"Vocês têm uma das
maiores economias e há gente com trilhões de dólares nos bolsos
procurando projetos para investir", disse o CEO mundial do Santander
Investimento: interesse dos estrangeiros não diminuiu com a crise política (denphumi/Thinkstock)
São Paulo — Superar a instabilidade
política,
melhorar o trabalho das agências regulatórias, assegurar retorno e
previsibilidade aos investidores e tornar as regras de licenciamento
ambiental mais eficientes.
Esses são alguns dos desafios que o Brasil deve enfrentar para
destravar investimentos, na visão de Hélio Magalhães, diretor do Citi
Brasil, de José Antônio Alvarez, CEO mundial do Santander, de Ricardo
Ramos, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (
BNDES) e de Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe.
Os quatro participaram de um debate promovido pelo Fórum de Investimentos Brasil, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizado em São Paulo nesta quarta-feira.
Os problemas não são pequenos. Por mais que os indicadores econômicos
mostrem pequenas melhoras e a promessa de reformas como a trabalhista e
a previdenciária encha os olhos do mercado, ainda falta aos
investidores a sensação de segurança.
“O que eles esperam é que haja mais transparência”, disse Magalhães,
do Citi. “Eles esperam saber como vai funcionar o processo e ter a
certeza de que as regras serão mantidas no longo prazo.”
Se parte disso for resolvido, asseguraram, o percentual de
investimentos no país, que no ano passado foi de menos de 20% do PIB
(baixo para o padrão de países emergentes), deve aumentar.
“É verdade que as dificuldades brasileiras são grandes, mas áreas
como a de infraestrutura continuam sendo interessantes para os
investidores”, disse Alvarez, do Santander. “Comparando a outros países,
é muito difícil você encontrar algum que reúna características como as
encontradas por aqui. Vocês têm uma das maiores economias e há gente com
trilhões de dólares nos bolsos procurando projetos para investir.”
Para que esses recursos cheguem ao país, a atuação do governo não
deve ser dispensada. A grande questão, debatida por eles, é qual espaço
deve ser ocupado por ele.
“O ideal é que recursos públicos só sejam utilizados para
financiamentos quando o privado não for opção”, defendeu Familiar, do
Banco Mundial.
O papel do BNDES também precisa mudar, disseram. Para Magalhães e
Alvarez, o banco de fomento deve abandonar a ideia de financiar
totalmente os projetos e focar na assessoria das companhias e na divisão
de riscos com as instituições privadas.
“Por muito tempo, o governo ocupou lugares errados, se excedendo nos
financiamentos”, disse Magalhães. Além de causar prejuízos financeiros,
disse ele, isso asfixiou o próprio desenvolvimento do mercado de
capitais.
Sobre a atuação do BNDES, Ramos disse que o banco procura diminuir
sua participação em projetos e melhorar a situação do mercado de
capitais.
“Recentemente, aprovamos uma linha para garantir a liquidez de
debêntures. A gente por um período, se houver um default [calote], pode
pagar juros e principal para aumentar a segurança do investidor. Tomamos
uma série de medidas para que o BNDES tenha um papel de estruturador e
não só de financiador”, disse Ramos.
Ramos entrou de forma interina no lugar de Maria Silvia Bastos
Marques e deixará o posto amanhã (01), dando lugar a Paulo Rabello de
Castro, atual diretor do IBGE.
“O BNDES tem que ser como um pai que ajuda a caminhar e também sabe soltar a bicicleta”,