Rating BBB- foi mantido, mas país fica mais perto de perder o selo de grau de investimento
Ambiente político
incerto faz com que a recuperação econômica demore mais para acontecer,
avalia S&P (REUTERS/Bruno Domingos)
SÃO PAULO - A agência de
classificação de risco Standard & Poor's (S&P) alterou a
perspectiva da nota brasileira de estável para negativa citando o
aumento do risco político, segundo relatório enviado nesta terça-feira. O
rating para a dívída em moeda estrangeira foi mantida em BBB-, que é o
último nível dentro da escala de grau de investimento.
"Desde 23 de março de 2015, quando reafirmamos pela última vez os
ratings do Brasil, os riscos de rebaixamento aumentaram. Alteramos a
perspectiva para “negativa”, pois, apesar das amplas alterações nas
políticas em curso, as quais acreditamos continuam recebendo o suporte
da presidente, os riscos de execução aumentaram. Tais riscos têm suas
origens tanto no front político quanto no econômico", diz a análise
assinada por Lisa Schineller.
“As investigações das alegações de corrupção em andamento contra
indivíduos e empresas proeminentes dos setores público e privado e que
abrangem vários partidos políticos geraram, em nossa opinião, um aumento
das incertezas políticas no curto prazo”, avalia.
A S&P é a agência que tem a pior classificação de risco para o
Brasil. A nota BBB- é a última da escala de grau de investimento e agora
com a perspectiva negativa o país fica mais próximo do nível
especulativo (junk). As outras duas agências de relevância para o
mercado, Moody's e Fitch, têm classificação um nível acima da S&P:
Baa2 e BBB, respectivalemnte, ambas com perspectiva negativa.
A agência explica que a revisão da perspectiva para negativa reflete
uma probabilidade maior do que uma em três de que a que a correção das
políticas econômicas em curso vai enfrentar novas "derrapagens" dada a
atual dinâmica política. A agência também avalia que a trajetória de
crescimento econômico mais firme vai demorar mais tempo do que o
esperado.
Estresse político
Na visão da S&P, as relações entre o PT e o PMDB tinham melhorado
sob a coordenação política do vice-presidente Michel Temer, mas
voltaram a piorar. “Isso gera a perspectiva de um suporte menos
consistente no Congresso para a aprovação das medidas de ajuste fiscal
necessárias, mesmo que de forma um tanto diluída, em comparação com o
que já havíamos visto e esperado no começo deste ano”, mostra a análise.
“A possibilidade de um processo de impeachment de Dilma Rousseff, que
não faz parte de nosso caso base, destaca os desafios que confrontam a
presidente para angariar suporte consistente para a correção de curso de
suas políticas de e para uma revirada na economia”, ressalta o texto.
Ajuste fiscal
Para a S&P, a redução da meta do superávit primário para este
ano, de R$ 66,3 bilhões (1,2% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do
PIB), anunciada na semana passada, não são um reflexo de um menor
comprometimento com uma correção da política.
"Tais metas, embora mais realistas, destacam os desafios
persistentes, a menor receita frente à contração econômica, associada
aos grandes gastos não discricionários", explica Lisa. "Parece que o
Ministério da Fazenda tem menos capacidade de compensar perdas por meio
de cortes nos gastos discricionários, de cuja consecução o Brasil tem um
histórico, quando há vontade política, dada a magnitude do
enfraquecimento das receitas", conclui.
A S&P fará uma teleconferência às 14h30 para comentar a mudança de perspectiva.
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