Disposição do consumidor para fazer com que a economia decole se resume em uma questão a saber quem tem razão entre as universidades
Na Universidade de
Harvard, Feldstein vaticina que “finalmente observaremos um bom ano em
2014” graças aos ganhos no mercado acionário e nos preços das casas
Washington - A disposição do consumidor americano para fazer com que a
economia decole se resume em uma questão a saber quem tem razão: Stephen
Roach, de Yale, ou Martin Feldstein, de Harvard.
Para Roach, os americanos continuam trabalhando para reconstruírem suas
poupanças e demorarão em aumentar os gastos desde que o crescimento dos
salários seja lento e a dívida das famílias ultrapasse as médias no
longo prazo. “Falta muito, mas muito ainda”, diz Roach, 68, pesquisador
sênior do Instituto Jackson de Assuntos Globais da Universidade de Yale,
em New Haven, Connecticut, e ex-presidente do Morgan Stanley Asia.
Na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, Feldstein, 74,
vaticina que “finalmente observaremos um bom ano em 2014” graças aos
ganhos no mercado acionário e nos preços das casas, que aumentaram a
riqueza das famílias e deram aos consumidores a confiança para gastarem.
Qual visão provará ser a correta dependerá muito de se o gasto dos
consumidores, que constitui cerca de 70 por cento da economia dos EUA,
se converter este ano no ano de decolagem da expansão. O consumo ganhou
impulso em 2013, e um maior vigor neste ano poderia encorajar empresas
ainda hesitantes a contratarem e a investirem, aumentando o crescimento.
O bando de Feldstein
Feldstein tem mais economistas ao seu lado, mostra uma pesquisa da
Bloomberg realizada neste mês. O gasto dos consumidores crescerá 2,6 por
cento neste ano e 2,8 por cento em 2015, após um ganho projetado de 2
por cento no ano passado, segundo a mediana de prognósticos de
economistas na pesquisa.
Assim, 2014 e 2015 seriam os anos mais fortes
desde 2006.
Feldstein e os que concordam com ele, incluindo o economista-chefe do
Goldman Sachs Group Inc., Jan Hatzius, mencionam os ganhos na fortuna
líquida das famílias, que chegava a US$ 77,3 trilhões em 30 de setembro,
US$ 8,2 trilhões a mais do que no pico prévio à recessão. A riqueza
caiu quase 20 por cento durante a recessão que começou em dezembro de
2007 e não recuperou o território perdido até o terceiro trimestre de
2012.
Entretanto, a carga da dívida das famílias diminuiu porque os
americanos se mantiveram longe dos empréstimos e os bancos hesitaram em
emprestar após a crise financeira. A dívida renovável em créditos para
consumo, principalmente a dívida com cartões de crédito, despencou 18
por cento entre 2008 e 2011, e tinha se recuperado apenas 2,6 por cento
até novembro de 2013. As dívidas hipotecárias pendentes permanecem
abaixo do seu pico de 2008. A desalavancagem deixou espaço aos
consumidores para tomarem empréstimos.
Roach não acredita. As poupanças aumentarão mais próximas aos níveis
históricos e isso abafará os gastos, diz ele. A taxa de poupança média
entre 1970 e 2000 foi de cerca de 9 por cento.
Gastos ‘anêmicos’
“Temos vários anos pela frente com um crescimento do consumo
surpreendentemente anêmico”, disse Roach em uma entrevista,
prognosticando “pelo menos dois ou três anos” com avanços de 2 por cento
no gasto dos consumidores. “O caminho está muito abaixo de 3,25 por
cento, que foi a norma a que ficamos acostumados tradicionalmente nos
EUA”.
A perspectiva de crescimento moderado do consumo de Roach tem apoio de
pessoas como Russ Koesterich, estrategista-chefe de investimentos do
BlackRock Inc. sediado em San Francisco, e de Yelena Shulyatyeva,
economista do BNP Paribas em Nova York.
“O mercado de trabalho está se recuperando muito lentamente, e na
verdade o ingrediente faltante nesta recuperação tem sido o crescimento
da renda”, disse Koesterich em uma entrevista à Bloomberg Television, na
semana passada. “Como o crescimento da renda é muito lento, o consumo
poderia não crescer tão rápido quanto alguns pensam”.
Embora o mercado de trabalho esteja em melhor forma, ele continua
fraco, disse Lawrence Katz, de Harvard, antigo economista-chefe do
Departamento de Trabalho. Os ganhos salariais têm sido lentos, diz ele, o
desemprego no longo prazo continua forte e muitos dos aspectos
positivos na economia beneficiam principalmente os consumidores de renda
alta.
“Se você tiver um grande bônus de Wall Street ou pós-graduação completa
e um trabalho estável, provavelmente você se sinta muito confiante para
sair e gastar”, disse Katz, 54. “Para muitos americanos, a economia
ainda está muito tênue”.