Para gerenciar carteiras de mercados emergentes da Franklin Templeton, Mark Mobius coordena 50 analistas em 18 escritórios (Divulgação)
Presidente do braço da Franklin Templeton para emergentes voltou a comprar ações na China
Por: Thais Folego
SÃO PAULO – Com bagagem de 40 anos
de “aventura” em mercados emergentes, o investidor americano Mark Mobius
fala das turbulências recentes com a perspectiva de quem já viu muitos
ciclos econômicos. “Temos que olhar o passado e investir para o longo
prazo”, diz o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group
quando perguntado sobre o impacto da crise da Grécia e da bolha
acionária chinesa nos países em desenvolvimento.
Com quase US$ 40 bilhões sob gestão, Mobius afirma que já voltou a
comprar ações na China e que está na hora de começar a olhar
oportunidades no Brasil. Apreciador das ações de bancos brasileiros –
que concentram a maior parte das aplicações no país dos fundos voltados
para América Latina –, ele pondera que é preciso ficar atento ao aumento
da inadimplência que o setor deve sofrer diante da fraqueza da
economia.
Aos 78 anos, Mobius está, aos poucos, deixando o dia-a-dia da gestão
dos fundos da casa. No último dia 13, anunciou que passaria o posto de
principal gestor do Templeton Emerging Markets Investment Trust, com US$
2,9 bilhões de patrimônio, para Carlos Hardenberg a partir de outubro.
Ele vai, porém, continuar como gestor de portfólio e presidente do
grupo.
O embate entre a análise de investimentos no curto e longo prazo tem
estado presente se olharmos o desempenho histórico do fundo. Enquanto
entregou ganhos acima da média por vários anos desde a sua constituição,
em 1989, o fundo tem decepcionado recentemente: apresentou declínio
médio de 0,7% anualmente nos últimos cinco anos, comparado a uma meta
(benchmark) de ganhos 2,1%, de acordo com dados da Bloomberg.
Leia a entrevista exclusiva que Mobius concedeu a O Financista, na semana passada, por e-mail:
O Financista: Quais são as principais lições que você tira de quatro décadas investindo em mercados emergentes?
Mark Mobius: Destacaria a importância da adoção de
uma visão de longo prazo. Embora seja necessário ter uma grande dose de
coragem para investir quando as perspectivas são sombrias e outros estão
de saída [do mercado], ao longo da minha carreira eu descobri que é aí
que os melhores valores podem ser descobertos, se você está disposto a
fazer a lição de casa e ter paciência. Você deve olhar para além da má
notícia imediata e ir olhar em direção a uma potencial recuperação
futura. Sem uma perspectiva de longo prazo, você não será capaz de ter a
disciplina para continuar investindo em um mercado em tendência de
baixa (bear market) e esperar - e participar - do processo de
recuperação potencial.
O Financista: Quais são as consequências da instabilidade recente no mercado acionário chinês?
Mobius: O governo chinês entrou em cena para
intervir no mercado, o que, em nossa opinião, não foi um movimento
sábio. Isso pode resultar em um atraso mais longo na inclusão de ações
do tipo A em vários índices [acionários].
O Financista: Em texto recente sobre a China
em seu blog, você disse que a “história de investimento” no país
continua a ser atraente em uma visão de longo prazo. Você já começou a
comprar? Por quê?
Mobius: Estamos comprando seletivamente em várias
classes de ações chinesas (A-/ B-/H- etc). Acreditamos que as
perspectivas de longo prazo para a China permanecem sólidas devido às
reformas e reestruturações econômicas, bem como a contínua abertura dos
mercados financeiros.
O Financista: A instabilidade na China é prova de que o governo tem de intervir menos no mercado de ações?
Mobius: Sim, eles devem aproveitar as lições do
passado. Ações similares tomadas por órgãos reguladores de Hong Kong no
passado não tiveram um resultado positivo.
O Financista: Como as turbulências recentes na China e na Grécia afetam os mercados emergentes?
O Financista: Como as turbulências recentes na China e na Grécia afetam os mercados emergentes?
Mobius: Volatilidade sempre esteve presente nos
investimentos em mercados emergentes, então nada novo. Uma coisa que
aprendemos é que a volatilidade não dura muito tempo, e nós temos que
olhar o passado e investir para o longo prazo.
O Financista: O banco central americano, o
Fed, tem dado indicações de que as taxas de juros vão subir este ano.
Isso já está no preço dos ativos ou o anúncio pode aumentar a
volatilidade?
Mobius: Achamos que o Fed vai aumentar os juros
muito lentamente. Além disso é importante notar que, enquanto o QE
[quantative easing, programa de compra de ativos] chega ao fim nos EUA,
outros países e regiões, como a zona do euro, Japão, China, Índia etc.,
embarcam em programas de flexibilização monetária. Por enquanto,
acreditamos que estes [programas] devem compensar preocupações sobre
potenciais aumentos de taxas de juros pelo Fed este ano. Acreditamos que
os esforços de flexibilização dos bancos centrais continuarão
fornecendo liquidez aos mercados e podem ajudar a canalizar fluxo de
recursos para ações a nível global com investidores procurando
rendimento.
O Financista: Em dólares, as ações
brasileiras estão perto do nível mais baixo em cinco anos. Como você vê
“a história de investimento” no Brasil no momento?
Mobius: Como investidores de visão contrária, acreditamos que agora é um momento interessante para procurar oportunidades no Brasil.
O Financista: Quais são os segmentos em que você está vendo oportunidades e por quê?
Mobius: O setor bancário brasileiro é interessante,
mas devemos esperar algum aumento da inadimplência nos empréstimos dada a
economia deprimida. Os setores orientados para o consumidor valem uma
olhada, uma vez que oferecem um bom valor a longo prazo. Também nos
interessamos pelo setor de educação. Olhando adiante, devemos continuar
de olho no setor de commodities, mas agora ainda é muito cedo.
O Financista: O risco do atual governo não
terminar o mandato está aumentando. Como você avalia o risco político no
Brasil? Como você acha que o mercado reagiria se Dilma Rousseff fosse
deposta como presidente?
Mobius: O mercado acionário brasileiro se valorizou
quando parecia que Dilma não seria reeleita nas últimas eleições. Por
isso, se ela fosse deposta, o mercado poderia voltar a reagir
positivamente, embora isso também dependeria de quem eventualmente
assumisse [o lugar dela].
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