Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A corretora de seguros e consultoria MDS Brasil anunciou a
aquisição da QH Consult, empresa do segmento educacional que possui
portfólio de seguros e soluções financeiras para colégios e instituições
de ensino superior. Segundo a MDS, a QH Consult está presente em 21
Estados e apresentou ótima performance financeira nos últimos anos,
aumentando o faturamento em mais de 60% no ano de 2020, em comparação ao
ano anterior.
A empresa possui dois seguros principais no segmento de educação: o
primeiro é voltado ao custeio das mensalidades do aluno em caso de
desemprego, óbito do responsável financeiro, invalidez e acidentes ou
doença, enquanto o segundo é contratado pelas instituições de ensino
particulares com foco na cobertura contra acidentes dentro e nas
redondezas da escola ou em viagens e excursões promovidas pelos
colégios.
De acordo com a MDS, estima-se que, hoje, 87% das instituições de
ensino ainda não contrataram nenhum seguro educacional. Nesta
porcentagem, estão 38.060 escolas com 8,3 milhões de alunos.
O levantamento apontou que uma média de 22% das famílias brasileiras
têm um integrante matriculado no ensino privado. A QH Consult tem 52% do
share de mercado neste segmento e segue com o objetivo de garantir a
proteção e o acesso ao estudo para os brasileiros que ainda não
contrataram este tipo de serviço.
Para o CEO da MDS Brasil, Ariel Couto, a QH Consult agregará
ainda mais valor ao mercado no qual a companhia atua, afinal, o setor
espera um avanço exponencial nos próximos anos. “Para 2021 temos a meta
de dobrar o faturamento apresentado no último ano – principalmente por
se tratar de um segmento que ainda tem baixa penetração no mercado,
estimada em 13% dos alunos ativos”, afirma o líder.
SÃO PAULO (Reuters) – O Nubank informou nesta terça-feira que
recebeu aval do Banco Central para a compra da corretora Easynvest,
enquanto avança em produtos de investimentos para sua base de cerca de
35 milhões de clientes no Brasil e se prepara para listar ações na
bolsa.
O Nubank já havia recebido o aval do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) para o negócio, anunciado em setembro passado,
envolvendo cerca de 1,5 milhão de clientes e 26 bilhões de reais de
ativos sob custódia da Easynvest.
“Enquanto os trâmites finais da aquisição são tratados, o Nubank e a
Easynvest avançam no plano de transição e integração dos serviços, em
trabalho conjunto para os próximos passos. Por enquanto, as plataformas
permanecem operando com experiências, aplicativos e centrais de
atendimento distintos”, afirmou o Nubank em nota.
No mês passado, o Nubank havia anunciado sua primeira
experiência para investimentos com o início dos testes de três fundos
multimercado, com aplicações a partir de 1 real.
Também em abril, a Reuters publicou citando fontes que o Nubank
iniciou preparativos para a listagem em bolsa nos Estados Unidos, o que
pode ocorrer este ano.
O
Conselho Nacional de Justiça, por meio do Fórum Nacional da Saúde,
estuda ações para atender a um possível aumento da judicialização no
período pós-pandemia. A preocupação do colegiado é buscar a estruturação
de ações e o diálogo interinstitucional. As medidas também estão sendo
discutidas no âmbito dos Comitês Estaduais da Saúde, especialmente com o
reforço para as ações conciliatórias.
Durante a crise sanitária gerada pelo novo coronavírus, muitos
tratamentos eletivos foram suspensos, quer por receio dos pacientes em
irem ao hospital, quer por necessidade da instituição de saúde em focar
no atendimento dos casos de Covid-19. Com isso, espera-se que essa
demanda reprimida sufoque o sistema de saúde e os casos acabem na
Justiça.
Nesse sentido, o Fórum está elaborando um plano de ação,
que tem por fundamento o monitoramento das demandas de saúde destinadas
ao atendimento de serviços previstos nas políticas públicas de saúde,
principalmente na atenção primária e secundária. A finalidade é fomentar
a execução das políticas na atenção básica e especializada à saúde e,
em última análise, prevenir a judicialização.
Para tanto, o Fórum
da Saúde busca a estruturação de ações para organizar a atuação e o
diálogo interinstitucional, e construir, juntamente com os gestores
estaduais e municipais de saúde, uma política pública que não seja
imposta por meio de decisões judiciais, mas discutida e implementada por
todos em cooperação.
“Será o momento para o Sistema de Justiça e o
Sistema de Saúde conversarem entre si para apontarem os problemas e
oferecerem caminhos que possibilitem redução na intervenção judicial”,
explica a supervisora do Fórum, conselheira Candice Jobim.
Em
âmbito nacional, a conversa entre os poderes Executivo e Judiciário já
acontece. Por sugestão do Comitê Executivo Nacional do Fórum, o
Ministério da Saúde tem compartilhado uma nota informativa sobre suas
ações contra o novo coronavírus, como as realizadas no âmbito da
Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) para o enfrentamento da
Covid-19; o protocolo de manejo clínico da doença na atenção primária; a
habilitação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) adulto e
pediátrica; e o monitoramento da capacidade operacional dos
estabelecimentos de saúde frente a pandemia, entre outros.
O
material, apresentado também aos Comitês Estaduais da Saúde, tem o
objetivo de contribuir com o monitoramento e resolução das demandas, e
auxiliar a magistratura brasileira no julgamento de novas ações sobre o
tema. “
Essa troca de informações facilita a criação de critérios e
parâmetros para o monitoramento das ações judiciais relativas à saúde –
que deve ser sempre comparativo e contínuo”, afirma a chefe de gabinete
da Secretaria de Atenção Especializada em Saúde do Ministério da Saúde,
Maria Inês Pordeus Gadelha, que também integra o Comitê Executivo do
Fórum e é responsável pela elaboração da nota informativa.
Resolução
Uma das medidas adotadas pelo Fórum foi a edição da Resolução CNJ 388/2021,
que reestrutura os Comitês Estaduais de Saúde, aprovada pelo CNJ no
último dia 6 de abril. O objetivo é fortalecer os grupos, especialmente
no momento da pandemia. A norma deve padronizar a estrutura e
funcionamento dos comitês, que são compostos por representantes da
Justiça Federal e Estadual.
Para a conselheira Candice Jobim, a
medida facilitará o diálogo interinstitucional com os diversos atores do
Sistema de Justiça e do sistema de saúde, de forma a contribuir com
ações referentes às demandas de saúde, especialmente quanto à
racionalização e qualificação da judicialização no Brasil.
Além
disso, espera-se que, com a estrutura padronizada, os comitês consigam
identificar e suprir as falhas da política pública local pelo diálogo.
“A padronização dos comitês pode colaborar com essa conversa. Afinal, há
uma expectativa de que a pandemia vá terminar, mas não sabemos quando.
Logo, não há porque perder de vista a questão da mediação”, ressalta o
membro do Comitê Executivo e ex-conselheiro do CNJ, Arnaldo Hossepian.
Em
São Paulo, a coordenadora do Comitê Estadual de Saúde, desembargadora
Vera Angrisani, informou que a justiça estadual é responsável por 93%
das ações sanitárias, enquanto apenas 7% são da justiça federal. O
diálogo entre Judiciário e Executivo também é uma realidade. “Temos
discutido como diminuir a litigiosidade e oferecer uma prestação célere
por meio da mediação, evitando que a demanda seja ajuizada”.
No
estado, quando um paciente precisa de leito, a unidade de saúde o
cadastra no sistema CROSS, que faz a regulação do paciente e oferta de
serviços de saúde. A partir disso, um médico recebe, avalia e encaminha o
paciente para um leito que seja adequado às suas necessidades. Quando
há problemas que podem se tornar uma questão judicial, há um e-mail que
envia as demandas diretamente aos magistrados.
Além disso, o
comitê tem parceria no programa governamental Acessa SUS: o Estado
analisa o pedido de medicamento e tenta consegui-lo, antes de se tornar
uma queixa na Justiça. “Eliminamos a demanda na fase pré-processual
incluindo a Defensoria Pública nesse processo”.
Impactos
Segundo o ex-conselheiro Arnaldo Hossepian, o aumento da judicialização
poderá ter duas vertentes. A primeira, vai obrigar o Estado a fornecer o
que está previsto na política pública; a organizar a fila da saúde; e a
dar acesso ao medicamento básico. “Depende de quanto a ressaca da
pandemia vai impactar cada região”.
Hossepian lembrou que o
orçamento da saúde nem sempre é suficiente para prestigiar as políticas
públicas e a falta de recursos não permite cumprir decisões judiciais
que ultrapassam o planejamento local. Por isso, a outra via refere-se ao
que não está previsto.
“Para os medicamentos e tratamentos que
não estão no SUS, o CNJ tem estrutura montada, por meio dos Núcleos de
Apoio Técnico do Poder Judiciário (Natjus) Estaduais e Nacional, para
não trazer déficit ao erário. Para essas demandas, se não tiver
evidências científicas, o magistrado tem como enfrentar essa situação”,
observa.
Além disso, com um sistema disponível 24 horas por dia pela plataforma e-NatJus,
o CNJ disponibiliza subsídios técnicos e fundamentos científicos que os
magistrados necessitam para bem decidir, tendo como principal objetivo a
qualificação e a racionalização da judicialização da saúde no Brasil.
Informações
do Comitê Estadual da Saúde em São Paulo dão conta que a maior procura,
atualmente, é por leitos de UTI para pacientes infectados pelo novo
coronavírus e, posteriormente, a expectativa é que as reclamações sejam
relacionadas às sequelas da doença. “Temos percebido um incremento de
demanda nas áreas de cardiologia, nefrologia, angiologia e neurologia,
todos referentes a pacientes que tiveram Covid”, reforçou Vera
Angrisani.
O Comitê paulista contribui com o registro de notas
técnicas no e-NatJus e está trabalhando em uma pesquisa sobre o serviço
no Poder Judiciário local. “Lembramos os magistrados que há uma
plataforma de subsídios que ele pode utilizar. Também fizemos parceria
com o Conselho Regional de Medicina que, quando o médico verifica que o
paciente quer judicializar, ele preenche um formulário para dar
informações ao magistrado sobre o medicamento ou tratamento que está
prescrevendo”, explica a desembargadora.
Recomendação
Para aprimorar a prestação jurisdicional durante a pandemia da Covid-19,
o CNJ está orientando e sensibilizando os magistrados na adoção de
providências relacionadas aos procedimentos tendentes à resolução das
demandas de saúde. Nesse sentido, o Conselho tem reforçado, por meio de
recomendações, que os magistrados utilizem as informações técnicas de
medicina baseada em evidências disponibilizadas na plataforma NatJus
Nacional para embasar decisões relativas às demandas que envolvam o
direito à saúde.
“O objetivo é que haja uma qualificação da
judicialização. Segundo dados do Relatório Justiça em Números do CNJ,
cerca de dois milhões de processos do Poder Judiciário são relacionados
ao direito à saúde. Apenas em 2019, foram juizados 474.429 mil novas
ações ao relacionadas ao tema”, afirmou o presidente do CNJ e do Supremo
Tribunal Federal, ministro Luiz Fux.
O Fórum Nacional da Saúde
também está levantando informações sobre a estrutura, gestão, demanda e
tempo de atendimento, entre outros, dos serviços de atenção primária e
secundária da saúde. Uma pesquisa nacional, que está sendo finalizada
pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ/CNJ), vai dimensionar o
tamanho da rede de atendimento, bem como os índices de judicialização do
setor.
“Os dados vão ajudar a construir um Plano Nacional com
indicadores de melhorias na prestação dos serviços de saúde e redução da
judicialização”, explica a supervisora do Fórum, conselheira Candice
Jobim.28
Após a coleta e o tratamento dos dados, os Comitês
Estaduais de Saúde elaborarão suas propostas para solução dos conflitos
mais recorrentes, o que contribuirá no aperfeiçoamento do acesso
universal à saúde da população local. As propostas elaboradas servirão
de subsídio para a elaboração do Plano Nacional para o Poder Judiciário –
“Judicialização e Sociedade: ações para acesso à saúde pública de
qualidade”.
Esse plano vai apresentar uma proposta de execução de
ações pelos Comitês Estaduais de Saúde, sob supervisão do Fórum da
Saúde, com objetivos como acompanhar os indicadores de melhorias na
prestação da atenção primária e secundária à saúde; acompanhar e
monitorar indicadores da redução da judicialização; e avaliar outras
medidas específicas para adoção pelos Comitês de Saúde do CNJ. Com informações da assessoria do CNJ.
Anular
uma sentença arbitral é aprimorar o sistema, é prestigiar as outras
sentenças arbitrais que são boas. É também impedir que isso ocorra
novamente, porque senão vira um sistema autoritário.
A opinião é do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo Fernando Maia da Cunha.
Especialista em Direito Empresarial, foi presidente da Seção de Direito
Privado do TJ-SP no biênio 2010/2011. Na ocasião, idealizou a criação
da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, da qual foi integrante de
2012 a 2016.
Maia da Cunha foi magistrado de carreira no TJ-SP de
janeiro de 1981 até sua aposentadoria em setembro de 2019. Em
entrevista exclusiva à ConJur, o agora sócio consultor do Warde Advogados
falou sobre a modernização e informatização do tribunal nos últimos 15
anos, de anulações e sigilos em sentenças arbitrais e da importância das
Câmaras Empresariais.
"Era imprescindível que São Paulo tivesse
uma jurisprudência que desse segurança jurídica à grande comunidade
empresarial que se concentra no estado. A Câmara Empresarial em seguida
se uniu à Câmara de Recuperação e Falência, e, hoje, há duas Câmaras
Empresariais que têm feito um trabalho excelente na jurisprudência",
afirmou.
Leia a entrevista:
ConJur— Por que o senhor decidiu ingressar na magistratura e, ao se aposentar, atuar na advocacia? Maia da Cunha — Ser juiz sempre foi um sonho. Na
primeira instância, ser juiz de Vara Cível no Fórum João Mendes quase 12
anos, integrar o TRE de 2002 a 2004, participar de comissões e da
criação dos Juizados de Pequenas Causas (hoje Juizados) e integrar o 1º
Colégio Recursal (então único no Estado), nos idos de 1985, foram
aprendizados muito ricos para minha carreira.
No tribunal,
presidir a Seção de Direito Privado em 2010/2011, compor a 1ª Câmara
Empresarial por vários anos, integrar o Conselho Superior da
Magistratura, participar do Conselho Superior da Enfam (Escola Nacional
de Formação e Aperfeiçoamento dos Magistrados) e dirigir a Escola
Paulista da Magistratura em 2014/2016, dentre outras, foram experiências
riquíssimas. Foram quase 39 anos vivendo intensamente o sonho de ser
juiz e participar de tudo que eu podia ser útil.
Me aposentei por
várias razões. A minha forma de julgar implicava conhecimento e estudo
pessoal de cada caso concreto, o que não era mais possível pela
quantidade de recursos. Não, pelo menos, com as minhas limitações, o que
gerava grande prejuízo à família, aos estudos e participação na área
acadêmica. Resolvi que precisava de mais tempo sem prejudicar a minha
atuação jurisdicional. Tive uma carreira feliz na magistratura e estou
feliz hoje na consultoria que faço na advocacia.
ConJur— O senhor participou do maior projeto de racionalização e modernização da Justiça de São Paulo. Como foi essa aventura? Maia da Cunha — Os últimos 15 anos foram de
transformações no mundo em geral e não poderia ter sido diferente na
Justiça de São Paulo. Difícil fazer uma narrativa porque as mudanças
foram acontecendo ao longo do tempo. Particularmente, dentre tantos
outros fatos e circunstâncias, considero relevantes destacar, nesse
processo de modernização, a eleição para metade do Órgão Especial
(2005), a integração dos presidentes de Seção ao Conselho Superior da
Magistratura (2010) e elegibilidade de todos os desembargadores para os
cargos de direção do TJ (2012). As decisões que ponderam as iniciativas
dos mais jovens com a experiência dos mais antigos costumam ser
benéficas aos órgãos judiciais. Esses três pontos trouxeram ao tribunal,
paulatinamente, uma modernização. O tribunal ficou mais
democrático. Para mim, particularmente, como disse, foi muito
enriquecedor participar, direta e indiretamente, desse processo.
ConJur — Como
o senhor avalia a resposta do Judiciário à pandemia, com trabalho
remoto, audiências virtuais e uso cada vez maior de novas tecnologias? O
caminho do Judiciário é esse: investimentos em informatização?
Maia da Cunha — A pandemia veio depois da minha saída, mas só
ouvi elogios em relação às providências tomadas pelo TJ-SP. Em menos de
15 dias, sem parar e não obstante a sua grandeza em todos os aspectos, o
tribunal passou a funcionar remotamente. Isso é um feito que merece
todos os elogios à gestão atual do TJ-SP, que responde por quase 25% dos
processos em andamento no Brasil, ou seja, dos 77 milhões em
tramitação, 19 milhões estão no TJ-SP. Só na primeira instância são 320
comarcas e 1.529 varas. E agora tudo funcionando virtualmente. A
informatização do tribunal, como em tudo, é um caminho inevitável. E o
que se fez na pandemia certamente não seria possível se não fossem os
investimentos que o TJ fez na informática nos últimos dez anos.
Além
disso, a produtividade alcançada faz presumir que não voltará mais a
ser o que era. Será presencial e virtual, eu penso — talvez na proporção
de 60% virtual e 40% físico, desde que sempre haja um juiz na comarca
[após a entrevista, o TJ-SP publicou uma resolução que regulamenta o teletrabalho após a pandemia].
ConJur — Até
que ponto a automatização do processo judicial vai substituir pessoas?
Como o senhor vê projetos com robôs e inteligência artificial?
Maia da Cunha — Não acredito que a virtualização e os processos
digitais substituirão pessoas. A peculiaridade dos serviços judiciais
exige a presença das pessoas movimentando os computadores. Claro que não
é fora de propósito pensar que poderá haver redução em setores ou
departamentos específicos em que a inteligência artificial e robôs
poderão realizar os atos repetitivos ou de condutas semelhantes. Por
exemplo, nas execuções fiscais: além de uma quantidade absurda de
processos, o rito é o mesmo, então é possível usar robôs, que é o que
fazem os bancos hoje com a inteligência artificial. O que sei é que o TJ
estuda o fenômeno mais ou menos em sintonia com a própria
informatização.
ConJur — O que redução da faixa etária de juízes e desembargadores tem mudado o perfil da Justiça de São Paulo?
Maia da Cunha — É sempre salutar que os mais jovens participem
das decisões com os mais antigos. Isso mantém o tribunal mais
sintonizado com o mundo atual e suas alterações e desafios.
ConJur — O
senhor acredita que há um movimento de juízes se aposentando cada vez
mais cedo, como ocorreu com o ministro do STJ Nefi Cordeiro, que
surpreendeu a todos ao se aposentar aos 57 anos?
Maia da Cunha — Não consigo ver um "movimento" de juízes se
aposentando mais cedo. Houve uma transformação do mundo na última década
e o Judiciário não ficou fora das mudanças. Não tenho dados para
afirmar que hoje se aposentam mais magistrados do que há dez anos. Pode
ser que o tempo mostre que os atrativos da carreira não são mais
suficientes a manter os juízes e juízas até o tempo limite de idade.
No
TJ, houve aposentadorias nos últimos anos antes da compulsória. Talvez
um número acima do normal, mas acredito que não foi exatamente por falta
de atrativos na carreira, mas sim por circunstâncias peculiares aos
aposentados.
ConJur — Ano passado,
ministros do STJ, como o João Otavio Noronha e Rogério Schietti,
disseram que a Justiça de São Paulo rema contra questões pacificadas
pelos tribunais superiores, especialmente em matéria criminal. O senhor
acredita que juízes de São Paulo são mais punitivistas?
Maia da Cunha — Seria leviano da minha parte comentar o que
ocorre no Direito Criminal sem dele ter participado e sem ter elementos
acerca de descumprimento do que o STJ decide ou de maior rigor do que a
média. No que se refere ao Direito Privado, as decisões da 4ª Câmara,
ainda que com anotação de posicionamentos pessoais diferentes, sempre
seguiram a jurisprudência do STJ, especialmente aquelas resultantes de
recursos repetitivos. Em 2010/2011, quando fui presidente da Seção de
Direito Privado, não recebi reclamações a respeito.
ConJur— O
senhor participou da implantação da 1ª Câmara Empresarial do TJ-SP.
Como foi esse trabalho e qual a importância de ter a especialização na
área empresarial, especialmente em época de crise econômica?
Maia da Cunha — Quando assumi a presidência da Seção de Direito
Privado, tinha como uma das metas uma especialização maior do que a
existente. São Paulo concentra quase a totalidade das sedes das grandes
empresas. E o empresário é muito rápido, não tem paciência nem tempo
para esperar o fim de uma demanda que leva alguns anos. No fim do mês,
tem folha de pagamento, estoque, cliente e toda a dinâmica empresarial
da vida que segue. Então era uma grande pretensão que eu tinha.
A
primeira proposta que fiz para criação da Câmara Reservada de Direito
Empresarial acabou sendo aprovada, não sem muito trabalho de
convencimento do CSM e dos integrantes do OE. A proposta foi feita
oficialmente em novembro de 2010, que se transformou na Resolução 538
apenas em fevereiro de 2011.
Era imprescindível que São Paulo
tivesse uma jurisprudência que desse segurança jurídica à grande
comunidade empresarial que se concentra no estado. A Câmara Empresarial
em seguida se uniu à Câmara de Recuperação e Falência, e, até hoje, há
duas Câmaras Empresariais que têm feito um trabalho excelente na
jurisprudência. Ao longo do tempo e com a participação efetiva do
desembargador Manoel Pereira Calças [ex-presidente do TJ-SP], um
entusiasta do Direito Empresarial, as Câmaras ficaram exclusivas, e
foram criadas as Varas Empresariais na capital e na 1ª RAJ, que inclui
mais de 30 comarcas ao redor da cidade de São Paulo.
ConJur — Desde
o início da pandemia, aumentou a demanda da área empresarial com mais
pedidos de recuperação judicial e de falências. Há algum caminho para se
evitar o acúmulo de processos em Varas e Câmaras Empresariais? Como o
senhor vê a atuação do Legislativo em questões empresariais ao longo da
pandemia, como a Lei 14.112/20?
Maia da Cunha — A Lei 14.112
criou uma obrigatoriedade na conciliação como tentativa de desafogar um
pouco a recuperação judicial. Mas a única forma de fazer uma
conciliação, com uma negociação mais equilibrada, é entrar com uma ação
cautelar pedindo para o juiz conceder uma tutela para suspender as
execuções. E aí ocorre mais judicialização. Quer dizer, para tentar
resolver a judicialização compondo os interesses, antes é preciso ir ao
Judiciário. Não há outra solução no caso da recuperação porque sem
equilíbrio da devedora e credores não há conciliação. E acredito que até
junho haverá outro aumento substancial de insolvências em decorrência
da segunda onda da pandemia.
ConJur — A arbitragem tem
sido um tema recorrente no Judiciário brasileiro e houve um aumento no
número de sentenças arbitrais anuladas em 2ª instância. Como o senhor vê
a arbitragem? É preciso melhorias no modelo?
Maia da Cunha — A arbitragem sempre foi um caminho para a
solução dos conflitos empresariais, especialmente os de empresas de
grande porte. A legislação é clara e a jurisprudência dos tribunais
sempre prestigiou a justiça arbitral. Todo modelo precisa de constante
melhoria, sob pena de não serem corrigidos problemas que podem ocorrer.
Algum aumento nas ações de nulidade da sentença arbitral, bem como
algumas anulações, não desprestigiam o instituto da arbitragem. Há
previsão legal do controle judicial de legalidade da sentença arbitral.
E, dentro das hipóteses de revisão previstas na Lei de Arbitragem,
não pode ser visto como prejudicial à justiça privada. Anular uma
sentença arbitral é aprimorar o sistema, é prestigiar as outras
sentenças arbitrais que são boas. É também impedir que isso ocorra
novamente, porque senão vira um sistema autoritário.
ConJur — O
TJ-SP também tem retirado o sigilo de sentenças arbitrais e alguns
magistrados têm criticado o fato de o segredo de Justiça ser a regra
nesse modelo. Para o senhor, as sentenças arbitrais devem ser mantidas
em sigilo ou deve-se priorizar a transparência?
Maia da Cunha — A questão do sigilo dos procedimentos de
arbitragem não é tão nova. Diante das grandes mudanças ocorridas na
sociedade em geral depois da edição da Lei de Arbitragem, talvez seja um
bom momento para a comunidade jurídica refletir a respeito. Há pontos
positivos e pontos negativos. Ao mesmo tempo que pode preservar as
empresas envolvidas e seus litígios, não contribui com a jurisprudência
para o aprimoramento do Direito Empresarial. Se pode preservar as
empresas, também pode prejudicar o direito que, sobretudo nas companhias
abertas, os acionistas têm de conhecer os litígios que as envolvem. De
outro lado não há aperfeiçoamento do Direito Empresarial porque, embora
sejam grandes juristas que proferem as sentenças arbitrais, as decisões
ficam em segredo. O risco é criar um direito próprio de uma comunidade
que não é tão grande. Seja como for, o sigilo não pode ser motivo para
evitar a discussão judicial e a necessidade de transparência se assim
entendeu o tribunal naqueles casos concretos.
Os
serviços de streaming, como Spotify e Apple Music, faturam bilhões de
dólares, mas uma pequena fatia desse valor vai parar no bolso dos
músicos. O ex-Beatle Paul McCartney resolveu levantar sua voz por uma
remuneração mais justa. E está servindo de inspiração para um grupo de
compositores brasileiros
Luís Antônio Giron •
O cantor e compositor inglês Paul McCartney (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)
O cantor e compositor inglês
Paul McCartney não costumava protestar contra direitos autorais nem se
juntar a grupos de pressão contra as gravadoras multinacionais. Por
isso, o alerta soou quando o ex-Beatle encabeçou uma carta de 156
músicos britânicos ao primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
O documento foi publicado em 20 de abril pelo diário londrino The Guardian
e está sendo examinado pelo Parlamento britânico. A carta alerta para
as remunerações baixíssimas que os cantores e compositores estão
recebendo das plataformas de streaming de música, como Spotify, YouTube e
Apple Music, e reivindica a urgente reformulação da política de
direitos autorais do setor. O “Copyright Act” data de 1988 e está
obviamente ultrapassado.
“Por longo tempo, as plataformas de streaming, gravadoras e outros
gigantes da internet têm explorado músicos e criadores sem
recompensá-los de forma justa”, diz o texto. “Precisamos restituir o
valor da música a quem ela pertence – às mãos daqueles que criam
música.”
Hoje, as plataformas de streaming de áudio, como Spotify, Apple
Music, YouTube, Deezer ou Amazon Music, são responsáveis por 85% da
receita da indústria fonográfica, de acordo com um estudo da Recording
Industry Association of America (RIAA), apenas sobre o mercado
americano.
No primeiro semestre de 2020, dado mais atual, o setor arrecadou US$
5,7 bilhões, nos Estados Unidos, uma alta de 5,6% sobre o mesmo período
do ano anterior. Só os serviços de streaming ficaram com U$ 4,8 bilhões
dessa receita.
Por conta desses números bilionários, que não chegam ao bolso da
imensa maioria dos cantores, músicos começaram a reclamar ao redor do
mundo, inclusive no Brasil, das remunerações que recebem das plataformas
online de áudio.
Depois de mais de um ano de pandemia e sem poder fazer apresentações
ao vivo, eles têm recebido os direitos de reprodução de suas gravações
nas plataformas digitais. O fato é que nunca estiveram tão à míngua,
sobretudo os menos conhecidos.
Um dos primeiros a se preocupar no Brasil foi Ivan Lins, um dos
músicos brasileiros mais famosos e influentes, com um catálogo de
sucessos portentoso. Na semana passada, ele entrou em contato com os
colegas do Reino Unido para buscar orientação.
E, mesmo confinado na serra fluminense, passou a contatar os
companheiros brasileiros para organizar um movimento local contra as
baixas remunerações. “Estamos submetidos à cleptocracia dos streamings”,
teria dito a um amigo. “A carta dos britânicos abriu nossos olhos”, diz
outro colega de Lins. “Até essa carta, Paul McCartney sempre ficou na
dele.”
Paul passou os últimos anos sem falar contra a política das
plataformas de streaming de música, como Spotify, YouTube e Apple Music,
que dominam o mercado musical desde pelo menos 2008, data da fundação
do serviço de streaming Spotify, do bilionário sueco Daniel Ek. Tudo
parecia bem, mas algo mudou depois da pandemia.
O ex-Beatle segue sendo o cantor e compositor mais rico do mundo. Em
2020, sua fortuna foi avaliada em US$ 5,3 bilhões, segundo o jornal
britânico The Sunday Times. Mas até Paul anda descontente, sem poder cantar diante de milhares de pessoas em grandes estádios, com altas bilheterias.
Os músicos brasileiros, em especial os sertanejos, ganhavam milhões
com a arrecadação de seus shows. Agora, inspirados nessa constatação, a
novidade no Brasil é que os músicos começaram a se mobilizar para criar
uma ação parecida com a carta de Paul.
Diz a lenda que quando o músico nacional se reúne em uma mesa para
reivindicar alguma coisa, nada acontece – além de música. “Daqui a pouco
é cerveja, uísque e violão, e todo o resto para”, brinca o cantor e
compositor Paulo César Feital.
Mas dessa vez pode ser diferente. “O fato é que, com o coronavírus,
paramos de receber de uma hora para outra. Os streamings remuneram mal, e
são sócios das gravadoras majors. Nada contra eles, porque sabem agir. O
artista é que necessita se esforçar para mudar a situação e passar a
ganhar honestamente pelo que produz”, afirma Feital.
De acordo de Jorge Vercillo – titular de 16 álbuns, autor de diversos
sucessos da MPB em 13 novelas de televisão, como “Homem Aranha” (2002),
“Monalisa” (2003) e “Ela une todas as coisas” (2007) – não se trata de
demonizar as plataformas.
“O mundo digital fez um trabalho incrível e revolucionário”, afirma
Vercillo. “O resultado é que as gravadoras e os serviços de streaming
lucraram bilhões, mas relegaram os produtores de conteúdo para o fundo
da pirâmide. Temos que tornar o sistema mais equilibrado.”
Vercillo está planejando um movimento que una os músicos brasileiros
com o objetivo de produzir um documento semelhante ao dos ingleses. “São
muitos interessados que entraram em ação nos últimos dias e acho que
terei boas notícias a dar’, diz.
Outro compositor, Dudu Falcão, diretor da associação Associação
Brasileira de Música e Artes (Abramus ), afirma que os músicos
brasileiros só se deram conta da tragédia que amargam por conta da
pandemia.
“Quando eles pegavam a estrada e faziam show, nunca pensaram nos
direitos autorais, já que o dinheiro vinha dos shows”, afirma Falcão.
“Mas a estrada acabou. Daí o interesse positivo em reestruturar o modelo
de remuneração. A classe dos músicos é extremamente desunida. Só que se
deu conta de que chegou a hora de agir globalmente.”
A divisão da receita da indústria da música compreende uma
distribuição de direitos que envolve diversas entidades, que gerenciam a
execução, o direito de reprodução e o autoral. São os casos de
gravadoras, editoras, associações de autores e o ECAD (Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição), autarquia que detém a
prerrogativa de administrar e fiscalizar todos os direitos autorais e de
execução dos músicos.
“O modelo do ECAD funciona desde sua criação, em 1977, mas precisa,
sempre, se atualizar, por causa do avanço digital”, diz Falcão. “O
Movimento Procure Saber e o Grupo de Apoio Parlamentar Pró Música (GAP)
já conseguiu algumas vitórias no Congresso Nacional, e vai continuar a
obter vitórias.”
“Quando eles pegavam a estrada e faziam show,
nunca pensaram nos direitos autorais. Mas a estrada acabou. Daí o
interesse positivo em reestruturar o modelo de remuneração”, diz Dudu
Falcão
De acordo com Falcão, uma delas foi a Lei 12.853, que restaurou a
fiscalização e regulação dos direitos a partir do Estado. “O ECAD voltou
a ser regulado e fiscalizado, embora de forma ainda insuficiente e
ineficiente”, diz ele.
Antes do ambiente digital, vigorava uma fórmula mais clara quanto ao
direito de reprodução das vendas físicas, do LP ao CD. Ela deixava claro
quanto um autor receberia das vendas dos produtos. O percentual de 8,4 %
destinado ao pagamento de direitos autorais, era dividido pelo número
de faixas, levando em conta o preço de capa do LP ou CD.
“Era menos injusto do que é hoje e, embora esse modelo ainda exista,
perdeu quase que todo o espaço para o streaming. E, no ambiente digital,
as regras e fórmulas não são bem definidas, ou muito pouco claras para
um autor ter alguma ideia de remuneração”, afirma Falcão.
Atualmente, as plataformas contam com um modelo que compreende a
seguinte partilha das receitas: dos 100% arrecadados pela execução de
uma música, por exemplo, a plataforma fica com 30% e a gravadora, com
58%. Os 12% restantes são distribuídos entre editoras (9%) e 3% (ECAD). O
percentual que resta ao músico vem destes últimos 12%.
“O que nos sobra é algo na ordem de 0,1% a 0,0001%”, diz um cantor de
sucesso, que prefere não se identificar. Ele conta que tem quase 2
milhões de seguidores no Spotify. Em 2020, um hit seu resultou em 400
mil audições da canção. “Sabe quanto eu ganhei? R$ 49!”, diz.
Em março deste ano, o Spotify, que faturou 7,8 bilhões de euros e
vale US$ 48,1 bilhões, lançou uma página para explicar como divide o
dinheiro com os artistas e compositores de sua plataforma, que tem 155
milhões de assinantes pagos.
De acordo a empresa, mais de 13 mil artistas tiveram uma receita de
US$ 50 mil em 2020. Foram pagos US$ 5 bilhões em royalties de direitos
autorais no ano passado – em 2017, eram US$ 3,3 bilhões.
Somente 870 artistas tiveram receita maior do que US$ 1 milhão. Por
outro lado, 4,6 milhões de artistas tiveram ao menos uma música
reproduzida. Em resumo, 89% deles receberam menos de US$ 1 mil ao ano.
“A empresa lançou o chamado Loud & Clear,
que é uma forma de fazer esclarecimentos a respeito de como funciona o
processo de pagamento e as receitas totais recebidas”, informou o
Spotify, em nota ao NeoFeed.
“Ali estão explicados todos os pontos essenciais para que os músicos
saibam como o conteúdo deles é visto pelo Spotify, incluindo uma
calculadora que permite saber a classificação, quando comparado com os
outros milhares de artistas que publicam canções rotineiramente.”
Para o gerente de conteúdo e produto da Deezer, Alexander Holland, a
forma de remuneração da plataforma francesa é justa e transparente.
“Pagamos 70% da nossa receita à indústria”, diz ele.
Vercillo enxerga um futuro glorioso junto às plataformas digitais.
“Vamos nos esforçar para reformular o sistema e passar finalmente a ser
remunerado de forma equitativa”, afirma. A solução, para Falcão, é
prática: reestruturar a divisão e equilibrar o sistema de remuneração.
Ele propõe uma divisão equânime de 25% para cada integrante da
indústria: plataforma, gravadoras, editoras e músicos. “É uma cadeia
produtiva que a indústria deve repensar e reformular para que o lucro
seja distribuído de forma mais justa para todos.”
É preciso agir agora e de forma planetária, acham os músicos: “Senão,
corremos o risco de excluir os grandes artistas que vêm por aí. A
música corre o risco de desaparecer se ninguém puder ganhar pelo que
cria”, diz Galvão.
Todos concordam que a lista de Paul McCartney acendeu uma fagulha que poderá se espalhar muito em breve.
Desde
o ano passado, a Niche Partners, uma dos braços da SK Tarpon, está
discretamente comprando empresas para criar uma plataforma de tecnologia
logística. Até então, foram três negócios. Nesta segunda-feira, ela
anuncia a sua quarta aquisição: a Brasil Risk. Vasco Oliveira conta os
planos da nova holding
Ralphe Manzoni Jr. •
Em quatro aquisições, a Niche Partners gastou R$ 300 milhões
Em novembro de 2019, o
empresário Vasco Carvalho Oliveira Neto vendeu a sua operadora logística
AGV para a mexicana Femsa. O negócio, cujo valor não foi revelado,
aconteceu através da Solistica, braço logístico da maior engarrafadora
da Coca-Cola na América Latina.
Quase um ano e meio depois desse negócio, Oliveira está voltando ao
mercado. Ele está por trás da NSTech, uma holding criada pela SK Tarpon
(novo nome da Tarpon) para investir em uma plataforma de tecnologia para
logística, cujo objetivo é atender motoristas, transportadores,
embarcadores, corretoras de seguro e seguradoras que atuam no transporte
de carga.
A nova holding, que opera discretamente desde o fim do ano passado e
será gerida pela Niche Partners, já comprou três empresas da área:
Buonny, Opentech e AT&M. Nesta segunda-feira, 3 de maio, a NSTech
está anunciando a aquisição da Brasil Risk, uma das principais empresas
brasileiras da área de gerenciamento de risco.
“Tudo o que for tecnologia para melhorar a experiência de transporte
desses cinco públicos faz parte do nosso escopo”, diz Oliveira, CEO da
Niche Partners e sócio da SK Tarpon, com exclusividade ao NeoFeed.
Embora não revele o valor da compra da Brasil Risk, a NSTech já
investiu R$ 300 milhões na aquisição das quatro empresas. O capital para
investimento é proprietário e de family offices, que estão
comprometidos a injetar recursos negócio a negócio. O objetivo é fazer
novas transações e 15 negócios estão sendo avaliados no momento. “Temos
alguns bilhões de reais para investir nos próximos anos e não temos meta
de aquisições”, diz Oliveira Neto.
A Brasil Risk atua com soluções que permitem o acompanhamento em
tempo real das viagens e ajudam na prevenção de acidentes por meio de
análise de dados, tais quais velocidade e tempo de condução. Outro
serviço é o planejamento de rotas e paradas, para aumentar a
produtividade, e a análise de perfil dos motoristas.
“Fomos assediados mais de sete vezes para vender a empresa”, afirma Rogério Faria, um dos fundadores da Brasil Risk, ao NeoFeed.
“O Vasco (Oliveira Neto) chegou com um projeto pronto de criar uma
plataforma de tecnologia logística e estávamos preparando a companhia
para um momento como esse. Mas não queríamos sair do negócio.”
No desenho feito pela NSTech, as marcas seguem autônomas e
concorrendo entre si. O modelo envolve a compra de fatias majoritárias –
que podem ser de até 100% da companhia – e os fundadores seguem tocando
a operação. Eles também podem se tornar sócios da holding NSTech, em um
modelo para alinhar interesses de todos no longo prazo.
O objetivo da NSTech é comprar empresas líderes de mercado em seu
nicho, com receita recorrente e margem alta. Com as quatro aquisições, a
NSTech já conta 20 mil clientes e um faturamento R$ 245 milhões, sendo
que 97% dele é de receita recorrente. A holding atua no México – a
Brasil Risk tem uma operação lá – e deve começar a operar em Peru,
Colômbia e Equador em breve.
O curioso, na estratégia da NSTech, é que Brasil Risk, Buonny e
Opentech são concorrentes, que agora passam a fazer parte da mesma
holding. Só a AT&M, que atua com averbações de seguros de cargas,
está em uma área diferente. “Elas têm clientes diferentes e focos
complementares”, afirma Oliveira Neto.
A Brasil Risk, por exemplo, atua prestando serviços para operações
mais complexas de embarcadores e grandes transportadoras. Seus
principais clientes estão na área de eletrônicos e bens de consumo. A
Opentech tem sua força com o monitoramento de operações de empresas com
produtos frigorificados e farmacêuticos. Já a Buonny opera com pequenas e
médias transportadoras.
Apesar de operarem de forma independente, a NSTech deve centralizar
algumas ações. Uma delas é a parte de tecnologia, como os data centers.
“Temos mais poder de barganha”, diz Oliveira. As três empresas que atuam
na área de gerenciamento de riscos estão decidindo também qual
tecnologia deve prevalecer entre elas. “Não faz sentido investir em três
plataformas diferentes”, afirma Faria, da Brasil Risk. “Vamos investir
pesado em inteligência artificial e machine learning.”
Outra área que deve ser centralizada é a de dados. Com as quatro
aquisições, a NSTech passa a contar com um dos maiores banco de dados do
setor. São informações de mais de 1,8 milhão de motoristas
profissionais, incluindo ainda o monitoramento de mais de 10 milhões de
viagens por ano.
Por mês, a holding terá ainda informações de mais de 70 milhões de
documentos, com dados sobre a viagem, o valor pago e os nomes das
empresas que contrataram o serviço e do transportador. “São insights que podem resolver os grandes problemas do setor, como produtividade, roubo e acidentes”, afirma Oliveira Neto.
Nesse momento, a NSTech está trabalhando para tratar os dados dessa
base. Depois, avaliará como eles serão usados. “Sabemos que há muito
valor para extrair”, diz Oliveira Neto. “Mesmo que seja vendendo.” Será
um negócio a parte? Oliveira não sabe ainda responder.
A NSTech também está de olho no universo de motoristas e
transportadoras que não tem acesso a serviços financeiros ou que pagam
taxas de juros altíssimas em empréstimos. “Esse é um mercado grande”,
diz Oliveira Neto. “Certamente, vamos ter a maior fintech do setor.” Com
base nas informações de seu banco de dados, Oliveira acredita que a
NSTech terá capacidade de desenvolver um produto mais aderente a esse
público.
Questionado se o plano é comprar uma fintech para ofertar esses serviços ou fazer parcerias com empresas que prestam serviço de banking as a service,
Oliveira diz que não pode relevar a estratégia. “Tem coisas que faz
sentido comprar e outras, montar do zero”, diz ele, sem dar pistas.
A criação da NSTech faz parte do novo posicionamento da SK Tarpon, o
novo nome da Tarpon, depois de diversos problemas que fez com que muitos
apostassem no fim da gestora criada por Zeca Magalhães, Pedro Faria e
Eduardo Mufarej.
O maior deles foi a BRF, um dos principais investimentos da gestora
que não deu certo, em uma sucessão de erros de gestão, disputa entre
acionistas e problemas com a Polícia Federal – a companhia foi alvo da
operação Carne Fraca, que investigou diversos frigoríficos a partir de
2017.
Sem Mufarej, que seguiu outro caminho, Magalhães e Faria trouxeram
três novos sócios ao negócio (Marcelo Lima, Vasco Oliveira Neto e Artur
Tacla) e criaram a holding SK Tarpon, que conta atualmente com R$ 5
bilhões de ativos sob gestão. A sigla significa “silver king” em uma
referência ao peixe prateado (o Tarpon) que dá nome à gestora.
Mas em vez de manter uma estratégia centralizada, eles decidiram
montar subgestoras dedicadas a atuar em teses distintas de
investimentos, na qual a holding detém uma fatia de 30% – o que dá
margem para cada sócio tocar a seu próprio negócio.
Magalhães, por exemplo, ficou com a Tarpon Capital, que investe em
fundos líquidos e na bolsa de valores. Faria, que foi CEO da BRF na
época em que a Tarpon detinha uma fatia relevante na empresa, está à
frente da Kamaroopin, que investe em empresas de alto crescimento e com
base tecnológica da área de consumo. A maior aposta é no e-commerce de
produtos para cães e gatos Petlove, na qual detém 35% – o Softbank e a L Catterton são também sócios da operação.
Marcelo Lima cuida da 10b, que foca no agronegócio. Entre os
investimentos estão a Agrivalle, do mercado de bioinsumos; a Ideagri,
que tem um software de gestão para fazendas de gado de leite e corte; a
Kepler Weber, da área silos (esse investimento em conjunto com a Tarpon
Capital); e a OnFarm, startup de soluções para a saúde animal.
Oliveira Neto, por sua vez, criou a Niche Partners, que vai investir
em teses de nicho. A primeira delas é a de logística, mas nada impede
que, no futuro, aposte em outras áreas, como nos setores de saúde e
educação.
“Mas, no momento, o foco é em logística”, diz Oliveira Neto, que teve
a ideia de investir nessa tese quando conheceu, em 2012, a americana
Roper Technologies, empresa centenária que cresceu comprando dezenas de
outras companhias que atuam em nichos de mercado – de software a
soluções médicas. Hoje, a companhia vale US$ 46,9 bilhões na Bolsa de
Nova York.
Foram longos oito anos até que Oliveira pudesse colocar a tese em
prática. Quando comandava a operadora logística AGV, ele percebeu que o
mercado era fragmentado, cheio de fornecedores, mas que não havia uma
empresa que fornecesse um serviço integrado. “Eu precisava contratar
muita gente”, afirma ele.
É essa diversidade de fornecedores que Oliveira Neto quer colocar
debaixo do guarda-chuva da NSTech, criando um “one-stop-shop” do setor
logístico. Ele está também de olho em um mercado gigante.
A logística representa aproximadamente 12% do PIB brasileiro, um
valor superior a R$ 800 bilhões. Esse dado inclui gastos com transporte,
estoque, armazenagem e serviços administrativos. Apesar dessa cifra
bilionária, o setor é cheio de ineficiências. “A tecnologia hoje está
restrita aos armazéns e não à frota”, diz Mauro Roberto Schlüter,
professor de logística do Mackenzie.
É esse espaço, com uso de tecnologia, que a NSTech quer explorar. De
acordo com dados da empresa, 40% da frota de caminhões roda vazia mais
de um terço de tempo que está na estrada. Os acidentes também são altos:
só nas estradas federais, eles somam aproximadamente 20 mil por ano.
Não bastasse isso, o Brasil é também o terceiro país com mais roubo
de cargas no mundo. Em 2019, dado mais atual, foram 18 mil casos e o
prejuízo atingiu R$ 1,4 bilhão, segundo dados da Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).
A presidente do conselho do Magalu e do grupo Mulheres do Brasil é a convidada desta semana do podcast ESG de A a Z
Luiza
Trajano, presidente do conselho do Magalu: "Vacinar as pessoas é a
única maneira de parar com o abre e fecha" (LAILSON SANTOS)
Rodrigo Caetano
Repórter ESG| rodrigo.sabo@exame.com
A
empresária Luiza Trajano lidera um grupo de empresários que pretende
auxiliar o governo a vacinar a população. Comprar o imunizante, no
entanto, não está nos planos. Trajano, que transformou o Magazine Luiza em uma das maiores varejistas do Brasil, deixa claro que há coisas que são do governo, e outras que são da iniciativa privada.
O
que nenhum dos lados pode deixar de se preocupar é com o
desenvolvimento social do país. De sua fazenda nos arredores de Cássia,
em Minas Gerais, a empresária participou do podcast ESG de A a Z,
produzido pela EXAME. Na conversa, Trajano falou sobre vacina,
diversidade, varejo e a chance de entrar para a política. Confira um
resumo da entrevista:
A pandemia está alterando a visão dos empresários sobre o papel da iniciativa privada para o desenvolvimento da sociedade?
O
espírito de cidadania aumentou no Brasil. Eu canto o Hino Nacional
todas as manhãs há 23 anos. Mas, como fomos colonizados e passamos por
400 anos de escravidão, as pessoas sentem que existem apenas dois
papéis: o do colonizador e o do colonizado. Não sentem que o país
pertence a elas. Com a desigualdade social sendo escancarada, as
empresas doaram muito, mais de 6 bilhões de reais. Não apenas doaram
para se sentir melhor, mas participaram da entrega, conheceram a
desigualdade. Isso traz uma consciência muito grande, e o empresariado
teve um papel muito importante nesta pandemia.
Qual é o objetivo do movimento Unidos pela Vacina?
Vacinar
as pessoas é a única maneira de parar com o abre e fecha. Sempre
deixamos claro que não vamos comprar vacina, quem faz isso é o governo.
Até porque não há vacina disponível para comprar, as fabricantes já
disseram que só vendem para governos. Não falta dinheiro para o Brasil,
falta vacina para comprar. Não sei se dava para ter comprado antes, o
que eu quero é olhar daqui para a frente e ajudar o governo.
Como será essa ajuda?
Temos
três agências de propaganda e uma rede logística, até com aviões,
trabalhando com a gente. Junto com a consultoria Locomotiva, fizemos um
levantamento com 5.500 municípios para saber o que está faltando. Cerca
de 5.300 já responderam, o Renato [Meirelles, fundador da Locomotiva]
disse que nunca viu algo parecido. O que mais falta nos municípios são
profissionais de saúde, comunicação e equipamentos como caixa térmica.
Organizamos doadores que estão apadrinhando cada região para fornecer o
que está faltando.
A inteligência e a expertise do setor privado é o que falta para acelerar a vacinação no país?
O
SUS tem a maior inteligência de vacina do mundo. Não precisa da
experiência do setor privado nessa questão. O que precisamos é ajudar na
gestão. O governo federal é responsável pela compra. Mesmo estados como
São Paulo, que compraram diretamente, ficaram com menos de 30%, o resto
foi para o SUS. Por que isso? Para ter igualdade. Não é justo eu
vacinar minha equipe e deixar o povo que anda de ônibus sem vacinar.
Agora, não adianta culpar o que fez e o que não fez demonizando ou mitificando as pessoas. É preciso conectar todas as pontas.
Há um plano para continuar o Unidos pela Vacina após a pandemia, como está sendo feito com o Todos pela Saúde, do Itaú?
O que eu sempre quis, junto com o Mulheres do Brasil, foi investir
em ciência. O Brasil tem um histórico de cura de doenças como a febre
amarela. Esta não será a última pandemia. Os vírus estão aí circulando,
temos de ter a prevenção. O Todos pela Saúde, do Itaú, também virou um
instituto de ciência.
Qual será seu próximo projeto na área social?
Assim que passar a vacina, quero fazer um plano estratégico de dez anos
para o Brasil, abordando saúde, educação, moradia e emprego. Tudo
ligado à sustentabilidade. Quando eu estive no Japão pela primeira vez,
em 2015, conheci o plano estratégico deles. Já o traduzi, e agora estou
traduzindo o de Singapura. São quatro frentes importantes. O plano
definirá em que lugar queremos estar na educação em 2025, por exemplo,
ou na fila do SUS. Os objetivos precisam ser claros e difundidos para
toda a sociedade. Ter o plano na boca do povo e um grupo de 100.000
pessoas com poder político é o caminho para fazer as mudanças
necessárias [o Mulheres do Brasil tem 80.000 signatárias].
A
política brasileira passa por grande turbulência, inclusive com temores
de ruptura da democracia. Isso dificulta a organização da sociedade
civil?
Não acredito na retomada de um país sem uma sociedade
civil organizada. O Mulheres do Brasil nunca esteve tão organizado e tão
forte. Não vai ter golpe porque a sociedade não vai deixar. As pessoas
estão cansando dessa divisão. Sempre vai ter 10%, 15% e um lado ou de
outro, mas as pessoas estão cansando.
Como a senhora enxerga o Brasil do futuro em termos de identidade nacional?
Não
esperava tamanha adesão da sociedade ao Unidos pela Vacina. Não estamos
levando paulada de nenhum lado. Acredito que o futuro do Brasil será
este: uma grande união nacional com base na coletividade e na
cooperação.
Outras bandeiras levantadas pelo Magazine Luiza, no
entanto, sofreram com a polarização, especialmente nas redes sociais.
Como a senhora reagiu às críticas ao programa de trainees para negros?
Foi
um fenômeno de um fim de semana. Faz três anos que tentamos aumentar a
presença de negros na liderança. Fomos à Universidade Zumbi dos
Palmares, aos movimentos negros, mas não aparecia ninguém. O Frederico
[Trajano, CEO do Magazine Luiza] deu a sugestão de criar um programa de
trainees só para negros. Quem ajudou a montar foram os meninos negros da
companhia e o comitê de diversidade do Mulheres do Brasil.
Foi
aprovado em conselho e, na sexta-feira, às 15 horas, nossa comunicação
mandou um release, até para chamar candidatos. Foi um horror no Twitter.
Ficamos muito em evidência. Foram 32 horas de puro racismo estrutural.
Eu já estou acostumada a quebrar paradigmas e sei que leva paulada
mesmo, mas o Frederico ficou assustado. Então, ele escreveu uma carta
dizendo ”calma, só estou querendo acertar na minha empresa, não é para
ficar tão bravo“. Foi um fim de semana típico de internet. Mas, depois,
recebemos muito retorno positivo. Os 20 trainees já estão trabalhando.
A senhora pensa em entrar para a política?
Nunca
me filiei a partido político, mas sou uma política que trabalha pelo
Brasil há décadas. Não sou contra partido político nem contra o processo
político. Eu sempre quis que a sociedade se unisse, acredito muito no
poder da sociedade civil organizada. Nunca me passou pela cabeça ter um
cargo político e não estou recebendo ninguém que me procura. Agora,
nunca diga “dessa água não beberei“.