segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O psicólogo que pode ser o “novo Abilio” do Pão de Açúcar


Ronaldo Iabrudi é o representante do Grupo Casino no Brasil; ex-presidente da Telemar, o mineiro é um dos cotados para comandar o conselho do Pão de Açúcar

CAROL CARQUEJEIRO/Valor Econômico
Ronaldo Iabrudi, representante do Casino no Brasil, em foto de 2005
Ronaldo Iabrudi: cotado para substituir Abilio, executivo teve passagem conturbada pela Telemar

São Paulo – A saída de Abilio Diniz do Pão de Açúcar colocou fogo no mercado de apostas sobre quem vai substituí-lo na presidência do conselho do grupo fundado por seu pai, há 65 anos. Por ora, um dos mais cotados é Ronaldo Iabrudi, representante do Grupo Casino no Brasil.

Caso Iabrudi seja confirmado no posto, terá protagonizado uma ascensão meteórica ao comando da maior rede de varejo do país. Isto porque o executivo foi contratado no início de junho como representante dos interesses do Casino no Brasil. Um mês depois, ele já era indicado para assumir um assento no conselho de administração do Pão de Açúcar.

No comunicado em que apresentou Iabrudi como seu homem forte no Brasil, há três meses, o Casino o qualificou como “um executivo altamente experiente”, e sua contratação reafirmava “o compromisso [do Casino] com o Brasil.”


O cortador de custos


Iabrudi pode não ser uma celebridade do mundo dos negócios, como Abilio Diniz, mas sua atuação à frente de grandes empresas mostra como seu estilo foi forjado – e um pouco do que estaria esperando o Pão de Açúcar.

Seu maior cartão de visitas foi a presidência da Telemar (atual Oi), entre o final de 2002 e meados de 2006. Foi ali que Iabrudi viveu seus melhores dias, com resultados elogiados por analistas, e também a sua maior guerra corporativa. E, nesses episódios, apurou seu estilo de atuação.

Iabrudi foi contratado pela Telemar em 2000, para dirigir as operações do Nordeste. Seus resultados na região o levaram para o topo da hierarquia. Em julho de 2001, ele assumiu a presidência da empresa, com a missão de torná-la mais enxuta, racional e lucrativa.

E o executivo não se fez de rogado. A reestruturação, lançada em agosto daquele ano, unificou as operações das 16 empresas controladas pela holding, abateu 120 milhões de dólares em custos e reduziu o número de funcionários de 20.629 para 11.886. Tudo isso em apenas um ano.

Poderia se esperar um estilo mais brando de gestão de um psicólogo formado pela PUC de Minas Gerais, com mestrado em Formação de Adultos, mas o foco em resultados deu o tom de sua gestão. Conta-se que, em uma das rodadas de cortes, Iabrudi demitiu 30 diretores na véspera de Natal.
Conflitos


Mas a gestão de Iabrudi na Telemar não escapou a críticas e a uma guerra interna por poder. Do lado de fora da empresa, consumidores seguiam se queixando do atendimento da operadora, que figurava entre as mais reclamadas pelos consumidores.

Do lado de dentro, Iabrudi disputou espaço com uma estrela então em ascensão: Luiz Eduardo Falco. Ex-diretor de marketing da TAM, Falco entrou para a Telemar em 2001 e transformou uma minúscula operação de telefonia celular na hoje conhecida Oi.

Pelo caminho, como era de se esperar, trombou com o presidente da Telemar, Iabrudi, a quem se reportava no papel, mas não na prática.

Esta foi uma das maiores guerras por poder a que o mundo dos negócios brasileiro assistiu, no final da década passada. Em um determinado momento, Iabrudi submeteu a área de telefonia móvel ao seu controle. O contra-ataque foi a demissão de uma série de executivos ligados à telefonia fixa, o bastião de Iabrudi.

O expurgo foi apresentado como um civilizado corte de custos e de sobreposição de funções, mas o mercado o interpretou como o avanço de Falco na estrutura da Telemar. O motivo foi simples: na maior parte dos cargos, quem foi eliminado era da telefonia fixa. Eram os aliados de Falco galgando poder. Iabrudi deixou a presidência da Telemar em 2006 com seus resultados questionados pelo mercado e por parte dos donos da operadora.


Nova chance


O executivo teve outra passagem por uma grande empresa entre o final de 2007 e o início de 2012, quando foi levado pela GP Investimentos à presidência da mineradora Magnesita, conhecida por seus produtos refratários.
 
Lá, o executivo atacou em duas frentes. Primeiro, cortou custos. Somente nos primeiros meses de sua gestão, 25% dos funcionários saíram, sejam pelo plano de demissão voluntária, seja por cortes mesmo. Iabrudi vendeu ativos não diretamente relacionados ao foco do negócio e terceirizou funções.

Mas sua maior tacada foi a compra da alemã LWB por 657 milhões de euros. O negócio catapultou a Magnesita, na época, da décima para a terceira posição no ranking dos produtores de refratários.


Balanço


O ponto é que nem todos os números da gestão de Iabrudi à frente da Magnesita foram positivos. É verdade que a receita líquida da empresa saltou de 861,709 milhões de reais, em 2007, para 2,319 bilhões em 2001 – o último ano cheio de Iabrudi na empresa.

O outro lado, porém, é que o lucro líquido caiu de 108,794 milhões de reais para 98,550 milhões no mesmo período – com direito a um prejuízo de 32,541 milhões em 2009, e a um lucro de 92,344 milhões em 2010.

Até aqui, a trajetória de Iabrudi equilibra-se entre conquistas e alguns resultados que não impressionaram os analistas. Os cortes de custos que promoveu nas empresas pelas quais passou surtiram efeitos, é claro – mas não a ponto de colocá-lo no hall das celebridades. Se for mesmo confirmado como novo líder do Pão de Açúcar, terá a chance de passar pela prova dos nove.
 

Gabrielli quer resposta dura para espionagem à Petrobras


O ex-presidente da estatal considerou "abominável" a tentativa da NSA de espionar a companhia

Sabrina Valle, do
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras
Gabrielli: ele ressalva que o sistema de tecnologia da Petrobras "é muitíssimo bem protegido"

Rio - O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli considerou "abominável" a tentativa da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) de espionar a companhia. Gabrielli defendeu uma resposta contundente pela via diplomática do Brasil, comentando o assunto na manhã desta segunda-feira, 9.

"A simples tentativa de 'hackear' informações da Petrobras é abominável. Merece uma resposta enérgica por parte da diplomacia brasileira", disse ele, hoje secretário de Planejamento da Bahia.

Gabrielli ressalva que o sistema de tecnologia da Petrobras "é muitíssimo bem protegido" e que a tentativa de invasão não significa que de fato tenha havido roubo de informações.

Segundo ele, a empresa sofre milhares de tentativas de ataque cibernético. "As tentativas de ataque são frequentes, corriqueiras, são milhares. Mas o fato de tentarem invadir não significa que houve sucesso", disse.

Gabrielli diz que informações econômicas e estratégicas da companhia podem ser motivo de espionagem, mas que tentar acertar o alvo de interesse não passa de especulação neste momento, sendo necessário apurar. 

O executivo lembra que, durante sua gestão, houve tentativa, por exemplo, de roubo de imagens submarinas, em área de produção offshore.

Enquanto presidente da Petrobras, Gabrielli disse que a companhia dialogava com a embaixada americana. Acrescenta, inclusive, que esteve pessoalmente com o presidente Barack Obama durante sua gestão.

Considerou normal a troca de informações da companhia com o governo americano - reforçando que julga "abominável" hackear informações sigilosas para espionagem. Gabrielli lembra que comenta o caso como ex-presidente e cidadão, já que deixou a companhia há 1,5 ano.
Silêncio mantido


A Petrobras manteve a posição de ontem e informou, na manhã de hoje, via assessoria de imprensa, que não vai comentar a denúncia de que a NSA teria usado seu aparato de espionagem para obter informações estratégicas da companhia.

Negociações da Rodada Doha devem ser intensificadas


O embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, de 55 anos, é o primeiro latino-americano na direção-geral da OMC

Carolina Sarres, da
Antonio Cruz/ABr
Primeiro brasileiro eleito diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo
Roberto Carvalho de Azevêdo: diretor-geral da OMC acredita que o multilateralismo é a melhor solução contra o protecionismo

Brasília - O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, disse hoje (9) que os prejuízos gerados pelo fracasso das negociações na Rodada Doha serão ainda maiores do que os benefícios de um possível sucesso. Azevêdo discursou no início a manhã, em Genebra, na Suíça, na cerimônia que marcou o início de sua gestão na OMC.

"O mundo não vai esperar a OMC por tempo indeterminado. E as soluções não serão tão eficientes e inclusivas quanto as que encontrarmos aqui", destacou o diretor-geral, sobre as alternativas que têm sido buscadas por diversos países devido à paralisia de Doha, cujos temas voltarão a ser discutidos na 9ª Conferência Ministerial da OMC, em Bali, na Indonésia, no início de dezembro.

Azevêdo já havia dito, em outros discursos, que a necessidade de intensificação das negociações de Doha seria o principal desafio de sua gestão. "O que as pessoas veem é [a Rodada] Doha e a percepção que têm é de falta de efetividade, paralisia. O nosso fracasso irá lançar uma sombra sobre o sistema e é essencial dar novo fôlego às negociações", disse.

O diretor-geral acredita que o multilateralismo é a melhor solução contra o protecionismo e explicou que irá privilegiar os países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo nas negociações para garantir que "suas vozes sejam ouvidas" no âmbito do sistema multilateral.

O discurso de Azevêdo foi o primeiro como diretor-geral da organização. Sua posse ocorreu na manhã de hoje, embora ele tenha assumido o cargo há uma semana, em substituição ao francês Pascal Lamy. O chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, está em Genebra para acompanhar a posse do colega.

O embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, de 55 anos, é o primeiro latino-americano na direção-geral da OMC. Disputada até o último minuto, a eleição envolveu uma longa negociação que vem desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Petrobras foi espionada por agência dos EUA, diz TV


A denúncia, feita em reportagem veiculada no Fantástico da TV Globo, tem por base documentos vazados pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden

Fabrício de Castro, do
GettyImages
Instalações da Petrobras, em Recife

Instalações da Petrobras: dependendo das informações da Petrobras acessadas pela NSA, participantes do leilão de exploração do Campo de Libra podem ter vantagens

São Paulo - A Petrobras, uma das maiores empresas do Brasil, foi espionada pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A denúncia, feita em reportagem veiculada no "Fantástico" da TV Globo, na noite de hoje, tem por base documentos vazados pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.

De acordo com a reportagem, apresentação da própria NSA, usada em treinamento de novos agentes, mostra que a agência espiona redes privadas de computador, como a da Petrobras. O nome da companhia brasileira surge logo no início da apresentação. Além da companhia, aparecem listados como alvos o Google, a diplomacia francesa e a rede Swift, que regula transações financeiras internacionais.

Conforme a reportagem, pelo documento não é possível determinar há quanto tempo a Petrobras vem sendo espionada e nem mesmo que tipo de informações foram acessadas pela NSA. O "Fantástico" lembra, porém, que a companhia possui informações sensíveis, que valem bilhões de reais, como as que se referem ao pré-sal.

A reportagem diz ainda que, no próximo mês, o governo brasileiro vai promover o leilão de exploração do Campo de Libra, na Bacia de Santos, que faz parte do pré-sal. Segundo a TV Globo, dependendo das informações da Petrobras acessadas pela NSA, participantes da disputa podem ter vantagens na disputa.

O documento da NSA é classificado como "ultrassecreto" e, de acordo com a reportagem, liberado apenas para cinco países aliados - além dos EUA, a Inglaterra, a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia.

Oficialmente, a NSA não espiona empresas estrangeiras com o objetivo de favorecer companhias norte-americanas. A apresentação usada para treinamento de novos agentes da agência, no entanto, coloca em xeque esta versão.

Em nota à Rede Globo, a NSA negou o roubo de informações de companhias estrangeiras. A Petrobras não comentou.


Dilma


A denúncia de espionagem à Petrobrás surge uma semana após o Fantástico veicular reportagem mostrando que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores foram monitorados pela NSA. Conforme a reportagem, documentos secretos revelam que Dilma teve conversas telefônicas, e-mails e sua rede de comunicação interceptados pela NSA.

A revelação gerou uma crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Durante a última semana, o Brasil pediu explicações a representantes norte-americanos e a presidente Dilma Rousseff cancelou o envio de uma equipe aos EUA, que prepararia sua visita de outubro ao país. O cancelamento da visita da equipe, no entanto, não significa que a presidente desistiu de viajar aos EUA.

Além disso, durante reunião do G-20 em São Petersburgo, na Rússia, Dilma afirmou na sexta-feira que o Brasil quer saber "tudo o que há" sobre o País nos serviços de espionagem dos EUA. O presidente norte-americano, Barack Obama, após ter conversado com Dilma, afirmou que buscaria informações sobre as acusações contra a NSA. Obama afirmou ainda que levava à sério as alegações de espionagem contra o Brasil e o México - outro país envolvido nos monitoramentos.

Soma do caixa das empresas brasileiras bate recorde em junho


Com 275,4 bilhões de reais à disposição, companhias de capital aberto do país registram maior valor desde 2008

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Notas de dólar
Dólar: moeda americana em alta não impediu bom desempenho das empresas do país em junho


São Paulo – Em junho, a soma do caixa das 262 companhias brasileiras de capital aberto alcançou o maior valor desde janeiro de 2008: 275,4 bilhões de reais. Os dados são da Economatica. Os números surpreendem, se levados em conta fenômenos como a desaceleração do crescimento, o dólar alto e a inflação. Ao que tudo indica, apesar da crise, as empresas brasileiras têm gordura para queimar.

De acordo com a Economatica, 30 empresas tiveram caixa recorde em junho de 2013 – entre elas, a Petrobras, que faturou 73 bilhões de reais naquele mês. Os demonstrativos usados no levantamento foram disponibilizados pela Comissão de Valores Mobiliários.

Embora o caixa das empresas tenha aumentado, a alta do dólar diminuiu o valor de mercado das companhias brasileiras. Segundo números do Economatica, elas valiam cerca de 930 bilhões de dólares no começo de agosto – voltando aos patamares de julho de 2009.



'A paralisia acabou', diz Roberto Azevêdo ao assumir a Organização Mundial do Comércio


BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA


Em sua estreia como diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), o brasileiro Roberto Azevêdo prometeu nesta segunda-feira (9) dar fim à "paralisia" que, segundo ele, ameaça afundar a entidade na irrelevância. 

O embaixador cobrou urgência dos 159 países membros para destravar a rodada Doha de liberalização do comércio global. Ele disse que buscará resultados concretos na Conferência de Bali, em dezembro. 

"A paralisia acabou. Nós caímos nessa paralisia e nos acomodamos a ela. Isso acabou", afirmou. "Desde 1999 a OMC não consegue fechar nenhum acordo multilateral. É hora de mudar isso." 

Em discurso na sede da OMC, em Genebra, Azevêdo disse que a entidade corre o risco de ficar para trás caso não consiga avanços concretos nos próximos meses. 

"O mundo não vai esperar indefinidamente pela OMC. Ele vai seguir adiante", alertou.
"Nossa capacidade de responder às demandas de um mundo em transformação estão sob ameaça. O futuro do sistema multilateral de comércio está em jogo." 


3.set.13/G20 Rússia/AFP
Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da OMC
Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da OMC  

O brasileiro disse estar preocupado com o avanço de negociações bilaterais às margens da OMC. Ele sugeriu que isso pode esvaziar ainda mais a entidade. 

"O multilateralismo está deixando de ser a opção mais interessante. Minha preocupação é com o sistema, que não está funcionando." 

O enviado da CNI (Confederação Nacional da Indústria) a Genebra, Carlos Eduardo Abijaodi, disse que o Brasil pode perder com as negociações para um acordo de livre comércio entre os EUA e a União Europeia. 

"Se fizerem esse acordo, será um baque muito grande para o Brasil", afirmou. Ele disse que a entidade brasileira apoia as negociações multilaterais.

BRASIL DIFICULTA VINDA DE REFUGIADOS SÍRIOS

 

 

 

Desde 2010, Brasil concedeu refúgio a  258 sírios. A Suécia, em menos de 2 anos (desde 2012), acolheu mais de 15.000 sírios – com direito à residência permanente. O Itamaraty alega motivos de segurança nacional. Aparentemente, a Suécia não se preocupa com a sua segurança nacional!

Quando, há três meses, seu cunhado foi morto e teve o corpo atirado em frente à casa dos filhos na cidade de Homs, Mohamad encorajou sua família na Síria a fugir para o Brasil.

Em São Paulo há 14 anos, ele temia que outros parentes se somassem aos cerca de cem mil sírios que, segundo a ONU, morreram desde a eclosão dos conflitos no país árabe, em 2011.

Desde então, porém, diz que nenhum deles conseguiu deixar a Síria – segundo ele, por causa de exigências irreais feitas pelo Brasil para lhes conceder vistos. “Os brasileiros estão com os braços abertos, mas o governo está complicando tudo”, diz o sírio à BBC Brasil.

O Itamaraty afirma que as exigências buscam resguardar a segurança nacional.

Sede de uma das maiores colônias sírias fora do Oriente Médio, o Brasil concedeu refúgio a 258 sírios desde 2010, segundo o Ministério da Justiça. O número equivale a 0,01% dos 2 milhões de sírios que, de acordo com a ONU, fugiram desde o início dos confrontos.

Para analisar pedidos de refúgio, o governo determina que o solicitante esteja em território nacional. O problema, segundo Mohamad e outros sírios ouvidos pela BBC Brasil, é que muitos não têm conseguido sequer cumprir a etapa anterior: obter um visto para o Brasil. E, sem o documento, eles não podem voar até o país.

Membro da Coordenação da Revolução Síria no Brasil, grupo no Facebook que defende a queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, o comerciante Amer Masarani diz que o número de refugiados no Brasil seria muito maior se as regras para o visto fossem menos rígidas.

Masarani, que vive em São Paulo há 17 anos, afirma ter sido procurado por ao menos seis compatriotas que tiveram pedidos de visto negados.

Junto de outros pequenos empresários árabes de São Paulo e de duas associações islâmicas, Masarani tem auxiliado sírios que tentam vir ao Brasil desde o pedido de visto até sua chegada e regularização.

Como o Brasil não emite vistos específicos a candidatos a refúgio, a alternativa aos que querem fugir para o Brasil são vistos de turista. Para concedê-los, o governo exige dez requisitos, entre os quais comprovante de emprego, extrato bancário dos últimos seis meses, certificado de antecedentes criminais e uma carta convite.
Para Masarani, as exigências não levam em conta o conflito. “A economia síria entrou em colapso, os bancos pararam de funcionar, muitos perderam o emprego, os prédios públicos fecharam. É impossível conseguir esses documentos.”

“O governo brasileiro está tratando esses sírios como turistas, mas eles são refugiados que estão correndo risco de vida. Muitos fogem só com a roupa do corpo”.


Joias por comida


Ao testemunhar a agonia de um sírio incapaz de obter um visto para o Brasil, a agente de turismo carioca A.A.C. passou a considerar um plano radical.

Ela diz ter conhecido o homem – morador de Alepo, segunda maior cidade síria – pela internet há um ano. Desde então, afirma que passaram a dialogar diariamente, tornando-se “amigos íntimos”.
No período, ela foi apresentada a seus parentes, consolou-o quando um amigo foi morto e habituou-se a ouvir explosões durante suas conversas. Em março, estimulou-o a fugir para o Brasil.

“Ele quer muito vir. Lá está faltando luz, água, comida. Quem tem joias troca por uma dúzia de ovos.”
A agente de turismo diz, no entanto, que ele jamais conseguiu reunir a documentação exigida. Além dos dez requisitos, ela diz ter sido informada por uma funcionária da embaixada brasileira na Síria de que ele precisaria comprovar movimentação bancária de ao menos US$ 2 mil (R$ 4,6 mil) mensais.

Desempregado – ela diz que a indústria em que trabalhava fechou por causa da guerra –, ele não pôde cumprir as exigências. Foi então que ela teve a ideia de se casar com ele, para que o sírio pudesse viajar com um visto familiar.

O matrimônio ocorreria por procuração, sem que ela precisasse estar na Síria, e reduziria as exigências para o visto. Ela diz estudar formas de tirar os planos do papel. “Eu seria capaz de fazer isso por ele, mas tenho que planejar tudo com cuidado”.


‘Riscos à segurança nacional’


Desde julho de 2012, a embaixada brasileira na Síria mantém apenas funcionários locais, que encaminham os pedidos de visto para o consulado em Beirute, no Líbano. Segundo Amer Masarani, da Coordenação da Revolução Síria no Brasil, a análise dos pedidos leva entre três e quatro meses.

Para agilizar o processo, ele diz que muitos sírios têm viajado para Beirute ou para Amã, na Jordânia, onde os serviços consulares brasileiros operam normalmente. Ele afirma, porém, que mesmo nas duas cidades muitos pedidos têm sido negados.

Masarani diz que o governo brasileiro dificulta a vinda de sírios porque, segundo ele, apoia Bashar al-Assad. “O Brasil não quer dar mais visibilidade ao conflito”.

Já o Itamaraty diz que as exigências feitas aos sírios se aplicam a qualquer estrangeiro de países com os quais o Brasil não tenha acordo de isenção de vistos. Além disso, segundo um assessor de imprensa do órgão, “numa circunstância como a presente (na Síria), temos que tomar cuidado para não aceitar pessoas que possam pôr em risco a segurança nacional”.

O órgão diz recusar vistos apenas quando uma série de requisitos é descumprida. A pasta se recusou a responder quantos pedidos de visto de sírios foram negados desde o início dos conflitos.

Para Masarani, o argumento da segurança nacional não se sustenta. Ele cita o caso da Suécia, que recebeu cerca de 15 mil refugiados sírios desde 2012, quase 60 vezes mais que o Brasil. A maioria ingressou no país com vistos de entrada regulares; outros, por uma cota de refugiados acordada com a ONU.
“Será que a Suécia não se preocupa com sua segurança nacional?”, indaga.

João Fellet
(BBC Brasil – 09/09/2013)