Por Alessandra Saraiva e Diogo Martins | Valor
RIO - (Atualizada às 10h32) O recuo na
desigualdade de renda no país registrou, em 2012, o ritmo mais fraco dos
últimos oito anos – e permaneceu praticamente estacionado no ano passado. É o
que mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de
2012, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O levantamento abrange amostra de 147 mil domicílios no
país.
O instituto apurou que o índice de Gini, que mede o grau de desigualdade existente
na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita - sendo
que, quanto mais próximo de zero, menos concentrada é a distribuição dos
rendimentos -, praticamente parou de cair, e passou de 0,501 para 0,500 entre
2011 e 2012. Esse foi o menor movimento de desaceleração no indicador, usado
como termômetro para apurar a redução de desigualdade no país, desde 2004,
quando estava em 0,535. Desde então, caiu para 0,532 em 2005; recuou de 0,528
para 0,521 entre 2006 e 2007; e conseguiu desacelerar de forma mais intensa até
mesmo durante a crise global, passando de 0,513 para 0,509 na passagem de 2008
para 2009.
Mais desigual
O quadro desfavorável na redução da desigualdade de renda pode ser percebido
em algumas regiões – que chegaram até a apresentar aumento no patamar do
indicador, entre 2011 e 2012. É o caso das regiões Nordeste (de 0,511 para
0,513) e Sudeste (de 0,478 para 0,480). No Sul, o indicador permaneceu
praticamente parado (de 0,454 para 0,455) no período. Houve, porém, queda nos índices
de Gini das regiões Norte (de 0,499 para 0,477) e Centro-Oeste (de 0,521 para
0,513), no mesmo período.
No caso específico da renda originada do trabalho, o ritmo da queda do
indicador também enfraqueceu. O índice de Gini nesse segmento diminuiu de 0,501
para 0,498 entre 2011 e 2012. Esse nível de recuo foi equivalente ao observado
no período da crise global, quando o indicador caiu de 0,521 para 0,518, de
2008 para 2009; e o mais fraco em seis anos.
O quadro desfavorável índice de Gini para a renda do trabalho em 2012 — ano
em que o salário mínimo teve reajuste real de 7,5% —, em relação ao ano
anterior, é perceptível na evolução da renda média mensal real de todos os
trabalhos das pessoas entre os 10% com renda mais baixa, que subiu 6,4% de 2011
para 2012, para R$ 215.
A diferença entre os extremos na renda do trabalho também permaneceu
praticamente inalterada no período, assim como ocorreu no índice de Gini. No
ano passado, os 10% de população ocupada no mercado de trabalho com a renda
mais elevada concentraram 41,2% do total da renda do trabalho – enquanto os 10%
com os ganhos do trabalho mais baixos detiveram 1,4% do total das remunerações
daquele ano. Em 2011, esses valores eram praticamente idênticos,
respectivamente 41,4% e 1,4%.
No entanto, a renda total do brasileiro mostrou expansão entre 2011 e 2012.
O rendimento médio mensal real de todas as fontes de renda dos brasileiros
acima de 15 anos ou mais de idade, incluindo renda do trabalho, subiu 5,6% de
2011 para 2012, atingindo R$ 1.437,00 no ano passado. Ao se detalhar a evolução
dos ganhos das famílias, o instituto informou que a renda média mensal real dos
domicílios permanentes particulares avançou 6,5% em 2012 ante ano anterior,
para R$ 2.721,00. Somente o rendimento originado do trabalho cresceu 5,8%
entre 2011 e 2012, atingindo R$ 1.507,00 no ano passado.
Trabalho infantil
O trabalho infantil manteve tendência de queda em 2012. É o que mostram os
dados apurados pela Pnad. Segundo o levantamento, no ano passado o Brasil
registrava 3,5 milhões de trabalhadores de cinco a 17 anos – 156 mil a menos do
apurado em 2011. Isso, na prática, representou um recuo de 2,7% no total dos
trabalhadores infantis no Brasil entre 2011 e 2012.
Entretanto, mesmo com a queda, ao considerar os residentes no Brasil em
2012, de 196,9 milhões de pessoas, é possível perceber que os trabalhadores
infantis ainda representam 1,7% da população brasileira. As crianças e jovens
também abrangiam 3,6% do total da população ocupada no mercado de trabalho em
2012 (94,7 milhões).
Ao detalhar os resultados, o instituto informou que, entre os trabalhadores
infantis, 81 mil eram crianças entre cinco e nove anos; e 473 mil eram jovens
de dez a 13 anos.
Mas a grande maioria se concentrou entre adolescentes de 14 a 17 anos: três milhões se
concentram nessa faixa etária.
O instituto, no entanto, destacou que a diminuição no volume de
trabalhadores infantis reduziu o avanço da população ocupada entre cinco e 17
anos no mercado de trabalho. O IBGE detalhou que o nível de ocupação nessa
faixa etária foi de 8,3% em 2012, contra 8,6% em 2011. Em 2009, essa parcela
era ainda maior, de 9,8%, acrescentou o instituto – o que comprova tendência de
queda no trabalho infantil no país.
Mais de um terço (35,6%) dos trabalhadores infantis em 2012 se concentravam
na atividade agrícola – sendo que, no caso dos jovens entre 5 e 13 anos, 60,2%
dessa faixa etária, especificamente, se encontrava no campo.
A carga horária dos trabalhadores infantis de cinco a 17 anos atingiu em
média 27,5 horas por semana em 2012. O rendimento médio mensal dos
trabalhadores nessa faixa etária foi de R$ 512, no mesmo ano. Do total de
trabalhadores infantis em 2012, mais da metade (2,2 milhões) eram homens.