intensa as variedades transgênicas. Se olharmos os gráficos ao longo dos anos, é uma crescente. Mas o que o Brasil cultiva de transgênicos é somente milho, soja e algodão.  Embora as pessoas, em geral, quando compram frutas e verduras, fiquem confusas e possam pensar que tudo é transgênico,  a realidade não é esta. O que encontramos de transgênico, no Brasil, entre alimentos naturais, não processados, é somente milho, soja e algodão. Só estes. Dentro de algum tempo vai estar no Brasil, também, o feijão transgênico. Em 2011, a Embrapa aprovou, mas ainda não está sendo comercializado. Está no estágio de desenvolvimento de sementes. É algo bastante importante para o Brasil porque se trata do primeiro feijão transgênico do mundo. A característica dele é oferecer resistência a um vírus que tem um potencial devastador nos cultivos. Para o produtor, vai ser muito importante.

No Brasil, quais são os Estados em que o produtor mais aposta em cultivo de transgênicos?

O Estado que mais adota transgênicos é o Mato Grosso. Depois, pela ordem, vêm o Paraná e o Rio Grande do Sul. Aliás, o sul e o centro-oeste se destacam porque são os que têm maior produção agrícola, especialmente lavouras de soja e de milho. A soja, vale lembrar, teve sua primeira soja transgênica aprovada lá em 1998, e o Rio Grande do Sul foi um dos Estados pioneiros na adoção dessa variedade. Já a aprovação do milho veio bem mais tarde, em 2007. Só que a adoção das sementes transgênicas de milho se deu de uma forma muito rápida, muito intensa.

Estas são, também, as regiões em que as ONGs ambientais dão mais combate aos transgênicos?

A resistência que ONGs como o Greenpeace opõem aos transgênicos não parece ser maior em um Estado ou outro, porque elas têm uma atuação global. O que vemos, em geral, na sociedade, é que as pessoas têm dificuldade de entender qual o benefício dos transgênicos porque até aqui os ganhos são agronômicos. É o produtor rural que ganha, diretamente, com esses produtos que apresentam tolerância ao uso de herbicida e resistência a insetos. A população também tem benefícios, claro, mas indiretamente, porque esses produtos acabam gerando uma facilidade de manejo da lavoura, o que aumenta a produção e acaba tornando os alimentos mais baratos – além do ganho ambiental, por conta do uso menor de defensivos agrícolas para controlar pragas.  O benefício maior, então, é agronômico.

Quando os transgênicos devem transcender os limites da lavoura?

O que se espera, o que está por vir, são produtos que terão uma qualidade nutricional alterada. Vão ter benefícios nutricionais, a exemplo do que já existe em desenvolvimento no mundo, como no arroz rico em betacaroteno, que é um precursor de vitamina A... Neste momento vai haver benefícios alimentares para a população. Trabalha-se muito com isso na área de pesquisa. A Embrapa tem vários estudos, tem vários produtos em pesquisa mostrando essas possibilidades de alimentos que proporcionam um ganho nutricional. Por exemplo, uma alface que é rica em ácido fólico. Outra tendência que aparece é a utilização de plantas para a produção de medicamentos. É um outro ganho da biotecnologia.

Dê um exemplo prático de aplicação dessa tecnologia.

Um exemplo: no caso do diabetes, produzir insulina numa folha de tabaco, ou por meio de uma batata transgênica. Mas a ideia não é que o consumidor vá ingerir o greenpeace-europa-350alimento para absorver o medicamento. Não. O medicamento vai ser extraído da folha. É um processo diferente do que ocorre hoje, quando se utilizam micro-organismos, às vezes animais, em um processo muito mais complexo e caro. É possível utilizar a planta para fazer esse processo de modo mais simples e econômico. No Brasil, a Embrapa desenvolve um experimento com uma variedade de soja com microbiocida capaz de prevenir a  contaminação pelo vírus causador da Aids. Também está em pesquisa no mundo variedade de arroz modificado para produzir proteína humana albumina, utilizada contra queimaduras e cirrose, entre outros experimentos.

A agricultura, que já fornece energia, passará também a ser fonte de medicamento?

Exatamente. Será mais uma função da agricultura. E isso é consequência da intensa pesquisa na área, de se ter estudado tanto a genética das plantas. Novos produtos poderão vir aí. Serão os biofármacos, digamos assim, desenvolvidos a partir de plantas. A biotecnologia tem um papel muito importante para a saúde humana. Isso começou intensamente em 1982, com a produção da primeira insulina humana produzida por biotecnologia – antes, extraíamos de animais. Um pouco mais tarde, em 1985, passamos a produzir o hormônio do crescimento por biotecnologia. Vacinas, outro avanço muito importante. A produção de vacinas por DNA recombinante mostrou ter uma eficiência muito maior. Hoje, nós conseguimos produzir vacina de forma muito mais rápida porque estamos utilizando a biotecnologia.  Esta é a nova fronteira  na produção de vários medicamentos que conhecemos, inclusive para tratamento do câncer, que vão ser obtidos dessa forma. A biotecnologia também tem forte impacto nos diagnósticos. Comenta-se tanto a decisão da Angelina Jolie de remover os seios preventivamente. Isso foi possível pelo conhecimento das bases genéticas do câncer e pelos testes genéticos que hoje são desenvolvidos de forma muito rápida graças à biotecnologia.