quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Dólar sobe mais de 2% e fecha na maior cotação desde dezembro de 2008

Por José de Castro | Valor
 
SÃO PAULO  -  O dólar comercial fechou em forte alta nesta quarta-feira mesmo após intervenções do Banco Central e apesar da leitura de investidores de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) pode deixar para dezembro o início da redução dos estímulos.

No fechamento, a moeda subiu 2,38%, para R$ 2,451, a maior cotação desde 9 de dezembro de 2008, quando o mundo sentia os efeitos da crise econômica iniciada nos Estados Unidos. O dólar para setembro avançava 2,33%, para R$ 2,457.

A forte alta da cotação reflete um amplo movimento de valorização da moeda americana, sobretudo ante emergentes. No Brasil a disparada decorre de um forte movimento de compra de moeda no mercado futuro, principalmente por investidores estrangeiros, com o intuito de fazer hedge para a venda de títulos públicos.

Na tarde desta quarta-feira, o Banco Central vendeu 35.600 contratos de swap cambial tradicional (com financeiro de US$ 1,775 bilhão) da oferta total de 40 mil contratos com vencimento em 3 de fevereiro de 2014.

Mais cedo, o BC fez rolagem de mais 20 mil contratos de swap cambial tradicional para abril de 2014, substituindo papéis que vencem no início de setembro. A operação movimentou US$ 987,9 milhões. Com isso, o BC completou a rolagem de cerca de US$ 4 bilhões de um lote de US$ 5,040 bilhões em swaps que vence no início de setembro.

No leilão de hoje, os papéis saíram com taxa nominal – que serve de referência para a operação – de 2,1079%. Já a taxa linear, que equivale ao cupom cambial, foi de 2,090%. O BC recusou 8,57% das propostas.

Segundo um profissional de um banco estrangeiro, a busca desenfreada por dólares mostra que a real intenção do estrangeiro não é realocar o capital presente aqui, mas sim redirecioná-lo a economias com melhores perspectivas de crescimento. “Nesse momento, essa economia são os Estados Unidos. Estamos falando da maior economia do mundo, com um poder imenso de alterar fluxos de capital. O Brasil sofre porque simplesmente está ficando desacreditado pelo investidor, que não vê mudanças na política econômica”, diz, prevendo que o dólar alcance R$ 2,50 nos próximos dias.

Esse conjunto de fatores – fraca perspectiva de crescimento local, inflação doméstica ainda elevada e expectativa de normalização na política monetária americana – é o argumento dado pelo Itaú Unibanco para uma nova piora em suas estimativas para o real neste ano e no próximo. Em relatório divulgado pouco após o Fed reportar a ata de sua última reunião de política monetária, a equipe de análise macroeconômica do banco, chefiada por Ilan Goldfajn, prevê q ue o dólar termine este ano em R$ 2,45, ante expectativa anterior de R$ 2,30. Para o fim do próximo ano, a estimativa é que a moeda americana seja cotada em R$ 2,55, ante prognóstico anterior de R$ 2,40.

O banco avalia que a perspectiva de redução no volume de compra de títulos pelo Fed a partir de setembro deve elevar as taxas de juros nos Estados Unidos, provocando uma alteração no sentido dos fluxos de capital. “A política monetária deve se tornar menos expansionista antes do que se previa”, diz a instituição, lembrando ainda sinais “mais positiv os” de crescimento na Europa, o que também leva a uma saída de investidores de mercados emergentes em direção a países desenvolvidos. “O Brasil tem sido afetado por essa retirada de recursos”, afirma o banco.

(José de Castro | Valor)

Governo brasileiro agiliza importação de materiais para pesquisa científica

 
 
 
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou nesa segunda-feira no Diário Oficial da União instrução normativa  com o objetivo de agilizar a importação de materiais para pesquisa científica ou diagnóstico. A nova regra classifica os produtos quanto ao maior ou menor risco sanitário, dispensando autorização prévia e a apresentação de certificado sanitário internacional no caso de risco insignificante. A norma engloba itens de origem animal e agentes veterinários, como príons (partículas compostas apenas por proteínas normais do organismo, que, quando modificadas, podem causar doenças), fungos e bactérias.

Para entrada do material considerado de risco insignificante no país, bastará o importador se responsabilizar pela mercadoria e apresentar uma declaração de origem assinada pelo profissional responsável pela procedência. Além disso, ele precisará informar a Superintendência Federal de Agricultura ou o Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional sobre o ponto de ingresso do material no país, com antecedência mínima de 48 horas.

Para materiais com classificação de risco significante, o processo continua mais demorado. É necessária a autorização prévia dos ministérios da Agricultura ou da Pesca e Aquicultura, além de certificado sanitário internacional emitido ou endossado por autoridades do país de origem do produto. O pesquisador também terá de apresentar resumo de seu projeto especificando como será usado o material e informar de que maneira ocorrerá a inativação, destruição ou descarte dele.
Fonte: Agência Brasil

Isenção ampliada de tributos para quem entra no Brasil vai nesta 2ªfeira à Câmara federal


 
 
Os senadores ampliaram os limites de compras isentas de tributos para quem entra no país. Hoje estipulado em US$ 500, o valor de compra em free shop pode passar para US$ 1,2 mil. A proposta, que passou nesta última semana pela Comissão de Assuntos Sociais (CAE) do Senado e já foi aprovada pela de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), segue nesta segunda-feira para a Câmara dos Deputado, caso não haja recursos para levá-la à votação no plenário.

A matéria foi aprovada por unanimidade, com direito a momentos de descontração dos senadores, que fizeram brincadeiras sobre as viagens em família. "Vou votar favoravelmente. Mas, se olhar o que acontece comigo quando eu chego de viagem, minha esposa compra o tempo inteiro lá fora e, quando chega, ainda vai ao free shop em São Paulo. Se fosse por isso, eu ia votar contra", afirmou o senador Blairo Maggi (PR-MT).

Para valer como lei, os deputados precisam agora concordar com o texto da forma como saiu do Senado, e manter a redação do projeto. De acordo com o autor da proposta, senador Cyro Miranda (PSDB-GO), além de diminuir a carga tributária brasileira, a proposta incentiva a entrada de turistas no Brasil. O relator da proposta, Armando Monteiro (PTB-PE), defendeu o valor para o qual passou o limite de vendas para quem entra no país. "Esse valor é o mesmo há 30 anos. Até pelos eventos que o Brasil vai receber, Copa do Mundo e Olimpíadas, é necessário atualizar essa quantia", afirmou.

Monteiro alegou que a aprovação do projeto aumentaria a atratividade dos free shops no País. "Além disso, entendemos que a elevação do teto atual representa um fomento legítimo à atividade das lojas francas, cuja atratividade vem sendo progressivamente diminuída com o aperto decorrente da falta de atualização", ressaltou Monteiro no relatório apresentado na CAE. O projeto não modifica, no entanto, as regras para compras realizadas no exterior, que continuam seguindo normas específicas definidas pela Receita Federal.
Fonte: Agência Senado

Universidades negras dos EUA iniciam hoje busca de acordos acadêmicos no Brasil

 
 
 
Uma delegação representando 105 faculdades e universidades historicamente negras nos Estados Unidos (EUA) - Historically black colleges and universities (HBCUs) - inicia nesta terça-feira uma visita de dez dias a universidades e escolas técnicas brasileiras em busca de acordos de intercâmbio acadêmico. Parceira do Brasil desde o ano passado no programa federal Ciências Sem Fronteiras, as HBCUs receberam aproximadamente 350 alunos brasileiros neste semestre e esperam mais 150 no semestre para estudarem durante um ano nos EUA.

O chefe da comitiva e diretor da Iniciativa da Casa Branca para Faculdades e Universidades Historicamente Negras, Meldon Hollis, explicou que a meta do acordo é levar cerca de mil alunos no ano que vem para estudarem nas HBCUs pelo programa Ciências Sem Fronteiras, além de expandir acordos bilaterais entre as universidades dos dois países.

“Queremos que os brasileiros conheçam melhor nossas instituições e queremos conhecer melhor as instituições brasileiras. Já recebemos professores brasileiros e estamos providenciando bolsas para nossos estudantes e professores virem para cá”, disse Hollis. “Alguns professores devem vir ensinar inglês aos alunos que estiverem indo estudar nas HBCUs que têm dificuldade com o idioma”.

As HBCUs foram fundamentais para a inclusão de afro-americanos na formação de nível superior até 1964, quando uma lei federal  (American Civil Rights Act) tornou ilegal a proibição de estudantes negros em instituições de ensino superior, prática exercida por vários estados no Sul dos EUA. Hollis, que é negro, disse que ainda estudante, na década de 60, foi obrigado a se mudar da Georgia para Washington para fazer faculdade.

“Queria ser engenheiro, mas não havia universidades de engenharia para negros no estado onde eu morava. As universidades não aceitavam negros, então meu estado pagou para que eu estudasse em uma faculdade em outro estado”, disse.

Hollis explicou que quase 50 anos depois da lei que possibilitou aos negros nos Estados Unidos frequentarem qualquer universidade, as HBCUs  continuam a desempenhar um papel importante na inclusão social desse grupo, que ainda enfrenta obstáculos no acesso ao ensino superior.

“Embora tenhamos cerca de 3 mil instituições de nível superior nos EUA, a maioria dos estudantes negros vem das HBCUs. Na maioria dos estados onde existem HBCUs, essas instituições são as que mais empregam profissionais afro-americanos, que mais formam PhDs”, disse ele, que citou o líder negro Martin Luther King e a apresentadora Oprah Winfrey como exemplos de personalidades negras americanas que se formaram em HBCUs.

Entre 60% e 70% dos mais de 300 mil estudantes das HBCUs são negros, segundo Hollis, que encontram nessas instituições apoio para superar preconceitos raciais e capacitação acadêmica. “Nessas instituições é possível aprender também sobre a cultura e a história dos povos africanos”, completou.

A maioria dos brasileiros que cursam as HBCUs atualmente são brancos, mas o chefe da comitiva acredita que as futuras parcerias tendem a aumentar o número de estudantes negros nas instituições.

A diretora da área de Serviços Instrucional e para Estudantes da escola técnica J. F. Drake State, no Alabama, Patrícia Sims, acredita que as HBCUs podem contribuir para o empoderamento dos estudantes negros brasileiros. “O acesso é o que oferecemos de mais relevante e é o que queremos oferecer para os estudantes brasileiros”, disse.Para a representante da Universidade Jackson State, no Mississipi, Patricia Jernigan, assim como ocorre no Brasil, muitos estudantes negros, pela falta de acesso a boas escolas, não conseguem entrar na faculdade ou quando entram não conseguem concluí-la. “Nas HBCUs temos programas para garantir que esses alunos recebam todos os recursos necessários para concluir com sucesso os cursos em que estão”, disse. “Nossas escolas recebem estudantes muito preparados, mas essas instituições foram especialmente criadas para receber alunos não tão preparados, por isso não recuamos em nossa missão. Esperamos que essa experiência que adquirimos possar ser útil para instituições no Brasil”.

De acordo com a diretora da Faculdade de Administração da Universidade do Alabama, Le-Quita Booth, as HBCUs criam um ambiente de cuidado e proteção para afrodescendentes de outros países. “Nas demais universidades, ele [aluno negro] é apenas mais um estudante estrangeiro. Nas HBCUs é como se fosse acolhido por uma família e tomamos cuidado especial para garantir que o aluno tenha êxito no curso”, disse.

No Rio, as instituições visitadas serão IBMEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), Pontifícia Universidade Católica (Puc-Rio), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense  (Uenf).

Além das visitas marcadas no Rio de Janeiro, o grupo tem reuniões agendadas com universidades em São Paulo, Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Uberlândia, Goiânia, Brasília, Juiz de Fora, Ouro Preto, Belo Horizonte e Salvador. Ao final do programa todos se reunirão em Brasília para encontros com representantes do Ministério de Educação.
Fonte: Agência Brasil
 

Apex-Brasil e ABEEólica promoverão ações para atrair investimentos

 

 

Ações serão desenvolvidas prioritariamente nos Estados Unidos, Dinamarca, Espanha e Alemanha. Acordo de cooperação prevê também apoio para a realização de ações de promoção comercial voltadas para empresas do setor

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) assinaram na última quarta-feira, 14, acordo de cooperação técnica pelo qual as duas entidades passarão a desenvolver em parceria ações de promoção comercial e para atração de investimentos estrangeiros diretos. O objetivo é ampliar as exportações do setor, contribuir para consolidar a cadeia produtiva e ampliar a competividade das empresas brasileiras no mercado internacional.

“Este acordo vem fortalecer as relações entre a Apex-Brasil e a ABEEólica, iniciadas para o fortalecimento da cadeia produtiva do setor e que agora permite ir para a segunda vertente de ação da Agência, a promoção comercial”, disse o diretor de Negócios da Apex-Brasil, Ricardo Santana.

“A cadeia industrial brasileira de energia eólica está se consolidando e os investimentos no setor aumentam ano a ano em várias partes do mundo. Por isso, acreditamos que, com apoio da Apex-Brasil, as empresas brasileiras poderão aproveitar estas oportunidades e contribuir para aumentar as exportações brasileiras com produtos de uso intensivo de tecnologia”, afirma a presidente executiva da ABEEólica, Elbia Melo.

O acordo de cooperação técnica tem validade de dois anos e poderá ser renovado. Por meio dele, a Apex-Brasil apoiará a ABEEólica com estudos, organização de missões e/ou eventos que contribuam para consolidar a imagem do Brasil como um cluster eólico.

 Inicialmente, serão realizadas ações de promoção comercial nos países do Cone Sul (Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai) e países africanos. As ações para atração de investimentos estrangeiros diretos para o setor serão desenvolvidas prioritariamente nos Estados Unidos, Dinamarca, Espanha e Alemanha.

Desde 2012, a Apex-Brasil atua em parceria com a ABEEólica em ações para atração de investimentos estrangeiros diretos para o segmento de energia eólica no Brasil.

CERTIFICADO

Com as presenças dos ministros de Minas e Energia, Edson Lobão, e do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, e do diretor de Negócios da Apex-Brasil, Ricardo Santana, a ABEEólica e a Associação Brasileira de Energia Limpa (Abragel) lançaram também nesta quarta-feira, na sede da Agência, o Certificado e o Selo de Energia Renovável voltados para as fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O objetivo é agregar valor aos empreendimentos de geração e consumo de energia renovável que, além de cumprir as exigências legais às quais estão sujeitos, desenvolvem programas socioambientais voluntários, que ratificam seus compromissos com a sustentabilidade.


Mais informações
Assessoria de Imprensa da Apex-Brasil
(61) 3426-0202

Petrobrás agravou prejuízo com refinaria ao tentar evitar condenação

Área jurídica recomendou pagamento em caso de condenação, mas conselho presidido por Dilma desobedeceu

21 de agosto de 2013 | 13h 46

Sabrina Valle, da Agência Estado
 
RIO - Na tentativa de evitar o cumprimento de condenação arbitral de abril de 2009 proferida em Houston, no Texas, no caso da refinaria de Pasadena, a Petrobrás acabou elevando seu prejuízo na aquisição da unidade americana, já estimado na casa de US$ 1 bilhão.


Refinaria de Pasadena, no Texas: perda já chega a US$ 1 bilhão - Land Use Database/Reprodução
Land Use Database/Reprodução
 
Refinaria de Pasadena, no Texas: perda já chega a US$ 1 bilhão
A decisão, determinada pelo conselho de administração da companhia, à época presidido pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, acarretou o pagamento extra de US$ 181,4 milhões, segundo documentos obtidos pelo Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado.

Atas de reuniões do conselho de administração e da diretoria, que não fazem parte do material investigado por autoridades e congressistas, expõem uma orientação da área jurídica em 2009 de honrar o pagamento em caso de decisão judicial contrária à empresa. 

Houve condenação e a Petrobrás ainda assim recusou-se a pagar. Procurada, a companhia não se manifestou sobre o assunto. 

O Ministério Público (MP) junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) analisou farto material da petroleira numa ação que corre em sigilo a pedido da Petrobrás. A conclusão foi de que não houve respaldo jurídico para o descumprimento das decisões arbitrais e judiciais.

O MP informou que vai apurar a responsabilidade pelo prejuízo aos cofres públicos e encaminhou representação ao TCU por indícios de gestão temerária.

A arbitragem foi iniciada em junho de 2008, a pedido do próprio conselho da Petrobrás. A estatal perdeu em todas as instâncias e só fechou acordo no ano passado. Pagou, ao todo, US$ 1,18 bilhão por uma refinaria antiga e de baixa complexidade (refina óleo leve) que custava US$ 42,5 milhões em 2005.

"No material que analisamos não encontramos justificativa legal (para descumprir as decisões arbitrais e judiciais), era causa perdida na Justiça. É preciso apurar a responsabilidade dos conselhos fiscal e de administração, pois houve prejuízo muito considerável aos cofres públicos", disse o procurador do MP junto ao TCU, Marinus Marsico. 


Gestão temerária. A suspeita de gestão temerária é mais um episódio envolvendo a diretoria Internacional da companhia com possibilidade de prejuízo para acionistas. As operações da área também são alvo de investigações de autoridades por causa de um contrato suspeito de irregularidade com a Odebrecht, da venda da refinaria San Lorenzo (Argentina) e da contratação de um navio sonda pela empresa Vantage.

Ganharam força depois de denúncia, publicada pela Revista Época, de um ex-funcionário da Petrobrás sobre desvio de recursos na empresa e distribuição de comissão para políticos. As investigações são feitas por Congressistas, pelo MP, pelo TCU e pelo Ministério Público Federal no Rio (MPF).

O conselho de administração da companhia entrou em arbitragem com o objetivo de minimizar perdas para a estatal e reverter um acordo feito pelo então diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró (hoje diretor da BR Distribuidora).

Entre os motivos para o conselho tentar desfazer o negócio estava o preço da transação. O diretor também foi procurado pelo Broadcast, mas a comunicação sobre o caso está concentrada no comando da Petrobrás. 


A comercializadora de energia belga Astra havia comprado 100% da refinaria em 2005 por US$ 42,5 milhões. Um ano depois, a Petrobrás comprou dos belgas metade da refinaria proporcionalmente por 17 vezes mais, US$ 360 milhões. O conselho tentava reverter a compra da segunda metade, em que a Petrobrás estava disposta a pagar, em 2007, o dobro do que havia pago no ano anterior e 37 vezes mais do que pagaram os belgas por 50% do mesmo ativo.

Seriam US$ 700 milhões, mais uma "alocação especial" de US$ 85 milhões, segundo carta de 5 de dezembro de 2007, numa negociação que teria sido fechada pelo diretor sem o conhecimento do conselho. "A alocação especial ('a alocação especial remanescente de US$ 85 milhões') será paga em 17/02/2008 ou no fechamento do negócio", diz a carta.

O caso chamou a atenção do conselho de administração presidido por Dilma e, em junho de 2008, o órgão decidiu entrar em arbitragem para invalidar o acordo e minimizar outras perdas para a Petrobrás. A companhia belga resolveu exercer o direito de vender sua parte no negócio (put) e vários processos foram abertos entre as partes depois disso. 

A Petrobrás perdeu a arbitragem em abril de 2009 e teria que pagar à belga US$ 639,1 milhões. Recorreu, mas perdeu de novo, em confirmação de sentença de junho daquele mesmo ano.

Em 09 julho de 2009, a diretoria executiva se reuniu para discutir o encaminhamento, como revela a pauta da ata: "Atualizar o conhecimento do conselho de administração sobre os diversos processos em andamento relativos ao contencioso de Pasadena, expondo a estratégia de atuação com relação às diversas demandas, inclusive no que respeita àquela relativa à validade da carta de intenções de 5/12/2007".

Três semanas depois, o caso chegou ao conselho de administração, de acordo com a ata de 30 de julho de 2009.

Orientação jurídica. Os documentos mostram que o corpo jurídico da Petrobrás estava de acordo com a decisão de recorrer das condenações em 2009, no âmbito da arbitragem. Recomendava que, se confirmada por decisão na Justiça comum ou acordo para tomada de controle, a pena fosse paga. 


Cortes estaduais da Justiça (comum) do Texas confirmaram decisão da arbitragem em primeira e segunda instâncias em março (comunicado da Petrobrás de 12/03/2010) e dezembro de 2010.       Ainda assim, a Petrobrás não pagou e continuou com os diversos pleitos na Justiça.

A arbitragem é uma espécie de Justiça privada, acertada previamente entre as empresas em contrato, como alternativa ao Poder Judiciário. Apesar de privada, tem o mesmo efeito da Justiça comum. 

"Entende o Jurídico da Petrobrás (...) O pagamento dessa opção de venda e demais condenações objeto do processo arbitral só deverá ser efetuado após decisão judicial de confirmação ou mediante assinatura de termo de acordo", diz a ata da reunião de 2009.


Três anos depois, em junho de 2012, a Petrobrás pagou US$ 820,5 milhões num acordo para encerrar as disputas e adquirir o restante da refinaria. O valor inclui correção monetária e juros de 5% ao ano estabelecidos em contrato. Mas também as obrigações devidas à Astra não detalhadas pela petroleira. A diferença entre o valor inicial devido e o efetivamente pago foi de US$ 181,4 milhões. Caso tivesse cumprido com o acordo fechado pela área Internacional, mesmo pagando caro, teria gastado US$ 35 milhões a menos.

Três fontes ouvidas pelo Broadcast, uma delas presente às reuniões do conselho de administração em que se discutiu Pasadena, sustentam que teria sido da presidente do Conselho, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a decisão final e preponderante de entrar com processo arbitral e de recorrer das derrotas. Dilma deixou a presidência do conselho em março de 2010, ano que se candidatou à Presidência. Procurado, o Palácio do Planalto também não se manifestou.

O caso também é investigado pelo Tribunal de Contas da União, pelo Congresso e pelo Ministério Público Federal no Estado do Rio de Janeiro (MPF), que instaurou em junho procedimento investigatório criminal. "A atuação do ministério Público é impessoal", disse Marsico.

Procurada, a Petrobrás preferiu não comentar. A companhia alega que o acordo de US$ 820 milhões minimizou as perdas para a empresa, que poderiam ter chegado a US$ 1,312 bilhão.

O ex-presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, defendeu o negócio em audiência na semana passada (06) no Senado. Lembrou que o cenário do setor internacional de refino era completamente diferente e que, na época, os valores eram adequados. O executivo, hoje secretário de Planejamento do governo da Bahia, disse não saber explicar a diferença de US$ 181,4 milhões entre o que foi acordado no tribunal de arbitragem e o valor do acordo. 

O executivo alegou que já não era mais presidente (saíra quatro meses antes) quando o acordo foi anunciado. "Estou falando de uma decisão judicial de 2010. Os termos do acordo são de junho de 2012. Eu saí da Petrobras em fevereiro de 2012", afirmou Gabrielli. "Pode ter sido juros, honorários advocatícios, acordos em razão de outras cláusulas que apareceram. Eu não sei."

“Caiu o mito!”





Peças de grifes famosas são feitas por mão-de-obra barata em confins do mundo

Uma série da acidentes e incidentes envolvendo fábricas de roupas em Bangladesh e Vietnã, ao longo deste ano, lançou luz sobre as precárias condições de trabalho da indústria de vestuário naqueles confins do mundo. E, como não poderia deixar de ser, abriu uma discussão sobre ética nos negócios.

fabrica-3mundo-350Não deixo de me engajar nela, mas o que mais me chamou a atenção nessas tragédias não foi a previsível discussão acerca do dilema que a economia globalizada nos impõe todos os dias: priorizar nosso lado consumidor ou cidadão. Afinal, sabe-se de cor que roupas baratas são excelentes iscas para agradar ao primeiro, mas jamais seriam aprovadas pelo segundo, presumivelmente conhecedor das condições em que são produzidas.

Por isso, interessou-me mais outro aspecto desses episódios. Algumas das fábricas onde os acidentes aconteceram não produziam roupas apenas para varejistas barateiros, como Zara, H&M, Gap e Wal Mart. Fabricavam-nas para grifes como Giorgio Armani, Ralph Lauren e Hugo Boss (ao menos as peças mais simples, como camisetas). Quando essas peças chegavam ao varejo americano, recebiam um mark-up violentamente maior que suas “assemelhadas” sem grife, mesmo que a diferença de qualidade entre elas ficasse resumida a detalhes – coisa de centavos no custo unitário de produção.

Não sei se já contei aqui, mas, em todo caso, repito. Anos atrás, tive contato com uma dona de casa que se tornara sócia de uma butique sofisticada da qual era, até aquele momento, cliente. Selada a sociedade, a recém-microempresária foi convocada pela sócia veterana a conhecer os meandros do negócio, percorrendo durante um dia inteiro os principais fornecedores da loja: costureiras, fabricantes de tecido, armarinhos, etc. Exausta ao fim do dia, resumiu assim suas impressões: “Caiu o mito!”.

A exclamação tinha sentido óbvio: fora das lojas, fora das páginas de revistas e fora dos desfiles, os produtos que antes encantavam perdiam a aura, o significado; tornavam-se meras mercadorias produzidas em série, objetos de preço baixo e sem glamour, visto que vindos de fabriquetas de fundo de quintal e de lojinhas de periferia. Ela vira que o preço que pagava até então como cliente da butique não vinha exatamente da qualidade da matéria-prima ou da sofisticação do processo de produção, e sim pura e simplesmente da marca, da grife que sua agora-sócia imprimia às peças.

(Caso refizesse esse périplo hoje, encontraria mão-de-obra boliviana em más condições de trabalho produzindo para Le Lis Blanc e Bo.Bô, segundo a Folha de S. Paulo de fins de julho).

Tempos atrás, uma publicação voltada à informação de consumidores, nos EUA, publicou um teste em que mostrava que camisetas pólo de um grande magazine do país tinham qualidade superior às da estrelada grife Ralph Lauren – que, por sua vez, custavam sete vezes mais. Mostrou, também, que suéteres de US$ 340 de uma loja famosa de Nova Iorque tinham qualidade apenas levemente superior aos de US$ 25 vendidos no Kmart, uma das mega-redes de descontos americana.

Pois é. Como bem dizia Jean Baudrillard, a sociedade de consumo é a “sociedade do signo”; uma sociedade na qual não se consomem mercadorias de valor utilitário, e sim aquilo que elas representam: liberdade, sofisticação, poder econômico. Difícil não enxergar o episódio das fábricas de Bangladesh e Vietnã por esse prisma. E difícil não dar um pouco de razão a um costureiro boliviano ouvido pela Folha a respeito de uma peça que saía de sua oficina paulistana por R$ 15 ser vendida numa loja de grife por R$ 400: “É um absurdo, mas a gente não pode fazer nada”.

Será que não podemos?