sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Política industrial brasileira é condenada na OMC


O governo brasileiro poderá recorrer da decisão. Mas a decisão é um dos maiores golpes já sofridos pelo Brasil no organismo internacional




A Organização Mundial do Comércio (OMC) condena a política industrial brasileira e exige que políticas de incentivos fiscais e redução de IPI adotados ainda pelo governo de Dilma Rousseff sejam abandonadas, pelo menos da forma que são aplicadas.

O governo brasileiro poderá recorrer da decisão. Mas a decisão é um dos maiores golpes já sofridos pelo Brasil no organismo internacional.

Num informe ainda confidencial de 400 páginas, os juízes da entidade atenderam ao pedido do Japão e da UE, que alegavam que a política de incentivos fiscais aos setores de telecomunicações automóveis e tecnologia é ilegal e afeta empresas estrangeiras de forma “injusta”.

O principal foco é o Inovar Auto, mecanismo que garantiu uma redução de impostos para o setor automotivo com fábricas instaladas no País.

O estabelecimento do processo ainda contou com a participação de EUA, Argentina, Austrália, China, Indonésia, Rússia e Coreia, todos na condição de observadores. Por meses, os juízes da OMC foram obrigados a avaliar as leis nacionais.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a entidade indicou que dar incentivos fiscais, por si mesmo, não seria uma violação das regras.

Mas a forma utilizada pelo Brasil representou uma ilegalidade. Isso por conta das exigências que o governo fez para beneficiar as empresas com taxas menores.

Uma das exigências é de que montadoras produzissem localmente. Para os juízes, o critério representa uma espécie de subsídio disfarçado e que, portanto, seria ilegal.

“O Brasil introduziu uma série de medidas para permite que as empresas domésticas reduzam suas obrigações para pagar impostos” indicou a delegação japonesa.

“Ao lado de um sistema de impostos pesado e complexo, essas medidas tiveram sérios impactos no comércio e afetaram uma ampla série de produtos”, denunciaram os japoneses.

Em setembro de 2011, o governo estabeleceu uma isenção de IPI para carros de montadoras que se comprometam a investir no País e comprem peças locais. Em 2012, o plano foi renovado por mais cinco anos, o que deixou os países ricos irritados. Incentivos fiscais também foram dados a computadores, smartphones e semicondutores.

Para Tóquio e Bruxelas, “as medidas de forma injustificada protegem as indústrias domésticas, desorienta investimentos e manipulam a balança comercial em detrimento de interesses legítimos” das empresas estrangeiras.

Um dos ataques é dirigido contra o Inovar-Auto, considerado como ilegal pelo Japão e a UE ao reduzir o IPI para certos modelos produzidos com um determinado número de peças nacionais. Se condenado, o Brasil terá de modificar o programa e os incentivos dados a montadoras.

O ataque também visava os incentivos fiscais a exportadores que se beneficiam do Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras, ou “Recap”.

O programa reduz o custo de produção a quem vai exportar. Para os japoneses, isso seria uma forma de subsídio.

O argumento é também de que o setor de informática e tecnologia é outro alvo de protecionismo no Brasil. Tóquio e Bruxelas questionam a Lei de Informática, o Programa de Inclusão Digital o programa de Incentivos ao Setor de Semicondutores, e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para TV Digital.

Para o governo asiático, todos esses programas criam reservas de mercado e dificultam as importações.

No passado, Tóquio já havia atacado as exigências do edital de licitação da faixa de frequência de 2,5 GHz – destinada ao serviço de quarta geração da telefonia móvel (4G).

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estipulou uma exigência de conteúdo nacional mínimo de 60% para quem quisesse participar de licitações, incluindo equipamentos e sistemas.

Durante a defesa, o Brasil garantiu que os “programas questionados pelo Japão fazem parte do esforço para promover um desenvolvimento econômico em linha com os objetivos e princípios da OMC”.

Segundo o Itamaraty, as medidas não tem qualquer “efeitos negativo nas importações”. “Ao contrario, eles estabelecem um caminho para uma melhor e mais sólida parceria com empresas estrangeiras.”
O Brasil também deixou claro seu desagrado com a atitude do Japão, depois que o País adotou o modelo asiático para a TV digital, preterindo o lobby dos EUA e Europa.
Na avaliação do Itamaraty, uma condenação “limita a habilidade dos membros em promover desenvolvimento social e tecnológico e reduziria seu espaço de política”.
Para o Brasil, isso iria “contribuir ou congelar o status quo e seus desequilíbrios em desenvolvimento econômicos”.
Na defesa, o Brasil apontou que os incentivos não estão ligados à origem brasileira dos produtos. Mas às metas de inovação e desenvolvimento sustentável.
“As medidas foram adotadas para promover o desenvolvimento do Brasil, mas não ignorando as obrigações multilaterais ou as oportunidades comerciais de outros membros.”
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O Brasil está (de fato) perto de ter seu próprio Donald Trump?


O deputado Jair Bolsonaro tem tentado capitalizar para si a vitória do bilionário americano, mas especialistas são cautelosos




São Paulo – O dia seguinte às eleições americanas amanheceu repleto de espanto e mea culpa. Afinal, nem estatísticos, analistas políticos ou jornalistas foram capazes de captar o movimento social que culminou com a vitória do republicano Donald Trump na corrida pela Casa Branca. Entre alguns brasileiros, a reflexão seguiu o mesmo tom: será que estamos subestimando uma tendência semelhante no Brasil?

Diante de uma severa crise política e econômica, o resultado das eleições municipais de outubro, de certo modo, confirmou uma orientação mais à centro-direita no país com a derrocada do PT e a vitória do PSDB, que deve comandar as principais cidades e o maior contingente de eleitores a partir de 2017.

Ao mesmo tempo, vitórias surpreendentes como a do tucano João Doria Jr (PSDB-SP) em São Paulo, que do mesmo modo que Trump chegou ao poder sem ter assumido um cargo eletivo antes, e a elevada taxa de abstenção no pleito municipal indicam um certo descrédito da população frente à classe política — um dos itens determinantes para a ascensão do republicano.

Contudo, para analistas consultados por EXAME.com, evidências como essas, por ora, não são suficientes para recriar, no Brasil, as condições para a tempestade perfeita que conduziu o bilionário ao poder.


O candidato


Até o momento, não há nenhum potencial candidato para as eleições de 2018 com um perfil equivalente ao de Trump. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ)  até tem tentado capitalizar para si a vitória do candidato republicano — mas, para além do tom agressivo dos discursos, são poucas as semelhanças entre ambos, na visão dos  especialistas.

Bolsonaro é um político de carreira. Trump chegou ao poder desafiando o establishment com seu bordão de que não é político, mas sim empresário. Bolsonaro se apresenta como o ícone da direita. Trump endossa um discurso moral conservador enquanto flerta com medidas da esquerda, como o protecionismo econômico.

“Todo fenômeno populista não pode se desvincular da atuação de seu personagem, do líder populista. Um fenômeno populista não é reproduzível. Da mesma forma que não existe o peronismo sem o Perón, não existe o trumpismo sem Trump”, diz Fernando Schüler, professor de ciências políticas do Insper.

A sagacidade do bilionário foi assimilar o senso comum do americano médio como matéria prima para sua campanha. “O establishment político democrata perdeu a mão do pensamento do cidadão comum que pagou uma parte da conta da globalização, que perdeu emprego, que viu empresas saírem dos Estados Unidos”, afirma Schüler.


O cenário


A reação de parte do eleitorado americano não foi nova, de acordo com Bernardo Conde, professor de antropologia da PUC-Rio. “Falando dos últimos 50 anos, toda vez que houve uma escassez na oferta de trabalho, os imigrantes passam a ser um problema dentro daquela sociedade. Aqueles que são nacionalistas e xenófobos começam a ter uma força de discurso”, afirma.

Nesse contexto, pelo menos por ora, segundo os analistas, o Brasil também se distancia do cenário norte-americano. “O ciclo de conservadorismo no Brasil tem causas diferentes que o dos EUA porque a gente não sofre com a falta de trabalho ou de um gasto público alto por causa de imigrantes”, diz Conde.

Se levarmos em conta os últimos pleitos e a condição partidária nacional, o discurso radical até tende a aglomerar  um certo contingente de seguidores, mas nunca prevaleceu. “Não chegamos a esse ponto em que a escolha é entre a extrema direita ou nada”,  afirma Roberto Romano, professor emérito de ciências políticas da Unicamp.

Mas há elementos que nos aproximam daquele contexto. Tal qual os americanos, os brasileiros também experimentam uma sensação de desconfiança diante das instituições políticas. “No Brasil, quem assumir esse modelo do Doria, sobretudo se ele conseguir algumas vitórias em São Paulo, terá uma fórmula praticamente infalível”, afirma Romano.

Da lista de eventuais pré-candidatos para a corrida presidencial em 2018, não há nenhum empresário ou nome de fora da política com potencial de assustar os políticos de carreira. Mas, diante da fala dos analistas, a expectativa é de uma campanha (no mínimo) repleta de conceitos emprestados do mundo dos negócios.
 
 
 

OMC vê ilegalidade na política industrial brasileira






A queixa contra os programas foi levada ao órgão pela UE e Japão


Da Redação


redacao@amanha.com.br
OMC considera que programas da política industrial brasileira são ilegais


A Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciou nesta sexta-feira (11) que considera que boa parte da política industrial estabelecida no governo Dilma Rousseff viola as regras internacionais e precisa ser alterada. A posição do órgão afeta programas como a Lei de Informática, o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap), o Inovar-Auto, além de outros, pois empresas que receberam benefícios tributários em setores como papel e celulose, eletrônico, siderúrgico e automotivo serão atingidas. Na visão dos técnicos da OMC, programas que dão benefícios fiscais a companhias preponderantemente exportadoras foram considerados ilegais. Pelas normas do organismo internacional, normalmente esses programas precisam ser desmontados imediatamente.

A queixa contra o Brasil foi levada à OMC pela União Europeia (UE) e Japão, e é acompanhada como terceira parte pelos Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Austrália, Coreia do Sul, Taiwan, Canadá, Argentina, Colômbia, Cingapura, África do Sul, Turquia e Ucrânia. “Esse é um dos contenciosos mais importantes atualmente na OMC, e deve prosseguir, porque o Brasil certamente vai recorrer ao Órgão de Apelação, como ocorre com frequência nas disputas comerciais”, informa o jornal Valor Econômico em sua edição eletrônica desta sexta. 

De acordo com a publicação, a derrota brasileira não é uma surpresa. “Setores do governo e da indústria já vinham examinando informalmente possibilidades de mudanças em programas mais vulneráveis”, revela o Valor. De acordo com o ministro Gilberto Kassab, da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, a decisão deve ter impacto para as empresas, mas é importante que haja definições que tragam clareza para as normas. “Para investidores, a estabilidade de regras é importante”, opinou. 



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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Os EUA de Trump na mira da Gerdau






André Gerdau projeta investimentos na infraestrutura do país, o que pode aumentar a demanda para a maior empresa do Sul

Por Marcos Graciani
graciani@amanha.com.br

 André Gerdau, CEO da Gerdau



Responsável por um terço do faturamento da Gerdau, os Estados Unidos foram o tema principal da coletiva de imprensa desta quarta-feira (09) sobre o resultado trimestral da companhia. O diretor-presidente da fabricante de aço, André Gerdau Johannpeter (foto), se mostrou otimista com os rumos que Donald Trump pretende dar ao país – especialmente em investimentos no setor de infraestrutura. “A expectativa é que ele faça um bom governo e gere empregos. Na sua plataforma de campanha, Trump deu muita ênfase ao fato da necessidade de se investir na infraestrutura, o que afetará positivamente o setor do aço”, opina Johannpeter. 

O líder da maior companhia da região, de acordo com o ranking 500 MAIORES DO SUL, publicado por AMANHÃ em parceria com a consultoria PwC, não acredita que Trump tomará atitudes protecionistas contra empresas estrangeiras sediadas nos Estados Unidos. “Não vejo isso com preocupação, pois somos um player como qualquer outro e estamos lá desde 1999. Mais que um governo, o importante é que as instituições sejam fortes”, declarou Johannpeter. O executivo exemplificou a situação contando que a Gerdau, juntamente com um pool de empresas do setor, entrou com um pedido de análise no departamento de comércio norte-americano para que o órgão investigue o crescimento da importação de vergalhões. A alta frequente do produto nos últimos dois anos tem prejudicado as produtoras de aço estabelecidas nos Estados Unidos. “A entidade está analisando se é um caso de dumping para, então, tomar as medidas cabíveis”, disse. Johannpeter também acredita que o republicano não fará mudanças em acordos comerciais já consolidados como o Nafta, bloco econômico formado por México, Canadá e Estados Unidos em 1992. 


Resultados

 
A Gerdau encerrou o terceiro trimestre com receita líquida de R$ 8,7 bilhões, uma redução de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. O valor é decorrente dos menores volumes vendidos em todas as operações de negócio do grupo. As vendas físicas apresentaram queda de 21% frente ao terceiro trimestre do ano anterior, totalizando 3,7 milhões de toneladas, enquanto a produção de aço foi de 3,9 milhões de toneladas, volume 7% inferior ao terceiro trimestre de 2015. No terceiro trimestre, o lucro líquido consolidado ajustado foi de R$ 95 milhões, uma redução de 51% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos nove primeiros meses do ano, o lucro líquido alcançou R$ 293 milhões (veja os principais indicadores na tabela ao final desta reportagem).

Segundo o mercado, embora o resultado tenha vindo relativamente fraco, e abaixo das expectativas, já era esperado que o terceiro trimestre ainda fosse um período desafiador para a companhia. “Mantemos nossa visão positiva sobre a empresa, que deve apresentar melhoras operacionais a partir do próximo ano com base em um número maior de obras de infraestrutura e possivelmente retomada dos indicadores de construção civil e varejo, tanto no Brasil como nos outros países em que opera. Vale ressaltar que se for confirmado maior investimento no segmento de infraestrutura nos Estados Unidos, a companhia se beneficiará dessa melhora”, projeta a XP Investimentos em relatório. 


Gerdau digital

 
Na área de inovação digital, a Gerdau recentemente fechou uma parceria inédita com a GE Digital. A empresa está sendo a primeira na indústria de aço mundial a implantar um sistema de monitoramento e diagnóstico on-line, que utiliza avançadas ferramentas de análise de dados para antecipar possíveis falhas nos equipamentos e realizar manutenção preventiva.  “A implantação de iniciativas diferenciadas, como o projeto com a GE Digital, já é resultado da evolução digital que estamos vivendo. Esse projeto está gerando ganhos importantes para as nossas usinas no Brasil, como aumento da eficiência industrial e redução de custos”, afirma Johannpeter. Estão sendo instalados 30 mil sensores em mil equipamentos de 11 plantas no Brasil, que permitem o monitoramento do desempenho dos equipamentos em tempo real. 

 Informações selecionadas
3º Tri 16
3º Tri 15
Var. (em %)
9M 16
Var. (em %)
Vendas (Mil Toneladas)
3.668
4.669
(21)
11.759
(10)
Receita Líquida  (R$ Milhões)
8.699
11.925
(27)
29.032
(12)
Margem Ebitda  (%)
13,8
10,8

11,5

Lucro Líquido ajustado (R$ Milhões)
95
193
(51)
293
(60)


http://www.amanha.com.br/posts/view/3083

Dólar salta 4% e encosta em R$ 3,35 com BC, Trump e Temer


Pesavam para a alta da moeda americana os fluxos de saída de dólares e preocupações sobre o futuro político do presidente Michel Temer


São Paulo – O dólar aprofundou ainda mais a alta nesta quinta-feira, a cerca de 4 por cento e encostando em 3,35 reais, com forte onda de aversão ao risco por conta da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e pela ausência do Banco Central brasileiro no mercado de câmbio.

Pesavam ainda fluxos de saída de dólares e preocupações sobre o futuro político do presidente Michel Temer.

Às 12:45, o dólar avançava 3,97 por cento, a 3,3370 reais na venda, depois de ter marcado 3,3500 reais na máxima do dia. O dólar futuro marcava quase 4 por cento de alta neste início de tarde.

“O investidor estrangeiro está ‘stopando’ as posições em dólar e saindo”, comentou o gerente da B&T Corretora, Marcos Trabbold.

O dólar já abriu em forte alta esta sessão após o BC anunciar, no noite passada, que interrompeu a oferta de leilões quase diários de swaps cambiais reversos, equivalentes à compra futura de dólares. O objetivo é “acompanhar e avaliar as atuais condições de mercado” após a inesperada vitória de Trump.

Segundo dados do BC, há 6,491 bilhões de dólares em contratos de swap tradicional –equivalentes à venda futura de dólares– que vencem em 1º de dezembro e que, se o BC mantivesse o movimento até então, poderiam ser anulados se os leilões de reversos fossem mantidos neste mês.

“É um volume considerável”, comentou o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado, lembrando que o estoque total de swaps tradicionais equivale a 24,106 bilhões de dólares.

Em outubro, o BC anunciou que não anularia integralmente os contratos que venceram em 1º de novembro, o que também gerou pressão altista sobre a moeda norte-americana.

“O mercado não sabe até quando o BC não fará leilões de swap reverso e já está procurando ‘hedge’, antecipando uma ausência futura”, explicou o superintendente da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva.

No Chile, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou nesta sessão que a autoridade monetária está monitorando as condições do mercado de câmbio para ajudar a não colocar mais pressão e que, se for necessário, tomará as “medidas adequadas”.

Contribuía também para a disparada do dólar a notícia de que a defesa da ex-presidente Dilma Rousseff entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) documentos que apontam que uma doação de 1 milhão de reais feita à campanha eleitoral de 2014 pela empreiteira Andrade Gutierrez foi direcionada à campanha do então vice-presidente Michel Temer, companheiro de chapa da petista na eleição daquele ano.

“O externo predomina, mas aparecem notícias negativas e o investidor prefere desmontar sua posição e ver como vai ficar”, resumiu um profissional da mesa de câmbio de um banco nacional.

No exterior, os investidores ainda pressionavam as moedas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, após a vitória de Trump à Presidência dos Estados Unidos que, apesar de ter adotado um tom mais conciliador em seu discurso após as eleições, ainda gerava cautela nos mercados.

Protecionismo de Trump pode ajudar agronegócio brasileiro


Protecionismo de Trump pode ajudar agronegócio brasileiro

Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, se colocar em prática as suas medidas polêmicas de campanha, mais vai ajudar o agronegócio do que atrapalhar.

Brasil e Estados Unidos têm muito em comum quando se trata de agropecuária, mas pouca relação comercial nesse campo.

Ao contrário, são fortes concorrentes mundo afora, tanto em grãos como em carnes.

Entre as promessas de Trump, está a de fechar mais a economia norte-americana e frear os acordos comerciais, com o intuito de proteger a produção e o emprego nos Estados Unidos.

Essas barreiras são ruins porque só agora os Estados Unidos abriram as portas para a carne brasileira, não obstante a objeção dos pecuaristas norte-americanos. Mas é um acordo, por ora, de dimensão limitada. As cotas de exportação são pequenas.

É na promessa de frear acordos, no entanto, que o Brasil pode levar vantagem.

Mais do que vantagem, terá mais tempo para fazer uma lição de casa que nunca fez, a de buscar acordos comerciais pelo mundo.

Trump promete abortar o que poderá ser um dos principais algozes do agronegócio brasileiro: o TPP (acordo Transpacífico, que engloba 12 países).

Com ele, os Estados Unidos teriam acesso a uma boa fatia do mercado mundial agrícola. Sem reduções de tarifas, os países componentes do acordo já representam US$ 57 bilhões para as exportações do agronegócio norte-americano. Ou seja, 43% de todas as vendas externas do país nesse setor.

Imagine uma redução a zero das tarifas comerciais entre esses países nos próximos anos.
Os Estados Unidos, concorrentes do Brasil, teriam a porta aberta em pelos cinco novos países em que eles ainda não têm acordo, entre eles o rico mercado do Japão.

Esses cinco países —Japão, Malásia, Vietnã, Nova Zelândia e Brunei— somam 257 milhões de habitantes e já importam US$ 17 bilhões de produtos agropecuários norte-americanos.

As portas abertas dos 11 países do Transpacífico para os Estados Unidos significariam uma tarefa mais árdua para o Brasil negociar carnes, milho e até soja nesses mercados. E isso ocorreria exatamente agora que o país busca com mais ênfase o mercado asiático.

A missão de Donald Trump para abortar acordos comerciais, inclusive o Transpacífico, não será fácil.
De um lado, terá o apoio dos eleitores de cidades onde fábricas foram fechadas, devido às importações industriais de outros países.

De outro, no entanto, terá a pressão do cinturão agrícola, grande apoiador do novo presidente, para que mantenha esse caminho aberto para seus produtos agropecuários.

Trump é apenas mais um passageiro da Casa Branca. Ele poderá retardar os acordos comerciais, mas, se não fizer isso agora, outros farão.
 
O Brasil ganha tempo nesse período de atraso.


NÚMEROS

 
O fluxo de comércio entre Brasil e Estados Unidos ficou em US$ 39 bilhões nos dez primeiros meses deste ano. Apenas 9% desse valor se refere a produtos do agronegócio.

Na lista das principais exportações do Brasil para os norte-americanos estão café, produtos hortícolas, frutas, preparações de carnes, tabaco e açúcar.

O café lidera, com receitas de US$ 800 milhões neste ano.

Do lado das importações, poucos produtos do agronegócio aparecem com destaque na lista das compras brasileiras. Um deles são os cereais, cujos gastos brasileiros somaram US$ 177 milhões até outubro.

O Brasil é dependente dos Estados Unidos, no entanto, em fertilizantes e produtos químicos destinados à agricultura 

(Folha de S.Paulo, 10/11/16)

Exportação recorde e preços do açúcar elevam tonelada de cana para R$ 100

Exportação recorde e preços do açúcar elevam tonelada de cana para R$ 100

Após um período amargo na participação do mercado externo de açúcar, o Brasil voltou a sentir o sabor desse setor.

O país fechou os dez primeiros meses do ano com exportações recordes de 23,75 milhões de toneladas, 26% mais do que os 18,8 milhões de igual período de 2015.

O novo cenário melhora o caixa tanto das usinas como dos produtores de cana-de-açúcar.

A indústria viu encurtar as receitas e teve um crescimento do endividamento nesses últimos anos de crise do setor. Já os produtores de cana experimentaram custos elevados em um período de preços baixos para a matéria-prima.

O superavit da produção mundial do açúcar, em relação ao consumo, e a baixa nos preços externos fizeram as empresas desviarem a produção interna mais para o etanol do que para o açúcar nos anos recentes.

O novo ciclo de deficit mundial de açúcar, com o consumo superando a produção, faz com que as usinas invertam suas posições. Viraram a torneira e passaram a produzir mais açúcar do que etanol.

Preços melhores no mercado externo e aumento das exportações brasileiras trouxeram mais receitas para o setor.

Graças ao açúcar, o valor do Consecana (que contempla os preços nos diversos segmentos do setor) é recorde. A tonelada de cana-de-açúcar também subiu para o recorde de R$ 100 por tonelada no mês passado, permanecendo em R$ 87 na média da safra (abril a outubro).

O Brasil é favorecido também por problemas na produção de açúcar em outros competidores mundiais. A Índia, por exemplo, tradicional fornecedor de açúcar no mercado externo, lidera as importações no Brasil.

Os indianos superaram os chineses e já compraram 1,98 milhão de toneladas de janeiro a outubro, gastando US$ 687 milhões. O aumento em volume foi de 110%; em valores, 127% no período.

A China, líder no ano passado, ocupa o segundo posto, com compras de 1,75 milhão de toneladas e gastos de US$ 563 milhões.

Os países da Ásia já compraram 9,1 milhões de toneladas de açúcar do Brasil neste ano, 34% mais do que de janeiro a outubro de 2015. No mesmo período, os países do Oriente Médio adquiriram 4,8 milhões de toneladas, com aumento de 45%.

*
Etanol sem competitividade 

 
A alta nos preços do etanol tornou esse combustível praticamente sem competição com a gasolina em todos os Estados brasileiros.

Mato Grosso é o Estado onde os preços do etanol ainda são os mais favoráveis ao consumidor (R$ 2,51 por litro). A paridade, no entanto, já é de 70,7%.

No principal Estado produtor de álcool, a paridade é de 76,1%, com o preço médio da gasolina em R$ 3,51; e o do etanol, em R$ 2,67, conforme dados da ANP e da Única.
 
No Amapá, tanto a gasolina como o etanol custam R$ 3,71 por litro, conforme os dados da ANP.
 
Em algumas cidades paulistas, como Jaboticabal e Adamantina, os preços do etanol ainda têm paridades inferiores a 70%. Acima desse percentual, a utilização da gasolina torna-se mais vantajosa, segundo pesquisas de consumo (Folha de S.Paulo, 9/11/16).

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