segunda-feira, 24 de outubro de 2016

STF mantém decisão que manda profissionais liberais pagarem Cofins

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Oito anos depois de declarar que sociedades de profissões regulamentadas, como os escritórios de advocacia, têm de pagar Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), o Supremo Tribunal Federal rejeitou embargos de declaração que queriam modular os efeitos e definir a partir de quando vale essa tese.

Na prática, o entendimento desta quarta-feira (19/10) deve causar impactos em uma série de processos pelo país que questionam desde quando é obrigatório recolher a contribuição.

Em setembro de 2008, o STF considerou legítimo o fato de uma lei ordinária (9.430/1996) ter revogado lei complementar (70/1991) que isentava a cobrança. Desde 2009, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil pede que a tese tenha efeitos apenas ex nunc (a partir do julgamento do STF), e não anteriormente. A corte, porém, rejeitou nesta quarta os embargos, por não ter visto contradição ou omissão no acórdão de 2008.

Duas questões jurídicas envolvem a discussão. A primeira é que, até aquela época, era pacífica no Superior Tribunal de Justiça a tese de que “as sociedades civis de prestação de serviços profissionais são isentas da Cofins, [sendo] irrelevante o regime tributário adotado”, conforme dizia a Súmula 276 daquela corte. Esse era um dos principais argumentos dos defensores da modulação.

O segundo ponto é que, para a OAB, o Supremo errou ao deixar de modular os efeitos ainda em 2008. Como o placar sobre esse assunto ficou na época empatado em 5 votos a 5 — a então ministra Ellen Gracie estava ausente —, o tribunal considerou que não houve quórum de dois terços dos membros da corte, conforme estabelece o artigo 27 da Lei 9.868/99.

O Conselho Federal entende que esse dispositivo vale apenas para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo proferida em abstrato pelo STF. Assim, a modulação envolvendo mudança de jurisprudência não exigiria o limite mínimo de votos. Foi com esse argumento que a entidade moveu embargos de declaração no processo.

Quem assinou em 2009 o parecer com essa tese, aliás, foi o então advogado constitucionalista Luís Roberto Barroso. Ele não participou do julgamento desta quarta: declarou-se impedido e deixou a sessão.

O advogado Oswaldo Pinheiro Ribeiro Junior, assessor jurídico do Conselho Federal da OAB, afirma que a entidade deve aguardar a publicação do acórdão para analisar se vai recorrer. Segundo ele, não há estimativa de quantos advogados movem ações sobre o tema.


RE 381.964

 é repórter da revista Consultor Jurídico.


 http://www.conjur.com.br/2016-out-19/stf-mantem-decisao-manda-profissionais-liberais-pagarem-cofins

Segurado não precisa cumprir carência ao trocar de plano de saúde após demissão


Plano de saúde não pode exigir carência de trabalhador que se beneficiava de plano empresarial, mas foi demitido e aderiu a outro plano, este coletivo, na mesma empresa.O entendimento, unânime, é da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao julgar recurso de uma operadora de plano de saúde contra decisão da Justiça paulista que desobrigou uma usuária de cumprir prazos de carência para atendimento médico.
Reprodução
A usuária era dependente do marido, que tinha um plano coletivo empresarial até ser demitido sem justa causa. Com a demissão, ela contratou, pouco tempo depois, outro plano da mesma operadora. Ao procurar atendimento médico pelo novo plano, a operadora exigiu o cumprimento do prazo de carência.


Anulação


A usuária ajuizou ação para anular a cláusula contratual que a obrigava a cumprir a carência, sob o argumento de que esse prazo já havia sido cumprido no plano anterior da mesma operadora. Com as decisões favoráveis à usuária na Justiça paulista, a operadora recorreu ao STJ. A relatoria do caso coube ao ministro Villas Bôas Cueva, da 3ª Turma, especializada em Direito Privado.

Em seu voto, o ministro salientou que, quando há demissão imotivada, a operadora deve oferecer ao trabalhador e dependentes a prorrogação temporária do plano coletivo ao qual haviam aderido, contanto que paguem integralmente as mensalidades, respeitado o prazo estabelecido em lei: mínimo de seis meses e máximo de dois anos.

O ministro explicou que a carência é o período ininterrupto, contado a partir da data de início da vigência do contrato, durante o qual o contratante paga as mensalidades, mas ainda não tem acesso a determinadas coberturas.


Equilíbrio


“A finalidade é assegurar a fidelização do usuário e o equilíbrio financeiro da negociação, permitindo a manutenção do saldo positivo do fundo comum para o custeio dos serviços médico-hospitalares, ou seja, visa a conservação do próprio plano de saúde”, disse o ministro, ao salientar que não há ilegalidade ou abuso na fixação de carência, observados os limites legais.

Ele afirmou que há casos em que a carência já cumprida em um contrato pode ser aproveitada em outro, como geralmente ocorre na migração e na portabilidade para a mesma ou para outra operadora.
“Tais institutos possibilitam a mobilidade do consumidor, sendo essenciais para a estimulação da livre concorrência no mercado de saúde suplementar”, disse o ministro Villas Bôas Cueva.

No caso em julgamento, o relator considerou que ao trabalhador demitido e seus dependentes, para que não fiquem desprotegidos e atendendo à função social do contrato, foi assegurada a portabilidade especial de carências pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O relator ressaltou que, segundo a Resolução Normativa 186/09 da ANS, o ex-empregado demitido ou exonerado sem justa causa ou aposentado ou seus dependentes no plano ficam dispensados do cumprimento de novas carências na contratação de novo plano individual ou familiar ou coletivo por adesão, seja na mesma operadora, seja em outra, desde que peçam a transferência durante o período garantido pelos artigos 30 e 31 da Lei 9.656/98. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.


REsp 1.525.109


 http://www.conjur.com.br/2016-out-20/nao-carencia-troca-plano-saude-demissao

Governo planeja suspender exigência de visto para EUA e Japão


Governo brasileiro quer suspender a exigência de visto para visitantes vindos dos EUA, Japão, Canadá e Austrália para impulsionar o turismo

Brasília- O governo brasileiro está considerando a retirada de vistos para visitantes dos Estados UnidosJapãoCanadá e Austrália para impulsionar o turismo, e pode eventualmente estender o plano para incluir a China, disse nesta segunda-feira um porta-voz do Ministério do Turismo.

A proposta do novo ministro do Turismo, Marx Beltrão, iria estender por um período teste de 12 meses um programa de retirada de vistos para visitantes dos quatro países durante os Jogos Rio 2016.

O presidente Michel Temer busca atrair mais investimentos estrangeiros e visitantes para o Brasil para ajudar a tirar o país de sua pior recessão em décadas.

Em 2015, 575.800 cidadãos dos EUA visitaram o Brasil, menos de 10 por cento do total de turistas estrangeiros no país. Enquanto isso, o número de brasileiros visitando os EUA alcançou 2,6 milhões em 2014.

A isenção de vistos se tornaria permanente caso o número de turistas cresça significativamente e os governos dos quatro países removam a necessidade de vistos para brasileiros, disse o porta-voz.

A proposta do ministro ainda precisa de aprovação de outros departamentos do governo, principalmente do Ministério das Relações Exteriores, que emite os vistos e pediu reciprocidade para que cidadãos norte-americanos não precisem de vistos.

Visitantes da maioria dos países latino-americanos e nações da União Europeia, além da Rússia, não precisam de vistos para entrar no Brasil, enquanto cidadãos dos EUA precisam pagar até 160 dólares para visitar o Brasil.

Brasil deve continuar sem aumento expressivo na produção de cana


Brasil deve continuar sem aumento expressivo na produção de cana

Apesar do cenário positivo de preços para açúcar e etanol, o setor sucronenergético do Brasil não deve ter aumentos de investimentos para o crescimento na produção e processamento de cana-de-açúcar com novas usinas, na avaliação do Rabobank.
De acordo com Manoel Pereira de Queiróz, gerente sênior de Relacionamento do banco no País, além da expectativa de que o ciclo positivo para açúcar e etanol pode ser curto, o financiamento restrito é outro entrave para a retomada do crescimento do parque de usinas, com os chamados projetos greenfields.
"Os bancos estrangeiros estão sem apetite de risco para o Brasil, os bancos nacionais diminuem o capital econômico disponível e a chance de serem mais agressivos em crédito é pequena", disse. "O BNDES passa por um ajuste, o mercado de capitais local ainda é incipiente e o externo está fechado para o Brasil e para o setor", completou Queiróz durante reunião consultoria da Canaplan, em Ribeirão Preto (SP).
Em compensação, segundo o gerente do Rabobank, o momento é favorável para fusões e aquisições no setor. Os fatores que corroboram para esse cenário, segundo Queiróz, são a cotação do dólar, em torno de R$ 3,20, o que reduz o custo de produção no Brasil, principalmente do açúcar cotado na moeda norte-americana, bem como torna os ativos mais baratos. "A gente começa a ver produtores de açúcar lá fora interessados em investir no Brasil. A depreciação do real torna ativos baratos, melhora perspectivas de preços e o fluxo de caixa é mais positivo. Se isso vai acontecer, não é possível falar, mas existe o interesse e há grande movimentação", afirmou.
Apesar do cenário positivo para fusões e aquisições, dados do Rabobank apontam que as companhias sucroenergéticas do setor ainda têm, na média, um alto endividamento. Análise feita pela instituição financeira com 35 grandes grupos que representam 50% da moagem da safra brasileira aponta que a dívida líquida dessas companhias chegou a R$ 135 a tonelada de cana moída na safra 2015/2016, abaixo apenas do pico de R$ 149,7/t da safra 2014/2015. "Mesmo nesse grupo de empresas, que a gente considera a melhor metade do setor, essa dívida ainda é bastante elevada", disse Queiróz. "Além disso, há uma dispersão muito grande no endividamento, que é muito elevado para uns e pouco elevado para outros", concluiu 

(Agência Estado, 21/10/16)

http://www.brasilagro.com.br/conteudo/brasil-deve-continuar-sem-aumento-expressivo-na-producao-de-cana.html?utm_source=Newsletter&utm_medium=E-mail-MKT&utm_campaign=E-Mkt_RGB/#.WA33t-UrLox

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Magazine Luiza supera rivais, mas ainda luta por sobrevivência


Ao apostar na integração entre lojas e vendas online, a varejista Magazine Luiza cresceu mais do que os concorrentes. Mas a vida vai ficar mais dura

São Paulo – Os 19 000 funcionários da rede de varejo Magazine Luiza assistiram, em março, a um vídeo sobre focas. O filme descrevia o habitat desses bichos e mostrava como o aquecimento global estava tornando a vida deles mais difícil. Para sobreviver, dizia o narrador, as focas tinham de “se adaptar” e “conquistar novos territórios”. Na pouco sutil metáfora que escolheu, a cúpula do Magazine Luiza tentava passar um recado aos funcionários: em meio à pior recessão da história brasileira, cada um tinha de se virar para sobreviver. O que estava em jogo, a rigor, era o destino da empresa. O Magazine Luiza sofria com a queda nas vendas, tinha prejuízo e suas ações vinham de uma baixa de 70% em 2015.

A virada obtida nos primeiros meses de 2016 foi de impressionar os mais otimistas. Depois de um prejuízo de 66 milhões de reais em 2015, o Magazine Luiza teve lucro de 16 milhões de reais no primeiro semestre deste ano. Num período em que as receitas do varejo de móveis e eletroeletrônicos diminuíram 15%, as vendas da empresa cresceram 3,6%, para 5,3 bilhões de reais, puxadas especialmente pelo aumento de 31% das vendas online (que hoje respondem por 22,5% das vendas totais).

A margem da geração de caixa quase dobrou: passou de 4%, em dezembro, para 7,6%, em junho. Os resultados ficaram tão acima do esperado que as ações da varejista já subiram 410% neste ano — de longe, a maior alta da Bovespa. As ações de suas principais concorrentes, a Viavarejo e a B2W, valorizaram 165% e 6%, respectivamente. Hoje, o Magazine Luiza vale 2 bilhões de reais na bolsa, quase o triplo de seu patrimônio — até o fim do ano passado, a empresa valia menos do que o patrimônio.

Como é comum em histórias de virada empresarial, uma combinação de fatores explica o bom desempenho da companhia neste ano. Um deles tem a ver com a recessão. “A estratégia de muitos concorrentes do Magazine Luiza nos anos de expansão do varejo foi fazer promoções agressivas, para crescer a qualquer custo, especialmente no comércio eletrônico. Muitos queimaram caixa por anos para financiar sua operação online. Com a crise, isso deixou de fazer sentido”, diz Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da consultoria de varejo GS&MD.

A B2W dá prejuízo desde 2011. Neste ano, suas vendas caíram 12,8%. As vendas da Cnova, que reúne a operação online da Viavarejo, diminuíram 42,9%. Com os concorrentes retraídos, o Magazine Luiza aproveitou para ganhar espaço.

Para crescer em meio à crise, a empresa decidiu investir no que tem de diferente de seus principais concorrentes: a forte integração entre as lojas de tijolo e as vendas online. “Estamos mudando a empresa para que ela seja verdadeiramente digital”, diz Frederico Trajano, filho de Luiza Trajano (presidente do conselho de administração da rede) e presidente do Magazine Luiza desde o início do ano.

Assim que assumiu o cargo, Trajano colocou 25 projetos em andamento. Os vendedores das lojas estão recebendo celulares para ajudar nas vendas. O plano é que, até o fim de 2017, os clientes não precisem mais ir a um caixa para pagar: os próprios vendedores receberão o pagamento pelo celular (como acontece, por exemplo, nas lojas da Apple). Hoje, os vendedores têm acesso ao perfil dos clientes que compram pelo site, que pode ser acessado com o CPF do consumidor.

Com o perfil na tela, conseguem ver quais produtos foram pesquisados e o que foi comprado recentemente. Assim, têm mais chance de ser assertivo. Com a maior automação das lojas, o tempo médio para processar uma venda caiu de 45 para 4 minutos. “O Magazine Luiza é a única empresa em que as operações física e digital são integradas de fato, e isso é percebido pelo consumidor”, afirmam os analistas do banco BTG Pactual num relatório.

Outra vantagem é a redução de custos, já que as áreas de logística, marketing e tecnologia são as mesmas. “A margem de lucro do varejo é baixa. Não podemos nos dar ao luxo de replicar estruturas”, diz Trajano.

 

Direção contrária


Na década de ouro do varejo brasileiro, de 2004 a 2014, essa integração era vista quase como um ponto fraco do Magazine Luiza. Seus principais concorrentes estavam separando a operação física do comércio eletrônico, com a justificativa de que isso mostrava melhor o valor de cada subsidiária. Foi o que fez o Grupo Pão de Açúcar, controlado pelo grupo francês Casino. Uma das empresas do grupo, a Viavarejo, que é dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, abriu o capital na Bovespa em 2013 e passou a valer 10 bilhões de reais.

Mas cabia à outra empresa, hoje chamada de  Cnova, tocar as lojas online de Ponto Frio e Casas Bahia. A Cnova, que também era controlada pelo Casino, foi listada na Nasdaq em 2014, com valor de mercado de 2,3 bilhões de euros. O problema é que com isso Cnova e Viavarejo passaram a ser concorrentes. O conflito deu tanta dor de cabeça que, em agosto, Viavarejo e Cnova anunciaram que vão combinar as operações brasileiras — as empresas estimam que isso vai gerar uma economia de 245 milhões de reais por ano.

Fundado em 1957, em Franca, no interior de São Paulo, o Magazine Luiza sempre foi mais “digital” do que a concorrência, mas o fazia no improviso. Em vez de ter grandes lojas, lotadas de produtos, abria “lojas virtuais”, que são, na realidade, mostruários de produtos, onde os vendedores ajudam os clientes a comprar pelo site da companhia. Como não têm estoque, as lojas virtuais podem ser menores e, assim, mais baratas.

A estratégia funcionou bem até 2011, quando o Magazine Luiza abriu o capital e decidiu usar os recursos captados (quase 1 bilhão de reais) para crescer em diferentes regiões do país. Já havia comprado a Lojas Maia, uma das principais redes de varejo de eletroeletrônicos do Nordeste, e em 2011 comprou o Baú da Felicidade, do Grupo Silvio Santos. Também passou a abrir lojas na cidade de São Paulo — até então, operava em mercados menos competitivos no interior do estado.

Integrar as novas empresas e ganhar dinheiro em São Paulo se mostrou mais difícil do que o esperado, e o os resultados começaram a ratear. “Em 2014, fechamos o ciclo de crescimento acelerado e decidimos iniciar outro, de criar uma companhia digital”, diz Marcelo Silva, vice-presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e ex-presidente da empresa.

Daqui para a frente, a vida deve voltar a ficar difícil. Quando estiver integrada de fato, a “nova” Viavarejo pode ser uma ameaça, porque é duas vezes maior do que o Magazine Luiza (sem incluir a Cnova na conta), o que dá a ela maior poder de barganha com fornecedores, e terá uma vantagem competitiva. A B2W aprovou um aumento de capital em 823 milhões de reais neste ano e deverá ganhar fôlego.

O Walmart, que fez campanhas de congelamento de preços neste ano para atrair consumidores, conseguiu aumentar suas vendas de janeiro a junho. “Crescemos sozinhos até agora, mas isso deve mudar.” A luta pela sobrevivência não acaba nunca.


Dona de Lucky Strike e Dunhill faz oferta de US$ 47 bi por Camel


A empresa anunciou em um comunicado que fez a proposta ao conselho de administração da Reynolds

O grupo britânico British American Tobacco (BAT) apresentou nesta sexta-feira uma proposta de 47 bilhões de dólares, em dinheiro e ações, para adquirir 57,8% das ações da americana Reynolds que ainda não possui.
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A empresa, proprietária das marcas Dunhill, Lucky Strike, Kent e Pall Mall, entre outras, anunciou em um comunicado que fez a proposta ao conselho de administração da Reynolds (Camel, entre outras marcas).

Até o momento não foram iniciadas negociações formais, explicou o grupo.


PEC do teto reduzirá tamanho do Estado, diz professor da FGV


“E sem a reforma da Previdência, o teto está fadado a não dar certo”, diz Nelson Marconi, coordenador do curso de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

São Paulo – “Não é só um ajuste que está na PEC do teto, é uma diminuição do tamanho do Estado”.
A avaliação é de Nelson Marconi, coordenador do curso de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Aprovada em primeiro turno pelo Congresso, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 define um teto para os gastos públicos com duração de duas décadas, corrigido a cada ano pela inflação do anterior.

Para o governo e grande parte dos economistas, a crise fiscal é a maior responsável pela crise atual e a medida é essencial para conter a trajetória explosiva de crescimento dos gastos e da dívida pública.

Para os críticos, a emenda vai prejudicar Educação e Saúde, cujos gastos também serão corrigidos pela inflação e não estarão mais vinculados ao tamanho da receita como hoje.

Marconi acha que o período de 20 anos é exagerado e também teme que investimento e políticas sociais sejam sacrificados em detrimento da Previdência, que cresce de forma inercial e pode achatar todo o resto.

“Sem a reforma da Previdência, o teto de gastos está fadado a não dar certo”, diz ele. Veja a entrevista concedida ontem para EXAME.com:

EXAME.com – O prazo de 20 anos não é longo demais? Não seria melhor ter um critério objetivo de vigência como a queda da dívida para determinado nível em relação ao PIB? 
Nelson Marconi – Pois é. Uma coisa é fazer ajuste fiscal para ter contas em ordem, o que eu acho necessário, e outra é fazer uma definição de 20 anos que coloca uma redução da participação do Estado e vai cortar uma série de despesas prejudicando políticas sociais.

Poderiam ter colocado uma regra de teto até estabilizar a dívida, o que leva um certo tempo, ou até retomar o superávit primário.

Eu fiz uma estimativa de que isso demoraria uns 10 anos para acontecer, mas os pressupostos são conservadores: evolução significativa do gasto da Previdência, sem reforma, e crescimento baixo da arrecadação.

Se você faz um ajuste, começa a diminuir a taxa de juros (o que já aconteceu nessa semana) e retoma a economia. A arrecadação, que no curto prazo é o principal problema, voltaria com mais rapidez, assim como o superávit. Você pode dizer que essa é a meta e quando alcançar acaba a regra.

Seria mais razoável; do contrário você vai ter problemas de redução séria do tamanho do Estado e do investimento.

O que provavelmente vai acontecer é que o governo vai demorar para aprovar a reforma da Previdência então vai reduzir o investimento, se demorar ainda mais ele vai reduzir ainda mais o custeio, e aí vêm as despesas mais flexíveis com impacto em educação e saúde.

EXAME.com – A dúvida maior é essa. Muitos cálculos de perdas nessas duas áreas não consideram o fato de que elas ainda podem crescer se houverem cortes equivalentes. Mas como garantir isso diante do lobby de outras áreas por recursos?
Marconi – As áreas mais flexíveis para ajuste de despesa são investimento e custeio.

O investimento já foi sacrificado e precisaria na verdade ser retomado. Aí ele vai passar a sacrificar outras áreas que tem uma rigidez menor, como as de custeio, que a legislação não define como deve ser gasto.

Dentro disso, o peso das despesas sociais é muito grande: manutenção de saúde e educação, por exemplo. Então invariavelmente vai bater aí e teria que ter restrição, o que eu acho um problema. Significa corte em ambulância, manutenção das escolas, etc. Você pode dizer que tem uma gordura aí, mas é para o próximo governo e não para 20 anos.

EXAME.com – Mas se a economia se recuperar e a receita crescer de forma vigorosa, o Congresso vai se amarrar nesse limite por muito tempo? Você não acha possível que nesse cenário eles mesmos iriam revogar a medida antes?
Marconi – O Temer mesmo falou isso outro dia: que se a economia melhorar, o Congresso poderia rever a medida em um prazo menor. Eu acho que a lógica política seria essa.

Mas para mudar de novo precisa ter dois terços das duas casas em duas votações por emenda constitucional – o que não é tão simples. E você está restringindo um governo próximo de decidir como gastar. Tem um ciclo político aí que você está tentando neutralizar, o que não tão fácil de fazer.

EXAME.com – A sensação é que a medida foi desenhada dessa forma dura para fazer o ajuste de curto prazo no longo. Compra tempo e boa vontade para fazer outras reformas e fazer a economia se recuperar.
Marconi – Ok, mas não precisa de 20 anos para isso, é um exagero. Não é só um ajuste que está na medida, é uma diminuição do tamanho do Estado – e tem gente que acha ótimo, mas eu acho que chegamos em um ponto de participação em políticas sociais que não deveria ser revertido.

A despesa que precisa passar por um ajuste mais rápido e significativo é a Previdência. E não por causa do INSS e da Previdência urbana, que tem que mexer para evitar uma piora no futuro, mas pela Previdência dos servidores e da aposentadoria rural, que são os que mais afetam o resultado primário negativo.

Se não mexer aí, vai pressionar muito as outras despesas. Sem a Previdência, a PEC está fadada a não dar certo. A pressão vai ser tão grande que o governo vai precisar voltar atrás, não vai haver margem de manobra.

A PEC não vai melhorar o resultado fiscal de cara. Vai ter alguma influência sobre as expectativas, logicamente, mas o governo está direcionando uma força muito grande para o teto que deveria ir para a Previdência.

Para o teto, deveria colocar uma regra que permitisse mais investimento, ou que valesse até atingir o superávit, ou revista a cada governo, ou controlada em relação ao PIB. Desse jeito, está invertendo as coisas.

EXAME.com – Um dos argumentos é que há muito espaço para melhorar a eficiência do gasto e que o teto seria uma forma de pressão para que isso acontecesse. Há margem para isso?
Marconi – Vai ter uma pressão pelo uso melhor dos recursos, sim. Um estudo que fiz com o Felipe Salto no ano passado mostra que o governo pode ser mais eficiente; a gente estimou que o preço das compras do governo seria 40% maior do que no setor privado, em média.

Há espaço para ganhos, mas sobre gastos de custeio e investimento. Mas a Previdência depende das regras próprias e os juros dependem da política monetária, por exemplo. Já pessoal e uma série de outras despesas são obrigatórias, onde a margem de manobra é pequena.

Em custeio administrativo do Planejamento, por exemplo, o governo vem conseguindo ganhos de eficiência desde o ano passado. Já está nessa toada e mesmo que tenha espaço para fazer mais, não seria suficiente para compensar um déficit de 170 bilhões.