EMBARCAÇÃO FRÁGIL
Celso Ming, O Estado de São Paulo
26/04/2013
A falta de compromisso com a solidez da economia por parte do governo
Dilma é por si só um risco para os próximos meses, quando se esperam
desdobramentos negativos na economia mundial.
Apesar dos
inegáveis avanços no sentido de dar mais consistência institucional, o
bloco do euro dá sinais insistentes de estagnação e de aumento dos
desequilíbrios, sobretudo fiscais, para os quais ontem advertiu o Fundo
Monetário Internacional (FMI). Também preocupa a fragilidade patrimonial
dos bancos da área. Como carregam enormes volumes de títulos de dívida
dos países da região, uma eventual deterioração das condições fiscais em
certos países, que coloque em risco o resgate de dívidas públicas, pode
exigir dos bancos ainda mais reforços de capitalização que, em última
análise, pressionarão ainda mais as finanças públicas.
Mas o
principal epicentro de turbulência provável é o impacto sobre os
mercados a ser disparado pelo desmonte já anunciado da política
monetária altamente expansionista do Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos). Por mais cuidadosa que venha a ser, essa
operação tende a provocar uma importante valorização do dólar e uma
forte migração de capitais para os Estados Unidos.
O governo
Dilma não está em condições de afirmar que a economia brasileira
resistirá impávida a esses e a outros eventuais trancos, como aconteceu
em 2008, quando sucessivas ondas de pânico, provocadas pela quebra do
Lehman Brothers, chegaram ao Brasil "como uma marolinha" - como então
alardeou o presidente Lula -, embora não tenha sido exatamente assim.
A economia brasileira apresenta hoje fragilidades preocupantes. Não
consegue crescer mais do que 2% ao ano; enfrenta uma inflação anual
renitente próxima dos 6%; vai aprofundando o rombo nas contas externas;
apresenta uma política fiscal confusa e pouco previsível; e continua
gerando custos que tiram competitividade da indústria.
Ainda
assim, a embarcação brasileira apresentaria um mínimo de consistência,
se o objetivo fosse enfrentar mar calmo e céu azul. No entanto, se
confirmadas as turbulências que o próprio governo vem prevendo, nada
garante o mesmo resultado.
Se lá fora, por exemplo, voltasse a
quebrar um banco importante ou se outras forças provocassem forte
aversão ao risco, a fuga de capitais do Brasil poderia ser letal, por
mais robusta que esteja a posição em reservas externas. No mínimo, a
economia teria de enfrentar novas altas do dólar no câmbio interno, com o
devido preço a ser pago em mais inflação.
Até agora, a
presidente Dilma não parece motivada a reforçar os fundamentos
macroeconômicos e a produzir mais confiança. As decisões sobre política
fiscal anunciadas na segunda-feira mostraram que as correções de rumo
continuam superficiais e não passam firmeza. Não há nenhum interesse do
governo federal em trocar o atual arranjo de políticas macroeconômicas,
que não deu certo, por outro mais consistente, que inspire
credibilidade.
A atual estratégia consiste em ganhar tempo,
confiar na sorte e evitar convulsões que possam colocar em risco as
eleições de 2014. É pouco.
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