Esta parábola poderia muito bem ser apropriada por Eike Batista, quem há pouco mais de um ano foi considerado o oitavo homem mais rico do mundo
Era uma
vez um monarca muito ganancioso conhecido como Midas, cujo sonho era ter
toda a riqueza do mundo. Certo dia encontrou nos jardins de seu palácio
um fauno (divindade com o dom da profecia), o qual havia fugido da
morada de Dionísio, e que por este era muito estimado. Ao devolvê-lo,
Dionísio concedeu-lhe como recompensa e gratidão a realização de um
único desejo, qualquer que fosse. Sem pestanejar, pediu para tudo em que
tocasse fosse convertido em ouro. Desejo concedido voltou a seu
palácio, transformando os objetos ao seu redor. Após pouco tempo começou
a notar as dificuldades ao realizar tarefas básicas como comer e beber,
transformando em metal um simples pedaço de pão.
Esta
parábola poderia muito bem ser apropriada por Eike Batista, quem há
pouco mais de um ano foi considerado o oitavo homem mais rico do mundo,
com patrimônio estimado em U$ 34,5 bilhões de dólares. Com o poder e
ganância (exibidas pelo Mercedes Benz em sua sala de estar e suas
declarações nada modestas), literalmente tudo o que tocava parecia virar
ouro, com suas empresas e ações valorizando-se dia a dia. Admirado,
cobiçado, laureado e elevado à categoria de ícone nacional do
empreendedorismo, foi comparado a personagens históricos como Visconde
de Mauá, que viveu na época de Dom Pedro II.
Apesar do colapso
premente, assim como a incerteza na continuidade das operações de suas
empresas, era brilhante o modelo de negócios arquitetado pelo mega
empresário, o qual visava criar um conglomerado diversificado e único,
construindo através da exploração de seus recursos internos e da
integração entre suas unidades, importantes barreiras de entradas a seus
oponentes, em setores já complexos por natureza. Elegi duas estratégias
que melhor se aplicam ao caso, conhecidas na teoria como integração
vertical e modelo VRIO, exploradas a seguir.
Integração Vertical: esta
estratégia passa pela integração dos diversos elos da cadeia de valor,
considerando cadeia como o conjunto de atividades para levar um produto
ou serviço desde a matéria-prima até o consumidor final. Uma das
vantagens em integrar as várias etapas está na redução das variações de
preços devido ao aumento da demanda, quebras de safra, variações
cambiais ou custos de oportunidade. Esta estratégia pode ser utilizada a
jusante ou a montante, à medida que se avança ou se retrocede nos elos
da cadeia.
Vejamos como isto funcionaria na prática. A petroleira
OGX compraria plataformas do estaleiro OSX; que estaria localizado no
porto em construção da LLX; que escoaria a produção da mineradora MMX;
que contrataria a energia da geradora MPX; que utilizaria o gás
explorado pela OGX.
A paródia com o poema “Quadrilha” de Carlos
Drummond de Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava
Maria que amava Joaquim”, é mera coincidência, o que não se pode dizer
da integração a jusante e a montante, as quais tornariam o grupo
altamente eficiente e rentável, controlando seus custos através da
manutenção dos preços de seus principais insumos, reduzindo seus custos
de transportes, logística e matéria-prima, assim como revendendo sua
capacidade excedente aos competidores a preços de mercado, utilizando-se
do oportunismo por deter os elos da cadeia produtiva.
VRIO: esta
teoria menciona que uma empresa deve possuir recursos que sejam
valiosos, raros, difíceis de imitar e explorados pela organização.
Campos de petróleo, complexos portuários, mineradoras e geradoras de
energia são por si ativos que se enquadram nessa definição. Juntos ou
integrados dariam ao grupo EBX vantagens competitivas sustentáveis e
duradouras. Infelizmente o empresário e seu grupo de executivos não
conseguiu ou não teve tempo para colocar em prática os projetos,
falhando na última letra do acrônimo, a qual trata da capacidade da
organização da empresa no suporte à exploração dos recursos.
A
falha na entrega dos projetos e as previsões super dimensionadas de seus
poços de petróleo fez com que o feitiço se virasse contra o feiticeiro,
provocando um efeito dominó em suas empresas, as quais interligadas
começaram a cair como um castelo de cartas. Enfim, a história do mega
empreendedor ainda terá muitos desdobramentos, servindo de pano de fundo
como estudo de caso verdadeiramente verde e amarelo.
Voltando à
história de Midas, chamou à atenção a queda surpreendente na fortuna de
Eike, apurada pela agência Bloomberg em U$ 220 milhões. Apesar de o
valor ser suficiente, conforme reportagem de Bárbara Ladeia, para
realizar 1996 viagens suborbitais, passar três anos e meio bebendo uma
garrafa diária do vinho mais caro do mundo, arrematar a ilha grega de
Skorpios ou dar perda total em 149 Mercedes Benz iguais ao dirigido por
seu filho Thor em um acidente, a corrosão em seu legado é surreal.
Como
efeito de comparação e trazendo os valores ao mundo real, teriam
sobrado míseros seis mil reais, a uma pessoa que tivesse um patrimônio
de um milhão, soma insuficiente para dar entrada em um carro popular.
Isto doeria no bolso de qualquer ser humano, agora imagine em alguém com
a cobiça do tamanho de Eike, para quem talvez tivesse sido melhor
morrer de fome, porém rico, muito rico. Tal qual a fábula de Midas.
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