sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Embraer é novamente denunciada por suborno


A acusação é feita depois do acordo, no valor de US$ 205 mi, assinado na segunda-feira entre a companhia aeroespacial brasileira e autoridades americanas



Um ex-funcionário da companhia petrolífera pública da Arábia Saudita Aramco recebeu suborno em troca da compra de aeronaves da brasileira Embraer SA, anunciou nesta sexta-feira a empresa saudita.

A acusação é feita depois do acordo, no valor de 205 milhões de dólares, assinado na segunda-feira entre a companhia aeroespacial brasileira e autoridades americanas no âmbito de um caso por denúncias de subornos na República Dominicana, Arábia Saudita e Moçambique.

De acordo com um comunicado conjunto do Departamento de Justiça americano e da Comissão de Segurança e Comércio (SEC), os subornos denunciados incluem 1,7 milhão de dólares para um funcionário de uma empresa estatal saudita na compra de três aeronaves por 93 milhões.

“A investigação interna da Aramco mostrou que um ex-funcionário da empresa saudita esteve envolvido ao receber suborno em troca de facilitar a compra de três aviões da Embraer”, disse a companhia em um comunicado.

A companhia petrolífera “cessou todas as futuras negociações com a Embraer” e iniciará uma ação legal contra a empresa brasileira após a conclusão do inquérito em curso.
 
 

Empresários Portugueses buscam negócios em SP







Mais de 120 empresários do turismo e da gastronomia, além de jornalistas, blogueiros e influenciadores reuniram-se, nesta última quinta-feira (20), na Casa de Portugal com empresários portugueses, para conhecer mais sobre a região do Vale do Douro, uma das mais bonitas de Portugal.

O evento “O Douro à Volta do Mundo” foi promovido pela AETUR (Associação dos Empresários Turísticos do Douro e Trás-os-Montes) em parceria com Casa de Portugal. O Brasil é o terceiro mercado emissor de turistas para a região Norte de Portugal.

Segundo a AETUR, o turismo na região cresceu nas férias de julho/agosto deste ano 33,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O Vale do Douro concentra, como poucas regiões no mundo, uma infinidade de oportunidades para o turista, como o Turismo Religioso, Cultural, Gastronômico.

Estiveram presentes representantes de grandes agências de turismo, importadores de bebidas e alimentos. De Portugal vieram representantes da AETUR, do Museu do Douro e de agências de viagem.

O Alto Douro das Vinhateiro- A região do Douro localiza-se no interior norte de Portugal, compreendendo 19 municípios dispostos nas duas margens do rio Douro. É uma localidade cercada de história, com monumentais igrejas, aldeias históricas, castelos e muralhas, palácios e solares, boa comida e bons vinhos e reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. 

A região é portadora de uma longa história de produção de vinhos, iniciada com a ocupação romana e a presença da Ordem de Cister (mosteiros e conventos), onde eram servidos os afamados “vinhos de missa”. Vieram depois os “cheirantes” de Lamego (Vinho do Porto), os vinhos de exportação que se afirmaram na Idade Média e sustentaram a epopeia das descobertas. Esta longa e intrincada tradição vinícola veio a internacionalizar-se, nos finais do século 17 e início do século 18, com o tratado de Metwhen (acordo entre Portugal e Inglaterra), iniciando-se a partir daí a construção da identidade vinícola como conhecemos hoje.

Em dezembro de 2001, a Unesco classificou o Alto Douro Vinhateiro como Patrimônio da Humanidade, premiando a região vinícola demarcada mais antiga do mundo – a demarcação foi feita pelo Marques de Pombal em 1756.

A gastronomia é intensa e abundante no Douro. São pratos à base de cabrito, javalis, perdizes, peixes e doces que datam dos antigos conventos, como os peixinhos de Chila. Muito pão caseiro e bom azeite para acompanhar. 

Sobre a AETUR – A AETUR possui 15 anos de existência e com uma vasta experiência em projetos centralizados na temática e na região no Vale do Douro. Possui 160 empresários associados. Entre os projetos desenvolvidos pela instituição estão: a Candidatura através das New 7 Wonders Foundation, conseguindo que o Douro figurasse nas 77 Maravilhas Mundiais, num leque de 500 candidaturas; o projeto de internacionalização do “Douro e Estrela in Tourism” –nos Estados Unidos, numa parceria com a National Geographic Society e que teve expressão pública em Newark, em New York e em 

Washington; o projeto – “Há um Rio que começa no Douro e Termina no Brasil”, com participação da Missão Douro e que aconteceu no ano passado no Rio de Janeiro.

Sobre a Casa de Portugal em SP- Fundada em 1935, a Casa de Portugal é uma instituição representativa da Comunidade Luso-Brasileira em São Paulo, cujo objetivo é estreitar os laços históricos, culturais, comerciais e econômicos existentes entre Brasil e Portugal. Tem entre seus principais valores a divulgação das tradições herdadas dos portugueses, além de prestar serviços de cunho assistencial e social à comunidade luso-brasileira de São Paulo.

Informações para Imprensa
Beth Matias -beth@nqm.com.br
(11) 99656-4582
 

Brookfield compra 70% da Odebrecht Ambiental

O fundo canadense pretende ser um consolidador no segmento de água e esgoto







A gestora canadense Brookfield anunciou nesta quinta-feira, 27, a compra de 70% da Odebrecht Ambiental, por US$ 768 milhões (cerca de R$ 2,468 bilhões). A transação, que não inclui os negócios de resíduos industriais da empresa, prevê investimento de capital de giro de US$ 125 milhões mais R$ 350 milhões (cerca de US$ 110 milhões) adicionais que deverão ser incluídos no valor total da operação, desde que a empresa atinja metas de desempenho, combinadas entre as partes, nos próximos três anos.

Com isso, o valor da aquisição poderá chegar a US$ 878 milhões (atingindo R$ 2,792 bilhões). O FI-FGTS vai continuar sócio com os 30% restantes da empresa.

Esta é a primeira aquisição da Brookfield, em parceria com fundos institucionais, no segmento água e esgoto. O Estado apurou que o fundo canadense pretende ser um consolidador nesse segmento. A companhia entende que há espaço para expandir nesse mercado, segundo fontes a par do assunto.

As negociações entre a gestora e o grupo baiano ocorrem desde o início do ano. A demora em concluir o negócio estava na dependência de acertos contratuais que dessem maior segurança jurídica ao negócio, uma vez que a companhia faz parte da Odebrecht – grupo envolvido na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga corrupção em contratos da Petrobras. Em 2014, último dado disponível, essa divisão faturou quase R$ 2 bilhões.

Em junho, a Brookfield já havia adquirido 57% da companhia de concessões rodoviárias da Odebrecht no Peru, a Rutas de Lima, que também foi colocada à venda pelo grupo baiano.

Em nota, a Brookfield informou que a “aquisição da Odebrecht Ambiental é uma excelente oportunidade por ter alta qualidade na plataforma de serviços de água em um mercado emergente, incluindo um setor de negócios líder na água e águas residuais municipais com escala e forte potencial de crescimento”, disse Cyrus Madon, presidente da divisão global de negócios da Brookfield.


Caixa


Na Odebrecht, a venda da unidade vai reforçar o caixa do grupo para cumprir os pesados compromissos nos próximos meses. “A venda da Ambiental faz parte do nosso programa de alienação de ativos que visa manter níveis de liquidez satisfatórios para atravessar a prolongada crise econômica do País”, disse o grupo, em comunicado ao mercado.

A empresa planeja vender até meados de 2017 ativos avaliados em R$ 12 bilhões. Entre eles estão a participação da empresa na hidrelétrica Santo Antônio Energia, no Rio Madeira, em Rondônia; a Hidrelétrica Chaglla e o Projeto Olmos, no Peru; e a fatia do grupo na Sociedade Mineira de Catoca, em Angola. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


 

3 fatores que estão a favor do investimento no Brasil

“Parece que o crédito vai descongelar de cima para baixo. Está começando nas grandes empresas”, diz o economista-chefe do Itaú Unibanco


São Paulo – A recessão no Brasil é tão profunda que o PIB só deve voltar para o nível de 2014 em 2019, totalizando 5 anos perdidos.

A boa notícia é que o investimento deve reagir nos próximos anos graças a uma combinação de três fatores.

O primeiro é a queda forte dos juros. O Itaú Unibanco prevê corte de 0,50 ponto percentual na Selic em dezembro após a queda de 14,25% para 14% na última reunião – primeiro corte desde 2012.

O Banco Central fala muito na agenda de reformas fiscais, que avançou nessa semana com a aprovação em segundo turno da PEC de teto de gastos, mas esperava para ver o vigor da atividade econômica.

“Eles vão ver que não foi só agosto que foi ruim, setembro também não teve a recuperação esperada”, diz Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco, com base no PIB mensal calculado por sua equipe.

O segundo motor da volta do investimento é a desalavancagem das empresas, que estão conseguindo renegociar seus aluguéis e custos de fornecimento, trabalho e dívida.

“Parece que o crédito vai descongelar de cima para baixo. Está começando nas grandes empresas”, diz Mário Mesquita, economista-chefe do banco.

Outro fator positivo é a estabilidade dos preços das commodities na medida em que a China desacelera de forma organizada.

Enquanto ela continuar crescendo, o que é esperado no médio prazo, as commodities ficam estáveis – ajudando países como o Brasil.

O padrão histórico mostra uma relação forte entre os preços de commodities e o nível de investimento por aqui.

As concessões e privatizações não entraram na lista do Itaú de fatores que favoreceriam o investimento.

Segundo Mesquita, o “estrago reputacional” do governo anterior foi grande, e o novo modelo ainda não deixa claro como será a proteção cambial para investidores estrangeiros.

A exceção é o setor de petróleo, onde mudanças recentes nas regras do pré-sal podem atrair o interesse de empresas estrangeiras.



Supermercados BIG viram Walmart

O objetivo do projeto, que custará R$ 1 bilhão e durará três anos, é seguir o modelo de lojas dos Estados Unidos 

 

Por Dirceu Chirivino

 

dirceu@amanha.com.br
Supermercados BIG se tornarão Walmart
A rede de supermercados Walmart anunciou nesta quinta-feira (27) que a bandeira BIG deixará de existir. As unidades passarão a seguir o conceito que é usado pela marca nos Estados Unidos (foto). 

No Sul, a mudança começará pelo BIG Santa Felicidade, em Curitiba (PR), e pelo BIG Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. O projeto terá investimentos de R$ 1 bilhão no país e durará três anos. A migração será gradativa e ocorrerá à medida que as demais lojas passem por ampla reforma. Além dessas duas unidades, a loja Tamboré, na Grande São Paulo, abrirá nesta sexta-feira (28) já utilizando o novo formato. 

As alterações, que foram determinadas a partir de pesquisas com consumidores, incluem mudanças desde a planta da loja até o mix de produtos. A empresa usará a bandeira Walmart nas lojas. “Fizemos uma verdadeira transformação do nosso hipermercado”, declarou Flavio Cotini, presidente do Walmart Brasil. Cotini esteve em Porto Alegre para detalhar os investimentos. “Temos muito respeito pelas marcas que adquirimos.

Não poderíamos simplesmente mudar o nome na fachada sem oferecer melhorias importantes”, explica Cotini. Fortalecer o mix regional das lojas, mesmo com a migração das bandeiras, passa a ser ainda mais estratégico para o Walmart. “Continuaremos a observar as necessidades e preferências regionais. O café ou o arroz, por exemplo, consumido no Sul não é o mesmo no Nordeste. O produto muda até entre Estados da mesma região. Conhecemos muito bem o consumidor de cada localidade”, defende Cotini. “A ideia é ir atrás de cada centavo para baixar custos e oferecer preços baixos”, garante o executivo. 

O Walmart opera 485 unidades em todo o Brasil em 18 Estados, além do Distrito Federal. São 9 bandeiras entre hipermercados (Walmart, Hiper Bompreço e BIG), supermercados (Bompreço, Nacional e Mercadorama), atacado (Maxxi), clube de compras (Sam´s) e lojas de vizinhança (TodoDia). No ano passado, o faturamento da companhia no Brasil foi de R$ 29,3 bilhões. 


Almeida Junior busca sócios para shoppings


Banco Rothschild foi contratado pelo grupo para buscar investidores

Da Redação

redacao@amanha.com.br
Almeida Junior busca sócios para shoppings
Claudio Loetz, colunista dos jornais Diário Catarinense e A Notícia, informa nesta sexta-feira (28) que o Banco Rothschild tem o mandato e busca investidor para ser sócio nos seis shopping centers do Grupo Almeida Junior em Santa Catarina. Se tratam do Garten Shopping (Joinville), do Continente (São José), do Balneário Camboriú, do Neumarkt (Blumenau), do Norte Shopping (Blumenau) e o 

Das Nações (Criciúma). Em 2017, deverá ser inaugurado empreendimento em Chapecó. 

“Em nota, a assessoria de imprensa da rede nega que o empresário Jaimes Almeida Junior tenha a intenção de se desfazer das operações. Afirma que“está estudando a possibilidade da venda de até 20% na plataforma dos seus seis shoppings, e não da empresa, mantendo expressiva participação majoritária nos seus ativos, e ainda acima da média do setor. A empresa investiu, nos últimos sete anos, mais de R$ 1,3 bilhão na construção de cinco novos shoppings e expansões em Santa Catarina”, revela Loetz. 

“A Almeida Junior é a única empresa do setor que não possui sócios investidores, tanto na plataforma corporativa, quanto no nível dos seus shoppings. As demais empresas do setor ou já fizeram IPO e são companhias listadas na Bovespa ou possuem fundos internacionais em sua estrutura societária ou nos seus shoppings. A decisão de avaliar esta oportunidade está ancorada no novo ciclo de crescimento, com o desenvolvimento do sétimo shopping da empresa, em Chapecó, expansão do Garten Shopping em Joinville (mais 8 mil m², em 2017), e oportunidades de aquisições de shoppings em operação no Estado”, afirma a empresa em nota. 

De acordo com Loetz, o Grupo Almeida Junior já teve sociedade. “Foi com a gigante australiana Westfield, um player global, nos negócios em Santa Catarina. Na parceria, cada um dos sócios detinha 50% e, juntos, miravam a liderança nacional. A união durou de agosto de 2011 a abril de 2013, quando o empresário catarinense comprou a parte da Westfield. Acabou por desentendimentos em relação a estratégias de crescimento”, recorda. 


Walter Lídio sugere "olho mágico" para a Lei de Terras


CEO da Celulose Riograndense quer liberação da venda de grandes extensões para estrangeiros que tenham bons projetos

Por Eugênio Esber

eugenioesber@amanha.com.br
Walter Lídio Nunes, presidente da Celulose Riograndense


Como todos os seus pares da indústria de base florestal, o presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes (foto), anda animado com a disposição manifestada pelo governo Michel Temer de abrandar as restrições legais à compra de imóveis rurais por estrangeiros, entre outras medidas cogitadas pelo Planalto para atrair investimentos externos e destravar a economia.

A conta varia, mas as estimativas mais otimistas dão conta de que grupos estrangeiros poderiam aportar até R$ 40 bilhões em empreendimentos agroindustriais se puderem comprar mais terras no Brasil. A própria Celulose Riograndense, que é controlada pela chilena CMPC e faz do Rio Grande do Sul sua base para exportar celulose de fibra curta de eucalipto, vê potencial para dobrar outra vez sua escala de produção.

Para se ter uma ideia do que está em jogo, basta levar em conta que, na primeira duplicação, inaugurada em 2015, a fábrica de Guaíba absorveu um investimento de mais de R$ 5 bilhões – o maior até então registrado no extremo sul do país.

A queixa, em todo o setor, é de que o governo Lula exagerou ao barrar a compra de grandes extensões de terras por estrangeiros. Com o receio de que os chineses desembarcassem no Brasil comprando áreas com a mesma naturalidade com que se movem em alguns países africanos, a Procuradoria Geral da República emitiu em 2010 um parecer que teve o efeito de colocar o pé na porta. 

Agora, entidades como o Instituto Brasileiro da Árvore, que congrega as principais empresas do setor, aproveitam a maré favorável à atração de investimentos para defender regras flexíveis. Há quem pretenda um relaxamento total nos controles. Não é o caso de Walter Lídio.

– Não quero a tranca que foi colocada em 2010, nem porta escancarada. O que eu defendo é o olho mágico, para que possamos ver quem está querendo comprar terras no Brasil e avaliar se o projeto atende ao interesse do nosso país.

O “olho mágico” que o presidente da Celulose Riograndense está apregoando se daria pela criação de um Conselho de Terras. É sobre esta formulação que Walter Lídio conversou com AMANHÃ na sede da Celulose Riograndense, em Guaíba.



Que chances reais você vê, agora, para rever as restrições à compra de terras por estrangeiros?

 
O Brasil é um país continental que não explora todo o extraordinário potencial de desenvolvimento que tem por fatores estruturais diversos. E um destes fatores que atrasam o Brasil é a inexistência de poupança interna. Todos os países, hoje, dependem da migração de capitais, e nós devemos estar preocupados com isso. Não me refiro a capitais voláteis, mas aos capitais produtivos, que se internalizam no país para fazer girar a economia, provocar o desenvolvimento e gerar empregos. E neste contexto nós temos um ativo que eu considero estratégico – as terras. Mas elas de nada servirão se ficarem paradas, amontoadas, se não fizermos uso delas para o desenvolvimento do país. Precisamos tirar partido deste ativo.  


O curioso é que este argumento de que as terras são um ativo estratégico também é usado pelos adversários da liberação de compra de imóveis rurais para estrangeiros. 


Bom, quando se impediu o acesso de empresas brasileiras de capital estrangeiro à aquisição de terras a consequência foi a redução do fluxo de capitais para o Brasil, que na época significaria investimentos de R$ 67 bilhões em setores como celulose, álcool e uma série de insumos. O que eu sempre defendi, quando falo em valor estratégico de nossas terras, é que o governo trabalhe um ordenamento que alavanque o país.

O Brasil pode criar expedientes e mecanismos de controle de tal modo que possa atrair aqueles negócios que, do ponto de vista dos interesses brasileiros, seja positivo internalizar aqui. Estou falando de empresas brasileiras de capital estrangeiro – portanto, companhias sujeitas à caneta brasileira, e que venham para cá no interesse de uma visão estratégica de Brasil. 

Terra não se coloca nas costas e se leva embora. Terra é ativo para empresas nacionais de capital estrangeiro que queiram participar do nosso desenvolvimento, trazer recursos e gerar prosperidade e emprego. 


Como seriam estes mecanismos de controle a que você se refere?

 
Na época do debate sobre o parecer da AGU, eu até propus a criação de um Conselho Nacional de Terras, que teria  representantes dos principais ministérios: Planejamento, Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento... A empresa de capital estrangeiro que quiser adquirir terras apresenta seu projeto para este Conselho, explicando todas as suas etapas, como será o seu desdobramento, de que modo agrega valor ao país. 

E o Conselho dá seu parecer, considerando o interesse do país, naturalmente. Pensei em uma composição o mais plural possível: Meio Ambiente para atestar que o projeto não traz risco de degradação ambiental, o Exército para ver a questão das fronteiras, o Incra para considerar demarcação fundiária e integração dos produtores... Imagino que o Conselho de Terras possa ser vinculado ao Ministério do Planejamento, para que tenha sempre a visão de longo prazo do país que queremos – algo que, a meu ver, está fazendo falta.


Que critérios, a seu ver, deveriam nortear a análise que o Conselho faria sobre cada projeto de aquisição de terras?

 
Vejo alguns direcionadores que seriam importantes. A aquisição é para uma atividade econômica que utiliza a nossa base fundiária de um modo que interessa ao Brasil? Esta atividade contribui em certo grau para um adensamento da cadeia de agregação de valor e geração de empregos aqui dentro do país, em vez de simplesmente significar exportação de  matéria-prima sem industrialização? É claro que se eu planto florestas não significa que eu tenha aqui dentro, necessariamente, o último elo de adensamento da cadeia, até porque isso não faz sentido em uma economia globalizada como a que temos, em que não se pode ser o mais competitivo do mundo em absolutamente tudo. Mas quem compra terras deve ter um projeto que proporcione ao menos um razoável grau de adensamento da cadeia, ou contribua para a formação de clusters competitivos. Outro direcionador: as terras estão em uma área do país, ou de uma região do país, que seja interessante desenvolver?  

 
Uma vez aprovado o projeto, haverá alguma supervisão?

 
Sim, haverá. Em primeiro lugar, porque no Brasil sempre se desconfia de que há uma distância entre o que é prometido e o que é feito. Então, no projeto que apresentei, eu propus algumas coisas periféricas. O governo nem precisa fiscalizar. Basta contratar firmas de auditoria reconhecidas, como fazemos na área contábil, para checar se o empreendedor está cumprindo aquilo que se comprometeu a fazer perante o governo. 


A quem você apresentou a proposta?

 
Expus a vários líderes políticos. Um deles foi o Fernando Henrique, que recebeu bem. Mostrei aos deputados da bancada ruralista. Mas eles apresentaram um outro projeto eliminando qualquer restrição. O que eu proponho é um processo que não seja nem à direita, nem à esquerda. A realidade é que foram fatores políticos que determinaram aquele parecer da AGU obstaculizando a compra de terras por estrangeiros. O ano era 2010, Lula concluía o segundo mandato e Dilma concorria pela primeira vez. Havia uma inquietação, um receio sobre compra de terras por estrangeiros. 

Depois que saiu o parecer da AGU fechando a porta, eu disse a vários deputados: minha gente, vejam o que estamos fazendo com o país ao barrar investimentos estrangeiros sem qualquer critério ou distinção... Imagine que você mora em um apartamento. 

Tem gente que você quer receber, tem gente que você não quer. Não faz sentido colocar uma tranca na porta para impedir todo mundo de entrar. Eu colocaria um olho mágico, ao invés da tranca. Você espia e vê se quem está batendo na porta é um cara que você quer receber. Se for, você abre a porta com prazer e até oferece um copo de vinho. Do contrário, não deixa entrar de jeito nenhum.


Por exemplo?

 
Fundos soberanos. Acho que para eles não devemos liberar a compra de terras. As nossas terras são um ativo que deve ser colocado à disposição de empresas, tanto de capital brasileiro quanto estrangeiro, que venham gerar emprego – e emprego de qualidade. 


Como outros países estão tratando o tema da aquisição de terras por estrangeiros?

 
Os Estados Unidos, que também é um país continental, administra isso de “n” maneiras, mas de modo geral não há maiores obstáculos. Se tu vais lá produzir, está ok. A China trabalha com vários regimes de concessão, é um caso diferenciado. Eles têm dez vezes mais florestas que o Brasil. 

Canadá é grande, mas boa parte é gelo, não tem esse foco na utilização da terra. Na Austrália há relativa liberalidade, embora as restrições ambientais sejam muito fortes. Não há muito empreendimento de celulose por lá. 

Na Argentina o sistema político é complicado, mas tu podes comprar terras, não há problema. E tem o continente africano, mas não se pode fazer muita comparação porque depende do país de que se está falando. Em Gana tu podes ganhar do governo uma concessão de 1 milhão de hectares, por exemplo. 


É o extremo oposto.

 
Sim, é um extremo que não serve de comparação. Mas os países estão tentando atrair investimentos e entre outras medidas estimulam o cultivo de suas terras. A Jordânia já esteve aqui oferecendo 200 mil hectares para nós, no tempo em que éramos Aracruz. O Peru também quis nos levar para lá. 

O governo de Alan Garcia fez um esforço muito grande para captar investidores e várias empresas americanas foram para lá. O Paraguai também nos consultou sobre possibilidade de empreender por lá.

Inclusive o governo paraguaio mandou para cá um pessoal para ver como funciona o nosso setor, com o objetivo de criar um sistema regulatório para atração de investimentos relacionados ao cultivo de terras. O Brasil tem de ser atrativo também para esses empreendimentos. 

Repito, estamos falando de uma empresa brasileira de capital estrangeiro, como está previsto na constituição do país. Está, portanto, totalmente sujeita à caneta brasileira. 

Qual é o risco que temos? 

Não há risco. A não ser xenofobia, aqueles medos que estão no subconsciente das pessoas – “eles vão vir e vão tomar conta, vão dominar o país”, essas coisas.


Medo que se conecta com o que acontece em países africanos. 

 
É. Mas a África não serve de parâmetro. Em certos países da região, há uma organização quase tribal, sem sistema político nenhum. Em outros, como em Gana, há uma estrutura mais forte.