Neste artigo, o consultor Telmo Schoeler diverge da crença de
que uma nova equipe econômica signifique uma mudança na condução da
economia. E alerta para um provável aumento do número de processos de
recuperação judicial de empresas
Numa rotina anual,
protagonistas da governança empresarial – acionistas, conselheiros e
executivos – estão diante do desafio de desenhar estratégias e
movimentos táticos para o ano novo. O que o Brasil ativo, empreendedor,
operante e real há pouco tempo enxergava era um 2015 muito difícil, mas
ponto de partida para um cenário modificado com recuperação do
desenvolvimento, do crescimento, dos investimentos, da competitividade,
tudo apenas possível a partir de um novo modelo e foco de governo e de
gestão pública.
O resultado das urnas, dando continuidade ao mandato dos partidos no
poder, não permite antever esta necessária mudança de modelo e rumo. A
própria previsão do novo governo de um crescimento de 0.8% do PIB,
embora pífio em si e em termos relativos a quem é relevante no mundo, é
otimista. Os fatos apontam para zero ou menos. Imaginar que as mesmas
lideranças que conduziram a “empresa Brasil” ao caos vão conseguir
tirá-la daí é tão utópico quanto acreditar que os gestores que levaram
uma organização à falência serão capazes de promover o milagre de sua
recuperação.
Por isso, é de se esperar a continuidade de um modelo
estatizante, antagônico e antipático à atividade empresarial e privada,
com uma visão antiga e ultrapassada do mundo. Por decorrência deverá
haver a manutenção de inchada estrutura do Estado, portanto, sem
perspectivas de redução da carga tributária, com todas as ineficiências,
distorções e falta de investimentos que oneram o custo Brasil, que
impedem nossa competitividade e nos rebaixaram para a 57ª posição
mundial de produtividade, com custos 30% maiores do que os países
desenvolvidos.
Por isso, nossa capacidade competitiva em exportações continuará em
queda, ao lado de um mercado interno cada vez mais restrito pela
estagnação econômica, exaustão de renda e impossibilidade de aumentar o
endividamento da população. Nada diferente do que já vem o correndo e
que é perceptível na performance negativa da indústria automobilística,
têxtil, imobiliária, de móveis, motos, varejo... tudo. O Brasil está
derretendo como jamais o vi nos meus 50 anos de vida executiva e
consultiva. Realmente, como disse uma certa figura, “nunca antes na
história deste país”... estivemos tão generalizadamente mal.
A carência de investimentos públicos (por falta de recursos do
governo) e privados (por dúvidas, riscos, falta de perspectivas e
desânimo), manterá a oferta de produtos limitada, gerando inflação, com
os nefastos efeitos de corrosão de renda e obrigação de subir juros. A
baixa geração de empregos contribuirá para o aumento da inadimplência –
empresarial e pessoal – retroalimentando o ciclo vicioso da estagnação.
Um coquetel explosivo, especialmente para as empresas endividadas, o que
redundará em aumento dos processos de recuperação judicial.
Os otimistas acreditam que a nomeação do trio econômico Levi -
Barbosa - Tombini é uma sinalização positiva de mudanças, tanto pela
formação acadêmica dos três quanto especialmente pelas ligações e
posições já ocupadas pelo primeiro. Os realistas sabem que há de se
esperar para ver a autonomia e ouvidos que a presidente dará a eles,
lembrando que uma andorinha só – ou mesmo três – não faz verão.
A flexibilização das regras de meta fiscal agora patrocinada pelo
governo é uma demonstração de que não devemos esperar mudanças nos
absurdos de governança praticados atualmente. Por isso, as mudanças
salvadoras são possíveis (pela teoria do caos), mas improváveis. Quem
sabe milagres ocorram, embora os últimos remontem a cerca de 2000 anos e
seu autor tenha morrido crucificado. Decisoriamente, só nos resta dar
um tiro no escuro e rezar para que tenha os efeitos desejados, porque
não podemos parar.
Telmo Schoeler é fundador e Presidente da Strategos – Consultoria Empresarial.