Pressionada por um déficit fiscal sem precedentes, onde já se gasta
toda a Receita Líquida para quitar despesas obrigatórias, uma Dívida
Pública explosivamente crescente (79,4% do PIB) e um descalabro moral
que nos coloca como o país mais corrupto do mundo, a equipe econômica
tenta sanear o que sobrou das Finanças Públicas, o pós-Dilma. Toda essa
devastação, que continua causando um clima de desesperança em grande
parte dos brasileiros, está também criando as bases para um novo tempo,
com mais alento.
Já é perceptível, ainda que tênue, a melhora em alguns indicadores
socioeconômicos, como o nível de emprego na construção civil e no setor
automobilístico, dois vetores importantes para a alavancagem do consumo e
da arrecadação tributária. Há um número grande de operações de compra,
venda e fusões/aquisições entre empresas privadas, notadamente pelo
capital chinês, que em 2016 esteve presente em 35% dos negócios
efetuados. Atualmente o capital privado chinês negocia a compra de uma
seguradora brasileira e uma importante corretora de valores. A Eldorado
Celulose (do grupo JBS), está sendo vendida para uma gigante de capital
indonésio.
Em recente viagem ao exterior, Temer aproveitou para divulgar um amplo projeto de concessões e privatizações, que não poderiam ser absorvidas pelo capital nacional, em função da fragilidade financeira dessas empresas. Existe um dado altamente propício ao Brasil, que poderia dinamizar a retomada da Economia Brasileira.
Segundo dados oficiais recentemente publicados, há no mundo,
atualmente, algo como US$ 40 trilhões investidos em títulos públicos de
diversos países, onde 25% (US$ 10 trilhões) está sendo remunerado a
taxas de juros próximas de zero. Levando-se em consideração que há 159
estatais federais no Brasil, muitas delas com sérios problemas de
gestão, já traria um grande alívio às Finanças Públicas, sem contar um
número incalculável de estatais mal administradas no âmbito dos
municípios. Esse processo seria também um forte alavancador do crédito,
já que as taxas de juros estão declinando.
Há ativos estatais apetitosos em estágio de alienação: em junho
passado, a Eletrosul e a Shangai Eletric Power assinaram acordo
preliminar para a transferência de projetos de energia no Rio Grande do
Sul (R$ 3,27 bilhões); em agosto passado, a CEMIG abriu o período de
informação para os interessados na compra de participação da estatal
mineira na LIGHT; está em curso pelo Governo de São Paulo o processo de
venda de 40,6% no capital da CESP, onde abrirá mão do controle. Outros
negócios estatais também são alvo de interesse pelo capital estrangeiro:
Aeroporto de Congonhas e outros 13 terminais, Companhia Docas do
Espírito Santo, Lotex, 49% de participação na INFRAERO (Guarulhos,
Brasília, Galeão e Confins), 14 terminais portuários, Casa da Moeda,
Usina Hidroelétrica de Jaguara, diversos blocos de exploração de
petróleo e gás, Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais,
CEASA Minas, BR Distribuidora, SABESP, Banco do Brasil, Banrisul, CEF,
ELETROBRAS etc.
Pelo que se percebe, pelo menos em relação aos ativos do setor
elétrico, a potencial compradora poderá ser a China Shenhua Group,
classificada como a maior empresa de energia elétrica do mundo, avaliada
em US$ 278 bilhões e possuidora de uma reserva de caixa monumental.
Numa tentativa de aumentar a relevância do Yuan como moeda de reserva
global (conversível) e devido a uma crescente demanda no Brasil por
operações com a respectiva divisa, o governo chinês solicitou às
autoridades brasileiras o início de estudos em parceria, objetivando
criar uma Câmara de Compensação (Clearing House) para operar livremente a
moeda chinesa no país, abrindo um amplo espaço para facilitar a compra
de empresas brasileiras e ir diminuindo a dependência do uso do Dólar e
Euro, nessas transações.
Crise para uns, oportunidade para outros. Um permanente e triste aprendizado, para uma Nação que insiste em não aprender com os próprios erros (Fernando Pinho é economista, palestrante e consultor financeiro da Prospering Consultoria)
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