Para Jacqueline Franjou, discussão sobre igualdade de gêneros ganhou mais espaço
Fabiana Pires -
Jacqueline Franjou, CEO do Women's Forum (Foto: Divulgação)
Em 2005, um grupo de influentes mulheres francesas se reuniu para criar
um evento que discutisse o papel da mulher na sociedade atual. As
empresárias Aude de Thuin, Verónique Morali, Anne Lauvergeon, Laurence
Parisot e Dominique Hériad Dubreuil queriam juntar opiniões de líderes
homens e mulheres – tanto do setor público quanto privado – para
identificar maneiras de aumentar a participação feminina no
desenvolvimento da economia global e da sociedade. Nascia, então, o Women’s Forum for the Economy and Society.
Por meio de encontros globais e regionais, o Women’s Forum se tornou um dos mais importantes eventos para empreendedoras, executivas e líderes de todo o mundo. Em sua última edição,
por exemplo, realizada em junho do ano passado, em Deauville, na
França, o fórum discutiu como é possível usar a inovação para acabar com
a desigualdade de gênero e o papel das leis na luta contra a
discriminação. Entre as convidadas, estavam a diretora-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), a francesa Christine Lagarde, e a atriz
mexicana Salma Hayek.
O empreendedorismo feminino é tema da reportagem de capa de Pequenas Empresas & Grandes Negócios deste mês. Por isso, conversamos com a CEO do Women’s Forum, Jacqueline
Franjou, para saber quais os últimos avanços na discussão sobre a
igualdade de gêneros e como o perfil das empreendedoras mudou nos
últimos anos.
A senhora vê mudança no perfil das mulheres empreendedoras ao longo dos últimos dez anos?
Nós recebemos muitas empreendedoras para o encontro global do Women’s
Forum, em Deauville, na França, e em muitas outras cidades ao redor do
mundo. É difícil falar sobre apenas uma mudança no perfil de tantas
mulheres, mas algo que acompanho é o interesse cada vez maior pelos
negócios de impacto social. Desde 2006, o Women’s Forum realiza uma competição internacional de planos de negócios
(criada em 2006 juntamente com a Cartier, McKinsey & Company e a
escola de negócios INSEAD) para identificar, apoiar e encorajar projetos
de mulheres empreendedoras que tem algum impacto na sociedade.
Começamos com apenas uma dúzia de finalistas em 2007. Em nosso último
encontro, estavam concorrendo mais de 140 negócios que melhoram a vida
das pessoas.
Quais as principais conquistas na luta pela igualdade feminina nos últimos anos?
Dez anos atrás, nossa discussão focava na igualdade de gêneros.
Queríamos procurar maneiras de incentivar mulheres a empregar outras
mulheres, de dar a elas salários proporcionais aos recebidos pelos
funcionários homens e permitir que mais mulheres avançassem para
posições de liderança. Com toda a modéstia, eu poderia dizer que esse
tipo de discussão – junto com o trabalho incansável de mulheres e homens
ao redor do mundo, tanto na esfera pública quanto privada para mudar
costumes, leis e mentalidades – levou a um maior entendimento de que dar
às mulheres chances iguais nos negócios é bom para as empresas, bom
para a sociedade e bom para todos. Mas é claro, eu não estou dizendo que
nosso trabalho terminou. O Women’s Forum é mais vital do que nunca como
uma plataforma de discussão sobre o papel da mulher na economia e na
sociedade.
E o progresso já é visível neste sentido?
Eu vi recentemente os resultados de um estudo feito pela E&Y em que
foram analisadas empresas que receberam aportes nos Estados Unidos. O
estudo mostra progresso no número de startups com mulheres no time
executivo: a quantidade triplicou de 5% para 15% entre os negócios
analisados. Por outro lado, o estudo mostra também que 85% dos 6.793
negócios que receberam investimento entre 2011 e 2013 não tinham nenhuma
mulher em seu time. Além disso, apenas 2,7% das companhias pesquisadas
tinham uma mulher como CEO. E isso nos Estados Unidos, onde as
empreendedoras são consideradas uma força na economia. O fato de que as
mulheres CEO representam um percentual tão pequeno das companhias que
receberam investimentos é realmente perturbador.
Você vê o empreendedorismo como uma boa maneira de empoderar mulheres?
Isso tudo depende da mulher e do contexto. Para algumas mulheres, é
melhor trabalhar e lutar nas companhias em que estão para chegarem ao
topo. Para outras, contudo, a melhor maneira de ter sucesso é começar
pelo rascunho de um negócio. Uma das mais importantes iniciativas do
Women’s Forum é o programa Rising Talents. Cada ano, convidamos 20
jovens empreendedoras para participar do nosso encontro mundial e fazer
networking com mulheres que já passaram por esse programa e outras
participantes do fórum. São mulheres que demonstraram uma coragem
marcante em seus ambientes profissionais e também habilidade para
assumir riscos e agir como catalisadoras de empresas e da comunidade.
Neste cenário, por que eventos como o Women’s Forum são tão importantes?
O conceito do fórum não é falar sobre um assunto específico, mas de
trazer poder às mulheres para elas conseguirem superar as questões mais
importantes da atualidade. Como empoderar as mulheres? Nós consideramos
essa pergunta sob muitos aspectos, desde como atingir equilíbrio
econômico até como fazer as instituições políticas assumirem mais
responsabilidade sobre o tema em suas constituições. Tópicos como criar
ecossistemas econômicos saudáveis para pequenas e médias empresas e
trabalhar junto com a comunidade para administrar recursos naturais
estão tipicamente na agenda de diversos eventos internacionais.
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