Para
o professor de Relações Internacionais da Escola de Ciências Sociais
(FGV/CPDOC), Oliver Stuenkel, a reabertura das Embaixadas representa um
passo importante na reaproximação dos países.
O
movimento histórico de reaproximação entre Estados Unidos e Cuba teve um
marco na última segunda-feira, 20 de julho. Após 54 anos sem relações
diplomáticas, além do ainda vigente embargo econômico, comercial e
financeiro imposto à ilha, os dois países reabriram suas Embaixadas em
um gesto simbólico que põe fim ao último resquício da Guerra Fria.
O restabelecimento das relações diplomáticas, um movimento iniciado
ainda em 2014, representa o reconhecimento da legitimidade do governo
cubano pelos EUA. Para o professor de Relações Internacionais da Escola
de Ciências Sociais (FGV/CPDOC), Oliver Stuenkel, a reabertura das
Embaixadas representa um passo importante na reaproximação dos países.
“É um movimento importante porque sem um reconhecimento mútuo é muito
difícil qualquer acordo de cooperação. Só agora, com esse
reconhecimento, é possível pensar e lidar com desafios que ambos os
países enfrentam em sua relação. Outra coisa importante é que, com todas
as relações diplomáticas do continente restabelecidas, pode abrir
possibilidade de cooperação regional um pouco mais ampla. Isso é muito
positivo para a região”, explica.
A reaproximação entre as duas nações já possibilitou, inclusive, a
participação dos cubanos na 7ª Cúpula das Américas, realizada em abril
deste ano no Panamá. Todos esses gestos, porém, não significam que, a
partir de agora, EUA e Cuba sejam nações amigas. “Ter uma relação
diplomática não quer dizer que são nações amigas, mas que há um canal
diplomático de comunicação. O embargo econômico a Cuba continua, o
Congresso americano precisaria reverter ou eliminar esse embargo. Só
agora começam as negociações e o presidente Barack Obama deve abrir uma
campanha no Congresso falando sobre a importância de acabar com esse
embargo. Esse é um elemento muito marcante para a população cubana nas
últimas décadas”, frisa Stuenkel.
Para o professor, ainda é cedo para afirmar que haverá uma abertura
econômica na ilha. Com o poder centralizado nas mãos dos irmãos Castro
(Fidel, de 1959 a 2008; e Raúl, desde 2008), Stuenkel acredita que a
abertura de Cuba será um processo lento. “O Estado cubano caminha muito
lentamente de uma economia socialista para uma economia de mercado. O
Raúl Castro tem sido mais aberto à reforma. Já é possível fazer certas
operações econômicas, mas ainda há muitas limitações, principalmente as
questões que envolvem liberdade de imprensa. Pouquíssimas pessoas têm
acesso à internet. Acredito que o governo vá abrir a economia sem abrir
mão desse controle”, analisa.
Stuenkel afirma ainda que, ao lado do igualmente histórico acordo
nuclear celebrado com o Irã na semana passada, a retomada das relações
com Cuba ficarão como o grande legado do governo Obama. “Mesmo no caso
de um presidente republicano vencer as eleições do ano que vem, não
acredito que haverá retrocesso nas relações diplomáticas entre Cuba e
EUA. Há um apoio público nessa direção que o novo presidente não vai
ignorar”, conclui.