quarta-feira, 22 de julho de 2015

Reabertura de Embaixadas dos EUA e de Cuba é primeiro passo para fim do embargo, afirma especialista da FGV

 

 


Para o professor de Relações Internacionais da Escola de Ciências Sociais (FGV/CPDOC), Oliver Stuenkel, a reabertura das Embaixadas representa um passo importante na reaproximação dos países.
O movimento histórico de reaproximação entre Estados Unidos e Cuba teve um marco na última segunda-feira, 20 de julho. Após 54 anos sem relações diplomáticas, além do ainda vigente embargo econômico, comercial e financeiro imposto à ilha, os dois países reabriram suas Embaixadas em um gesto simbólico que põe fim ao último resquício da Guerra Fria.

O restabelecimento das relações diplomáticas, um movimento iniciado ainda em 2014, representa o reconhecimento da legitimidade do governo cubano pelos EUA. Para o professor de Relações Internacionais da Escola de Ciências Sociais (FGV/CPDOC), Oliver Stuenkel, a reabertura das Embaixadas representa um passo importante na reaproximação dos países.

“É um movimento importante porque sem um reconhecimento mútuo é muito difícil qualquer acordo de cooperação. Só agora, com esse reconhecimento, é possível pensar e lidar com desafios que ambos os países enfrentam em sua relação. Outra coisa importante é que, com todas as relações diplomáticas do continente restabelecidas, pode abrir possibilidade de cooperação regional um pouco mais ampla. Isso é muito positivo para a região”, explica.

A reaproximação entre as duas nações já possibilitou, inclusive, a participação dos cubanos na 7ª Cúpula das Américas, realizada em abril deste ano no Panamá. Todos esses gestos, porém, não significam que, a partir de agora, EUA e Cuba sejam nações amigas. “Ter uma relação diplomática não quer dizer que são nações amigas, mas que há um canal diplomático de comunicação. O embargo econômico a Cuba continua, o Congresso americano precisaria reverter ou eliminar esse embargo. Só agora começam as negociações e o presidente Barack Obama deve abrir uma campanha no Congresso falando sobre a importância de acabar com esse embargo. Esse é um elemento muito marcante para a população cubana nas últimas décadas”, frisa Stuenkel.

Para o professor, ainda é cedo para afirmar que haverá uma abertura econômica na ilha. Com o poder centralizado nas mãos dos irmãos Castro (Fidel, de 1959 a 2008; e Raúl, desde 2008), Stuenkel acredita que a abertura de Cuba será um processo lento. “O Estado cubano caminha muito lentamente de uma economia socialista para uma economia de mercado. O Raúl Castro tem sido mais aberto à reforma. Já é possível fazer certas operações econômicas, mas ainda há muitas limitações, principalmente as questões que envolvem liberdade de imprensa. Pouquíssimas pessoas têm acesso à internet. Acredito que o governo vá abrir a economia sem abrir mão desse controle”, analisa.

Stuenkel afirma ainda que, ao lado do igualmente histórico acordo nuclear celebrado com o Irã na semana passada, a retomada das relações com Cuba ficarão como o grande legado do governo Obama. “Mesmo no caso de um presidente republicano vencer as eleições do ano que vem, não acredito que haverá retrocesso nas relações diplomáticas entre Cuba e EUA. Há um apoio público nessa direção que o novo presidente não vai ignorar”, conclui.


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