Ronaldo Iabrudi é o representante do Grupo Casino no Brasil; ex-presidente da Telemar, o mineiro é um dos cotados para comandar o conselho do Pão de Açúcar
Ronaldo Iabrudi: cotado para substituir Abilio, executivo teve passagem conturbada pela Telemar
São Paulo – A saída de Abilio Diniz do Pão de Açúcar colocou
fogo no mercado de apostas sobre quem vai substituí-lo na presidência
do conselho do grupo fundado por seu pai, há 65 anos. Por ora, um dos
mais cotados é Ronaldo Iabrudi, representante do Grupo Casino no Brasil.
Caso Iabrudi seja confirmado no posto, terá protagonizado uma ascensão
meteórica ao comando da maior rede de varejo do país. Isto porque o
executivo foi contratado no início de junho como representante dos
interesses do Casino no Brasil. Um mês depois, ele já era indicado para
assumir um assento no conselho de administração do Pão de Açúcar.
No comunicado em que apresentou Iabrudi como seu homem forte no Brasil,
há três meses, o Casino o qualificou como “um executivo altamente
experiente”, e sua contratação reafirmava “o compromisso [do Casino] com
o Brasil.”
O cortador de custos
Iabrudi pode não ser uma celebridade do mundo dos negócios, como Abilio
Diniz, mas sua atuação à frente de grandes empresas mostra como seu
estilo foi forjado – e um pouco do que estaria esperando o Pão de
Açúcar.
Seu maior cartão de visitas foi a presidência da Telemar (atual Oi),
entre o final de 2002 e meados de 2006. Foi ali que Iabrudi viveu seus
melhores dias, com resultados elogiados por analistas, e também a sua
maior guerra corporativa. E, nesses episódios, apurou seu estilo de
atuação.
Iabrudi foi contratado pela Telemar em 2000, para dirigir as operações
do Nordeste. Seus resultados na região o levaram para o topo da
hierarquia. Em julho de 2001, ele assumiu a presidência da empresa, com a
missão de torná-la mais enxuta, racional e lucrativa.
Poderia se esperar um estilo mais brando de gestão de um psicólogo formado pela PUC de Minas Gerais, com mestrado em Formação de Adultos, mas o foco em resultados deu o tom de sua gestão. Conta-se que, em uma das rodadas de cortes, Iabrudi demitiu 30 diretores na véspera de Natal.
Mas a gestão de Iabrudi na Telemar não escapou a críticas e a uma
guerra interna por poder. Do lado de fora da empresa, consumidores
seguiam se queixando do atendimento da operadora, que figurava entre as
mais reclamadas pelos consumidores.
Do lado de dentro, Iabrudi disputou espaço com uma estrela então em ascensão: Luiz Eduardo Falco. Ex-diretor de marketing da TAM, Falco entrou para a Telemar em 2001 e transformou uma minúscula operação de telefonia celular na hoje conhecida Oi.
Pelo caminho, como era de se esperar, trombou com o presidente da
Telemar, Iabrudi, a quem se reportava no papel, mas não na prática.
Esta foi uma das maiores guerras por poder a que o mundo dos negócios
brasileiro assistiu, no final da década passada. Em um determinado
momento, Iabrudi submeteu a área de telefonia móvel ao seu controle. O
contra-ataque foi a demissão de uma série de executivos ligados à
telefonia fixa, o bastião de Iabrudi.
O expurgo foi apresentado como um civilizado corte de custos e de
sobreposição de funções, mas o mercado o interpretou como o avanço de
Falco na estrutura da Telemar. O motivo foi simples: na maior parte dos
cargos, quem foi eliminado era da telefonia fixa. Eram os aliados de
Falco galgando poder. Iabrudi deixou a presidência da Telemar em 2006
com seus resultados questionados pelo mercado e por parte dos donos da
operadora.
Nova chance
O executivo teve outra passagem por uma grande empresa entre o final de 2007 e o início de 2012, quando foi levado pela GP Investimentos à presidência da mineradora Magnesita, conhecida por seus produtos refratários.
Lá, o executivo atacou em duas frentes. Primeiro, cortou custos.
Somente nos primeiros meses de sua gestão, 25% dos funcionários saíram,
sejam pelo plano de demissão voluntária, seja por cortes mesmo. Iabrudi
vendeu ativos não diretamente relacionados ao foco do negócio e
terceirizou funções.
Mas sua maior tacada foi a compra da alemã LWB por 657 milhões de
euros. O negócio catapultou a Magnesita, na época, da décima para a
terceira posição no ranking dos produtores de refratários.
Balanço
O ponto é que nem todos os números da gestão de Iabrudi à frente da
Magnesita foram positivos. É verdade que a receita líquida da empresa
saltou de 861,709 milhões de reais, em 2007, para 2,319 bilhões em 2001 –
o último ano cheio de Iabrudi na empresa.
O outro lado, porém, é que o lucro líquido caiu de 108,794 milhões de
reais para 98,550 milhões no mesmo período – com direito a um prejuízo
de 32,541 milhões em 2009, e a um lucro de 92,344 milhões em 2010.
Até aqui, a trajetória de Iabrudi equilibra-se entre conquistas e
alguns resultados que não impressionaram os analistas. Os cortes de
custos que promoveu nas empresas pelas quais passou surtiram efeitos, é
claro – mas não a ponto de colocá-lo no hall das celebridades. Se for
mesmo confirmado como novo líder do Pão de Açúcar, terá a chance de
passar pela prova dos nove.