Para
a diretora e estrategista para Brasil e América Latina do JPMorgan, Emy
Shayo Cherman, o Brasil é quase uma “Miss Universo” para a atração de
investimentos globais em relação aos países emergentes. “Temos uma China
desacelerando, problemas graves na Turquia, e na Argentina inflação
acima de 100%”, descreveu, durante participação em evento da Associação
Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
(Acrefi), na manhã desta quinta-feira, 23.
Para
ela, esse cenário faz com que existam poucos mercados emergentes que
chamam a atenção de investidores. “A Índia é uma alternativa, mas é um
país caro. O Brasil é mais barato que seus concorrentes. Sempre somos
uma boa oportunidade”, pontuou a diretora.
Na
avaliação de Emy Shayo, porém, ainda que haja um cenário positivo para o
País, o fluxo de investimentos que parte de países desenvolvidos
costuma depender das condições e da liquidez da economia dos Estados
Unidos.
Ela citou, por exemplo, que até a metade de 2023 os
investimentos em países emergentes somaram US$ 40 bilhões. A partir do
segundo semestre, contudo, começou a haver elevação nos juro de longo
prazo nos Estados Unidos, o que fez com que US$ 35 bilhões do total de
investimentos recebidos até então, “fossem embora”, segundo a diretora.
Para
ela, essa fuga de capital pôde ser vista não só nos ativos de renda
variável, mas principalmente na renda fixa. “Na renda fixa talvez tenha
sido até pior. Faz dois anos que temos visto muita saída de renda fixa
de mercados emergentes”, afirmou.
Nesse
contexto, Emy Shayo apontou que, por mais que questões como os
problemas fiscais ou de condução da política econômica, boa parte da
influência sobre os preços de ativos doméstico decorre de fatores
internacionais. “Eu diria até que 80% da precificação que vemos em
termos de mercado, depende dos mercados lá fora acima de tudo”,
salientou.
Além dos EUA, a diretora observou que o
desempenho econômico da China interfere nos ativos brasileiros. “Temos
visto desconfiança em como os investidores têm se posicionado sobre a
China. Mas é uma situação em que o Brasil se beneficia, mas também pode
se prejudicar”, atentou a diretora, citando os indícios de desaceleração
do país asiático e que algumas “questões geopolíticas” podem dificultar
o investimento na China.
Projeções
Emy
Shayo Cherman disse ainda que espera crescimento de 1,5% do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, ante projeção anterior de 1,0%.
Ela atentou, com isso, que o País tem sempre surpreendido para cima no
crescimento anual.
“É interessante pensar quais mudanças
estruturais estão acontecendo com a gente. Será que todas as reformas
dos últimos anos já se refletem aqui? Como vai ser o efeito da reforma
tributária ao longo do tempo? São perguntas que recebemos muito em
termos de crescimento”, avaliou a diretora.
Ela
ressaltou, contudo, que o “calcanhar de Aquiles” da economia brasileira
segue sendo a questão fiscal. “O Brasil tem um dos piores fiscais e uma
das piores dívidas do mundo”, apontou.