Giancarlo Liguori/Shutterstock
Imagine a situação. Você
foi contratado para fazer o diagnóstico em uma instituição centenária,
com capital 100% brasileiro e sede em Brasília, cuja imagem encontra-se
arranhada e desgastada, detectada em pesquisas realizadas em âmbito
nacional. Sua estrutura é burocrática, hierárquica, centralizada,
fechada e pouco transparente, cuja ênfase está nas regras e
procedimentos. O foco de seu trabalho, por sua vez, parece ser mais
interno, em defesa dos próprios interesses, que externo, avaliando e
propondo soluções às demandas de seus clientes.
Outro
indicador decepcionante encontrado foi com relação à produtividade por
executivo, considerada baixa por qualquer prisma que se considere. Como
exemplo, em uma área de vendas este critério pode ser medido através do
faturamento, lucro ou margem per capita. Talvez a culpa esteja em seu
sistema de remuneração que não incentiva a premiação por resultados, ou
seja, tanto faz apresentar ou não resultados que o gordo contracheque
estará garantido no final do mês.
Não bastasse a falta de
cobrança e os altos salários para o padrão brasileiro, a lista de
benefícios é extensíssima: auxílio-moradia, carro alugado, tanque cheio,
assistência médica ilimitada, contas em restaurantes, diárias em
hotéis, passagens aéreas, dentre outros. Não há também descontos por
atrasos ou faltas, as quais não precisam ser comprovadas por atestados
ou preenchimento de formulários. Já é algo cultural os corredores da
empresa estarem vazios às segundas e sextas-feiras.
Seu modelo de
contratação e demissão é considerado único dentre as empresas
avaliadas. Uma vez contratados, o que na empresa é realizado através de
uma cerimônia de posse, têm garantidos quatro anos de carteira assinada,
com possibilidades ínfimas de demissão, seja ou não por justa causa. Os
casos de demissão voluntária são desconhecidos, o que não surpreende,
considerando a relação custo versus benefício. Por fim, vale a pena
mencionar a definição de posse: estado de quem possui uma coisa, de quem
a detém como sua ou tem gozo dela.
Para gozar desta mamata não
são necessários testes ou exames específicos, tampouco cursos de
especialização, pós-graduação, mestrado ou experiência prévia. Já
passaram por lá cantores, artistas, jogadores de futebol e até palhaços,
com ou sem propostas ou objetivos definidos. Apesar do espaço
democrático, tomar posse em uma cadeira não é nada fácil para os que não
possuem popularidade conseguida em outros campos. Coligações, grupos de
apoio e interesses, muitos interesses em jogo. O conflito entre público
e privado é inevitável, assim como a ética, que caminha no fio da
navalha.
Deitados em berço esplêndido estavam até as últimas
semanas, empurrando com a barriga como se diz no ditado popular. Os
movimentos das ruas mudaram tudo isso, ameaçando mexer no queijo
conseguido a tão duras penas. Para manter o “status quo” foram obrigados
a sair da zona de conforto, desengavetando, votando, aprovando ou
reprovando medidas necessárias e urgentes. Não obstante a surpresa da
mídia e da sociedade com a velocidade de resposta, nada mais fizeram que
trabalhar duro como qualquer trabalhador que dizem representar.
Enfim,
mudanças neste sistema são inevitáveis, sejam através de plebiscitos ou
referendos, cujas discussões acaloradas envolvem juristas por todo o
país. Como especialista em estratégias empresariais, esperaria que esta
reforma política deixasse não só o Congresso, mas as instituições ora
questionadas mais inovadoras, produtivas, abertas, modernas, flexíveis,
vivas e extrovertidas, adaptando-se e ajustando-se rapidamente as
demandas externas, o que passa necessariamente por uma revisão em seu
modelo de gestão.
Gostem ou não, senadores, deputados e vereadores
deverão agir como os ratinhos Haw, Sniff ou Scurry, adaptando-se, agindo
ou se antecipando às mudanças. A vida que tinham como o ratinho Hem,
esperando pelo queijo, está com os dias contados. Assim esperam todos os
brasileiros, estejam ou não protestando nas ruas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário