Diante da série de desentendimentos que colocou em xeque a
aprovação da reforma da Previdência e levou o dólar a superar a marca de
R$ 4 na manhã dessa quinta-feira, 28, empresários e altos executivos se
mobilizaram nos últimos dias para conversar com o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), na
tentativa de pôr a proposta, considerada vital para a retomada do
crescimento da economia, de volta ao foco das lideranças em Brasília.
Em movimentos paralelos, tanto individuais como de pequenos grupos,
empresários se aproximaram de Bolsonaro, Maia e do ministro da Economia,
Paulo Guedes, na intenção de reforçar a importância de o governo agir
em uma mesma direção.
Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, um grupo de 12
executivos e empresários se reuniu com Maia, em um jantar em São Paulo. O
deputado disse estar empenhado na aprovação da proposta, mas que
depende da articulação do Planalto para angariar votos. Afirmou que,
sozinho, tem no máximo 40 votos. A reunião teve ainda a participação de
Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador de São Paulo, e de Alexandre
Baldy, ex-ministro da Saúde e atual secretário do governador João Doria
(PSDB).
Ao longo da semana, em eventos como o jantar oferecido em homenagem à
primeira-dama, Michele Bolsonaro, e a reunião entre empresários e o
vice-presidente, Hamilton Mourão, na sede da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), o setor produtivo demonstrou sua tensão
sobre o andamento lento da reforma da Previdência.
Um dos recados repassados por empresários a Bolsonaro e Maia é que o
clima de disputa não faz sentido: “Todo mundo que é a favor da reforma
da Previdência neste momento deve ser considerado um amigo pelo
governo”, disse um empresário.
Entre os mais próximos de Bolsonaro, instalou-se clima de impaciência
em relação ao presidente da Câmara. Apesar de admitir que o filho do
presidente, Carlos Bolsonaro, passou dos limites nas provocações a Maia
no Twitter, um empresário disse que a impressão é de que o parlamentar
começou a usar a troca de farpas para valorizar seu passe. Em um dos
eventos dessa semana, Bolsonaro externou a insatisfação com o Congresso e
disse a um empresário que não quer se render à “velha política”.
Outro empresário, que se reuniu em Brasília com o presidente nesta
semana, afirmou que a resistência ao velho “toma lá, dá cá” não quer
dizer simplesmente fechar o diálogo com os líderes do Congresso. “O
presidente tem, sim, a obrigação de conversar com o Congresso, de
negociar as pautas vitais.”
Para Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi), não houve movimento organizado do
empresariado para discutir a crise. “Há uma preocupação geral do
empresariado. De forma individual, os empresários levaram sua
preocupação aos seus interlocutores em Brasília.”
Alívio
Após tanto Maia quanto Bolsonaro acalmarem os ânimos e o presidente
classificar a crise como “chuva de verão”, a sensação entre empresários
era de alívio – ao menos temporário. Um empresário, que falou com Maia e
também com Bolsonaro nesta semana, classificou a tensão como “uma briga
de crianças”.
A sensação de um clima mais apaziguado também teve reflexos no
mercado financeiro. Depois de romper a marca dos R$ 4, o dólar fechou o
dia em queda de 0,96%, a R$ 3,9165. Já o Ibovespa, principal índice da
B3, fechou aos 94.388,94 pontos, em alta de 2,70%.
Na avaliação de analistas, a bandeira branca acenada entre Executivo e
Legislativo trouxe algum alívio na percepção de crise política, mas
está longe de reativar no mercado o otimismo que havia levado o Ibovespa
a testar os 100 mil pontos. Por isso, a alta foi considerada
essencialmente técnica, com investidores em busca de oportunidades de
compra para ganhos de curto prazo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.