terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Recuperação se espalha e chega a mais de 60% dos setores da indústria

Recuperação se espalha e chega a mais de 60% dos setores da indústria

A indústria brasileira – que em 2017 voltou a crescer depois de três anos de queda – está vendo a recuperação se disseminar. O crescimento da produção industrial, no ano passado, foi além do setor automotivo, principal responsável pela retomada da indústria. Segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do IBGE, 58 dos 93 segmentos – 62% do total – apresentaram resultados positivos.

O movimento foi maior no quarto trimestre, quando 66 ramos avançaram em ritmo superior ao registrado no mesmo período de 2016. A disseminação do crescimento tem relação com o encadeamento entre setores, alavancado especialmente pelo setor automotivo.

A produção de veículos respondeu por metade da alta de 2,5% registrada pela indústria no ano passado. O bom desempenho acaba se refletindo em outros segmentos, como o de equipamentos de áudio e vídeo, borracha e plástico, têxteis e metalurgia. “O sinal é positivo e disseminado. Há um conjunto de desdobramentos e de relações intersetoriais que vão além do que a gente identifica como setor automotivo”, diz o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin.


Mas não é só a cadeia em torno da produção de veículos que tem se beneficiado. Fabricantes de equipamentos de informática, por exemplo, ou de comunicação também cresceram no ano passado. Na zona sul de São Paulo, uma fabricante de leitores de código de barras registrou um faturamento 20% maior em janeiro deste ano, na comparação com 2016. “Se continuar assim, vamos precisar rever o planejamento para o ano”, diz Marcos Canola, sócio e diretor comercial da Nonus.

Isso não significa, no entanto, expansão nem contratação de funcionários, porque ainda há capacidade ociosa. Durante a crise, a empresa reduziu a equipe pela metade, para 40 pessoas, cortou investimentos, fechou um depósito e segurou reajustes. Com a melhora dos resultados, que começou a aparecer no fim do ano passado, Canola está um pouco mais animado. Em abril, a Nonus participará de uma feira de negócios na China, depois de quatro anos de fora. “Não é para engatar uma quinta marcha, mas não dá para ficar parado”, diz o empresário.

Os movimentos conservadores da indústria têm o objetivo de se preparar caso a recuperação seja maior. Os dados do Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que o otimismo dos industriais ainda avança muito devagar. A prévia do índice de fevereiro, divulgado sexta-feira, 23, aponta avanço de 0,2 ponto, para 99,6 pontos. Se confirmado, será o maior patamar desde outubro de 2013. “Essa recuperação é gradual, embora tenha ganhado tração. Não dá ainda para dizer que o setor está otimista nem muito confiante”, diz a coordenadora da Sondagem da Indústria da FGV, Tabi Thuler Santos.



As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A retomada do investimento está disseminada – Editorial O Estado de S.Paulo


A retomada do investimento está disseminada–Editorial O Estado de S.Paulo

 


Todos os componentes da taxa de investimento cresceram em dezembro, afastando dúvidas sobre o ritmo da retomada da economia e indicando que as perspectivas para 2018 são mais favoráveis. Até a construção civil, cuja recuperação está atrasada em relação à dos demais setores, deu sinais positivos, segundo o Indicador Ipea Mensal de Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF relativo a dezembro e ao quarto trimestre de 2017.

Entre novembro e dezembro, o crescimento da taxa de investimento foi de 4,2%, com ajuste sazonal. Entre os meses de dezembro de 2016 e de 2017, o avanço foi de 2,4%. No quarto trimestre de 2017, o aumento foi de 1,7% em relação ao trimestre anterior e de 3,3% comparativamente ao quarto trimestre de 2016. São estimativas reveladoras das tendências recentes, mostrando que as empresas investem mais para atender à demanda crescente apontada por outros indicadores.

O consumo aparente de máquinas e equipamentos, por exemplo, obtido com base na produção industrial doméstica excluídas as exportações e incluídas as importações, aumentou 4,2% entre novembro e dezembro, favorecido pelo crescimento de 5,6% do volume de importações.

Entre os últimos trimestres de 2016 e de 2017, o aumento do consumo aparente de máquinas e equipamentos foi de 11,3%. O de importações chegou a 16,2% no mesmo período, embora em 12 meses esse indicador ainda seja negativo em 8,3%. A construção civil avançou 0,9% entre o terceiro e o quarto trimestres de 2017, mas em 12 meses ainda exibiu taxa negativa de 5,2%. Com o alto peso da construção civil na formação de capital, a retomada do setor ajudará a FBCF a mostrar um resultado geral mais vistoso em 2018.

Não se deve ignorar que o crescimento dos investimentos só ganhou força no último semestre e que ele se dá a partir de base de comparação baixa. Mostra disso é que, quando se comparam os últimos 12 meses com os 12 meses anteriores, a variação da taxa de investimento ainda é de -2%. 

Mas mais importante é que parece ficar para trás um longo período de recuo do investimento. Segundo o Ipea, a FBCF declinou moderadamente entre 2012 e 2014 e despencou em 2015 e 2016. Agora, cabe esperar que a necessidade de modernizar o parque industrial, introduzindo tecnologias novas e mais eficientes, ajude a dar ímpeto ao investimento (O Estado de S.Paulo, 26/2/18)

Fitch rebaixa ratings da Petrobras e da Eletrobras



A agência de classificação de risco Fitch rebaixou, de BB para BB-, o rating em moeda estrangeira da Petrobras, modificando também a perspectiva da nota da companhia de negativa para estável.

A Fitch rebaixou também, de BB- para B+, o rating em moeda estrangeira da Eletrobras, modificando também a perspectiva da nota da companhia de negativa para estável.

Os rebaixamentos ocorrem quatro dias depois de mais um downgrade da nota brasileira pela Fitch. 

Na sexta-feira passada, 23, a agência de classificação de risco modificou a nota brasileira de BB para BB- devido à piora fiscal do País e a dificuldade do governo em implementar a reforma da Previdência.


 https://www.istoedinheiro.com.br/fitch-rebaixa-ratings-da-petrobras-e-da-eletrobras/

Brasil pode virar líder mundial em soja em 2019


Colheita da soja em Guaíra (SP)
Dados iniciais apontam país na frente dos EUA na oferta da oleaginosa.


O Brasil poderá ultrapassar os Estados Unidos na produção de soja já em 2019 e tornar-se o líder mundial na oferta da oleaginosa. Os EUA cairiam para o segundo lugar.

Ainda são estimativas, mas os dados iniciais referentes aos dois países apontam para esse novo cenário.

O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou na sexta-feira (17) os primeiros números para a próxima safra de soja do seu país. A área de plantio não teria grandes mudanças, e a produção ficaria em 116,7 milhões de toneladas.

A área de plantio no Brasil, dependendo da margem de ganho do produtor neste ano, poderá subir em até 1 milhão de hectares, para 36 milhões em 2018/19. Mantida a produtividade média do país, a safra iria para 120 milhões de toneladas.

A inversão de posição entre Brasil e EUA depende, porém, de alguns fatores que influenciam a decisão dos produtores dos dois países nos próximos meses.

Fabio Meneghin, analista de mercado da Agroconsult, é um dos que acreditam em uma evolução da área da safra brasileira. As margens de ganho dos produtores neste ano, porém, serão decisivas para essa decisão, afirma ele.

Neste ano, algumas regiões do país surpreendem, e a safra está estimada em 117,5 milhões de toneladas pela Agroconsult.

O volume, contudo, poderá ser ainda maior e superar os 118 milhões, devido ao bom desempenho de algumas regiões, como o Nordeste. "Essa região ainda não começou a colher e pode surpreender", diz Meneghin.

A boa produção nacional e a sustentação dos preços externos, devido à quebra de safra na Argentina, darão margem melhor ao produtor brasileiro, na avaliação do analista da Agroconsult.

Se isso ocorrer, Centro-Oeste e Nordeste aumentarão a área de plantio de soja. Em algumas regiões, a soja poderá ocupar parte da área de milho semeado no verão.

Esse cenário brasileiro depende, porém, também dos produtores americanos. Eles estão próximos do plantio de soja deste ano e sempre levam em consideração a relação dos preços do milho com a oleaginosa.

Neste ano, essa relação indica condições financeiras melhores para o plantio da soja nos Estados Unidos.

A decisão de plantio no Brasil, que ocorre depois do dos americanos, também vai ser influenciada pelo desempenho da safra dos Estados Unidos. Uma boa safra por lá eleva ainda mais os estoques mundiais.

Afinal, 2018/19 poderá ser o quinto ano em que a safra de sojas dos EUA supera os 100 milhões de toneladas.

O Brasil, que colhe safra recorde em 2017/18, poderá ter a terceira produção superior a 100 milhões de toneladas. Houve aumento de área, e o clima está ajudando nas principais regiões produtoras do país.


Safra da Argentina deve cair para 47 milhões de toneladas 


Enquanto Brasil e Estados Unidos obtêm recordes de produção de soja nesta safra, a Argentina tem uma intensa queda em 2017/18.

Uma seca atingiu as principais regiões produtoras do país, e as estimativas mais pessimistas já indicam um recuo da produção para até 43 milhões de toneladas.

É o que apontam as novas projeções da Agroconsult.

A consultoria refez as estimativas de safra do país vizinho e agora prevê 47 milhões de toneladas. 

Não está descartado, porém, um recuo da produção para até 43 milhões, segundo o analista Fabio Meneghin.

No ano passado, a Argentina produziu 58 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).


Preocupação


O mercado está atento à queda de produção de soja na Argentina. A preocupação é maior com a possível dificuldade na oferta de farelo do que com a de grãos no mercado mundial.

Os argentinos têm uma dinâmica industrial diferente da do Brasil, o maior exportador mundial de soja em grãos. Os argentinos são fortes no processamento da soja, sendo importantes na oferta de farelo de soja, de óleo e de biodiesel.


Farelo 


Devido às incertezas sobre o fornecimento do farelo, o produto teve alta próxima de US$ 100 por tonelada nas últimas semanas e está sendo negociado a US$ 380 por tonelada em Chicago.


Linha de tendência


Para estimar a safra de soja de de 117,6 milhões de toneladas em 2018/19, o Usda utilizou uma linha de tendência de preços de 54,4 sacas por hectare. Em 2016/17, porém, a produção foi de 58,3 sacas 


(Folha de S.Paulo, 27/2/18)

Intervenção no RJ pode atrasar acordo de Boeing e Embraer


Jungmann, o novo ministro da Segurança, é o principal interlocutor das companhias com o governo e toda a negociação é feita no Ministério da Defesa

 


Brasília – A intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro e a criação do Ministério da Segurança Pública tendem a atrasar as negociações para criação de uma nova empresa entre Boeing e Embraer, apurou o Estado.

A preocupação surge após o Ministério da Defesa ser convocado a liderar a ação militar no Rio e Raul Jungmann ser indicado ao novo ministério. Jungmann é o principal interlocutor das duas companhias com o governo e toda a negociação é feita na esfera do Ministério da Defesa.

Alguns dias antes do carnaval, o Ministério da Defesa recebeu a proposta para organização societária da nova empresa a ser criada entre Boeing e Embraer. Representantes do governo analisam o documento e darão um parecer às empresas.

Antes de qualquer reação, porém, as companhias foram pegas de surpresa com o anúncio de que, dias depois, o mesmo Ministério da Defesa fora convocado às pressas para coordenar a intervenção militar no Rio.

Executivos envolvidos na negociação avaliam que a intervenção fez com que a atenção da Defesa e do próprio governo fosse direcionada para o Rio. Ainda que não tenha havido nenhuma declaração oficial do governo brasileiro, a percepção da Boeing e da Embraer é que o negócio saiu do centro do radar do Palácio do Planalto porque os nomes do governo que tratam do assunto e os líderes da intervenção no Rio são coincidentes.

O entendimento foi reforçado ontem com a notícia de que o ministro Raul Jungmann, principal interlocutor da Boeing e Embraer no governo, pode mudar de cargo com a indicação ao novo Ministério da Segurança Pública.

Uma fonte que acompanha a negociação de perto diz que atualmente “a bola está com o governo” porque as conversas só podem avançar com o aval de Brasília.

Dessa forma, o entendimento é que o ritmo das negociações será imposto pelo Palácio do Planalto. As empresas têm interesse em negociação rápida, especialmente a Boeing, que já sinalizou o desejo de concluir as tratativas antes que o assunto vire tema da disputa eleitoral para presidência.

Ao governo brasileiro, foram apresentadas algumas propostas de organização societária. O desenho indica posição majoritária dos americanos – algumas sugestões indicam pelo menos 80% do capital da nova empresa de posse da Boeing.

Poder de veto

 

Apesar da fatia minoritária dos brasileiros, o poder de veto do governo – exercido por meio da chamada “golden share” – seria preservado nas atividades da Embraer. Isso acontece porque a proposta faz diferenciação explícita entre o conceito de “propriedade” e “controle” da nova companhia, o que preservaria o interesse do Brasil em temas como a unidade de defesa da Embraer. Ou seja, a Boeing seria dona, mas o Brasil poderia mandar em alguns temas.

A grande diferença entre a fatia da norte-americana e da brasileira é explicada pelo tamanho das duas empresas. Enquanto a Boeing tem valor de mercado superior a US$ 210 bilhões, o valor de mercado da Embraer gira em torno de US$ 5 bilhões. Ou seja, o valor da brasileira não chega a 5% da americana.

Diante dos números, a fonte rechaçou valores citados na imprensa durante o fim de semana que indicariam nova empresa com participação acionária de 51% para os americanos e 49% para os brasileiros. “Está muito longe do que estamos negociando”, disse.

Procurado oficialmente, o Ministério da Defesa negou que a intervenção no Rio e a criação de um novo ministério possam atrasar a criação da terceira empresa que pode sacramentar a parceria Boeing e Embraer.

A Embraer preferiu não comentar. A Boeing não respondeu até o fechamento da edição.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O futuro chegou – a preço de ocasião

José Rizzo derruba uma série de mitos sobre tecnologia – a começar pela crença de que é um investimento caro

 

Por Eugênio Esber

 

eugenioesber@amanha.com.br
José Rizzo, CEO da Pollux

Com um diploma de engenheiro mecânico pela Iowa State University, José Rizzo mirou o futuro e acelerou. Fundou uma empresa de automação em Santa Catarina, sob o olhar inamistoso de gigantes globais de tecnologia, e agora, vitaminado por fundos de investimento, leva a sua Pollux para os Estados Unidos. Mas não é sobre negócios que versa a entrevista a seguir. O foco é o ativismo de Rizzo, como articulador da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII),  para desfazer crenças e confusões sobre tecnologia. Uma delas: robôs não geram desemprego, não custam caro... Ah, e não salvam empresas ineficientes em seu modelo de negócios.


Como um leigo pode entender a diferença entre a Indústria 4.0 e as referências anteriores de Indústria 2.0 e 3.0?
Indústria 4.0 é um movimento que nasceu no governo alemão, com o objetivo de manter a Alemanha competitiva, especialmente na área de softwares e robótica. No conceito que se pensou lá em 2010, estaríamos falando da “fábrica do futuro”. Um futuro não muito distante, dez anos, mas que requer uma reconcepção das fábricas de hoje. É como uma escadinha: a Indústria 1.0 é o início de tudo, quando, em 1770, o homem aperfeiçoou a máquina de vapor e conseguiu trocar o esforço físico humano por uma máquina. Esse é o começo da Revolução Industrial. Consideramos 2.0 quando passamos a utilizar a eletricidade, os motores elétricos e o conceito de linha de montagem, pensado por Ford. E o que caracteriza a indústria 3.0 é o movimento mais recente, a utilização da eletrônica e dos robôs para automatizar os processos industriais, na primeira leva de automação, a partir da década de 1970. A indústria 4.0 tem muito mais a ver com a conectividade. Os principais elementos dessa mudança seriam, num primeiro momento, o que chamamos de digitalização das fábricas. Cada máquina no chão dessa fábrica teria uma equivalente no computador. Ou seja, a fábrica que está operando é física, e teria uma idêntica virtual. Com isso, é possível fazer todo o tipo de simulação e análise na fábrica virtual, e se aquilo gerar algum tipo de eficiência, você replica na fábrica física. Outro aspecto é que essas máquinas, normalmente, não são conectadas umas às outras. Se um processo utiliza uma sequência de três máquinas, a máquina que está no meio não sabe o que está acontecendo na primeira. Quando você conecta essas máquinas, você pode antecipar a preparação das máquinas para o que vem. Ou seja, na medida em que você faz essas máquinas conversarem entre elas, não é preciso mais fazer de forma manual a preparação das máquinas, o que se chama setup. De certa maneira, elas fariam isso automaticamente, porque receberiam essa informação da máquina anterior. O terceiro elemento é a conexão dessas máquinas que estão na fábrica com o sistema de TI da empresa, e também com os seus fornecedores numa ponta e com os seus clientes numa outra. Ou seja, você passa a ter um volume muito maior de informações, que vão permitir tomar decisões muito mais certeiras em relação a como tocar o dia a dia daquela fábrica.


Indústria 4.0 e internet industrial são conceitos equivalentes?
Indústria 4.0 e internet industrial são explicadas como coisas iguais, e não são. Há alguns aspectos em comum, mas há diferenças. A primeira delas é de escopo. A indústria 4.0 é um processo 100% focado em manufatura, fábrica, e também robótica e impressoras 3D, que chamamos de manufatura aditiva. Quando falamos de internet industrial, não é apenas indústria de manufatura, mas diversos setores industriais, por exemplo, energia, saúde, transporte, agronegócio. E a segunda diferença, talvez até mais importante, é que, quando falamos em indústria 4.0 pensamos numa fábrica do futuro, e traçamos um caminho para chegar até lá. E quando tratamos de internet industrial estamos falando em fazer hoje o uso da tecnologia. A internet já funcionou bem em outras áreas, na nossa vida pessoal, para se comunicar, para fazer operações de banco. Internet industrial não é pensar como vai ser daqui a dez anos, é começar a fazer uso dessa tecnologia hoje, pra aumentar a eficiência dos processos produtivos, da manufatura, da distribuição de energia, das questões de transporte, e assim por diante.


Quais os desafios técnicos para a internet industrial, sobretudo quanto à segurança para a troca de informações sensíveis?
Temos três desafios importantes, que vêm sendo vencidos aos poucos. O primeiro é a questão da interoperabilidade. Ao longo do tempo, a utilização de software nas fábricas se deu por meio de tecnologias proprietárias de diferentes fabricantes. Então, hoje temos uma miríade de protocolos de comunicação, muitos deles proprietários, e a tarefa de fazer as máquinas se comunicarem é um desafio técnico. Você sempre consegue, usando um bom artifício, fazer uma máquina que fala uma língua conversar com a outra, mas não é a forma ideal. O ideal é que elas se comunicassem já na forma nativa. Hoje, o que existe é uma arquitetura de referência, uma proposta de padronização desses protocolos, que vai levar alguns anos para acontecer. Vamos partir de uma situação na qual muitas máquinas utilizam protocolos diferentes, para um número reduzido de protocolos, e depois chegar a um protocolo único lá na frente. É uma questão de tempo. 


E quais são os outros dois desafios para a internet industrial?
O segundo desafio é a segurança de dados. E é uma preocupação genuína. Se eu começar a gerar dados da fábrica, e alguém tiver acesso a isso, vai ser um problema. Na verdade, esse é um tema que não é novo para nenhuma empresa, que já tem ERP, faz operações bancárias com regularidade, e está fazendo isso porque existe um sistema de segurança adequado. Temos segurança 100%? É difícil chegar lá, mas é boa o suficiente. É a mesma coisa que viajar de avião. Não é 100% seguro, mas é muito seguro, a ponto de a gente usar porque é muito mais rápido. Você tem uma série de empresas trabalhando pra aumentar esse nível de segurança, e nos debates e apresentações se diz que a vulnerabilidade de um sistema, hoje, está nas pessoas. O hacker não consegue penetrar um sistema diretamente. Ele precisa encontrar uma porta. E essa porta normalmente é gerada por uma pessoa que usa o sistema e não cuida, por exemplo, da senha de acesso, ou de uma pessoa mal intencionada, que está dentro do sistema e acaba permitindo acesso de alguém não autorizado. Hoje, as tecnologias estão atuando para impedir isso, fazendo que no nosso dia a dia, em situações mais críticas, não se tenha mais uma senha única. Por exemplo, você tem a possibilidade de usar o seu cartão de crédito fixo, com um certo risco, ou o cartão que o seu banco gera na hora. Ele só é usado naquela única vez, e não há como alguém copiar. Muito da tecnologia de segurança que vai ser aplicada na indústria tem esse perfil, de senhas que são atualizadas a cada momento. Cada vez que adicionamos esses elementos de segurança, atingimos um ponto aceitável. E o terceiro e último desafio é mais econômico. Não é muito fácil calcular o retorno de investimento desse processo de transformação digital. Diferentemente de quando você compra uma máquina, paga “x” e ela aumenta a produtividade em 20%, aqui estamos falando de retornos que não são facilmente mensuráveis. 


Por isso que você recomenda aos empresários “pensar grande e começar pequeno”?
Vejo essa afirmação em todo lugar onde há um debate. Você deve ter uma visão de longo prazo, aonde você quer chegar, mas o caminho até lá acontece em pequenos passos. Lidando com novas tecnologias, a empresa precisa testar e ver os efeitos. Dando certo, ela escala, não dando, ela elimina e parte para a próxima. Hoje, talvez o ponto mais importante para uma empresa seja a decisão da liderança em seguir adiante, tanto na indústria 4.0 quanto na internet industrial. Dificilmente, a empresa vai avançar se a decisão acontecer no nível intermediário, ou na fábrica, porque não vai ter o poder para que o processo se implemente.


Como foi a articulação para a criação da Associação Brasileira da Internet Industrial?
A Pollux está muito inserida em todo esse ambiente de tecnologia. Vimos nascer a indústria 4.0 na Alemanha, e começamos a acompanhar de perto. A gente viu nascer também a internet industrial, que, diferentemente da Alemanha, onde foi uma iniciativa do governo, nos Estados Unidos foi uma iniciativa do setor privado. A GE, a IBM e a Intel se uniram e formaram o Consórcio da Internet Industrial, uma organização aberta: qualquer empresa do mundo pode fazer parte. Hoje, são empresas e instituições de mais de 50 países, e nós decidimos participar ativamente desse consórcio. São quatro encontros anuais, de quatro ou cinco dias, em países diferentes, Estados Unidos, Alemanha, Cingapura, com uma disposição muito forte de sair da teoria e ir para a prática, criando experimentos no que eles chamam de testbed. Quando a gente voltava para o Brasil, não via isso acontecer aqui. Havia discussão, mas muito pouca ação. Isso serviu como inspiração para criar a ABII num formato muito parecido. A ABII também é uma organização aberta, a gente tem associados que são startups, e outros que são multinacionais gigantes. Basicamente, a ideia é, nesses encontros promovidos aqui no Brasil, que as empresas mandem seus profissionais da área de tecnologia e da área de negócios para atualizar todos em relação ao que está acontecendo e fomentar alguns experimentos. A ideia é fazer testbeds no Brasil com empresas de fora do Brasil. É a melhor ferramenta que temos para mostrar a viabilidade técnica e econômica da utilização da internet industrial. No próximo evento, em Florianópolis, teremos a oficialização dos três primeiros testbed, que vão começar em janeiro. A ideia é fazer um na manufatura, e queremos fazer um testbed chamado de manutenção preditiva, que é quando você fica sensorizando as máquinas e consegue detectar o potencial problema antes que ele aconteça.


A máquina vai avisar quando terá problemas?
Exatamente. Queremos fazer um teste na área do agronegócio, porque é uma indústria muito poderosa aqui no Brasil, muito relevante. Estamos pensando na agricultura de precisão. Você pega uma plantação, de alguma cultura e, ao invés de colocar os insumos, água, fertilizante, às vezes em excesso, você passa a medir características da planta ali no solo, qual é o PH, qual é a umidade, e, com isso, dar para a planta a quantidade exata de nutrientes de que ela precisa. Queremos fazer um terceiro testbed, para ajudar as cidades a resolverem problemas como o abastecimento de água, que hoje é muito ineficiente, se perde muito com vazamentos, mau uso. Vamos tentar fazer um também em relação ao trânsito. 


Como está a indústria brasileira na comparação com outros países, do ponto de vista da incorporação desses conceitos?
Aqui no Brasil, vejo, às vezes, afirmações muito contundentes, para um lado e para o outro, que acabam não correspondendo muito à realidade. O que é fato? Se pegarmos a média de todas as fábricas no Brasil, chegamos à conclusão a que a Abimaq chegou, que o maquinário do Brasil tem em torno de 17 anos de uso, em média, enquanto em países como Estados Unidos e Alemanha são cinco ou sete anos. Por outro lado, isso varia muito no setor industrial, de acordo com a localização da fábrica e acaba mascarando uma realidade que pouca gente conhece, que temos uma indústria fantástica no Brasil. Estamos visitando fábricas o tempo inteiro, são poucos países no mundo que têm uma cadeia automotiva tão avançada como a do Brasil. Não só montadoras, mas os sistemistas. Da mesma maneira, há uma série de outras indústrias com fábricas bastante modernizadas, caso da indústria farmacêutica. A indústria alimentícia, talvez um pouco atrás, está trabalhando muito forte para robotizar, automatizar. Algumas vezes, olhamos nossa indústria com um viés muito negativo e deixamos de ver belos exemplos, que são frequentes, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, e que não são muito comentados. E há outro aspecto: você pode queimar etapas. Não precisa passar pela indústria 1, 2, 3. Você pode estar na 2 e saltar para a 4. Vou dar um exemplo bem clássico: hoje, trabalhamos na Pollux com os chamados robôs colaborativos, que são versões mais novas, mais avançadas, dos robôs tradicionais. O robô colaborativo foi projetado para trabalhar junto com as pessoas. O robô tradicional fica isolado. Vamos supor que você tem uma empresa que nunca usou o robô tradicional. Ela não vai precisar usar o robô tradicional para usar o colaborativo. Ela pode ir direto para o colaborativo, não há nenhum impedimento. Da mesma maneira que uma fábrica que não tem um grau muito grande de conexão das máquinas, onde tudo era muito manual, não precisa, necessariamente, adotar uma tecnologia que já está ultrapassada, e pode ir direto para o que há de mais avançado. 


Então, desmistificando, pode-se dizer que cada empresa faz o seu caminho...
Na verdade, o caminho que a empresa vai seguir depende muito do que a liderança dessa empresa quer fazer. Com uma vantagem importante: quando comecei a trabalhar com a indústria, há quase 30 anos, já existia um conceito de manufatura integrada por computador. Em conceito, não era nada diferente do que se faz, hoje, com a internet industrial ou com a indústria 4.0. Só que 30 anos atrás, o custo para fazer era muito elevado. A grande diferença é que toda essa tecnologia está disponível, hoje, no modelo em que o cliente paga pelo uso. Lá atrás, esse tipo de tecnologia estava disponível só para grandes empresas, com investimentos de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões. Hoje, mesmo uma empresa pequena ou média, pode ter robôs, alugando. Pode ter um software sofisticado sem ter um servidor, rodando na nuvem, pagando um valor mensal.   


Em suma, a tecnologia se tornou muito disponível.
Sem dúvida. Até devemos ter o cuidado de deixar claro o seguinte: a tecnologia está tão disponível que ela, por si só, nem é o diferencial competitivo. O que a empresa precisa fazer é pensar em um modelo de negócio, que vai fazer com que ela consiga fornecer um serviço ou produto de forma mais rápida, mais barata e com maior qualidade, usando a tecnologia. A tecnologia vem depois. Primeiro é preciso olhar para a empresa, ver a indústria na qual ela atua, como ela faz e como pode ser melhor que os outros. A partir do momento em que se entende qual é o diferencial que vai tornar você mais competitivo, você vai buscar as tecnologias que se aplicam. Em algumas empresas, vai ser a manufatura aditiva, em outra vai ser a robótica, em outra vai ser a digitalização da fábrica. Não podemos deixar a tecnologia vir na frente. Na verdade, ela vem resolver um problema que já se tenha identificado.


Quais seriam os setores mais atrasados no Brasil em relação a esses novos conceitos?
Hoje, a informação já circulou por todos os segmentos, e toda semana a gente vai a eventos falando da indústria 4.0 e da internet industrial. A informação chegou para todo o mundo. Cada indústria vai poder aplicar a tecnologia de uma forma, porque é muito democrático, diferente de lá atrás, onde os altos investimentos deixavam de fora empresas pequenas, médias, sem grande margem. Mesmo empresas ou setores que tradicionalmente não automatizaram muito e são muito intensivas em mão de obra, devem olhar com carinho para essa evolução que estamos vivendo e entrar no processo também.


Qual a diferença entre a população de robôs no Brasil e a de outros países? E qual será o impacto social sobre o emprego, sobre trabalhadores que precisam ser reconvertidos?
A previsão é de que, até o no final do ano que vem, a base instalada no Brasil seja de 18,3 mil robôs. Na Alemanha são 216 mil robôs. Na Coreia do Sul, são 280 mil robôs, mas o número que mais impressiona vem de um país com mão de obra barata: a China. Lá, são 614 mil robôs. Outra maneira de enxergar isso é a densidade, pois o número absoluto não reflete bem a realidade. Ou seja, quantos robôs existem para 10 mil trabalhadores. Coreia e Japão são 500 robôs para cada 10 mil. Alemanha: 300 robôs para cada 10 mil. Brasil: dez para cada 10 mil. Ou seja, para elevar nossa otimização aos níveis da Alemanha, é preciso instalar 200 mil robôs, quando são instalados 1,5 mil robôs por ano. Se não fizermos algo, será difícil vencer essa defasagem. 
Precisaremos andar mais rápido, sem dúvida. Mas muito se teme pelo impacto social da tecnologia sobre carreiras tradicionais.
Todos imaginam que, quanto mais robôs, mais desemprego, certo? Mas o que acontece é justamente o contrário. Os países com maior densidade de robôs por 10 mil habitantes são os que têm as menores taxas de desemprego. São os países onde mais empregos são gerados. Por quê? Porque por mais que o robô entre na fábrica e substitua uma pessoa, essa fábrica está se tornando mais competitiva, consegue competir no mercado global, se robotiza, e vai crescer. Não vai ficar só naquela fábrica. Supondo que tenha mil pessoas, robotiza, reduz para 800 funcionários, mas abre outra com outros 800. O robô vai fazer uma operação repetitiva que não é ideal para uma pessoa, pois aquela operação pode até comprometer a saúde. O robô traz mais segurança para a fábrica. É um robô, e não uma pessoa em frente a uma prensa, em situação de perigo.


Resta, como ponto crucial da agenda, reciclar os profissionais deslocados destas funções repetitivas.
À medida essas pessoas são deslocadas, a empresa deve requalificá-las. O Senai e outras instituições de ensino deveriam oferecer um programa de reciclagem da atividade operacional. Vejo um papel para o governo: requalificar os profissionais que já estão com mais de 40 ou 50 anos. Minha preocupação é maior no médio e longo prazos. Temos muitos poucos jovens formados para engenharia e computação, pois escolhem carreiras em outras áreas. Claro que tem de ser médico, ser jornalista, mas tem gente que não vai para a profissão técnica por ter experiência ruim com matemática, por exemplo. E vivemos uma era de transformação tecnológica, na qual teremos atividades com mais empregos envolvendo tecnologia. Por isso necessitaremos de programa de base para equilibrar, pois muito poucos jovens optam por ocupações técnicas, e isso pode virar um gargalo mais adiante.


Como a Pollux faz para achar seu nicho no meio de empresas gigantes, com escala de capital mais significativa?
A primeira parte da resposta é que não é fácil empreender no Brasil. É um grande desafio. Vemos que empresas concorrentes têm acesso mais fácil a mão de obra, oferta de capital barato, incentivos, facilidades com local onde há tecnologias nascentes. Nesse aspecto, a Pollux dá muito orgulho, pois é a prova de que, mesmo com as dificuldades do país, podemos ter um negócio de sucesso em uma área de alta tecnologia, que envolve tanto conhecimento avançado. Estamos fazendo 21 anos agora, sempre crescendo. Existe um pouco dessa persistência de quem trabalha aqui na Pollux, sempre preocupado em fazer um trabalho de excelência. O segredo do nosso sucesso é pautado em três coisas que fazem parte da nossa cultura. Integridade, por mais que a gente viva num país com sérios problemas de desvios éticos nós nunca entramos nesse jogo; a crença em relacionamentos duradouros com clientes, fornecedores, com nossa equipe, para que todo mundo que faça negócios conosco tenha uma boa experiência; e em terceiro lugar, mesmo sendo uma empresa que cresce a cada ano, não perdemos o ambiente e a habilidade da startup, de colaboração e de agilidade para se reposicionar com tendências que mudam. Faz tempo que não temos mais planejamento anual. Todo trimestre revisamos nosso planejamento e decidimos ficar em um negócio, criar ou sair de outro. Estamos conseguindo avançar. Em primeira mão: estamos indo para a América do Norte no primeiro trimestre do ano que vem, pois vamos abrir uma operação no México para atender Canadá, Estados Unidos e México. Estamos dando ênfase em nos tornarmos uma empresa global, independentemente de onde nossas concorrentes estiverem.

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Renova Energia recebe nova proposta da Brookfield Energia

 

 

A nova oferta da Brookfield, segundo a Renova, contempla a aquisição dos ativos de todo o Complexo de Alto Sertão III (Complexo ASIII)

 











Rio de Janeiro – A Renova Energia, controlada pelas elétricas Cemig e Light, informou que recebeu nova proposta da Brookfield Energia, em substituição à oferta de capitalização primária aceita em novembro, informou a empresa em fato relevante nesta sexta-feira.
 
A nova oferta da Brookfield, segundo a Renova, contempla a aquisição dos ativos de todo o Complexo de Alto Sertão III (Complexo ASIII), bem como de, aproximadamente, 1,1 GW em determinados projetos eólicos em desenvolvimento.

O valor apresentado pelo Complexo ASIII foi de 650 milhões de reais a ser pago na data de fechamento da transação, valor este sujeito a ajustes usuais pós-fechamento, explicou a companhia.

O valor final poderá ser acrescido de um “earn-out” de até 150 milhões de reais vinculados à geração futura do Complexo ASIII a ser apurada após cinco anos de sua entrada em operação, além de 187 mil reais por MW de capacidade instalada para os projetos eólicos em desenvolvimento.

A oferta anterior aceita em novembro previa um aporte primário de 1,4 bilhão de reais na endividada companhia de geração renovável. A operação tornaria a Brookfield majoritária e diluiria fortemente a posição de Cemig e Light na companhia.

A Reuters publicou nesta sexta-feira que o presidente da Renova Energia renunciou ao cargo na quarta-feira em meio à insatisfação do executivo com dificuldades para o fechamento do acordo anterior junto à Brookfield, segundo uma fonte com conhecimento do assunto.

A Renova afirmou que os órgãos da administração da companhia estão avaliando a nova proposta recebida. Caso seja aceita, será concedido um novo período de exclusividade à Brookfield por 30 dias, prorrogáveis automaticamente por 30 dias adicionais.

Os recursos da transação, segundo a Renova, serão destinados prioritariamente ao pagamento dos fornecedores e credores do projeto Alto Sertão III.