sábado, 13 de abril de 2024

Projeto do governo Lula com meta fiscal de 2025 será anunciado na segunda-feira

 


A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet,e o ministro da Economia, Fernando Haddad

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet,e o ministro da Economia, Fernando Haddad (Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)

A equipe econômica anunciou nesta sexta-feira, 12, que vai divulgar na próxima segunda-feira, 15, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025. O evento será conduzido pelo secretário executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), Gustavo Guimarães; pelo secretário de Orçamento, Paulo Bijos; pelo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron; e o da Receita, Robinson Barreirinhas.

Como o Estadão antecipou, a expectativa é para a mudança da meta fiscal a ser seguida no próximo ano. Com incertezas sobre a evolução da arrecadação, o governo estuda alterar a meta para as contas públicas em 2025 prevista no novo arcabouço fiscal – que é de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Discussões apontam até agora para um número entre resultado primário zero e superávit de até 0,25% do PIB – repetindo a meta estipulada para este ano.

Questionado no início desta semana sobre o assunto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, respondeu que a equipe econômica está fazendo as contas para fixar uma meta fiscal “factível” para 2025. Haddad não cravou qualquer número, mas considerou que, apesar de “boas coisas” terem acontecido no último ano, a Fazenda também enfrentou percalços que mudaram o cenário e que precisam ser considerados na definição.

Integrantes da equipe econômica têm afirmado que insistir no patamar inicialmente projetado para 2025 poderia até jogar contra a credibilidade do governo, que vem num processo de convencimento da entrega de uma estabilidade fiscal. Daí, a ideia de apresentar um número que seria considerado mais crível.

No mercado, existe a avaliação de que o governo também terá de mudar a meta fiscal para este ano . Se isso acontecer de fato, uma mudança na direção para 2025 seria inevitável.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Haddad: Um dos desafios da reforma tributária é de melhorar a vida da indústria

 Fernando Haddad – Wikipédia, a enciclopédia livre


Um dos desafios da reforma tributária é justamente melhorar a vida do industrial brasileiro, afirmou há pouco o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O ministro também pediu celeridade ao Congresso para aprovação da regulamentação da matéria até o fim do ano.

“Produzir mais, produzir mais barato e melhor, e exportar muito, desonerando investimentos e desonerando exportações, fazendo com que os produtos industriais tenham uma alíquota de imposto de valor agregado menor”, declarou o ministro.

Haddad frisou que é importante que a indústria esteja atenta à regulamentação da reforma, para que ela não seja desvirtuada. O ministro também destacou a importância do marco de garantias, ao dizer que eles devem fazer o spread dos bancos cair e as vendas da indústria subirem.

“As notícias são boas no primeiro trimestre, ainda melhores na primeira semana de abril. Temos tudo para crescer forte na indústria automobilística, com a vantagem que agora se adequa às tecnologias sustentáveis.”

Lula: Não conheci ministro da Fazenda com tanta disposição para conversar com Congresso como Haddad

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma das pessoas que faz a diferença no governo.

“Nunca conheci um ministro da Fazenda com tanta disposição para conversar com o Senado e com a Câmara como o Haddad”, disse. “Se não conversar e não tiver paciência para enfrentar a diferença, não conseguimos governar o País.”

Lula exaltou a aprovação da reforma tributária e a comparou a “um verdadeiro milagre”, em País democrático em que o partido do presidente não tem maioria no Congresso.

O presidente e o ministro participam da cerimônia de inauguração da nova sede em São Paulo da Anfavea, associação que representa os fabricantes de veículos.

Lula também elogiou o vice-presidente Geraldo Alckmin, ao dizer que ele foi o primeiro acerto na campanha presidencial. “É um companheiro agregador e que está com a cabeça 100% para discutir com empresários.”

O presidente relembrou a época em que era oponente de Alckmin e afirmou ter saudades de quando a política ficava na disputa entre PT e PSDB. “Como era civilizado e não sabíamos”, disse Lula, que declarou que agora o País está descobrindo como era bom ser civilizado e conversar com os diferentes.

Lula: Temos que ver onde erramos para Brasil voltar a ser a sexta economia do mundo

 

Brazilian leftist presidential pre-candidate Lula Da Silva speaks during a campaign rally at Centro de Convenções Ulysses Guimarães on July 12, 2022...

O País precisa ver onde errou para conseguir voltar a ser a sexta maior economia do mundo, afirmou há pouco o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula afirmou ter orgulho de dizer que o Brasil viveu o melhor momento da indústria automobilística durante seus mandatos, mas salientou que não consegue entender a evolução do cenário do setor.

“Quando eu deixei a presidência, a última conversa que eu tive com a Anfavea era de que em 2015 estaríamos produzindo seis milhões de carros. Estamos em 2025 e estamos produzindo quase metade do que produzíamos em 2010. Quem errou?”, questionou. “Foram vocês que desconfiaram do Brasil ou o Brasil que deixou de fazer o que deveria ser feito?”.

O presidente defendeu que é preciso “andar para frente sem olhar para trás” e que o governo tem compromisso com “tecnologia nova, inovação, geração de empregos, aumento da massa salarial, e, portanto, com a venda de mais produtos e mais exportação.”

Lula ainda afirmou que é preciso que o País aprenda ser grande e vá ao exterior vender produtos. “Fico imaginando como os vizinhos do Brasil compram um carro de 12 mil quilômetros de distância enquanto estamos aqui”, disse. Ao se dirigir ao vice-presidente Geraldo Alckmin, Lula declarou que 2024 é “o ano da viagem”.

‘Indústria passou a ter confiança no Brasil’

O presidente afirmou que a indústria passou a ter confiança no Brasil, diante, segundo ele, da segurança jurídica e da estabilidade econômica e social promovidas no último ano de governo. Lula também declarou ter carinho especial por setores que crescem e geram oportunidades, ao comentar os incentivos dados à indústria automotiva anunciados no fim do ano passado.

Em discurso na nova sede da Anfavea, o presidente destacou que a conquista da credibilidade pelo governo foi crucial para esse ganho de confiança, além da estabilidade jurídica do País.

“Se Haddad vai negociar a política tributária dentro do Congresso Nacional e não passar credibilidade na proposta e não receber credibilidade dos interlocutores, as coisas não vão dar certo”, disse Lula, que em seguida defendeu que ninguém acreditava que seria possível passar a reforma tributária em um Congresso adverso, mas que a aprovação foi possível a partir da construção de uma relação civilizada e democrática.

Salão do Automóvel

Lula da Silva pediu para que as montadoras retomem o Salão do Automóvel. O presidente defendeu que o evento é um espaço para fazer negócios e disse que “adorava ir à feira”.

O mandatário afirmou que não é possível um País do tamanho do Brasil não ter um salão. “O Salão do Automóvel está para o povo brasileiro como a corrida estava quando o Ayrton Senna era vivo.”

O presidente frisou que o evento é uma oportunidade para atrair visitantes de países para os quais o Brasil deseja exportar. “É importante que o ministro da Indústria convide muita gente para ir vê-lo e convide os ministros da Indústria e do Comércio de outros países”, disse. “Quem quer vender precisa mostrar”.

Como o Brasil pode exportar mais: o que deve ser feito e as medidas já tomadas

 


Governo brasileiro volta a abrir mercados e faz esforço conjunto para abocanhar 2% do comércio global até 2026 com produtos de maior valor agregado, mas vai precisar driblar a burocracia e reverter o baixo investimento para ter êxito

 

 

Governo Lula tem meta de levar o País a um volume de negócios da ordem de US$ 614 bilhões (Crédito:freepik)

RESUMO

 

• Campeão das exportações brasileiras, o agronegócio pode melhorar seu desempenho se houver o estímulo certo
• A indústria, um dos setores mais sedentos por exportações, é dos mais defasados: pátio fabril é antiquado e custoso
• Nas saídas marítimas brasileiras imperam desafios burocráticos
• Produtos originados na floresta amazônica e da sua biodiversidade representam apenas 0,17% do total das exportações
• Praticamente todos os setores demandam financiamento, mas sem políticas públicas para infraestrutura, desburocratização e digitalização de processos o fomento não levará o país muito adiante
• Soluções já aparecem no horizonte: política de relações exteriores do governo tem aberto mercados antes fechados

 

A busca por novos mercados sempre determinou as nações vencedoras e as perdedoras na história desde que a sociedade civil se organizou. E o Brasil tenta se posicionar nesse jogo em um momento-chave da geopolítica global. Com a economia reagindo, e os países transformados após a pandemia, há novos mercados, novas demandas e oportunidades mundo afora. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer aproveitá-las. Desde o início do mandato, o petista já abriu frentes em 100 mercados em 49 países, firmou ou renovou 125 acordos comerciais e tem na lista outros 58 em fase de assinatura (ainda que a “cereja do bolo”, o acordo Mercosul-União Europeia, não tenha se concretizado). O mundo, aparentemente, está pronto para receber o Brasil. Mas será que a economia brasileira está preparada para essa jornada?

• Hoje, o País tem apenas 1,46% de todo comércio global (isso considerando um universo que movimentará US$ 30,7 trilhões em 2024).
• Em 2010, no melhor resultado da história, o Brasil abocanhou 1,6% do bolo, fruto de políticas públicas de incentivo, crédito barato e apoio empresarial.
• E o que aconteceu desde então? Escândalos políticos, crise econômica e fuga de investimentos.

Motivos não faltaram para os produtos brasileiros sumirem das prateleiras do mundo. O governo Lula quer reverter esse cenário. Em uma iniciativa multiministerial, quer que o País responda por 2% do comércio mundial, com negócios na ordem dos US$ 614 bilhões. “O Brasil já é o supermercado do mundo. E pode ser muito mais. Pode ser o shopping, a concessionária, o salão de beleza. Estamos prontos. E temos pressa”, disse o presidente. E os que querem carona na embarcação já estão de malas prontas.

Indústria

(Divulgação)

A indústria talvez seja o setor mais sedento por exportações — e também um dos mais defasados. Com raríssimas exceções (como a Embraer e algumas montadoras), o pátio fabril brasileiro é antigo, antiquado e custoso. É como tentar atravessar o Atlântico de caiaque. Essa analogia, inclusive, foi feita pelo vice-presidente da República e chefe do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.

Ele tem sido o nome por trás da condução de uma política de fomento ao empresariado, que passa pela atualização do maquinário, oferta de crédito para expansão e consultoria para avançar na exportação.

O problema é que reaver décadas de atraso, enquanto o mundo desenvolvido trabalha com indústrias sob a ótica da tecnologia digital, seria um feito quase hercúleo — e por isso tão difícil de se concretizar de forma dissipada entre todas as cadeias industriais. O primeiro passo, diz Alckmin, foi dado. O governo estuda políticas de fomento ao empresariado com crédito para renovação de maquinário e investimentos em expansão.

Presidente Lula e vice-presidente, Geraldo Alckmin, colocaram o fomento à indústria no topo de prioridades para exportação de maior valor agregado. O caminho vai ser longo (Crédito:Ricardo Stuckert/PR)

Apesar das perspectivas positivas do vice-presidente, tal movimento resolveria apenas uma parte do problema. Os outros desafios envolvem excesso de burocracia para exportação e o Custo Brasil.

Segundo Marcelo Almeida Castro, consultor de exportação e ex-secretário de Negócios Internacionais do governo João Doria, em São Paulo, as fronteiras brasileiras são faraônicas. “Não há espaço no Brasil de hoje, com os portos atuais, de aumentar consideravelmente a exportação de bens duráveis, manufaturados e produtos de maior valor agregado”, diz.

Nas saídas marítimas brasileiras também se concentram os desafios burocráticos. “O Brasil ainda não segue as diretrizes internacionais, da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], de exigência de informações padronizadas nos produtos e isso torna a liberação ridiculamente morosa”, afirma. O resultado? Produtos perecíveis, prontos para o embarque, parados. Filas enormes e saia-justa com os compradores.

E esses problemas têm se acentuado à medida que a indústria brasileira exportadora tenta navegar pelo mundo. Os mais recentes dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o tema avaliam o mercado em 2022.

Segundo o estudo Coeficientes de Abertura Comercial (CAC), a participação da indústria nas exportações brasileiras subiu de 18,6% em 2021 para 20,3% no ano seguinte.

Apesar de parecer um número promissor, quando são avaliados os destaques na exportação, o panorama não é tão simples. As exportações industriais dependem, basicamente, do agronegócio processado, do beneficiamento de metais e papel e celulose. São segmentos enormes, mas com impacto financeiro aquém do ideal quando se quer uma indústria de transformação com grande valor agregado para oferecer ao mundo.

Nesse sentido, uma solução apontada por Castro (e que, segundo ele, já tem sido negociada com o MDIC) é o desenvolvimento de uma estratégia industrial para exportação que se assemelhe à política das “campeãs nacionais” dos primeiros mandatos de Lula, mas com aportes menores e mais dissipados.

“Entre 2006 e 2012 a indústria da construção civil brasileira foi referência mundial. Nesse período também houve o desenvolvimento da empresa que hoje é a maior do mundo na venda de carnes [JBS]”, disse.

O risco, mais uma vez, é que parte desses recursos seja inócuo, como no segundo mandato de Lula. Além disso, há o nó político. Para um avanço substancial das exportações de alto valor agregado o Brasil precisaria deixar a condição institucional de emergente e entrar na OCDE, o que abriria novos mercados, mas tiraria alguns benefícios tributários que os países considerados emergentes têm na captação de financiamento pelo mundo.

Meio Ambiente

(Rawpixel Ltd.)

Aqui é onde a indústria de alto valor agregado se une à sustentabilidade e à economia verde. Talvez seja nessa intersecção que resida a chave para o maior potencial brasileiro nas exportações.

A bioeconomia, como gosta de definir a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é a construção de políticas públicas que tenham como alvo a rentabilidade, a sustentabilidade e a responsabilidade social. Com essas premissas, Marina tem rodado eventos pelo mundo acompanhada do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, tentando apresentar o novo cartão-postal brasileiro.

O objetivo, segundo a ministra, é desenvolver a bioeconomia para levar ao mundo soluções em áreas como beleza, saúde e química. “O mundo atual clama por soluções menos poluentes e o do futuro buscará produtos integralmente sustentáveis, e nisso o Brasil pode ser líder”, disse.

De acordo com ela, a planta amazônica usada para o desenvolvimento de um cosmético ou remédio, o caminho feito pelo insumo por meio de hidrovias (e não caminhões), o beneficiamento sem testes em animais, a produção de embalagens ecológicas e a exportação marítima são capazes tornar o Brasil referência nesse tipo de produto.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, montam um plano de fomento da bioindústria com o apoio dos pequenos e médios do agronegócio (Crédito:Felipe Werneck)

Hoje, a participação de produtos originados na floresta amazônica e da sua biodiversidade representa apenas 0,17% do total das exportações. No entanto, de acordo com Marina, com o estímulo à bioeconomia, é possível ampliar essa participação para 2%. A Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) vai além e indica que, se desenvolvida, a bioeconomia pode gerar faturamento adicional para a indústria de US$ 284 bilhões por ano até 2050.

E como fazer isso? Segundo Sérgio Feijó, doutor em bioeconomia pela Universidade Harvard e membro do Comitê Mundial do Clima, órgão ligado à ONU, será preciso focar em três frentes:
capacitação da mão de obra,
recursos pesados em Pesquisa & Desenvolvimento,
e crédito abundante para estimular a entrada no setor.

“Chegou a hora de pensar se o papel da Zona Franca de Manaus, como está hoje, é do melhor interesse para o Brasil”, disse. No entendimento do especialista, os benefícios fiscais para os empresários que hoje atuam lá seriam capazes de atrair empresas do mundo todo interessadas no desenvolvimento de produtos de origem amazônica. “A Zona Franca, como está hoje, pode ser replicada em qualquer estado brasileiro.”

Se o Brasil quer se destacar, diz ele, é preciso dar ao mundo uma estrutura industrial que nenhum lugar tem.

Agronegócio

(Divulgação)

Maior estrela das exportações brasileiras, o agronegócio também pode melhorar seu desempenho se houver o estímulo certo. Com 100 novos mercados em 49 países para explorar desde o início do terceiro mandato de Lula, o setor parece ter feito as pazes com a gestão petista, muito por influência de Carlos Fávaro, que comanda o Ministério da Agricultura (Mapa).

Segundo ele, a política de relações exteriores do governo Lula tem dado vazão a mercados antes fechados. Fávaro cita como exemplo a reabertura do mercado chinês para a venda de frangos de alguns frigoríficos que estava parada há mais de um ano. Antecipando o aumento da demanda, o ministro conta que sua pasta tem trabalhado para reduzir a morosidade no embarque.

Uma das soluções é a certificação eletrônica para proteínas animais. “Isso vai superar a burocracia e ganhar tempo nas exportações. Vamos poder avançar ainda mais no mercado externo.” Em um segundo momento, diz o ministro, a certificação digital também poderá ser usada para a exportação de grãos.

Ao resolver as questões burocráticas, Fávaro quer minimizar os impactos para o produtor, mas isso não resolve todo o problema, em especial as questões que envolvem o fomento dos itens de maior valor agregado.

Para Roberto Rodrigues, que esteve no lugar de Fávaro durante as duas primeiras gestões de Lula, o primeiro passo é abrir o mercado e desburocratizar. O segundo é negociar a venda do grão com algum tipo de beneficiamento. Ele cita como exemplo o açúcar e o suco de laranja, mercados em que o Brasil é o maior exportador do mundo. “O mesmo não acontece com o café. Vendemos a commodity [grão], mas pouco dele torrado ou moído.”

Ministro do Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, diz que abertura de 100 mercados desde o início da gestão é pontapé inicial para mais exportações de maior valor agregado (Crédito:Divulgação )

FINANCIAMENTO

O combo, então, deve envolver o governo guiando novas rotas e empresas capitalizadas. E isso significa investimento. Um dos caminhos encontrados pelo governo Lula, além do Plano Safra, foi colocar o BNDES nessa equação.

O banco de fomento, presidido por Aloizio Mercadante, dá ao empresário suporte para navegar em mares estrangeiros. “Desde a oferta de crédito com lastro dolarizado até a consultoria para entender como exportar”, diz. O BNDES, que também esteve por trás de empréstimos bilionários a juros baixíssimos durante a saga das “campeãs nacionais”, mudou o foco. “Vamos dissipar o investimento e impulsionar vários de uma vez ao invés de capitalizar demais alguns poucos grupos.”

A questão do financiamento, que surge como demanda de todos os setores, não é a única barreira que impede o Brasil de chegar lá. Para ser grande, é preciso se colocar como tal. Integrar as cadeias e se adequar às normas internacionais de produção. Ter infraestrutura eficiente, burocracia reduzida, digitalização de processos.

O dinheiro, óbvio, é bem-vindo, mas se torna insuficiente se as políticas públicas não acompanharem essa jornada pelos mares do mundo.



Kristalina Georgieva é renomeada diretora-gerente do FMI e cumprirá novo mandato de 5 anos

 Diretora do FMI, Kristalina Georgieva é a única candidata à ...


O Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmou nesta sexta-feira, 12, a nomeação de Kristalina Georgieva a um segundo mandato de cinco anos como diretora-gerente da instituição. A economista búlgara, de 70 anos, era a única candidata ao cargo.

Em comunicado, a cúpula do FMI classificou a liderança de Georgieva como “ágil e forte”, em um período marcado por múltiplos choques globais. Segundo o grupo, a diretora-gerente encabeçou a resposta sem precedente do Fundo aos diferentes eventos, com a aprovação de mais de US$ 360 bilhões em financiamento a 97 países desde o começo da pandemia.

Moedas globais: dólar avança, em quadro de cautela geopolítica e em meio a falas de BCs

 

Conheça as 10 moedas mais caras e mais valorizadas do mundo

O dólar se valorizou hoje, em um contexto de renovada cautela com as tensões geopolíticas no Oriente Médio. Diante de relatos de potencial ataque do Irã em solo israelense em breve, em retaliação após ataque que matou oficiais iranianos na Síria, houve busca por segurança nos mercados em geral. Além disso, investidores monitoravam indicadores e declarações de dirigentes de grandes bancos centrais, como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Banco Central Europeu (BCE).

No fim da tarde em Nova York, o dólar avançava a 153,24 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,0643 e a libra caía a US$ 1,2451. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,72%, a 106,038 pontos, com ganho semanal de 1,67%.

Alguns meios internacionais publicaram reportagens, a partir de fontes em Israel e nos EUA, mas também em alguns casos do Irã, de que Teerã poderia atacar em solo israelense, eventualmente ainda nesta sexta-feira. Embora não houvesse garantias de que isso ocorresse, havia cautela nos mercados em geral, inclusive no cambial. Houve relatos de dois drones iranianos explosivos interceptados por Israel, nesse contexto.

A cautela favorecia o dólar e o iene. No caso da moeda japonesa, havia também recuperação modesta, após ela ter batido mais cedo mínimas em 34 anos, o que segundo o BBH tornava uma intervenção cambial algo que podia ocorrer a qualquer momento. Para a Oxford Economics, o iene tende a seguir fraco, enquanto o Bank of America (BofA) também mencionava a chance de intervenção cambial em breve por Tóquio.

Na agenda de indicadores, no Reino Unido a produção industrial cresceu 0,1% em fevereiro ante janeiro, quando analistas ouvidos pela FactSet previam estabilidade. O PIB mensal do país avançou também 0,1%, o que para a Capital Economics era sinal de que a recessão local acabou. Já na Alemanha, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 2,2% em março, na comparação anual, desacelerando após a alta de 2,5% de fevereiro. Nos EUA, o sentimento econômico medido pela Universidade de Michigan caiu de 79,4 em março a 77,9 na preliminar de abril, quando analistas previam 79,7. A pesquisa de Michigan ainda mostrou alta nas expectativas de inflação no país, para 12 meses (de 2,9% em março a 3,1% em abril) e para 5 anos (de 2,8% a 3,0%).

Entre dirigentes, Martins Kazaks e Madis Müller comentaram sobre a chance de um corte nos juros se materializar em junho pelo BCE. Já do lado do Fed, Jeffrey Schmid, presidente da distrital de Kansas City, recomendou paciência ao BC americano, em quadro ainda incerto na trajetória inflacionária. Susan Collins (Boston) falou em dois cortes de juros neste ano, enquanto no monitoramento do CME Group voltava a ser majoritária a chance de redução nas taxas até julho pelo Fed.

Na região, o dólar avançava a 866,8405 pesos argentinos. A inflação ao consumidor na Argentina subiu 11,0% em março, na comparação com fevereiro, com alta de 287,9% na comparação anual. A leitura mensal desacelerou pelo terceiro mês seguido, mas a anual foi a mais elevada em 33 anos, na leitura oficial.


“O programa Mover será uma referência para o mundo”, diz Márcio de Lima Leite, da Anfavea

 


Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea: "A primeira semana de abril foi a melhor desde 2014" (Crédito:Divulgação)

 

RESUMO

 

• Executivo diz que o projeto de incentivo à descarbonização, junto com outras medidas, garantiu o maior montante de investimentos da história no setor, de R$ 123 bilhões.
• Para ele, a aproximação da indústria com o governo tem trazido resultados positivos, como a alta de 12% na produção do primeiro trimestre em relação ao ano passado

Há dois anos na presidência da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite tem o que comemorar. Somente nos três primeiros meses deste ano, as principais indústrias do segmento já se comprometeram a investir mais de R$ 123 bilhões no País. Além disso, a primeira semana de abril de 2024 é a melhor para o mês desde 2014. Os dados de março da indústria automobilística dão suporte ao otimismo do setor. A produção de 195,8 mil veículos foi a melhor em quatro meses e superou em 3,2% o volume de fevereiro. No acumulado do 1º trimestre, 538 mil unidades deixaram as linhas de montagem, 0,4% a mais que no mesmo período do ano passado. Já nas vendas internas, a média diária foi de 9,4 mil unidades em março, uma alta de 7,9% em relação a fevereiro e 8,5% sobre março de 2023. No ano, a média diária de emplacamentos já é 12,6% superior à do primeiro trimestre de 2023. Em entrevista à DINHEIRO, o presidente avalia que os próximos meses devem ser marcados pelo aumento contínuo na produção, e 2024 deve fechar com 6% de aumento em relação ao ano passado – indo de 2,3 milhões de automóveis em 2023 para 2,47 milhões projetados para este ano.

DINHEIRO – Nesses quase dois anos à frente da Anfavea, quais foram as principais conquistas da indústria?
MÁRCIO DE LIMA LEITE – A gente vive um bom momento. O que queríamos desde o início era que o governo tivesse previsibilidade, e até agora está acontecendo. A Anfavea está com uma relação mais próxima do governo. Independentemente de partido, temos que trabalhar juntos para o País crescer e gerar empregos. Nós também podemos celebrar a política que batalhamos para definir as regras de importação de veículos de novas tecnologias, como híbridos e elétricos, que tinham uma alíquota de 0%, ou seja, muito aberto para importações e gerando zero investimentos, pois ninguém investiria em um país que não cobra tarifa para importar. A primeira coisa foi a mudança nessa regra, que foi uma grande conquista do setor. Concomitante a isso, também celebramos o Marco Legal das Garantias (sancionado pelo presidente Lula no ano passado), possibilitando que um bem possa ser utilizado como garantia em mais de um empréstimo, a redução no spread bancário e maior agilidade na recuperação dos itens, o que representa oferecer um crédito mais barato ao consumidor.

O sr. citou o Programa Mover na apresentação dos resultados. O que pode avançar com ele?
Também ficamos muito satisfeitos com a assinatura do decreto do Programa Mover [Programa de Mobilidade Verde] no mês passado pelo governo federal. Foi o resultado de muitas sugestões da nossa parte, além da academia e do setor de autopeças. Temos a certeza de que estamos diante de um programa que será referência para o mundo em termos de descarbonização, com a liberdade de escolha para os consumidores, que poderão optar pela rota tecnológica mais interessante às suas necessidades. Após essas medidas, foram R$ 123 bilhões de investimentos anunciados, o maior montante da história. Então vejo como um momento muito importante, pois o setor foi ouvido e conseguiu alguns reconhecimentos relevantes do papel da indústria automotiva no PIB brasileiro.

“Precisamos de uma indústria local de semicondutores, pois a crise está superada neste momento, mas o Brasil continua dependente, o que não é bom’’

A crise na cadeia de semicondutores já foi superada?
Sim, ela foi superada e está 100% equacionada, no entanto, esse é um ponto que a gente precisa desenvolver no País. Precisamos de uma indústria local de semicondutores, pois a crise está superada neste momento, mas o Brasil continua dependente, o que não é bom. Por isso, estamos conversando muito com o governo, isso faz parte da nossa agenda, a necessidade de avançarmos com a indústria. O terremoto que ocorreu em Taiwan, por exemplo, já exige da gente algum grau de preocupação, tamanha a dependência.

Vemos um crescimento da produção de veículos nos últimos anos, mas ainda estamos longe do recorde da indústria, do ano de 2013, com 3,7 milhões de veículos fabricados. Existe uma projeção para superar essa meta?
Nós estamos apresentando crescimento constante. Esse primeiro trimestre foi 12% superior ao ano passado. A primeira semana de abril foi a melhor desde 2014. Tem crescido bastante, mas o número de 2013, de 3,7 milhões, ainda vamos demorar para alcançar. No entanto, nós trabalhamos com um número mágico, que é de produzir 3 milhões de unidades. Esse número nós acreditamos que iremos alcançar em dois anos.

Como estão as vendas de veículos pesados e agrícolas?
Em ônibus há uma ex­pectativa de alta com a retomada do programa Caminhos da Escola, do governo federal, que visa comprar ônibus escolares novos. Além disso, como estamos em ano de eleição, as renovações de frotas das cidades tendem a aumentar. Nos caminhões e máquinas agrícolas, apesar de uma projeção de queda na safra de soja, isso não será suficiente para impactar as vendas. Nesse segmento nós estamos otimistas com a Agrishow e as feiras do setor agropecuário, que sempre impulsionam as vendas desses produtos.

“O Brasil precisa alavancar as exportações, precisamos ter mais acordos bilaterais, com a América Latina e outros países. É um trabalho que o setor precisa fazer junto ao governo. É o nosso grande calcanhar de Aquiles’’

No 1º trimestre houve um aumento nas vendas (9,1%), mas a alta da produção não ocorreu na mesma intensidade (0,4%). O que aconteceu?
Apesar de o mercado ter crescido, a produção não acompanhou o mesmo ritmo em função da alta nas importações. Foram 25 mil unidades importadas no período. Além disso, as exportações tiveram queda de 28%, sendo 30 mil carros exportados a menos. A produção brasileira foi impactada em quase 60 mil unidades, mas como ela cresceu 10%, teve um efeito quase neutro de 0,5%. Nosso desafio é fazer crescer o mercado interno, ampliar exportações e olhar com cuidado para importações, que trazem consigo tecnologia, mas que não podem impactar nos nossos empregos. Quando a gente fala da atenção para as importações, é porque na produção estão os empregos. Quando falamos que a produção não cresceu tanto, apesar do mercado ter crescido, alguém supriu essa demanda. A grande questão é que nós precisamos monitorar a todo momento a entrada de produtos de fora do Brasil, que acabam impactando direto as nossas produções locais.

A Anfavea estima quantos empregos novos gerados pela indústria nos próximos anos?
Não temos esse número. O que nós temos são 1,2 milhão de pessoas empregadas em toda a cadeia da indústria. Para cada emprego direto, geramos de 10 a 11 indiretos. Somente agora, neste mês, geramos 700 empregos diretos, o que equivale a cerca de 7 mil postos gerados em um mês. É um efeito multiplicador.

Está havendo alguma dificuldade de liberação de importados?
Houve uma mudança na sistemática de liberação por parte dos órgãos ambientais e isso tem ocasionado um pouco mais de demora nas liberações. Tanto é que hoje nós temos 25 mil veículos aguardando liberação, um prejuízo para o mercado. E tem a demora para importar peças. Isso é um assunto que estamos procurando entender melhor. Os elétricos não sofrem com isso, pois não existem as mesmas restrições ambientais, então a importação é mais rápida do que a de híbridos e carros a combustão. Recentemente fomos acionados porque o Mercosul está começando a discutir essa maior lentidão na liberação das importações pelo Brasil. O fluxo vindo da Argentina está sendo tratado com maior lentidão, causando um tratamento mais moroso por parte deles também. Fazendo essa pergunta na Argentina, sim, isso impacta para eles, que começam a se perguntar se isso não agride a regra do Mercosul. Então queremos ver uma forma de termos uma liberação mais ágil, principalmente para o que está no âmbito do mercado sul-americano.

Falando nos elétricos, o início da produção da BYD no Brasil vai gerar um impacto positivo forte na produção nacional e na redução da importação?
Sem dúvida, hoje os maiores volumes de importações são das empresas que estão vindo para produzir no País, o que é algo muito positivo. Temos esse crescimento nas importações, mas que logo será substituído pela produção local.

E as exportações, por que estão caindo?
Esse é o nosso grande calcanhar de Aquiles. O Brasil precisa alavancar as exportações, precisamos ter mais acordos bilaterais, com América Latina e outros países. Esse é um trabalho que o setor precisa fazer junto ao governo, pois vivemos um momento de forte queda em relação a nossa média histórica. O México vive um grande momento e é nosso maior destino de exportações, compensando em parte as perdas nas vendas para outros países historicamente parceiros. A Argentina, que sempre foi nossa maior parceira, vive um momento de transição, com mudanças estruturais sendo realizadas, mas é um país que, sem a menor sombra de dúvida, está encontrando seu caminho. Acredito que em breve nossas exportações para eles terão um fluxo maior.

Pretendem expandir as exportações para outros países além da América Latina?
Há sim um trabalho na busca de novos mercados, não há dúvidas sobre isso, inclusive com o governo brasileiro, ter um foco nesses países também, apresentar o que o Brasil tem de melhor e a possibilidade de exportações. Há essa busca constante de novos mercados.

O Salão do Automóvel, que aconteceu pela última vez em 2018, vai voltar a acontecer em 2024?
Está caminhando bem. O problema das importações, toda vez que tem alguma instabilidade, ou algum fluxo, acaba tendo algum impacto nos custos do evento, pois tem toda uma logística complexa para trazer veículos para um evento desse tipo. E o que nós temos visto ao longo dos últimos meses tem causado um certo incômodo, mas não o suficiente para impedir a realização do evento.

Como o sr. enxerga o futuro do mercado de carros no Brasil? As ruas serão dominadas pelos elétricos, híbridos, flex?
As ruas do Brasil serão ecléticas. Um dos grandes méritos do Programa Mover é incentivar a descarbonização, independentemente da rota tecnológica, algo que não ocorre em outros países. No Brasil, o consumidor terá liberdade de escolher entre veículos elétricos, híbridos, híbridos plug-in, a etanol, no caso de pesados a GNV, biometano ou a qualquer outra tecnologia que surja com o objetivo de neutralizar a pegada de carbono. Caberá a cada fabricante calibrar suas estratégias de motorização às demandas de seus clientes.