Relatório da ONU mostra que Japão, país com uma das menores taxas de homicídio do mundo, luta para superar violência doméstica e diminuir morte de mulheres por companheiros
Mulheres japonesas caminham em Tóquio: apesar de estar entre os países
menos violentos do mundo, Japão não conseguiu superar violência
doméstica
São Paulo - O Japão
tem uma das menores taxas de homicídio do mundo. Em 2012, último dado
disponível, foi registrada 0,3 morte a cada 100 mil habitantes. No
Brasil, esse índice é de 25,2. Mas enquanto no mundo os homens são as grandes vítimas da violência, no Japão este papel é ocupado pelas mulheres. Elas representam mais de 50% dos casos.
De acordo com o "Estudo Global sobre Homicídio 2013", divulgado nesta quinta-feira pelo Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC, na sigla em inglês), 80% das pessoas assassinadas em 2012 em todo o mundo eram homens.
Segundo a ONU, os
dados sugerem que em países com taxas de homicídio muito baixas, caso
do Japão, as vítimas do sexo feminino constituem uma parte crescente das
vítimas.
Isso porque, nesses lugares, ganha peso a violência cometida por parceiros.
Na Ásia, 20,5% dos casos de homicídio foram cometidos por pessoas próximas à vítima.
O percentual é muito maior do que o registrado nas Américas (8,6%) e na África (13,7%). Regiões que, inclusive, têm taxas de homícidio muito maiores que a dos países asiáticos.
Globalmente, 47% das mulheres morrem vítimas de membros da família ou
de parceiros íntimos (maridos e namorados). No caso dos homens, apenas 1
em cada 20 casos envolve relações íntimas.
Japão
O Japão introduziu sua primeira lei de violência doméstica em 2002, quando uma pesquisa
realizada a cada três anos pelo governo japonês revelou que 4,4% das
mulheres respondeu que a violência sexual sofrida por elas foi forte o
bastante para fazê-las temerem por suas vidas.
Em 2005 e 2008, quando a "Pesquisa sobre a violência entre homens e
mulheres" foi refeita, mais de 10% das mulheres casadas disseram ter
sofrido "agressão física", "assédio moral ou ameaças assustadoras" ou
"coerção sexual" por seu parceiro em "muitas ocasiões."
Além disso, na época, uma em cada 5 mulheres casadas disseram ter
sofrido violência doméstica em "uma ou duas ocasiões". Isso faz com que
quase um terço das mulheres casadas japonesas tenha sofrido algum tipo
de violência dentro de casa.
Em resposta aos números alarmantes - que contrastam com a baixíssima
taxa de homicídios do país -, em 2011 o governo japonês criou diversas
leis destinadas a proteger as mulheres.
As melhorias foram principalmente no sistema de notificação e
investigação de casos de violência doméstica. O resultado veio rápido: o
número de casos reportados cresceu vertiginosamente.
De acordo com o jornal Japan Times, o número de casos relatados cresceu 46% naquele ano.
Além disso, unidades policiais especiais para casos de violência
doméstica foram melhor preparadas para lidar com estes casos, os
acompanhando do relatório inicial até o veredito final
As estatísitcas registradas, no entanto, mostram que a situação das
mulheres continua preocupante: 26% delas relataram terem levado socos,
chutes e empurrões de seus parceiros, outros 14% afirmaram terem sido
obrigadas a fazer sexo, e 18% sofreram abusos psicológicos.
Segundo a ONU, o caso japonês mostra que em um contexto de níveis
muito baixos de violência, ainda podem ser necessários esforços
adicionais para lidar com a violência doméstica.