terça-feira, 28 de julho de 2015

Para Mark Mobius, é hora de olhar oportunidades no Brasil

Para gerenciar carteiras de mercados emergentes da Franklin Templeton, Mark Mobius coordena 50 analistas em 18 escritórios (Divulgação)
 

Presidente do braço da Franklin Templeton para emergentes voltou a comprar ações na China
 
Por: Thais FolegoCompartilhar8

 

SÃO PAULO – Com bagagem de 40 anos de “aventura” em mercados emergentes, o investidor americano Mark Mobius fala das turbulências recentes com a perspectiva de quem já viu muitos ciclos econômicos. “Temos que olhar o passado e investir para o longo prazo”, diz o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group quando perguntado sobre o impacto da crise da Grécia e da bolha acionária chinesa nos países em desenvolvimento.

Com quase US$ 40 bilhões sob gestão, Mobius afirma que já voltou a comprar ações na China e que está na hora de começar a olhar oportunidades no Brasil. Apreciador das ações de bancos brasileiros – que concentram a maior parte das aplicações no país dos fundos voltados para América Latina –, ele pondera que é preciso ficar atento ao aumento da inadimplência que o setor deve sofrer diante da fraqueza da economia.


Aos 78 anos, Mobius está, aos poucos, deixando o dia-a-dia da gestão dos fundos da casa. No último dia 13, anunciou que passaria o posto de principal gestor do Templeton Emerging Markets Investment Trust, com US$ 2,9 bilhões de patrimônio, para Carlos Hardenberg a partir de outubro. Ele vai, porém, continuar como gestor de portfólio e presidente do grupo.

O embate entre a análise de investimentos no curto e longo prazo tem estado presente se olharmos o desempenho histórico do fundo. Enquanto entregou ganhos acima da média por vários anos desde a sua constituição, em 1989, o fundo tem decepcionado recentemente: apresentou declínio médio de 0,7% anualmente nos últimos cinco anos, comparado a uma meta (benchmark) de ganhos 2,1%, de acordo com dados da Bloomberg.

Leia a entrevista exclusiva que Mobius concedeu a O Financista, na semana passada, por e-mail:

O Financista: Quais são as principais lições que você tira de quatro décadas investindo em mercados emergentes?
 Mark Mobius: Destacaria a importância da adoção de uma visão de longo prazo. Embora seja necessário ter uma grande dose de coragem para investir quando as perspectivas são sombrias e outros estão de saída [do mercado], ao longo da minha carreira eu descobri que é aí que os melhores valores podem ser descobertos, se você está disposto a fazer a lição de casa e ter paciência. Você deve olhar para além da má notícia imediata e ir olhar em direção a uma potencial recuperação futura. Sem uma perspectiva de longo prazo, você não será capaz de ter a disciplina para continuar investindo em um mercado em tendência de baixa (bear market) e esperar - e participar - do processo de recuperação potencial.

O Financista: Quais são as consequências da instabilidade recente no mercado acionário chinês?
Mobius: O governo chinês entrou em cena para intervir no mercado, o que, em nossa opinião, não foi um movimento sábio. Isso pode resultar em um atraso mais longo na inclusão de ações do tipo A em vários índices [acionários].

O Financista: Em texto recente sobre a China em seu blog, você disse que a “história de investimento” no país continua a ser atraente em uma visão de longo prazo. Você já começou a comprar? Por quê?
Mobius: Estamos comprando seletivamente em várias classes de ações chinesas (A-/ B-/H- etc). Acreditamos que as perspectivas de longo prazo para a China permanecem sólidas devido às reformas e reestruturações econômicas, bem como a contínua abertura dos mercados financeiros.

O Financista: A instabilidade na China é prova de que o governo tem de intervir menos no mercado de ações?
Mobius: Sim, eles devem aproveitar as lições do passado. Ações similares tomadas por órgãos reguladores de Hong Kong no passado não tiveram um resultado positivo.

O Financista: Como as turbulências recentes na China e na Grécia afetam os mercados emergentes?
Mobius: Volatilidade sempre esteve presente nos investimentos em mercados emergentes, então nada novo. Uma coisa que aprendemos é que a volatilidade não dura muito tempo, e nós temos que olhar o passado e investir para o longo prazo.

O Financista: O banco central americano, o Fed, tem dado indicações de que as taxas de juros vão subir este ano. Isso já está no preço dos ativos ou o anúncio pode aumentar a volatilidade?
Mobius: Achamos que o Fed vai aumentar os juros muito lentamente. Além disso é importante notar que, enquanto o QE [quantative easing, programa de compra de ativos] chega ao fim nos EUA, outros países e regiões, como a zona do euro, Japão, China, Índia etc., embarcam em programas de flexibilização monetária. Por enquanto, acreditamos que estes [programas] devem compensar preocupações sobre potenciais aumentos de taxas de juros pelo Fed este ano. Acreditamos que os esforços de flexibilização dos bancos centrais continuarão fornecendo liquidez aos mercados e podem ajudar a canalizar fluxo de recursos para ações a nível global com investidores procurando rendimento.

O Financista: Em dólares, as ações brasileiras estão perto do nível mais baixo em cinco anos. Como você vê “a história de investimento” no Brasil no momento?
Mobius: Como investidores de visão contrária, acreditamos que agora é um momento interessante para procurar oportunidades no Brasil.

O Financista: Quais são os segmentos em que você está vendo oportunidades e por quê?
Mobius: O setor bancário brasileiro é interessante, mas devemos esperar algum aumento da inadimplência nos empréstimos dada a economia deprimida. Os setores orientados para o consumidor valem uma olhada, uma vez que oferecem um bom valor a longo prazo. Também nos interessamos pelo setor de educação. Olhando adiante, devemos continuar de olho no setor de commodities, mas agora ainda é muito cedo.

O Financista: O risco do atual governo não terminar o mandato está aumentando. Como você avalia o risco político no Brasil? Como você acha que o mercado reagiria se Dilma Rousseff fosse deposta como presidente?
Mobius: O mercado acionário brasileiro se valorizou quando parecia que Dilma não seria reeleita nas últimas eleições. Por isso, se ela fosse deposta, o mercado poderia voltar a reagir positivamente, embora isso também dependeria de quem eventualmente assumisse [o lugar dela].

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