SÃO
PAULO (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social(BNDES) ajudou a impulsionar a carreira do presidente-executivo da
JBS, Wesley Batista, de dono de açougue até chegar a ser o magnata da
carne mais poderoso do mundo. Agora o banco está fazendo de tudo
retirá-lo da companhia.
O acordo de delação premiada em maio, que
expôs a propensão da bilionária família Batista a subornar políticos,
levou a BNDESPar, braço de investimento do banco estatal, a buscar
retirá-lo da JBS. O banco culpou sua conduta pela queda de 28 por cento
do valor das ações da empresa neste ano.
Ambos os lados estão
aumentando seus esforços para influenciar os acionistas da JBS antes da
assembleia geral em 1º de setembro, que decidirá o destino de Wesley,
que está no comando da empresa desde janeiro de 2011 --quando substituiu
o seu irmão mais novo Joesley.
O confronto é uma lembrança das
relações próximas entre agentes públicos, a JBS e a família Batista, e o
apoio que Wesley ainda possui entre alguns dos acionistas da companhia.
Além da saída de Wesley da presidência-executiva, os acionistas também
votarão resoluções para processá-lo juntamente com outros executivos.
Embora
o resultado seja difícil de prever, quase uma dúzia de banqueiros,
insiders e investidores da empresa, que pediram para permanecer
anônimos, não compraram completamente o argumento de Wesley, feito em
reuniões com investidores em Nova York este mês, de que somente ele é
capaz de finalizar duas vendas de ativos e listar em bolsa a subsidiaria
dos Estados Unidos no próximo ano.
Nessas reuniões, Wesley
enfatizou seu sucesso recente em fechar um acordo de refinanciamento de
dívida de 6,5 bilhões de dólares e garantir o fornecimento de gado com
fazendeiros apesar das preocupações de que seu acordo de delação
reduziria o caixa da JBS, disseram os investidores.
Ao mesmo
tempo, Wesley sugeriu que está aberto a demitir-se uma vez que conclua
uma lista de negócios em sua agenda, disseram três fontes. Ele também
disse que os resultados do terceiro trimestre poderiam estar entre "os
mais fortes" na história da JBS por causa da recuperação da Seara e
sólidas operações nos EUA.
Em uma declaração à Reuters, a JBS
disse que "tem trabalhado intensamente para adotar várias medidas que
visam proteger os melhores interesses da empresa e dos acionistas". A
empresa não quis fazer comentários adicionais.
Enquanto alguns
investidores elogiaram as habilidades de liderança do executivo de 47
anos, um deles ressaltou que um racha com o BNDES poderia ser
prejudicial se Wesley permanecer. Os acionistas minoritários da JBS
incluem fundos de previdência e fundo mútuos como Fidelity Investments e
Vanguard Group.
Os representantes do BNDES têm tentado
agressivamente convencer os investidores de que Wesley não é adequado
para administrar a JBS, disseram quatro pessoas familiarizadas com a
estratégia do banco. Se necessário, o BNDES, que tem uma participação de
21 por cento na JBS, poderia solicitar à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) que proíba os Bastistas de votarem na assembleia de 1º
de setembro, disse um deles.
Wesley e Joesley Batista controlam 42 por cento da JBS.
PARTIDA GRADUAL
Ainda
assim, a saída do CEO poderia ocorrer de forma gradual e ordenada,
disse o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, a repórteres em 8
de agosto. A Caixa Econômica Federal, que possui 5 por cento da JBS,
provavelmente votará em linha com BNDES, disse.
Outra pessoa
próxima à estratégia do banco disse que o BNDES não se opõe a que Wesley
se junte ao comitê executivo recentemente criado pela empresa, que
supervisiona a estratégia, mas não está envolvido com as operações do
dia-a-dia.
Esta semana, a empresa de voto por procuração
Institutional Shareholder Services Inc recomendou aos acionistas da JBS
votar para processar Wesley Batista e contra os planos para aumentar o
salário.
O BNDES e a Caixa se recusaram a comentar.
Um fator que
joga contra o plano de expulsão do CEO é a falta de potenciais
substitutos, disseram alguns executivos de bancos e investidores. Ainda
assim, o BNDES poderia endossar o presidente do conselho de
administração Tarek Farahat como um sucessor potencial, disse uma pessoa
familiarizada com a estratégia do banco.
Alguns investidores
sugeriram que o BNDES, como banco estatal administrado por uma pessoa
nomeada pelo presidente Michel Temer pode ter um conflito de interesses.
Temer foi implicado no acordo de delação premiada dos Bastistas e tem
negado qualquer irregularidade.
"Wesley ainda pode atrair o apoio
dos investidores, porque não está claro qual é o plano alternativo do
BNDES e ninguém quer o risco de uma mudança descontrolada", disse outro
investidor.
O duplo papel do BNDES como representante do governo
envolvido nas denúncias de corrupção e credor e acionista da JBS é
"suspeito", disse um investidor. A maioria dos credores que participaram
do acordo de refinanciamento da JBS está inclinada para o lado do
BNDES, já que os compromissos para estender a dívida da JBS estão
sacramentados contratualmente, disse um executivo de banco.
A JBS,
que se tornou uma gigante doméstica através de uma série de aquisições
locais autofinanciadas, começou a se apoiar fortemente no BNDES em 2005,
quando Joesley Batista convenceu os executivos do banco de fomento de
tornar a JBS em um ator global dominante, disse ele a procuradores em
maio.
A empresa usou mais de 3 bilhões de dólares em empréstimos
do BNDES para fazer aquisições nos Estados Unidos e em outros lugares.
Quando as negócios pesaram sobre a dívida da JBS, o BNDES voltou a
ajudar a empresa.
"Foi nesse contexto que a ideia de criar uma
grande empresa multinacional brasileira nasceu", disse Joesley Batista
aos promotores em um depoimento gravado em 3 de maio. Sem o BNDES, "não
teria acontecido tão rápido", acrescentou.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro e Tatiana Bautzer em São Paulo)
https://extra.globo.com/noticias/economia/exclusivo-bndes-busca-derrubar-wesley-batista-do-comando-da-jbs-21746426.html
BNDES busca derrubar
Wesley Batista do comando da JBS
28
Reuters Guillermo Parra-Bernal
25/08/201708h34
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