Empresa lança aplicativo gratuito voltado para o micro e pequeno empreendedor, mas analistas seguem céticos em relação ao desempenho das ações com a concorrência acirrada no setor
No mais recente capítulo da sangrenta guerra das maquininhas
de adquirência, a Cielo anunciou, na segunda-feira 26, o lançamento do
aplicativo Cielo Pay. O produto tem como alvo o cada vez mais disputado
micro e pequeno empreendedor, que poderá fazer as transações comerciais
via QR Code pelo smartphone, sem precisar da maquininha POS. A oferta
consiste também em um serviço similar a uma conta corrente, para que o
comerciante possa movimentar os valores recebidos pelo aplicativo. O
download estará disponível nas plataformas Android e IOS a partir do dia
14 de outubro, mas os testes já começaram a ser feitos pelos
colaboradores da companhia.
A novidade poderá ser baixada gratuitamente pelos clientes, e está
alinhada com a estratégia adotada pela Cielo desde que a concorrência
começou a aumentar no setor – dar foco em operações que possam garantir
um aumento na participação de mercado em detrimento aos produtos mais
rentáveis. “Como líder, a Cielo tem de se antecipar às necessidades do
cliente”, afirma Paulo Caffarelli, presidente da empresa. “O Cielo Pay
segue nessa direção”, diz o executivo.
Além de ser uma conta digital sem custos, a plataforma permite o
recebimento das vendas em até uma hora. “A gente sabe a importância que
isso tem para os empreendedores”, afirma Caffarelli. Segundo ele, a
Cielo Pay estimula a inclusão de empreendedores que não dispõem de
contas bancárias, segmento que cresce 40% ao ano. No futuro, será
possível fazer a contratação de empréstimos pelo aplicativo.
A novidade não despertou grande entusiasmo entre os analistas de
mercado, o que deve manter as ações da companhia em desprestigio. “A
notícia é positiva, mas ainda vemos um cenário muito complicado para a
Cielo”, diz Felipe Silveira, analista da Coinvalores. “Por isso,
seguimos não recomendando a exposição ao papel”, afirma o especialista.
Em 2019, até 28 de agosto, as ações da empresa acumulam uma
desvalorização de 14,3%, frente à alta de 11,7% do Ibovespa.
CETICISMO
Em linha similar vai Gustavo Pereira,
estrategista-chefe da Guide Investimentos. “Não vemos, por ora, nenhuma
reversão para as ações da empresa”, afirma. Ele cita como razão para a
falta de ânimo com o papel a economia fraca, a concorrência acirrada,
além de incertezas quanto às novidades regulatórias no segmento, que
pode colocar ainda mais pressão sobre a empresa.
Apesar do quadro desafiador, o presidente da Cielo tem promovido um
importante trabalho de reestruturação, diz Pereira, que espera outras
novidades da companhia em pouco tempo. “Após o lançamento da Cielo Pay,
não descartamos a criação de um banco próprio, com serviços focados para
pessoa jurídica e física, ampliando o nível de serviços aos clientes”,
afirma o estrategista-chefe da Guide.
André Martins, da XP Investimentos, engrossa a lista dos analistas de
mercado sem apetite pelas ações da adquirente. “Nossa visão se mantém
cautelosa quanto à companhia, apesar do resultado do segundo trimestre
ter mostrado sinais de recuperação em termos de volumes transacionados e
expansão da base de clientes, com 42% da fatia do mercado”, diz
Martins. No entanto, nem tudo foram flores no balancete da Cielo — as
despesas cresceram 27,2% no período e houve uma expressiva redução da
margem de ganho, conhecida pelo nome técnico de yield de receita, de
1,07% para 0,8% em doze meses.
Além disso, devido à rápida evolução do setor, com diversas inovações
e a possibilidade de novas medidas disruptivas, o analista da XP optou
por manter a recomendação neutra para as ações da Cielo. O preço-alvo
está em R$ 7. No pregão de quarta-feira 28, as ações fecharam cotadas a
R$ 7,26.
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