Os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da
Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, têm abandonado seus expedientes
rotineiros para exercerem os cargos informais de espírito santo de
orelha e papagaio de pirata de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff.
Nessa condição têm produzido sesquipedais ideias de jerico, tais como o
golpinho sujo da Constituinte exclusiva para uma reforma política que
ninguém pediu e da qual só os políticos, particularmente os petistas, se
beneficiariam; e a empulhação do plebiscito prévio com igual objetivo. O
máximo que conseguiram até agora foi a adesão da oposição, incompetente
e alienada, que aceita a embromação de um referendo.
Melhor seria para os dois, para o governo a que servem, para a
presidente a que obedecem e, sobretudo, para a sociedade, que paga com
sacrifício seus salários com impostos escorchantes, que eles se
dedicassem à rotina comezinha de suas funções públicas. O economista
Mercadante, que se recusa a usar o sobrenome do pai, o general Oliva,
serviçal da ditadura militar que assolou o país por 21 anos, de 1964 a
1985, faria um bem enorme às gerações futuras de brasileiros se
resolvesse uma equação perversa que as condena à ignorância e a perder a
competição na guerra planetária pelo conhecimento.
De acordo com levantamento feito pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta pelos 34 países mais ricos
do mundo, o Brasil investe em educação pública 5,8% do produto interno
bruto (PIB), praticamente o mesmo que Estados Unidos, Espanha e Coreia
do Sul. Mas ocupa o 53º lugar no ranking do desempenho escolar, conforme
o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame que
avalia habilidades em leitura, matemática e ciências, aplicado pela
própria OCDE. Ou seja, embora mais recursos para o setor sejam
bem-vindos, estes não são imprescindíveis para aprimorar a educação.
Para tanto urge melhorar a gestão, e isso o ministro pode fazer já.
Não será um trabalho fácil. Mas não é uma tarefa impossível. Como
difíceis, mas também possíveis, são algumas das missões de que seu
colega no primeiro escalão do governo federal petista, o causídico
Cardozo, não dá conta. Pode-se dar-lhe o benefício da compreensão das
dificuldades que a Polícia Federal (PF), sua subordinada hierárquica,
deve enfrentar para ter de desvendar crimes de toda natureza,
particularmente os de colarinho branco. Mas tampouco se pode omitir o
fato de que a instituição às vezes tem um desempenho exemplar em casos
muito mais difíceis do que em outros, na aparência, bem mais simples,
mas cuja solução tem sido adiada para as calendas.
Embora mais recursos para o setor sejam bem-vindos, estes não são
imprescindíveis para aprimorar a educação. Para tanto urge melhorar a
gestão
Um exemplo desse paradoxo é o escabroso caso da compra pela Petrobrás
de uma refinaria que pertencia à empresa Astra Oil em Pasadena, no
Texas (EUA). Os belgas a adquiriram por US$ 42,5 milhões em 2005. Em
2006 a empresa, presidida por um ex-funcionário da estatal brasileira,
vendeu metade do controle acionário dela à Petrobrás por US$ 360
milhões. O convívio entre os sócios foi perturbado pela necessidade de
aporte de US$ 1,5 bilhão para a pequena refinaria, com capacidade para
ínfimos 150 mil barris/dia, poder refinar o petróleo pesado extraído de
poços brasileiros.
Os belgas processaram a sócia e esta encerrou a
questão na Justiça americana desembolsando mais US$ 839 milhões para
assumir o controle total da refinaria. Ou seja, a Astra Oil embolsou, ao
todo, US$ 1,199 bilhão: US$ 1,154 bilhão e quase 300 vezes mais que os
US$ 42,5 milhões pagos por ela oito anos antes. O Ministério Público
Federal no Estado do Rio resolveu investigar essa óbvia fraude e talvez a
PF, sob as ordens do dr. Cardozo, desse uma extraordinária contribuição
à Pátria se, ao cabo de uma investigação rigorosa, descobrisse quem
recebeu a bilionária (em dólares) “comissão”.
Outra tarefa rotineira a ser desincumbida pelo causídico Cardozo, se
trocar as funções de Richelieu do Planalto por mais assiduidade no
expediente no Ministério da Justiça, seria cobrar da PF a apuração
rigorosa e imparcial das acusações feitas contra Rosemary Noronha na
Operação Porto Seguro, que a própria PF encetou em novembro de 2012.
Na
ocasião, a PF informou ter flagrado as práticas de advocacia
administrativa e tráfico de influência em altos escalões do governo
federal. Entre os protagonistas do caso teve destaque a figura de
Rosemary, dada como amiga muito íntima do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e flagrada interferindo pessoalmente na nomeação de
quadrilheiros em cargos importantes da burocracia da União, inclusive
uma direção da Agência Nacional de Águas.
A então chefe de gabinete do
escritório da Presidência da República em São Paulo, nomeada por Lula e
mantida no cargo por Dilma a pedido do padrinho e antecessor, é acusada,
entre outros malfeitos, de ter ajudado o ex-senador Gilberto Miranda a
obter licenças para usar duas ilhas no litoral paulista. Essa ajuda
teria sido recompensada com um cruzeiro (R$ 2.500), uma Mitsubishi
Pajero TR4 (R$ 55 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7.500) e móveis para a
filha (R$ 5 mil).
Segundo a “Veja”, o secretário-geral da Presidência, Gilberto
Carvalho, homem de confiança de Lula, teria tentado atrapalhar a
investigação que a presidente mandou a chefe da Casa Civil, Gleisi
Hofmann, fazer a respeito de Rosemary. Carvalho tentou se explicar no
Senado. Mas a PF teria de investigar por que oligarcas da republiqueta
petista foram prestimosos e atenderam aos pedidos de uma secretária de
luxo.
A PF poderia ainda investigar denúncia da Folha de S.Paulo de ter a
Caixa Econômica Federal liberado sem licença Bolsa Família na véspera da
onda de boatos que causou corrida a agências da instituição, pela qual
dignitários do governo e do PT, entre eles Dilma, acusaram adversários. É
ou não é?
Fonte: O Estado de S. Paulo, 17/07/2013
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