O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou
nesta quarta-feira (24) a iniciativa BNDES Azul, que terá quatro frentes
de atuação. Uma delas é o Planejamento Espacial Marinho (PEM) da costa
brasileira, cujo contrato destinado à Região Sul do Brasil foi assinado
na ocasião. Há também incentivos à inovação e descarbonização da frota
naval, estímulo à infraestrutura portuária e apoio a projetos de
recursos hídricos via Fundo Clima.
Além
das novas frentes, o banco dispõe de cerca de R$ 22 bilhões em
carteira, relacionados à economia azul. Desse total, R$ 13,6 bilhões
destinam-se a projetos de docagem, embarcações de apoio, estaleiros e
navios petroleiros e R$ 7,7 bilhões são para iniciativas nas áreas de
transporte marítimo, portos, terminais e embarcações. Para o setor de
turismo marinho e costeiro, estão disponíveis R$ 296,7 milhões e, para o
apoio a projetos de recuperação de manguezais, R$ 47 milhões,
destinados à iniciativa Floresta Viva, em parceria com a Petrobras. Oito
manguezais estão sendo protegidos para preservar a vida marinha.
Segundo
o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o objetivo é colocar o mar
de volta no centro da agenda estratégia nacional para fortalecimento da
indústria naval e o aprofundamento de pesquisas marinhas no país. “Os
interesses que estão nos oceanos, especialmente para um país com 8,5
milhões de quilômetros de costa, são decisivos para o futuro.”
O
Planejamento Espacial Marinho da Região Sul terá R$ 7 milhões não
reembolsáveis e prazo de conclusão do estudo, de 36 meses. Será feito o
mapeamento dos usos atuais e potenciais do ambiente marinho da Região
Sul, que concentra instituições de pesquisa com tradição em estudos
costeiros e marinhos e cinco dos dez principais portos do Brasil. Para a
Região Sudeste, cujo edital foi lançado durante a solenidade, haverá
recursos não reembolsáveis de 12 milhões. As inscrições para seleção de
propostas para o PEM Sudeste podem ser feitas até 15 de março.
Descarbonização
Aloizio
Mercadante chamou a atenção para o fato de 95% das exportações
brasileiras serem feitas por navios. No ano passado, o país
comercializou mais de R$ 1,5 trilhão. “Nós precisamos fazer navio. Já
fizemos. E temos tecnologia e erros cometidos, para aprender com os
erros e corrigir”. No âmbito da economia azul, projetos de construção de
embarcações podem ter redução de até 0,24 pontos percentuais (pp) na
taxa de juros.
Para projetos de modernização, conversão ou
jumborização de embarcações, essa redução pode ser de até 0,40 pp. Já
para projetos de docagem, reparo e manutenção de embarcações, a redução
pode ser de até 0,2 pp na taxa de juros, caso a empresa tenha política
de responsabilidade socioambiental publicada em sítio de internet e
apresente inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEEs).
A
Marinha pode sair na frente na área e disputar com outros países e, com
isso, seriam reativados também os estaleiros nacionais, disse
Mercadante. No ano passado, o BNDES liberou R$ 1 bilhão para a
construção naval, com alta na comparação com os R$ 600 milhões
desembolsados em 2022. Mercadante garantiu que, em 2024, o desembolso
não ficará abaixo de R$ 2 bilhões. “O que nós precisamos é de bons
projetos. O BNDES reage às iniciativas”, afirmou.
Até 2025, a
Organização Marítima Internacional (IMO, do nome em inglês), da
Organização das Nações Unidas (ONU), vai concluir o planejamento de
descarbonização das emissões de navios. Segundo Mercadante, até 2030, o
Brasil terá que reduzir as emissões, com combustível renovável, nos
navios. “A janela que está se abrindo é para produzirmos navios com
combustível sustentável e renovável. Substituir petróleo por outras
fontes de energia, como amônia verde, hidrogênio verde.”
Setor portuário
Para
apoiar o novo ciclo de investimentos portuários, que prevê cerca de R$
45 bilhões no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no setor, em
arrendamentos e Terminais de Uso Privativo, o BNDES dispõe de linhas
específicas com prazos favoráveis de financiamento que podem chegar a
até 34 anos. “Nosso objetivo não é o lucro imediato”, destacou
Mercadante, completando que o compromisso dele “é com o desenvolvimento
do Brasil”. Além disso, em atuação conjunta com o mercado privado para
alavancar o setor portuário, o BNDES pode realizar operações de mercado
de capitais, por meio da emissão de debêntures, em condições atrativas.
Também
como estímulo à inovação do setor naval, o Programa BNDES Mais
Inovação, que oferece crédito em taxa TR (cerca de 2%) para
investimentos em inovação e digitalização, está aberto para dar suporte
às indústrias relacionadas à economia azul.
Em mais uma frente de
apoio estratégico do BNDES, o Fundo Clima entra em 2024 com a
possibilidade de incluir projetos relacionados a recursos hídricos em
uma de suas seis linhas (Florestas Nativas e Recursos Hídricos). A
novidade promete proporcionar mecanismos mais amplos para estruturação
de projetos ligados à economia azul, com a menor taxa do Fundo, de 1% ao
ano.
“Este é um momento responsável. São obras do Estado
brasileiro: precisamos cuidar do que é nosso, do Brasil de amanhã, o que
perpassa governos, mandatos”, salientou o ministro da Defesa, José
Mucio Monteiro, que estava presente à cerimônia.
Ciência e políticas públicas
Marina Silva, durante lançamento do BNDES Azul – Tomaz Silva/Agência Brasil
A
ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a
ciência vai ser a base das políticas públicas daqui para a frente.
“Claro que vai existir sempre o espaço para o imponderável e a
criatividade, mas, cada vez mais, as políticas públicas terão de ser
feitas e pensadas com base em evidências. E nada melhor do que ter o
conhecimento do nosso imenso oceano, nada mais do que ter conhecimento
das nossas florestas, da nossa biodiversidade, dos nossos recursos
terrestres, enfim, de tudo que a natureza dispõe.”
Segundo Marina
Silva, o objetivo do Planejamento Espacial Marinho que os ministério de
Minas e Energia e da Defesa estão fazendo, juntamente com a Marinha e
com apoio do BNDES, é usar, da melhor forma possível, os meios de que o
país dispõe não só quanto à biodiversidade marinha e às capacidades
oceanográficas, mas também quanto ao grande desafio que a humanidade tem
em relação ao problema da mudança do clima.
Marina Silva acentuou
que os oceanos são responsáveis pela absorção de cerca de 30% das
emissões de CO2 (gás carbônico), mas têm estoque de carbono maior do que
o existente na superfície terrestre. “Se essa biota marinha for
destruída e tivermos um processo de emissão de CO2 a partir dela,
acabaremos com as condições que promovem e sustentam a vida no planeta.”
A ministra enfatizou que o Brasil é o lugar em que se pode fazer uma
inflexão civilizatória.
“Pode-se criar um novo ciclo de
prosperidade em que se fortaleça a democracia e se combatam as
desigualdades, mas com sustentabilidade econômica, social e cultural.
Esta é a diferença de termos tantos recursos, alguns recursos
financeiros, alguns deles não retornáveis, para que a gente possa
inovar, criar experiências inovadoras que sejam capazes de criar esse
ciclo de prosperidade, sem deixar ninguém para trás.”
Ciência no Mar
Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia – Tomaz Silva/Agência Brasil
O
oceano, por seu papel cada vez mais relevante na agenda climática, é
uma pauta prioritária para a pasta da Ciência, Tecnologia e Inovação,
afirmou a ministra Luciana Santos.
Entre as atividades
desenvolvidas pela pasta, Luciana citou o programa Ciência no Mar, de
gestão da ciência brasileira em águas oceânicas.
O programa, que
tem duração prevista até 2030 e está relacionado ao Planejamento
Espacial Marinho, compromete-se com o avanço da pesquisa oceânica para
produzir e aplicar conhecimento tecnológico, buscando atingir benefícios
econômicos, sociais e ambientais.
A ministra anunciou ainda que o
Instituto Nacional de Pesquisa Oceânica, criado no ano passado e
situado no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), já iniciou atividades, tornando-se um catalizador de ações sobre
o tema.
O Instituto Nacional de Pesquisa Oceânica é uma
organização social vinculada ao ministério que vai atender às demandas
de apoio às atividades de pesquisa e desenvolvimento, bem como à
otimização do uso dos navios brasileiros de pesquisa.