terça-feira, 11 de junho de 2019

EMPRESAS NO EXTERIOR E “TRUSTS”: POR QUE ESTÁ MAIS DIFÍCIL DE ABRIR E QUAIS AS ALTERNATIVAS


 


Em 2019, já dá para sentir plenamente o efeito das normas sobre trocas de informação tributária da OCDE (as “CRS” e afins).  Percebe-se que abrir qualquer tipo de estrutura no exterior ficou mais demorado, mais trabalhoso e mais caro.

Alguns anos atrás, abrir trustes no exterior para estruturar heranças ou abrir holdings empresariais em paraísos fiscais  para intermediar aquisições (“M&A) era um assunto relativamente simples.  As normas tributárias a serem observadas eram as normas brasileiras e a estrutura no exterior seguia um esquema padrão.

Hoje, tudo é mais difícil. Especialmente porque os bancos estão sujeitos a normas muito mais rigorosas.

Na prática, bancos da maioria dos países grandes atuam como fiscais tributários para o governo do país em que estão localizados. Seja devido a normas americanas (FATCA), seja devido a normas da OCDE (CRS), a maior parte dos bancos acaba sendo forçada a comunicar ao fisco quem tem contas bancárias e qual o valor nelas.

Em muitos casos, os bancos também informam quem é o beneficiário final das contas. Isto é, quem é a pessoa física que instituiu o truste, ou  a empresa, etc.

Verificar todos esses detalhes dá muito trabalho para os bancos.

Em paralelo a essa chatice documental, corre um outro fenômeno: há um excesso de liquidez no mundo. Tem muito dinheiro circulando, e circulando não só dentro de um país, mas se movendo rapidamente entre continentes.

Se há muito dinheiro em movimento, há também muita demanda por serviços bancários. E, como é normal na economia, a amplitude do mercado atrai a especialização. Em outras palavras, o excesso de dinheiro estimula a criação de modelos financeiros muito especializados (nichos).

Ou seja, os bancos estão cheios de clientes propondo operações cada vez mais ousadas. Simultaneamente, o peso da lei sobre os bancos é cada vez maior.

Naturalmente, os bancos tendem a focar nos clientes mais fáceis, que geram maior renda, e fugir dos clientes que tenham complicações legais, mesmo as mais remotas.

As consequências disso para mim e para meus clientes são as seguintes:

  1. APRESENTAÇÃO DE SLIDES DETALHANDO A OPERAÇÃO É REQUISITO PARA A ABERTURA DA CONTA
 
As normas internacionais utilizam conceitos como “beneficiário final”, “local da geração de riqueza” e “planejamento fiscal abusivo”.
Para facilitar, os bancos normalmente já pedem que qualquer estrutura financeira seja apresentada em PowerPoint, ressaltando esses itens.
Além disso os bancos já querem que a apresentação destaque a origem dos recursos, para ter certeza de que não vêm de corrupção, tráfico de drogas ou outros crimes.
O cliente é que tem que vender seu caso ao banco, para ser aceito.

  1. PARECER JURÍDICO PRÉVIO
Eu raramente ou nunca era chamado para dar um parecer jurídico-tributário dirigido ao banco. Em regra, era o cliente que me contratava bem antes de abrir a conta, para planejar a operação. 
Agora não. O banco solicita um parecer tributário (pago pelo cliente), justamente para não ter que gastar tempo de sua equipe jurídica interna. O parecer normalmente descreve se a operação constitui evasão fiscal ou simples planejamento fiscal.
Se isso é maçante, por outro lado permite ao cliente apresentar-se como um investidor limpo e facilita a análise do caso pelos departamentos de integridade (“compliance”).
  1. SELEÇÃO CRITERIOSA DE JURISDIÇÕES E SEGMENTAÇÃO CONFORME A ORIGEM DO DINHEIRO
Os labirintos legais acabaram criando trilhas para o dinheiro, conforme as brechas na regulação.

Assim, é comum notar que investimento Chineses na África e, em alguns casos, na América do Sul, serão roteados por bancos sediados nas Ilhas Maurício (um pequeno país que fica perto da África) ou via Hong Kong.

Já estruturas que envolvam a Ásia Central (ex: Paquistão) ou os países árabes terão Dubai como foco.
Andorra, Suíça e outras jurisdições tradicionais têm se especializado em assuntos Europeus.

Qualquer coisa que envolva diretamente os EUA ou cidadãos americanos é tratado como caso à parte.
A utilização dessas trilhas facilita um pouco a aprovação das operações, pois os bancos já as conhecem.
  1. CONTAS ONLINE
As fintechs têm cumprido seu papel de facilitar transações.

Para operações consideradas pequenas (nesse meio, qualquer coisa abaixo de um milhão de dólares) há excelente opções de contas virtuais junto a operadoras de pagamento e empresas de câmbio. Algo como Paypal, Transferwise, etc.

Essas contas não são seguras o suficiente para preservar a fortuna de uma família ou o fluxo de caixa de uma empresa com operações relevantes. Mas funcionam bem para aplicações pessoais temporárias ou para o gerenciamento de faturamentos esporádicos.
  1. CRIPTOMOEDAS
As tecnologias de criptomoeda têm servido para facilitar e aerar os grandes projetos de captação de recursos.

Em temos simples: os lançamentos de moeda (ICO – Initial Coin Offering) permitem que o banco substitua o “compliance” de dezenas de investidores pela análise do organizador do evento.

Esses projetos não podem ser executados em qualquer lugar. Jurisdições como Malásia e Singapura são mais propícias para isso.

Mas é um caminho muito interessante, especialmente para retirar recursos de países com controles cambiais muito fortes (o que é comum na Ásia e em alguns países da América Latina).



 https://adler.net.br/empresas-no-exterior-offshore-e-trusts-por-que-esta-mais-dificil-de-abrir-e-quais-as-alternativas/

Neoway compra LegalLabs, especializada em direito


Aquisição foi feita por cerca de R$ 100 milhões

 


Da Redação

 

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Jaime de Paula, presidente da Neoway



A Neoway, maior empresa de Big Data Analytics, Inteligência Artificial, Machine Learning e tecnologia aplicada a negócios da América Latina, anunciou nesta terça-feira (11) a aquisição da LegalLabs, maior companhia de Inteligência Artificial do Brasil para a área de Direito. A operação avaliada em US$ 26 milhões (cerca de R$ 100 milhões), dá origem à Neoway Legal, solução inédita no mercado nacional para aumento de produtividade jurídica e administrativa de organizações privadas e púbicas. A Neoway Legal disponibiliza funcionalidades como, por exemplo, previsão de decisões judiciais, contingenciamento de massas processuais, previsão de valor de condenações judiciais, apoio à decisão jurídica e geração de documentos. Empresas com grande número de processos judiciais como bancos, seguradoras e negócios de saúde.

"A compra da LegalLabs faz parte da estratégia de crescimento da Neoway, pois traz uma tecnologia complementar à empresa, fortalecendo ainda mais o nosso posicionamento de one stop shop de soluções tecnológicas", comenta Jaime de Paula (foto), CEO da Newoay que, no Sul, tem unidade em Florianópolis (SC). "Estamos atentos a novas oportunidades que tenham sinergia e sejam interessantes para os nossos negócios", pontua ele. 

Especialistas indicam que o mercado americano de legal movimenta cerca de US$ 489 bilhões por ano. No Brasil, a estimativa é que esse valor seja de entre US$  1 bilhão e US$ 3 bilhões, sendo que, aproximadamente, 2% do PIB nacional passa, de alguma forma, pela área. A previsão é que o segmento cresça no país quatro vezes nos próximos dois anos. Atualmente, existem no Brasil, entre 100 milhões e 110 milhões de processos em tramitação. Somente os processos de execução fiscal chegam a 35 milhões. A plataforma atua diretamente nesse cenário.

De acordo com o CEO da LegalLabs, agora executivo da Neoway Legal, Kleber Campos, um dos principais objetivos da Neoway Legal é eliminar atividades repetitivas, facilitando, assim, o cotidiano de grandes empresas, advogados, magistrados e procuradores. "A plataforma realiza em minutos, com grande precisão, a avaliação de milhões de processos, reavaliação de contingências de grandes empresas e previsão de decisões judiciais futuras. Além disso, serve de auxílio para a geração de petições que demorariam semanas para ser elaboradas", exemplifica. 


 http://www.amanha.com.br/posts/view/7655/neoway-compra-legallabs-especializada-em-direito

Tudo pela arte de encantar brasileiros ao volante

Para deixar a crise no retrovisor, General Motors procura aperfeiçoar a experiência do consumidor

 

Por Karine Menoncin

 

karine.menoncin@amanha.com.br
Para deixar a crise no retrovisor, General Motors procura aperfeiçoar a experiência do consumidor


Após uma queda de 46% em quatro anos, para 2,05 milhões de unidades em 2016, as vendas de carros e caminhões cresceram 9% em 2017. Os negócios passaram a se recuperar no ano passado, quando a venda de veículos novos cresceu 14,6%, segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na carona, a General Motors (GM), dona da marca Chevrolet, comercializou quase 390 mil carros e passou a dominar 18,5% do mercado brasileiro. 

Ainda assim, no início de 2019, a multinacional norte-americana anunciou a pretensão de sair do Brasil, encerrando as operações em suas fábricas em São Caetano do Sul, Mogi das Cruzes e São José dos Campos (SP), Gravataí (RS) e Joinville (SC). Após acordos, a empresa decidiu ficar no país. 

Luis Mesa, diretor de produção da unidade gaúcha (foto), apresentou ao canal AMANHÃ TV algumas estratégias da montadora para encantar os brasileiros.  


http://www.amanha.com.br/posts/view/7649

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Ultramar investirá R$ 300 mi no Porto de Rio Grande

Negócio foi anunciado em visita de missão empresarial ao Chile

 

Da Redação

 

redacao@amanha.com.br
Ultramar investirá R$ 300 milhões no Porto de Rio Grande

A missão empresarial ao Chile liderada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, retorna a Porto Alegre, nesta sexta-feira (7), com US$ 4,25 milhões em negócios fechados ou alinhados para os próximos 12 meses. Foram duas rodadas e 89 reuniões previamente agendadas realizadas, envolvendo 15 empresas gaúchas, na terça e quarta-feira, com empresas e investidores chilenos. Com o governo do Estado, que esteve na missão, até quarta-feira, representado pelo governador Eduardo Leite e secretários, a chilena Ultramar acertou a expansão das operações no Porto de Rio Grande, em um investimento de aproximadamente R$ 300 milhões (na foto, Leite com executivos da companhia chilena). O plano é aumentar a área ocupada atualmente para poder escoar a produção de madeira e celulose. Ao mesmo tempo, a CMPC Celulose, já instalada na cidade de Guaíba, mantém o plano de ampliação de seu investimento no País, e o Rio Grande do Sul é candidato a receber o projeto. 

Outro resultado obtidos foi o da Cerealista Polisul, de Pelotas, que conseguiu fechar venda de arroz ao mercado daquele país. “Nas missões da Fiergs sempre procuramos proporcionar visitas técnicas a empresas de referência como uma fonte de trocas de experiências, seja em processos produtivos, modelos de gestão ou internacionalização", disse Petry. “Os objetivos foram alcançados, volto satisfeito, e as empresas e os investidores chilenos na Sofofa (Sociedade de Fomento Fabril) também se manifestaram dessa forma”. Nesta quinta-feira (6), a pauta incluiu uma reunião com o Banco do Brasil para acertar um convênio que facilite o fluxo de comércio e as movimentações financeiras das empresas gaúchas no Chile. A medida tem como objetivo facilitar ao empresário do Estado que pretende exportar para o país, por meio de um convênio entre a federação e o escritório do banco no Chile. Quando passar a vigorar o projeto, o banco disponibilizará dados sobre o que o Chile compra e informações da empresa chilena importadora dos produtos gaúchos. Além disso, ocorreu uma visita técnica à Costanera Center & Cencosud, grande rede varejista multissetorial que emprega 140 mil pessoas em mais de 940 estabelecimentos entre hipermercados, lojas de materiais de construção e shoppings centers na Argentina, Brasil, Chile, Peru e Colômbia. 

No ano passado, a balança comercial entre o Rio Grande do Sul e o Chile teve um saldo de mais de US$ 346 milhões, com o Estado vendendo ao país, sexto destino das exportações gaúchas, principalmente veículos (US$ 206,54 milhões), 42,17% do total da pauta. Já de origem chilena, o RS comprou especialmente produtos químicos orgânicos (US$ 41,68 milhões), 29% do total importado. O Chile tem uma população de quase 19 milhões, uma taxa de desemprego de 7% e um salário mínimo de US$ 400.

http://www.amanha.com.br/posts/view/7637

Em 100 dias no cargo, general da Itaipu já economizou o suficiente para pagar quase a metade da 2ª ponte










As medidas de austeridade adotadas pelo diretor-geral brasileiro de Itaipu, Joaquim Silva e Luna, já resultam numa economia de R$ 163 milhões para os cofres da binacional, empresa pública mantida pelo Brasil e pelo Paraguai.

O valor economizado equivale à metade dos recursos destinados à construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que deve custar R$ 323 milhões (apenas a ponte, sem considerar a perimetral que vai conectá-la à BR-277, em Foz do Iguaçu).

O balanço é referente a 100 dias de sua gestão à frente da margem esquerda da usina, completados nesta quarta-feira, 5 de junho.

Nessa conta não entram estimativas futuras de redução de outros gastos que ocorrerão com o enxugamento do escritório de Itaipu em Curitiba e, consequentemente, a transferência de quase 150 empregados para Foz do Iguaçu, centro de comando da usina. O processo de migração começa em julho e se estende até janeiro de 2020. Itaipu manterá na capital paranaense apenas uma unidade de representação, a exemplo de Brasília (DF).

Só com o cancelamento da reforma prevista para o Edifício Parigot de Souza, sede do escritório de Curitiba, a economia passa de R$ 4,1 milhões. Com a redução de passagens aéreas e diárias de empregados que se locomoviam entre Foz do Iguaçu e Curitiba, nos primeiros cinco meses do ano e em comparação ao mesmo período de 2018, foram economizados R$ 2,3 milhões.

Mas a redução de gastos mais significativa foi no orçamento referente a convênios. Entre cortes de convênios e desonerações, tanto em convênios atuais como os que seriam pagos ao longo dos anos. foram poupados R$ 140 milhões. Na concessão de patrocínios o corte foi de R$ 17 milhões.


Aplicação dos recursos
 

Além das medidas de austeridade - e como consequência delas, também - o general Silva e Luna deu encaminhamento à obra da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que deverá colocar Foz do Iguaçu num outro status de importância econômica, com a melhoria da infraestrutura logística e da segurança.

Segundo o diretor-geral brasileiro de Itaipu, a usina poderá bancar a construção da ponte, das ligações com a BR-277 e da aduana graças exatamente ao remanejamento do orçamento nos próximos quatro anos. Isso, sem afetar a tarifa, que permanecerá nos níveis em que está.

Os investimentos também estão sendo aplicados na ampliação e modernização do Hospital Costa Cavalcanti, um dos mais importantes do Sul do Brasil e de extrema importância para a fronteira e na conclusão do mercado municipal, entre outros.

"O gestor de um órgão público, que trabalha com o que obtém da cobrança de impostos, e o gestor de uma empresa pública, cujo orçamento se baseia nos recursos obtidos pelos serviços que presta, têm que usar critérios de profundo respeito ao dinheiro que, pela análise mais simples, é do povo", diz Silva e Luna.

"Encaro a gestão em Itaipu como a missão de mostrar à população que viemos não para atender a interesses diversos, mas para confirmar que é possível, sim, administrar uma empresa pública de forma idônea e em consonância com as diretrizes do governo federal", conclui.


Fonte: naoviu.com.br / Itaipu Binacional / Foto: Alexandre Marchetti

Aval legislativo para venda de subsidiárias é desnecessário


Decisão do STF abre caminho para Petrobras negociar suas controladas

 

Por Agência Brasil 

 

redacao@amanha.com.br
Aval legislativo para venda de subsidiárias é desnecessário, decide STF


O plenário (foto) do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (6), por maioria, liberar a venda do controle acionário de subsidiárias de empresas públicas e sociedades de economia mista, sem que para isso seja preciso aval legislativo ou processo de licitação. A decisão abre caminho para que companhias como Petrobras e Eletrobras, por exemplo, possam vender suas controladas.  Por unanimidade, contudo, o plenário decidiu que a dispensa de aval legislativo e de licitação somente se aplica às subsidiárias, não valendo para empresas matrizes, que continuam precisando de autorização do Congresso para serem privatizadas.  

O plenário derrubou em parte decisão liminar (provisória) do ministro Ricardo Lewandowski, relator de três ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) sobre o assunto, que em junho do ano passado havia suspendido a venda do controle acionário de empresas públicas, sociedades de economia mista ou de suas subsidiárias ou controladas caso não houvesse prévia autorização legislativa. A maioria dos ministros entendeu que a jurisprudência do Supremo já dispensou a necessidade de aprovação de lei específica para autorizar a criação ou compra de cada uma das subsidiárias ou controladas, sendo preciso somente que a lei que criou a própria estatal matriz permita que ela tenha subsidiárias no geral. Dessa maneira, por paralelismo, também a venda do controle acionário de cada uma dessas subsidiárias não precisa de aval legislativo, decidiu a maioria do Supremo.

Em relação ao processo licitatório, a maioria dos ministros entendeu ser necessário algum tipo de procedimento competitivo que assegure princípios constitucionais como os da escolha da melhor proposta e da competitividade igualitária entre os interessados, sempre que se tratar da alienação de controle acionário de subsidiárias. Tal procedimento competitivo, porém, não precisa se dar pelas modalidades descritas na Lei das Licitações (8.666/1993) ou na Lei das Privatizações (9491/1997), decidiu a maioria do Supremo. Pode-se, por exemplo, adotar-se processos simplificados, como aqueles previstos no Decreto 9.188/2017, que criou o regime especial de desinvestimento de ativos pelas sociedades de economia mista federais.

A decisão dos ministros tem impacto imediato principalmente para a Petrobras, cujo presidente-executivo, Roberto Castello Branco, acompanhou o julgamento do plenário. Na semana passada, com base na decisão anterior de Lewandowski, o ministro Edson Fachin suspendeu a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), uma empresa controlada pela petroleira estatal. O negócio foi fechado em abril no valor de US$ 8,6 bilhões, equivalente a R$ 34 bilhões, com o Grupo Engie, e prevê a transferência de 90% das ações da subsidiária. Com a derrubada da liminar de Lewandowski, o caminho deve ficar livre para que o negócio seja consumado. A questão liminar de Fachin, porém, ainda vai ser discutida no próximo dia 12 de junho pelo plenário do Supremo.

http://www.amanha.com.br/posts/view/7639

A fusão das Big Foods


Duas das maiores empresas de proteína animal do mundo acertam os últimos detalhes do acordo que criará um colosso global com liderança dos principais mercados do mundo e faturamento de R$ 80 bilhões

Crédito: Evandro Rodrigues
Fome de lucros: Pedro Parente (à esq.), CEO da BRF, e Marcos Molina, controlador da da Marfrig: negociação à mesa (Crédito: Evandro Rodrigues)


Durante toda a semana, os principais acionistas e executivos dos frigoríficos Brasil Foods (BRF) e Marfrig Global Foods — duas das maiores produtoras de proteína animal do mundo — fizeram uma série de reuniões a portas fechadas para acertar os detalhes de uma possível fusão. A união, que tem prazo de 90 dias para ser concluída ou descartada, criará uma gigante com faturamento de R$ 80 bilhões e valor de mercado de R$ 26,5 bilhões. Ela será a quarta maior empresa de carne do planeta, atrás apenas da compatriota JBS, da americana Tyson Foods e da chinesa Smithfield.
Boi americano: Marfrig comprou 51% da National Beef no ano passado, para manter o foco no mercado de carne bovina (Crédito:Divulgação)
Em comunicado oficial, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, admitiu que as partes estão aprofundando os estudos para definir os termos de um acordo final e reafirmou que a nova empresa, ainda sem nome, estará entre as líderes do setor no Brasil, Estados Unidos, América Latina, Oriente Médio e Ásia. “Os termos preliminares da operação não preveem desembolso algum de caixa, sendo baseado numa troca de ações que resultará na atribuição de 84,98% da participação acionária resultante aos acionistas de BRF e 15,02% aos acionistas da Marfrig”, informou a BRF. “A avaliação é que o negócio representa complementaridade para as duas empresas nos mercados de atuação, diversificação geográfica e de proteínas e redução de riscos.”

Essa redução dos riscos passa, principalmente, pela redefinição do quadro societário. Segundo fontes ouvidas por DINHEIRO, o receio de que as negociações pudessem enfrentar obstáculos já na largada, principalmente no que se refere à distribuição de forças dentro da composição acionária da nova empresa, começou a se dissipar. Isso porque, em reunião na terça-feira 4, o ex-presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, 82, teria discordado dos termos iniciais da fusão e anunciado que deixaria em definitivo a empresa. A decisão de Abilio, apontado como fonte de inúmeros conflitos internos nos últimos anos, teria sido recebida como um alento pelos acionistas. “Se confirmada, a decisão seria uma saída honrosa para Abilio.
De saída: Abilio Diniz deve aproveitar a fusão para vender ações da BRF (Crédito:Claudio Gatti / Ag. Istoé)
A gestão da Tarpon (fundo parceiro de Abílio na condução da BRF, e que detinha ações da empresa) foi desastrosa e deixou o empresário desacreditado no mercado”, disse uma fonte ligada à empresa. “O Abilio fora da BRF será ótimo para ele e excelente para a nova empresa.” Sob a ótica dos números, a euforia faz todo sentido. Desde 2013, quando Abilio Diniz assumiu o Conselho da BRF com forte apoio da Previ (fundo de pensão dos funcionários da Caixa e do Banco do Brasil) e da Petros (da Petrobras), o valor de mercado da empresa despencou quase à metade: de R$ 39 bilhões para R$ 20 bilhões. Além disso, sob seu comando, entre 2016 e 2017, a companhia acumulou prejuízo de R$ 1,4 bilhão.

Abilio escolheu a BRF como prioridade de negócios quando começou a vender as suas ações na empresa de sua família, o Grupo Pão de Açúcar (GPA). Ele assumiu o comando do conselho de administração da BRF em 2013, trocou a gestão da empresa, nomeou como CEO Pedro Faria, sócio da Tarpon, e prometeu tornar a BRF uma potência global. O peso das operações em halal nos países de Oriente Médio aumentou. Ao substituir no conselho de administração Nildemar Secches, homem-forte da Perdigão desde os anos 1990, Abilio tentou trazer maior agilidade, eficiência às operações e uma gestão de caráter mais financeiro. Mas demonstrou não entender muito bem o setor em que atuava, que tem uma cadeia complexa e longa. Ao reduzir os estoques de ração, esperava aumentar o fluxo de caixa. Mas, quando o preço dos insumos disparou, como o milho para as aves, o prejuízo foi maior. Ele também implementou uma política excessiva de cortes de custos, demitindo quase mil pessoas e alterando processos que causaram insatisfação e problemas operacionais numa empresa que não demonstrava estar mal administrada anteriormente.
Com esse histórico recente, à primeira vista, o casamento da Marfrig, financeiramente saudável e com maior valor de mercado, é um negócio menos vantajoso para a empresa de Marcos Molina do que para a BRF, mais endividada e com rentabilidade menor. Mas não é bem assim. Molina, que hoje é o principal acionista da Marfrig, com 35% do capital, será o terceiro principal acionista da nova empresa, com fatia de 5,5%. Ele ficará atrás apenas da Previ e da Petros e à frente do BNDES. “A concretização do negócio será uma jogada de mestre, já que ele será peça-chave na composição acionária de uma companhia muito mais robusta”, afirmou o economista e consultor Leandro Pierini, da Fundação Getulio Vargas.

Atualmente, o maior problema da BRF é o elevado índice de alavancagem (dívida líquida em relação ao Ebitda), que está em 4,6 vezes, enquanto o da Marfrig é de 2,1 vezes. Juntas, elas terão média de 3,3 vezes. “A lógica financeira parece maior que a operacional para a combinação entre as empresas”, disse Luca Cipiccia, do Goldman Sachs. “A transação pode pavimentar um caminho para uma melhoria do rating de crédito e uma redução dos gastos financeiros no futuro próximo”, acrescenta Victor Saragiotto, do Credit Suisse.
Dias melhores: Nildemar Secches, que comandava a perdigão, presidiu o conselho da BRF antes de Abilio Diniz. A Empresa valia quase o dobro de seu valor atual (Crédito:Roberto Setton)
Muitos especialistas, no entanto, enxergam um jogo de ganha-ganha na união. A Marfrig é a quarta maior empresa de carnes dos Estados Unidos, mercado em que a BRF tem operação irrelevante. Já a BRF é líder no mercado halal do Oriente Médio. “A fusão geraria sinergias, reduziria riscos geopolíticos, permitiria um custo menor de capital e deve permitir ganhos para os investidores de ambas as empresas”, diz o consultor Benjamin Theurer, do banco britânico Barclays. “Combinar ativos de frango e carne podem trazer estabilidade de margens para os negócios, considerando a posição forte da BRF no mercado halal e da Marfrig nos EUA, expondo a empresa para mercados com forte demanda e permitir direcionar as operações brasileiras para
exportações.”

Esta não seria a primeira vez que as histórias das duas empresas se cruzam. A Marfrig, apesar de não operar mais fábricas em Santa Catarina, já figurou como uma marca forte no Estado. Em 2011, ela comprou plantas da Sadia e da Perdigão para cumprir as determinações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) impostas à BRF após a fusão das marcas. Essas e outras aquisições endividaram excessivamente a Marfrig, o que forçou a companhia a vender seus ativos da Keystone nos Estados Unidos para a Tyson Foods.
Mercado Halal: BRF se tornou grande produtora de carne para países árabes (Crédito:Divulgação)
O plano de fusão foi bem recebido pelo mercado financeiro, especialmente porque traz uma perspectiva de longo prazo à empresa. Daqui a 10 dias, acabará o mandato do presidente Pedro Parente. Ele ficará à frente do conselho e será substituído pelo executivo Lorival Luz. Apesar das incertezas geradas em períodos de troca de comando, a maioria das corretoras e dos analistas de investimentos recomendou, durante toda a semana, a compra de ações das duas companhias, com potencial de valorização acima de 20%. “Benefícios potenciais do negócio incluem tirar riscos do balanço da BRF, ao mesmo tempo em que aumentam a diversificação geográfica e de proteínas”, afirmou Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI. “Os minoritários também se beneficiar das sinergias.”

Assim como o mercado de ações, empresários do agronegócio de Santa Catarina receberam com festa o anúncio da possível fusão. Juntas, Marfrig e BRF terão mais musculatura para liquidar de vez os estragos causados pela gestão de Abilio Diniz. “Sob comando uma gestão que priorizava aumento de volume a qualquer custo, muitas normas de qualidade e controle dos processos foram negligenciados”, disse um empresário de Concórdia (SC), que fornece matérias-primas para a BRF. Essa negligência teria resultado em problemas que levaram a Polícia Federal a deflagrar as operações Carne Fraca e Trapaça. As acusações resultaram na perda de mercados importantes como o da Europa e na Ásia.
Portfólio: as marcas Sadia e Perdigão, da BRF, se unirão Às da Marfrig para competir com produtos da JBS, como Seara e Swift (à dir.) (Crédito:Diego Padgurschi/Folhapress | Divulgação)
PORTEIRA ABERTA A fusão entre BRF e Marfrig Global Foods abre uma porteira para a saída do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entre 2007 e 2012, o banco estatal, por meio de seu braço de participações, a BNDESPar, desembolsou R$ 3,6 bilhões na Marfrig, mas não conseguiu retorno positivo sobre os aportes. Se vendesse todas as ações que possui hoje, que representa 33,7% do capital, o BNDES contabilizaria uma perda de R$ 320 milhões. Agora, com a alta das ações gerada pela fusão, a venda dos papéis deve gerar um lucro significativo.

Se a fusão prosperar, o banco estatal vai se tornar sócio de uma empresa bem maior, com potencial de crescimento e ganhos de sinergias de mais de R$ 5 bilhões. Além disso, a liquidez dos papéis aumentaria sensivelmente, já que a BRF tem mais de 60% do capital na bolsa (free float), enquanto a Marfrig possui menos de 30%. Na nova empresa, pode chegar a 70%. O BNDES passaria a ter ações de uma companhia com recibos de ações na bolsa de Nova York (ADRs) de alta liquidez. Os ADRS da Marfrig, por sua vez, são menos líquidos. Hoje estão no nível 3, negociados apenas em balcão. Procuradas, a Marfrig e a BRF informaram que não fariam comentários durante o processo de negociação.

De compra em compra…