terça-feira, 24 de setembro de 2024

José Dirceu: Nem Starlink nem Amazon; nossos dados estratégicos têm de estar em data centers de instituições públicas do Brasil

 José Dirceu | Tudo Sobre | G1




É preciso um projeto de autonomia digital.

Vamos aos fatos. Todos públicos. Esta semana, li, surpreso, na Coluna da Mônica Bergamo, na Folha, uma nota sobre o encontro do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, com um representante da empresa estadunidense Amazon.

Além de ser uma das líderes do mercado de armazenamento de dados em nuvem e de outros serviços digitais, esta empresa está lançando uma constelação de satélites de baixa órbita, a Kuiper, para concorrer com a Starlink.

Por isso, procurou o ministro. Tem interesse em ocupar o espaço da Starlink, que enfrenta problemas no Brasil desde que seu dono, o bilionário Elon Musk, decidiu não cumprir decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Como não tirou do ar os perfis de internautas que foram acusados de pregar contra a democracia e instituições como o próprio STF e seus ministros, a rede social X (antigo Twitter) foi derrubada pela Anatel por determinação de Moraes, no dia 29 de agosto.

Por que digo que o uso do cachimbo faz a boca torta?

As autoridades brasileiras, e muito especialmente o ministro das Comunicações, por ter na estrutura de seu ministério a Telebras, deveriam saber, após o episódio Elon Musk e o caso Snowden, em 2013, que não podemos ter dados estratégicos do país em mãos de big techs estrangeiras.

Foi um enorme erro do governo de Jair Bolsonaro – embora dele não se pudesse esperar outra coisa – abrir as portas da Amazônia para a Starlink firmar convênios e contratos, mesmo que simbólicos, envolvendo as Forças Armadas e escolas.

Mas a Amazon não procurou apenas o ministro das Comunicações. Ao longo do último mês, seus executivos têm visitado diversos dirigentes de órgãos federais buscando se aproximar destas instituições não apenas por motivos comerciais.

Para uma destas incursões, por exemplo, escalaram Sean Roche, coronel e ex-diretor da CIA, atual responsável pela área global de Segurança Nacional da AWS – Amazon Web Services.

Na última semana, buscaram o próprio presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Queriam anunciar investimentos bilionários em infraestrutura computacional que farão no Brasil pegando carona em anúncios relacionados com a Nova Indústria Brasil.

Acabaram não ganhando o espaço que desejavam uma vez que a política industrial contempla uma estratégia nacional para estimular a criação de data centers nacionais.

Duas semanas antes, porém, colegas do executivo da AWS estiveram presentes em uma reunião de dois dias em Washington, organizada por diversas agências de segurança e inteligência de Departamentos do Governo dos EUA, para discutir cibersegurança com representantes do Brasil.

Além de servidores de entidades da administração pública federal, como Anatel, ANPD e Itamaraty, estiveram presentes alguns parlamentares de oposição ao governo Lula, que integram a Subcomissão Permanente de Defesa Cibernética do Senado Federal.

Entre eles, Sergio Moro, Marcos Pontes, Espiridião Amin e um que não faz parte do colegiado, Jorge Seif.

A reunião também contou com lobistas de outras big techs, entre elas Google, Cisco e Apple, mas apenas a Amazon colocou em marcha algumas ações de assédio corporativo dentro do Brasil nas semanas seguintes.

Esta reunião em Washington ocorreu na sequência de uma série de manifestações públicas do presidente Lula sobre soberania digital feitas em fóruns globais.

De junho para cá, Lula falou sobre um projeto brasileiro de inteligência artificial e o controle de nossos dados em espaços distintos como em evento da OIT, reunião do G7 e na Cúpula do Mercosul.

Dirigentes do governo também vêm dando demonstrações claras de que o país possui uma estratégia de soberania digital que se desdobra em várias frentes, liderada por projetos como o de “nuvem soberana”, pelo PBIA, pela Infraestrutura Nacional de Dados e pelo Siged, do IBGE.

Mesmo em assinatura de contratos com empresas estrangerias, os gestores de nossas estatais da área digital estão exigindo que os serviços sejam prestados em data centers nacionais que elas controlam.

Coincidência ou não, a AWS anunciou, na semana passada, um acordo comercial para operar seus serviços de nuvem em parceria com a Oracle, que assinou um contrato com a Dataprev.

Se sai a Starlink, por que não deixar entrar a Amazon? Nem uma, nem outra.

Nossos dados estratégicos, os dados dos nossos serviços públicos de saúde, educação e segurança pública, do nosso Judiciário, de nossas riquezas minerais, de nossa fauna e nossa flora, de nossas empresas públicas, nossos dados estatísticos e censitários são nosso patrimônio, têm que estar localizados no país, em data centers de instituições públicas.

Não podem nem devem alimentar as bases de dados de big techs e, depois, serem processados e transformados em produtos a serem vendidos para seus clientes – entre eles, os governos dos países que não lutam pela soberania de seus dados nem investem no desenvolvimento científico e tecnológico, ampliando sua cadeia de dependência.

Disputa espacial

A ação de Moraes sobre o X, que não nomeou representante legal no país para responder pelas multas aplicadas à empresa após fechar sua representação no Brasil, atingiu a Starlink, que pertence ao mesmo dono. Suas contas foram bloqueadas para garantir o pagamento das multas.

Como reação, a empresa ameaçou deixar de prestar o serviço a seus clientes: ela tem 224,5 mil conexões de banda larga via satélite, 0,5% da base nacional de conexões de internet, segundo dados da Anatel.

Entre seus clientes, estão o Comando Militar da Amazônia, com cinco contratos que somam R$ 239 mil e a Marinha, com um de R$ 428,3 mil.

E o Exército tem uma licitação em andamento no valor de R$ 5,1 milhões para antenas de satélite de baixa órbita cujas especificações só poderiam ser atendidas pelas Starlink, segundo reportagem publicada pela Folha. A Oneweb, da Hughes, estaria fora.

Independentemente do mérito da licitação ou do tamanho dos contratos, que são irrisórios e foram usados muito mais para comunicações pessoais entre militares e suas famílias e atendimento de ribeirinhos do que para serviços estratégicos, de acordo com depoimentos dos envolvidos, estes contratos nunca deveriam ter sido assinados. Pelas razões que já expus acima.

E há um fator agravante. O Brasil é dono de um satélite. Nossas Forças Armadas não precisam de satélites de empresas estrangeiras bisbilhotando nossas comunicações.

O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas – SGDC, da Telebras, foi lançado em 2017, com 50 transponders em banda Ka, para operações civis, e cinco transponders em banda X, para operações militares. Seu Centro de Operações e Controle Espacial – COPE, localizado em Brasília, recebeu a visita do presidente Lula há duas semanas.

Ele é operado por técnicos da Telebras e do Ministério da Defesa. Na mesma base está instalado um data center Tier 4, que oferece alto nível de redundância e tolerância a falhas. O sistema conta com outro centro de controle de back up no Rio de Janeiro e com antenas fixas em cinco pontos do território nacional.

Mais do que o SGDC, o Brasil possui um conjunto de instituições públicas capazes de dar suporte, de forma complementar, à infraestrutura da Telebras.

Cito aqui especificamente o Serpro, a Dataprev e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, a RNP.

Estas quatro entidades juntas possuem ativos da ordem de centenas de milhões de reais que controlam desde o SGDC a uma vasta gama de data centers e serviços digitais, não esquecendo de uma rede de fibra ótica de altíssima velocidade que atualmente conecta as universidades brasileiras.

Some-se a isso os supercomputadores da Petrobras, do LNCC (Santos Dumont) e os centros de dados do Senai-Cimatec, na Bahia, e temos uma constelação de equipamentos e dispositivos prontos para servir a este projeto estratégico de soberania digital que o presidente Lula parece ter decidido empreender como uma de suas prioridades até 2026.

Janela de oportunidade

E esta é a hora certa. No momento, o mundo enfrenta uma disputa bipolar entre Estados Unidos e China no controle da produção mundial de semicondutores, no desenvolvimento de modelos e estabelecimento de infraestrutura computacional voltada à inteligência artificial, no fluxo global de dados, na fabricação de dispositivos eletrônicos e de insumos estratégicos, no predomínio de plataformas e serviços digitais e na propriedade intelectual das chamadas tecnologias digitais avançadas.

Em torno destes dois polos, gravitam conjuntos de países com perfis de alinhamento e interesses distintos.

Por não ter conseguido desenvolver competidores de dimensão global no ambiente digital, a União Europeia, nos últimos 15 anos, tem optado por criar legislações complexas para defender seus cidadãos e seus mercados digitais em áreas como proteção de dados pessoais e privacidade, plataformas digitais, economia de dados, cibersegurança e, recentemente, inteligência artificial.

Ao mesmo tempo, os países do bloco firmam acordos bilaterais com nações como China e Japão tentando garantir o fluxo dados. Em paralelo, tentam fortalecer e especializar suas empresas para ocupar nichos econômicos destes mercados digitais.

Em movimentos mais estratégicos, países como Rússia, Índia, Japão, Coreia do Sul e Indonésia estruturaram ecossistemas digitais nacionais e soberanos baseados na criação de condições regulatórias e de instrumentos de fomento que propiciaram o surgimento de campeões nacionais em áreas como redes sociais, comércio eletrônico e serviços de mensageria, entre outros.

Ao mesmo tempo, estas nações investem fortemente na construção das chamadas infraestruturas digitais públicas, isto é, arranjos de capacidade computacional de processamento e armazenamento de dados para a manutenção do controle de ativos estratégicos dos países, de seus cidadãos e empresas em solo nacional.

Na franja extrema, países como os africanos e os sul-americanos ou se integram nesta nova ordem econômica mundial de forma alinhada aos Estados Unidos ou sequer conseguem recursos e capacidades internacionais para exercer qualquer protagonismo nacional.

Estas nações estão, basicamente, se tornando meros exportadores das atuais commodities digitais (os dados) e importadores de soluções desenvolvidas a partir destes insumos.

Em 2023, países desenvolvidos concentraram 73% das exportações globais de bens e serviços digitais. A América Latina e a África respondem, cada uma, por menos de 3%.

O Brasil encontra-se em uma posição sui generis neste cenário.

Por um lado, somos caudatários do modelo tecno-exportador baseado em dados: o país é o segundo maior usuário mundial de redes sociais, o segundo consumidor de jogos eletrônicos e um dos principais usuários de plataformas de inteligência artificial generativa.

Ao mesmo tempo, possuímos uma economia digital pujante: somos o 10º maior mercado global de serviços de tecnologia da informação, possuímos 88% da população com acesso à internet, 91% das empresas utilizando fibra ótica e um crescimento de tráfego de internet que alcançou 37% em 2023.

Como já disse, o que distingue o Brasil de quase todas as demais nações tecnologicamente dependentes é a existência de um arranjo de empresas estatais e instituições públicas capazes de sustentar um modelo diferenciado para a articulação e manutenção do que se convencionou chamar de soberania digital.

O Brasil afirmar isso ao mundo é uma forma de mostrar que existe um possível caminho do meio.

Uma alternativa para que todas as nações, inclusive as europeias, possam escapar da dependência econômica e geopolítica dos oligopólios digitais e dos governos que os sustentam e promovem.

*José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil, ex-deputado federal e ex-deputado estadual pelo estado de São Paulo

Haddad reforça que fundo para preservar florestas será financiado, primeiro, por países

 


 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o Tropical Forest Finance Facility (TFFF) será financiado, primeiro, por países. Na sua visão, a iniciativa, que prevê a criação de um fundo bilionário para a preservação de florestas, não substitui o mercado de crédito de carbono.

No período da manhã, Haddad participou de uma mesa redonda, em Nova York, para apresentar o TFFF a investidores estrangeiros. “Aqui não foi pedido recurso. O aporte tem de ser feito pelos países soberanos”, explicou.

Mais cedo, ele afirmou que países europeus têm demonstrado interesse na medida. Na visão de Haddad, o TFFF é “complementar” ao impacto positivo gerado pelo mercado de crédito de carbono, no qual o Brasil avança em termos de regulamentação.

“É um mecanismo adicional, que não concorre com o primeiro, mas que é complementar e necessário para preservação das florestas tropicais”, disse Haddad.

Países como o Brasil e nações da África e da Ásia mantêm florestas tropicais, como é o caso da Amazônia, mas não são remunerados pelos serviços ambientais que prestam, explicou. O objetivo do fundo é justamente captar recursos com países ricos e remunerar países em desenvolvimento e que mantêm as suas florestas em pé.

Os critérios para a distribuição desses recursos ainda estão sendo estudados bem como a sua governança está sendo construída, conforme o ministro. Ele ponderou, contudo, que já há simpatia pela iniciativa.

Haddad afirmou que mencionou as queimadas no Brasil em conversa com estrangeiros, mas que não houve questionamentos sobre elas. “Pelo contrário. O que aconteceu lá reforça a necessidade de um fundo de preservação, que hoje o mundo não dispõe. E não é particular do Brasil”, afirmou.

Conforme o ministro, as queimadas no Brasil têm sido causadas pela seca e por ações criminosas. “O crime só agrava a situação. Mas a situação já existe, a situação de fato, de uma floresta úmida que hoje é passível de queimada”, concluiu.

Cumprimento do arcabouço fiscal é cada vez mais crível, diz ex-ministro Levy

 


O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy avalia como positivo o relatório bimestral de receitas e despesas divulgado na segunda-feira, 23, pelo Ministério da Fazenda. Para Levy, o documento está “interessante” e trouxe “novidades”.

“Há uma série de indicadores de que o cumprimento do arcabouço é cada vez mais crível. Acho muito interessante a divulgação de ontem, trouxe novidades. Ele trocou receitas incertas do Carf por receitas mais certas, resultante de uma longa de negociação no Congresso. Agora se sabe como a desoneração da folha vai ser compensada. Pelo menos por agora. Depois, mais para frente, vamos ver como é que evolui.”

Levy destacou ainda a fala do vice-presidente Geraldo Alckmin garantindo o cumprimento do arcabouço fiscal. “O Alckmin de fiscal entende. Então tem uma coesão grande para gente continuar trilhando o caminho da segurança”. E chamou a atenção para decisões positivas do relatório – algumas “sutis”, apontando, por exemplo, a diminuição do gasto de pessoal para acomodar outras despesas.

O ex-ministro da Fazenda participou nesta terça-feira, 24, do Brazil Conference, evento promovido pelo Banco Safra, em São Paulo, que teve a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, de Goiás, Ronaldo Caiado, do Paraná, Ratinho Jr., e de empresários de grandes empresas de diferentes setores. Hoje, Levy é diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercado do Safra

“Estamos aqui com empresários, todos os setores estão extremamente confiantes.Vemos uma economia que está crescendo, emprego indo bem, inflação baixa. E desafios têm todo dia. Temos aí os desafios fiscais que temos que enfrentar com serenidade e clareza”.

Para o ex-ministro, o governo está fazendo o que pode. “O Ministério da Fazenda tem sido muito consistente, tem muito diálogo com o Congresso, garantindo que as coisas avancem”.

“O bom problema”

Sobre a ata do Banco Central divulgada hoje, com os detalhes da reunião do Comitê de Política Econômica (Copom), Levy avalia que foi “cautelosa” e destacou o uso do termo “diligente” no documento.

“O presidente [do BC] falou da boa notícia do mercado de trabalho vigoroso, mas não se traduziu em pressões de preço. Tem uma expressão interessante ali na ata em que dizem que vão continuar ‘diligentemente’ olhando como a economia vai andar antes de dar outros passos.”

Por isso, o ex-ministro acredita que o mercado se precipita ao apostar em subida de 3 pontos percentuais nos juros. “Não é isso que o Banco Central está falando. Ele vai subir depois de fazer essa análise diligente como as coisas vão andando, inclusive lá fora, e aí ele vai decidindo aos pouquinhos. Tem tempo para isso”, disse.

Ele volta a destacar o bom momento da economia, com inflação sob controle e emprego “indo bem”, inclusive, apontando para o que ele chamou de “bom problema” da economia, que é o mercado de trabalho aquecido.

Amazon e outras empresas comprarão US$ 180 milhões em créditos de carbono da floresta amazônica

 


Logo da Amazon no centro de distribuição da empresa em Staten Island, Nova York (Crédito: REUTERS/Brendan McDermid)

A Amazon e outras empresas concordaram em comprar créditos de compensação de carbono que apoiarão a conservação da floresta amazônica no Pará, em um negócio avaliado em cerca de 180 milhões de dólares.

A Amazon e pelo menos cinco outras empresas farão a compra por meio da iniciativa de conservação florestal LEAF Coalition, que ela ajudou a fundar em 2021 com um grupo de empresas e governos, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.

O acordo é o primeiro negócio da LEAF na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, que é vital para conter as mudanças climáticas devido à enorme quantidade de gases de efeito estufa que suas árvores absorvem.

O governo do Pará e a Coalizão LEAF compartilharam pela primeira vez os detalhes do acordo exclusivamente com a Reuters. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), deve anunciar o acordo na noite de terça-feira, durante a Semana do Clima de Nova York, quando cerca de 900 eventos serão realizados juntamente com a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Tem uma mensagem importante, uma companhia que tem como nome uma referência à Amazônia, está fazendo essa primeira comercialização com um estado da Amazônia”, disse Barbalho à Reuters. A Amazon confirmou a compra em um comunicado, enfatizando a importância da preservação das florestas tropicais no combate às mudanças climáticas.

Brasil na contramão da estagnação global

Embora a demanda por créditos de carbono tenha se estagnado globalmente, as gigantes da tecnologia Microsoft, Meta e Google fizeram compras de compensações no Brasil este ano.

A Amazon, a fabricante de medicamentos e produtos químicos Bayer, as consultorias BCG e Capgemini, a varejista de roupas H&M e a Fundação Walmart comprarão coletivamente 5 milhões de créditos a 15 dólares por crédito. Esse valor está muito acima da média da semana passada, de 4,49 dólares, para créditos de carbono ligados à natureza, de acordo com o provedor de dados Allied Offsets.

Cada crédito representa uma redução de 1 tonelada métrica de emissões de carbono provenientes da redução do desmatamento no Pará nos anos de 2023 a 2026.

Outros 7 milhões de créditos serão disponibilizados para outras empresas comprarem. Os governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Noruega garantiram uma parte desses créditos e os comprarão se as empresas não o fizerem.

O Pará sediará a cúpula climática COP30 da ONU no próximo ano, em uma ação que é o ponto central da tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de restaurar as credenciais ambientais do Brasil após anos de desmatamento crescente.

O Pará tem sido o principal Estado em termos de desmatamento desde 2005, embora a destruição esteja diminuindo desde 2021. Uma área maior do que a cidade de Nova York foi desmatada no Pará de janeiro a agosto deste ano, uma queda de 20% em relação ao ano anterior, de acordo com dados preliminares do governo federal.

Demanda global de energia subirá 24% de 2023 até 2050, projeta Opep

 


A demanda global de energia subirá 24% de 2023 para 2050, quando avançará de 301 milhões de barris equivalentes por dia para 374 milhões de barris equivalentes por dia, estima a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no relatório Perspectiva Mundial de Petróleo 2024. Grande parte desta expansão virá de regiões em desenvolvimento, pois a participação na demanda mundial de energia subirá de 64% para 71,5% neste período.

No cenário traçado pela Opep, são consideradas algumas premissas. Uma delas é a expansão média do produto interno bruto mundial de 2,9% por ano de 2023 a 2050. Um outro fator importante é a previsão de que a população do planeta atingirá 9,7 bilhões de pessoas em 2050.

Em relação à demanda global de petróleo, a Opep estima que ela subirá de 102,2 milhões de barris por dia em 2023 para 113,3 milhões de barris em 2030 e alcançará 120,1 milhões de barris por dia em 2050. De acordo com o relatório, a procura por países que não são membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), deve subir de 56,6 milhões de barris por dia apurados no ano passado para 84,6 milhões de barris por dia em 2050, enquanto as nações que fazem parte da OCDE devem registrar um declínio de 45,7 milhões de barris em 2023 para 35,6 milhões de barris por dia em 2050.

Veículos

Para a Opep, a frota mundial de veículos deverá subir de 1,7 bilhão de unidades em 2023 para 2,9 bilhões de unidades em 2050, com o maior crescimento para o segmento de veículos elétricos, embora o relatório não divulgue uma estimativa para esta categoria de automóveis. Contudo, os carros com motor de combustão interna deverão continuar a dominar a frota global, pois “deverão contabilizar mais de 70% em 2050.”

Com Selic agora em 10,75%, como ficam os rendimentos da poupança, Tesouro Direto e CDB?

 


Foto: Marcos Santos/ USP Imagem

 

O Banco Central elevou nesta quarta-feira, 18, a taxa básica de juros, de 10,5%  para 10,75% ao ano, conforme o esperado pelo mercado. Com a alta da Selic, como ficam os investimentos?

A taxa básica de juros dita o retorno de diversos investimentos atrelados à Selic. Nesse sentido, títulos de renda fixa tendem a render um pouco mais, garantindo ganhos acima da inflação e um retorno bem maior que o da caderneta de poupança.

Levantamento do buscador de investimentos Yubb mostra que o retorno projetado para 12 meses nas principais aplicações de renda fixa varia de 2,69% e 7,47%, já descontada a inflação esperada para o período, de 4,35%, e considerando a Selic mantida em 10,75% ao ano. Veja abaixo as simulações:

Como ficam os investimentos com a Selic em 10,75% ao ano

Renda fixa segue vantajosa

Como é possível ver no quadro acima, um investimento no Tesouro Selic vai ter um rendimento líquido real (descontada a inflação e imposto de renda) de 4% ao ano. O índice é maior que o da poupança, que vai pagar 2,69% em 12 meses. No CDB, o investidor deve pesquisar em que banco colocar seu dinheiro. De acordo com a plataforma, o rendimento pode variar entre 1,95% e 5,22% ao ano, dependendo da instituição.

Em aplicações com isenção de Imposto de Renda, como LCI, LCA e debênture incentiva, o rendimento real pode chegar a superar 7%.

Regras da Poupança

Pela regras atuais, quando a taxa Selic é maior que 8,5% ao ano, a poupança tem uma rentabilidade de 0,5% ao mês e de 6,17% ao ano somada à Taxa Referencial (TR).

A regra funciona assim:

  • Quando a taxa Selic for maior que 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês, somada à Taxa Referencial (TR); com isso, o retorno hoje é projetado em 7,16% em 12 meses.
  • Quando a taxa Selic for menor que 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 70% da taxa Selic, somada à Taxa Referencial (TR).

Entenda por que a Selic vai entrar em um novo ciclo de altas

 


Roberto Campos Neto (esq.) e Gabriel Galípolo na sede do BC: sinais de uma transição sem conflitos na instituição (Crédito: Cristiano Mariz)

 

A iniciativa do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de aumentar os juros em 0,25 ponto percentual era esperada pelo mercado e tinha fundamentos técnicos. Mas foi a decisão unânime que trouxe alívio.

Gabriel Galípolo, que deve assumir a presidência do BC a partir de 2025 após ser indicado pelo governo, referendou a primeira alta da Selic na terceira gestão do presidente Lula, demonstrando alinhamento com Roberto Campos Neto, atual comandante do BC. Isso afasta o temor de uma mudança de rumo na política monetária e de um cavalo de pau na política econômica por parte do petista. A sinalização é de que a instituição manterá o controle da inflação, deixando de se dobrar às seguidas críticas de Lula aos juros altos.

A alta da Selic e a queda dos juros americanos, também anunciada na última quarta-feira (18), devem favorecer o Brasil com aumento na entrada de capital estrangeiro, queda do dólar, e freio na inflação.

Antes de mais nada, esse novo ciclo de elevação das taxas, que deve ser breve, tem o objetivo de segurar as expectativas, diante de várias pressões inflacionárias. Seca, queimadas e as enchentes no Sul devem impactar os preços de alimentos como café, açúcar e laranja – fortes candidatos a serem os vilões da temporada. Mas, além disso, a questão fiscal e o aquecimento da economia também podem resultar em descontrole inflacionário.

Fernando Haddad, que foi o articulador da indicação de Gabriel Galípolo à presidência do BC, evitou comentar a decisão do Copom (Crédito:Mateus Bonomi) (Crédito:Estadão Conteúdo)
A Selic passou de 10,50% para 10,75% ao ano, uma alta que interrompe o movimento de redução iniciado pela autoridade monetária em agosto de 2023. Com isso, o juro real está em 6,5%, o segundo mais elevado do planeta. A taxa deve continuar subindo nas três próximas reuniões do Copom.

Diante do atual cenário, a aposta é de que nesse curto ciclo de alta o juro básico da economia chegue em fevereiro de 2025 em 11,75% ou 12% ao ano. Tudo vai depender do comportamento do câmbio, da valorização do real frente ao dólar.

Nos EUA, o corte foi de 0,5 ponto porcentual. A banda pela qual transitam as taxas agora vai de 4,75% a 5% ao ano. Esse recuo nos juros americanos tende a contribuir para a queda da moeda americana nos mercados internacionais, e deve estimular os investidores a buscar opções mais atraentes para alocar seus recursos em países emergentes, como o Brasil. Esse movimento contrário dos juros e a diferença entre as taxas permitem operações mais rentáveis no mercado doméstico.

“Isso alarga o spread e propicia as chamadas operações de carry trade, trazendo o dinheiro estrangeiro para cá. Por isso, a tendência racional é de contenção na cotação do dólar”, explica Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset. Com o dólar mais sossegado e até em queda, há uma redução nos preços de produtos importados, retirando parte da pressão inflacionária. Esse fator tem um forte peso na execução da política monetária, segundo o especialista.

Não houve surpresas com a decisão do Copom, que já estava precificada em outros ativos do mercado, como juros futuros ou ações frente aos eventos climáticos que estão prejudicando safras de vários produtos.

Para Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, “há pressões sobre a inflação em alimentos e logística em decorrência das queimadas. As secas também provocam fortes impactos, na medida em que impedem o transporte e escoamento de produtos por rios, que ficam intransitáveis, encarecendo os fretes”.

Os dados do boletim Focus do Banco Central, que refletem as projeções do mercado para a macroeconomia, já revelavam desde abril que os agentes trabalhavam com a perspectiva de avanço da inflação, segundo o professor de economia da FGV EAESP Renan Pieri. “A demanda aquecida, o PIB crescendo mais que o esperado, salários mais altos, mais renda, são todas pressões de alta para a inflação, além da questão fiscal. Há sinais de dificuldade para o governo conseguir alcançar as metas do arcabouço fiscal.”

Nesse contexto, em que é preciso reancorar as expectativas com uma política monetária mais restritiva, o professor espera por mais dois ajustes para cima na Selic este ano, de 0,25 p.p. em novembro e outro de igual tamanho em dezembro, o que levaria a taxa para 11,25%.

A situação fiscal do País é um dos principais entraves para a economia brasileira, porque alimenta as projeções de alta de inflação, fornece sustentação aos preços do dólar,  pode afugentar o capital estrangeiro e impede a estabilidade ou queda dos juros.

“O aspecto fiscal é muito ruim, de pressão sobre os juros, e sem perspectiva de melhora com o Orçamento engessado, a destinação obrigatória de recursos e o crescimento das despesas, comprometendo o arcabouço fiscal”, afirma Rogé, da Matriz Capital. O que foi previsto no arcabouço fiscal, como déficit zero em 2024 e superávit na dívida pública em 2025, perdeu credibilidade na opinião do professor associado da Fundação Dom Cabral Carlos Primo Braga.

“O mercado espera por um sinal do governo em relação ao controle das contas públicas, que até agora não veio”, ressalta Pieri. Ele lembra que o calendário eleitoral pode levar as autoridades econômicas a represar algumas medidas, para anunciá-las após as eleições. Na tentativa de equacionar a situação e defender o poder de compra da moeda, o Banco Central atua com as ferramentas que tem.

Operador da bolsa de Nova York (NYSE); o mercado acionário comemorou a queda de juros nos EUA. Abaixo, o presidente do Fed, Jerome Powel: sem garantia de novos cortes (Crédito:Spencer Platt) (Crédito:Estadão Conteúdo)

A principal delas é a política monetária, calibrando os juros de modo a perseguir a meta de inflação anual fixada em 3%, com a possibilidade de variação de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. As projeções do Focus apontam para uma inflação de 4,4% em 2024 e de 4% no ano que vem.

De concreto, o professor Braga lembra que estamos com uma inflação acumulada de cerca de 4,25% em 12 meses, com a possibilidade de ultrapassar os 4,5%, o teto da meta. Para ele, esse números precisam ser analisados cuidadosamente pelo futuro presidente do BC. Ainda que haja um componente político na questão, já que Galípolo foi indicado por Lula, ele terá de convencer o mandatário, sempre com duras críticas à elevação dos juros, de que é preciso manter a restrição monetária e evitar a desancoragem das expectativas dos agentes econômicos.

Somente dessa forma será possível iniciar uma política de queda dos juros em 2025 ou 2026. Nesse sentido, Galípolo, que é o atual diretor de Política Monetária do BC, tem sinalizado uma postura técnica.

(Andrew Harnik) (Crédito:Estadão Conteúdo)

Vigor da economia preocupa

O avanço de 1,4% do PIB no segundo trimestre deste ano levou a uma revisão para o crescimento do País em torno de 3%, quase o dobro das projeções iniciais. O mercado de trabalho também tem surpreendido, apresentando uma taxa de desemprego de 6,9% no segundo trimestre de 2024. É o menor nível em dez anos.

Esse vigor da economia também entrou no radar de preocupações e foi destaque no comunicado emitido pelo Copom após a reunião da última quarta-feira. Juros mais elevados também são usados para encarecer o crédito e frear o aumento da demanda.

Nos EUA Em relação ao cenário externo, parece ser inquestionável que a queda dos juros americanos traz alívio para a definição dos rumos da Selic. No entanto, os diretores do BC revelaram dúvidas sobre quando e qual será o tamanho de nova redução das taxas nos EUA. Isso porque Jerome Powell, o presidente do Fed, Banco Central americano, logo após anunciar a queda de 50 pontos-base dos juros, não deu garantias de continuar promovendo cortes, nem de que serão na mesma proporção, como aguardava o mercado. Apenas negou que não haverá aumento desses juros e deu indicações de que o ciclo iniciado de queda deve terminar quando a taxa atingir os 2,9% ao ano.

“O Fed postergou o início do ciclo de corte nos juros. No Brasil, o processo teve início bem antes, em agosto do ano passado. Não podemos dizer que o País está na contramão, eles iniciaram o processo mais tarde. Os contextos também são diferentes. Lá, a perspectiva é de que os EUA entrem em recessão técnica, com o desemprego aumentando de maneira rápida, assim como a inadimplência”, acrescenta Pieri.

Para reanimar a economia, o Fed iniciou a queda dos juros. Ao mesmo tempo, o professor Braga, da Fundação Dom Cabral, aponta que os EUA começaram a subir os juros em março de 2022, quando estavam em 0,25% ao ano, e vieram nessa escalada até atingir os 5,5%. Já o Brasil vem diminuindo os juros há mais de um ano, e teve a necessidade de engatar um novo movimento de alta porque a economia está aquecida e com várias incertezas e pressões inflacionárias no horizonte.