Desde o ano passado, a Niche Partners, uma dos braços da SK Tarpon, está discretamente comprando empresas para criar uma plataforma de tecnologia logística. Até então, foram três negócios. Nesta segunda-feira, ela anuncia a sua quarta aquisição: a Brasil Risk. Vasco Oliveira conta os planos da nova holding
Em quatro aquisições, a Niche Partners gastou R$ 300 milhões
Em novembro de 2019, o empresário Vasco Carvalho Oliveira Neto vendeu a sua operadora logística AGV para a mexicana Femsa. O negócio, cujo valor não foi revelado, aconteceu através da Solistica, braço logístico da maior engarrafadora da Coca-Cola na América Latina.
Quase um ano e meio depois desse negócio, Oliveira está voltando ao mercado. Ele está por trás da NSTech, uma holding criada pela SK Tarpon (novo nome da Tarpon) para investir em uma plataforma de tecnologia para logística, cujo objetivo é atender motoristas, transportadores, embarcadores, corretoras de seguro e seguradoras que atuam no transporte de carga.
A nova holding, que opera discretamente desde o fim do ano passado e será gerida pela Niche Partners, já comprou três empresas da área: Buonny, Opentech e AT&M. Nesta segunda-feira, 3 de maio, a NSTech está anunciando a aquisição da Brasil Risk, uma das principais empresas brasileiras da área de gerenciamento de risco.
“Tudo o que for tecnologia para melhorar a experiência de transporte desses cinco públicos faz parte do nosso escopo”, diz Oliveira, CEO da Niche Partners e sócio da SK Tarpon, com exclusividade ao NeoFeed.
Embora não revele o valor da compra da Brasil Risk, a NSTech já investiu R$ 300 milhões na aquisição das quatro empresas. O capital para investimento é proprietário e de family offices, que estão comprometidos a injetar recursos negócio a negócio. O objetivo é fazer novas transações e 15 negócios estão sendo avaliados no momento. “Temos alguns bilhões de reais para investir nos próximos anos e não temos meta de aquisições”, diz Oliveira Neto.
A Brasil Risk atua com soluções que permitem o acompanhamento em tempo real das viagens e ajudam na prevenção de acidentes por meio de análise de dados, tais quais velocidade e tempo de condução. Outro serviço é o planejamento de rotas e paradas, para aumentar a produtividade, e a análise de perfil dos motoristas.
“Fomos assediados mais de sete vezes para vender a empresa”, afirma Rogério Faria, um dos fundadores da Brasil Risk, ao NeoFeed. “O Vasco (Oliveira Neto) chegou com um projeto pronto de criar uma plataforma de tecnologia logística e estávamos preparando a companhia para um momento como esse. Mas não queríamos sair do negócio.”
No desenho feito pela NSTech, as marcas seguem autônomas e concorrendo entre si. O modelo envolve a compra de fatias majoritárias – que podem ser de até 100% da companhia – e os fundadores seguem tocando a operação. Eles também podem se tornar sócios da holding NSTech, em um modelo para alinhar interesses de todos no longo prazo.
O objetivo da NSTech é comprar empresas líderes de mercado em seu nicho, com receita recorrente e margem alta. Com as quatro aquisições, a NSTech já conta 20 mil clientes e um faturamento R$ 245 milhões, sendo que 97% dele é de receita recorrente. A holding atua no México – a Brasil Risk tem uma operação lá – e deve começar a operar em Peru, Colômbia e Equador em breve.
O curioso, na estratégia da NSTech, é que Brasil Risk, Buonny e Opentech são concorrentes, que agora passam a fazer parte da mesma holding. Só a AT&M, que atua com averbações de seguros de cargas, está em uma área diferente. “Elas têm clientes diferentes e focos complementares”, afirma Oliveira Neto.
A Brasil Risk, por exemplo, atua prestando serviços para operações mais complexas de embarcadores e grandes transportadoras. Seus principais clientes estão na área de eletrônicos e bens de consumo. A Opentech tem sua força com o monitoramento de operações de empresas com produtos frigorificados e farmacêuticos. Já a Buonny opera com pequenas e médias transportadoras.
Apesar de operarem de forma independente, a NSTech deve centralizar algumas ações. Uma delas é a parte de tecnologia, como os data centers. “Temos mais poder de barganha”, diz Oliveira. As três empresas que atuam na área de gerenciamento de riscos estão decidindo também qual tecnologia deve prevalecer entre elas. “Não faz sentido investir em três plataformas diferentes”, afirma Faria, da Brasil Risk. “Vamos investir pesado em inteligência artificial e machine learning.”
Outra área que deve ser centralizada é a de dados. Com as quatro aquisições, a NSTech passa a contar com um dos maiores banco de dados do setor. São informações de mais de 1,8 milhão de motoristas profissionais, incluindo ainda o monitoramento de mais de 10 milhões de viagens por ano.
Por mês, a holding terá ainda informações de mais de 70 milhões de documentos, com dados sobre a viagem, o valor pago e os nomes das empresas que contrataram o serviço e do transportador. “São insights que podem resolver os grandes problemas do setor, como produtividade, roubo e acidentes”, afirma Oliveira Neto.
Nesse momento, a NSTech está trabalhando para tratar os dados dessa base. Depois, avaliará como eles serão usados. “Sabemos que há muito valor para extrair”, diz Oliveira Neto. “Mesmo que seja vendendo.” Será um negócio a parte? Oliveira não sabe ainda responder.
A NSTech também está de olho no universo de motoristas e transportadoras que não tem acesso a serviços financeiros ou que pagam taxas de juros altíssimas em empréstimos. “Esse é um mercado grande”, diz Oliveira Neto. “Certamente, vamos ter a maior fintech do setor.” Com base nas informações de seu banco de dados, Oliveira acredita que a NSTech terá capacidade de desenvolver um produto mais aderente a esse público.
Questionado se o plano é comprar uma fintech para ofertar esses serviços ou fazer parcerias com empresas que prestam serviço de banking as a service, Oliveira diz que não pode relevar a estratégia. “Tem coisas que faz sentido comprar e outras, montar do zero”, diz ele, sem dar pistas.
A criação da NSTech faz parte do novo posicionamento da SK Tarpon, o novo nome da Tarpon, depois de diversos problemas que fez com que muitos apostassem no fim da gestora criada por Zeca Magalhães, Pedro Faria e Eduardo Mufarej.
O maior deles foi a BRF, um dos principais investimentos da gestora que não deu certo, em uma sucessão de erros de gestão, disputa entre acionistas e problemas com a Polícia Federal – a companhia foi alvo da operação Carne Fraca, que investigou diversos frigoríficos a partir de 2017.
Sem Mufarej, que seguiu outro caminho, Magalhães e Faria trouxeram três novos sócios ao negócio (Marcelo Lima, Vasco Oliveira Neto e Artur Tacla) e criaram a holding SK Tarpon, que conta atualmente com R$ 5 bilhões de ativos sob gestão. A sigla significa “silver king” em uma referência ao peixe prateado (o Tarpon) que dá nome à gestora.
Mas em vez de manter uma estratégia centralizada, eles decidiram montar subgestoras dedicadas a atuar em teses distintas de investimentos, na qual a holding detém uma fatia de 30% – o que dá margem para cada sócio tocar a seu próprio negócio.
Magalhães, por exemplo, ficou com a Tarpon Capital, que investe em fundos líquidos e na bolsa de valores. Faria, que foi CEO da BRF na época em que a Tarpon detinha uma fatia relevante na empresa, está à frente da Kamaroopin, que investe em empresas de alto crescimento e com base tecnológica da área de consumo. A maior aposta é no e-commerce de produtos para cães e gatos Petlove, na qual detém 35% – o Softbank e a L Catterton são também sócios da operação.
Marcelo Lima cuida da 10b, que foca no agronegócio. Entre os investimentos estão a Agrivalle, do mercado de bioinsumos; a Ideagri, que tem um software de gestão para fazendas de gado de leite e corte; a Kepler Weber, da área silos (esse investimento em conjunto com a Tarpon Capital); e a OnFarm, startup de soluções para a saúde animal.
Oliveira Neto, por sua vez, criou a Niche Partners, que vai investir em teses de nicho. A primeira delas é a de logística, mas nada impede que, no futuro, aposte em outras áreas, como nos setores de saúde e educação.
“Mas, no momento, o foco é em logística”, diz Oliveira Neto, que teve a ideia de investir nessa tese quando conheceu, em 2012, a americana Roper Technologies, empresa centenária que cresceu comprando dezenas de outras companhias que atuam em nichos de mercado – de software a soluções médicas. Hoje, a companhia vale US$ 46,9 bilhões na Bolsa de Nova York.
Foram longos oito anos até que Oliveira pudesse colocar a tese em prática. Quando comandava a operadora logística AGV, ele percebeu que o mercado era fragmentado, cheio de fornecedores, mas que não havia uma empresa que fornecesse um serviço integrado. “Eu precisava contratar muita gente”, afirma ele.
É essa diversidade de fornecedores que Oliveira Neto quer colocar debaixo do guarda-chuva da NSTech, criando um “one-stop-shop” do setor logístico. Ele está também de olho em um mercado gigante.
A logística representa aproximadamente 12% do PIB brasileiro, um valor superior a R$ 800 bilhões. Esse dado inclui gastos com transporte, estoque, armazenagem e serviços administrativos. Apesar dessa cifra bilionária, o setor é cheio de ineficiências. “A tecnologia hoje está restrita aos armazéns e não à frota”, diz Mauro Roberto Schlüter, professor de logística do Mackenzie.
É esse espaço, com uso de tecnologia, que a NSTech quer explorar. De acordo com dados da empresa, 40% da frota de caminhões roda vazia mais de um terço de tempo que está na estrada. Os acidentes também são altos: só nas estradas federais, eles somam aproximadamente 20 mil por ano.
Não bastasse isso, o Brasil é também o terceiro país com mais roubo de cargas no mundo. Em 2019, dado mais atual, foram 18 mil casos e o prejuízo atingiu R$ 1,4 bilhão, segundo dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).
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