terça-feira, 28 de julho de 2015

S&P corta perspectiva da nota do Brasil para negativa por incerteza política


 

Rating BBB- foi mantido, mas país fica mais perto de perder o selo de grau de investimento

Ambiente político incerto faz com que a recuperação econômica demore mais para acontecer, avalia S&P (REUTERS/Bruno Domingos)


SÃO PAULO - A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) alterou a perspectiva da nota brasileira de estável para negativa citando o aumento do risco político, segundo relatório enviado nesta terça-feira. O rating para a dívída em moeda estrangeira foi mantida em BBB-, que é o último nível dentro da escala de grau de investimento.

"Desde 23 de março de 2015, quando reafirmamos pela última vez os ratings do Brasil, os riscos de rebaixamento aumentaram. Alteramos a perspectiva para “negativa”, pois, apesar das amplas alterações nas políticas em curso, as quais acreditamos continuam recebendo o suporte da presidente, os riscos de execução aumentaram. Tais riscos têm suas origens tanto no front político quanto no econômico", diz a análise assinada por Lisa Schineller.

“As investigações das alegações de corrupção em andamento contra indivíduos e empresas proeminentes dos setores público e privado e que abrangem vários partidos políticos geraram, em nossa opinião, um aumento das incertezas políticas no curto prazo”, avalia.

A S&P é a agência que tem a pior classificação de risco para o Brasil. A nota BBB- é a última da escala de grau de investimento e agora com a perspectiva negativa o país fica mais próximo do nível especulativo (junk). As outras duas agências de relevância para o mercado, Moody's e  Fitch, têm classificação um nível acima da S&P: Baa2 e BBB, respectivalemnte, ambas com perspectiva negativa. 


A agência explica que a revisão da perspectiva para negativa reflete uma probabilidade maior do que uma em três de que a que a correção das políticas econômicas em curso vai enfrentar novas "derrapagens" dada a atual dinâmica política. A agência também avalia que a trajetória de crescimento econômico mais firme vai demorar mais tempo do que o esperado.


Estresse político


Na visão da S&P, as relações entre o PT e o PMDB tinham melhorado sob a coordenação política do vice-presidente Michel Temer, mas voltaram a piorar. “Isso gera a perspectiva de um suporte menos consistente no Congresso para a aprovação das medidas de ajuste fiscal necessárias, mesmo que de forma um tanto diluída, em comparação com o que já havíamos visto e esperado no começo deste ano”, mostra a análise.

“A possibilidade de um processo de impeachment de Dilma Rousseff, que não faz parte de nosso caso base, destaca os desafios que confrontam a presidente para angariar suporte consistente para a correção de curso de suas políticas de e para uma revirada na economia”, ressalta o texto.


Ajuste fiscal


Para a S&P, a redução da meta do superávit primário para este ano, de R$ 66,3 bilhões (1,2% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB), anunciada na semana passada, não são um reflexo de um menor comprometimento com uma correção da política.

"Tais metas, embora mais realistas, destacam os desafios persistentes, a menor receita frente à contração econômica, associada aos grandes gastos não discricionários", explica Lisa. "Parece que o Ministério da Fazenda tem menos capacidade de compensar perdas por meio de cortes nos gastos discricionários, de cuja consecução o Brasil tem um histórico, quando há vontade política, dada a magnitude do enfraquecimento das receitas", conclui.

A S&P fará uma teleconferência às 14h30 para comentar a mudança de perspectiva.

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