O executivo que comanda o maior investimento privado no extremo Sul do brasil cobra uma nova postura do setor privado no debate sobre as ineficiências do país, com menos formalismos e mais mobilização Por Eugênio Esber Há quase 40 anos no setor de papel e celulose, o engenheiro mecânico Walter Lídio Nunes se notabilizou por liderar a construção de fábricas exercitando duas habilidades.
Uma delas é a de planejador,
requisito natural para a missão. A outra, nem tão usual no meio executivo e
particularmente incomum entre engenheiros, é a de articulador.
Apreciador de uma boa conversa,
com interesse em literatura e sobretudo na composição psicológica dos
personagens de Machado de Assis, Walter Lídio passa boa parte do seu tempo
fora de Guaíba, cidade próxima a Porto Alegre onde comanda um investimento de
quase R$ 5 bilhões do grupo chileno CMPC na expansão da Celulose
Riograndense.
E é como um embaixador de
indústria que Lídio costura entendimentos com gente de governo, órgãos
reguladores, parlamentares – e também com outras empresas que fazem parte da
cadeia do setor. Aos 64 anos, Walter Lídio demonstra na entrevista a seguir alguma impaciência com a falta do que chama de
“visão sistêmica de competitividade”, e distribui críticas contundentes
não apenas a políticas públicas mas também ao próprio empresariado brasileiro
e sua propensão a produzir meras pautas de reivindicações.
O que trava, no Brasil, a agenda de reformas? O Brasil não enfrenta o desafio da competitividade de uma forma estruturada. E precisaria, porque este é um tema fragmentado, multifacetado, que exige uma sinergia muito forte de ações e uma liderança forte, uma governança pública muito efetiva, somada a uma participação também muito firme do setor privado. Não temos nada disso, infelizmente. E então o país acaba fazendo opções equivocadas. Por exemplo? Há várias. Uma delas é nossa política de relações exteriores, contaminada por ideologia. Veja, o Paraguai derrubou um presidente dentro da lei e da constituição. O que faz o Brasil?
Apoia a manobra para excluir o
Paraguai do Mercosul. Quando, no entanto, Chávez rasgou a constituição do seu
país, porque lá diz claramente que ele não poderia assumir, o Brasil o
apoiou.
É a ideologia comandando nossas
relações exteriores. Não praticamos uma diplomacia comercial, apenas uma
diplomacia política. Então eu pergunto: sob o ponto de vista de uma
competitividade sistêmica, em quem o Brasil deve ter interesse: na Venezuela
ou nos Estados Unidos? A sociedade brasileira não discute isso. Deixa isso lá
com os homens do Itamaraty.
O que deveria estar no topo da agenda do país? Há muitas questões que são urgentes. A começar pela carga tributária, que além de imensa é injusta em vários aspectos. No Brasil se paga imposto até para abrir uma empresa. E não é pouco: 10% ou mais, se não houver planejamento tributário. Aqui perto, no Uruguai, é 1%. Quer dizer, o governo é sócio de qualquer coisa que eu faça, e um sócio ingrato, porque quer tomar a parte dele no empreendimento antes que eu ponha o negócio para rodar. Tudo isso para custear uma máquina pública que sustenta coisas como a previdência privada de servidores públicos, mas não devolve o que o país mais precisa, infraestrutura para crescer. Os investimentos em infraestrutura no Brasil são ridículos. O governo, em seu esforço para destravar a economia, substituiu a fórmula de estimular o consumo pelo incentivo a investimentos em infraestrutura. É um bom começo? Não vejo as coisas acontecendo, nesta área, em sintonia com uma visão de competitividade sistêmica. A corrupção e a ineficiência levam os governos a fazer obras fora de prazo e fora de custo, em relação ao que a iniciativa privada consegue fazer. O setor público é incompetente para gastar.
Mas no Brasil temos tanta
carência em infraestrutura que qualquer coisa que se fizer é bem-vinda. Houve
algumas medidas mexendo em portos, desoneração de folha de pagamento...
O governo está colocando dinheiro em alguma coisa, mas são medidas do tipo
“Melhoral”, que ajudam, mas não são suficientes. Para resolver, o país
precisa de reformas, e a primeira delas é a tributária.
Qualquer reforma terá de passar pelo Congresso Nacional. Conhecendo a composição das duas casas, há alguma esperança de mudanças mais profundas em temas como a ordem tributária? Aí entramos em uma questão básica. Jabuti, se aparece em árvore, não é porque ele tem essa capacidade, é porque alguém pôs ele lá. Então, vamos discutir por que os jabutis estão lá. A questão da composição do Congresso? É. Como é que esse pessoal chegou lá? São vários fatores que levam a isso aí. Primeiro, um povo despreparado para a cidadania moderna, e com uma facilidade de vender seu voto. Mas quando nós mesmos, da elite, fazemos coisas que beneficiam os maus políticos, estamos descaracterizando a função política. Nós deveríamos estar contribuindo para pensar e discutir este país.
Deveríamos nos articular, e
botar no jogo as melhores inteligências, aquelas que possam contribuir
para o debate. Mas ficamos distantes do jogo político, porque não queremos
“nos misturar” com uma atividade que tem um conceito muito ruim. Essa atitude
é nefasta para o país. Essa é a grande armadilha que favorece a ineficiência
no Brasil: a atividade política se desenvolvendo sem controle social.
Mas há segmentos que atuam junto ao Congresso, pressionam. Quem está ausente especificamente? O omisso nesse jogo é o empresário, porque ele tem uma visão de mundo, uma capacidade de transformação, de formular propostas, de levar conhecimento. Não falo isso no sentido de que o setor empresarial deveria impor a sua verdade. Não acredito nisso, em imposição. Eu acredito que o mundo moderno tem de ser construído pela convergência. E o segmento empreendedor não pode estar ausente.
Na minha opinião, nós,
empresários, entregamos muito pouco em relação à responsabilidade
sociopolítica de que nós temos de assumir dentro da sociedade. Se formos
olhar o jogo político, quem mais reclama somos nós. Agora, quem mais tem se
omitido somos nós.
Entidades empresariais costumam levar propostas ao Congresso. O que está faltando para que essa participação dê resultado? Não basta levar um documento, um estudo. É preciso interagir com a governança pública, é preciso se mobilizar e se articular para exercer um controle social efetivo da atividade política.
Nós apenas chegamos lá e
entregamos uma pauta de reivindicações. E as ONGS vão lá e atingem o
Congresso inteiro, algumas vezes com discussões desqualificadas. A relação
dos parlamentares é com as bases clientelistas que eles têm. E nós não temos
articulação. E se não tivermos, não vamos obter resultado político melhor.
A dificuldade para negociar reformas no âmbito do Congresso valida a ideia de uma assembleia constituinte com fins exclusivos? Constituinte é outro problema, como se viu. É um grupo de pessoas que se isola. A grande discussão social não é feita. Em 1988, pequenas organizações foram lá e incluíram na constituinte coisas de tudo quanto foi jeito. Quando eu cito para alguém do exterior que turno de 36 horas semanais está na constituição nacional do Brasil, os caras riem de nós.
Como é que algo como o turno de
36 horas, que é matéria típica para uma lei ordinária, foi parar na
constituição do país? Isso aconteceu porque tinha um grupinho lá dentro. E o
setor empresarial estava onde? Dormindo em casa. Olha, antes de uma
constituinte precisamos de uma mobilização social. Precisamos ter movimentos
sociais qualificados para uma discussão sobre o que temos de mudar no país.
Esse artificialismo de fazer
uma constituinte não muda o país. Nós já temos o exemplo da última
constituição. Sem mobilização social, sem essa articulação, sem construir
essa nova representatividade para discutir os temas de interesse nacional, a
gente não faz mudanças.
A Celulose Riograndense está realizando no sul um investimento de cerca de R$ 5 bilhões e, entre os desafios do empreendimento, está a oferta de mão de obra capacitada. Que dimensão tem este problema no Brasil, atualmente? O Brasil tem bons profissionais, gente com ótima formação. Mas não temos uma oferta massificada de mão de obra especializada. E isso é preocupante. Acho necessário, em primeiro lugar, uma adequação dos currículos. A atualização dos cursos no Brasil é muito lenta, e precisa ser muito mais ágil, tanto no âmbito do ensino técnico como do ensino superior – inclusive na formação de engenheiros, mas não somente neste curso.
Falando especificamente sobre
curso universitário, o que me preocupa é que, além de haver falta de
qualidade, estamos introduzindo no Brasil um sistema de cotas que cria
fatores de redução de competitividade. A preparação dada aos universitários
já é ruim, como sabemos. E nós ainda facilitamos a entrada de pessoas com
notas mais baixas no processo de seleção. Esta é apenas uma das
distorções na área do ensino, entre várias outras.
Quais? Eu me preocupo com este contexto de rebaixamento do nível de exigência, algo que não se vê em outros países. No meu tempo de estudante de engenharia, havia um sistema voltado para a disciplina e para uma avaliação rigorosa, que trazia consequências para o aluno. Em Cálculo, por exemplo, 30% passavam de cara e 70% tomavam pau porque já naquele tempo a base matemática que traziam do ensino médio não era tão sólida. Hoje, o que acontece?
Baixa-se o nível de exigência e
o cara passa naquela matéria. Retirou-se da educação um elemento importante,
que é a repetência. A repetência é um instrumento de educação para a vida.
No meu tempo, quando a gente
repetia, sentia vergonha diante da família, dos vizinhos, ficava no quarto,
nem saía muito de casa. Isso, lá pelos 10, 11 anos de idade, era uma tremenda
lição social. Hoje, essa lição social foi subvertida.
Qual é a consequência deste novo quadro? A consequência é que o jovem, na idade das drogas, é jogado na vida com pouca disciplina, com pouco entendimento das consequências do que deixou de fazer, sabendo que pode levar as coisas até o último ano, quando tudo se corrige de algum modo é ele jogado para a frente.
Ele chega à universidade com
pouca base, com pouca disciplina de estudo... e ali também vai encontrar um
sistema que flexibiliza, porque as universidades não querem ficar com a
faculdade cheia de gente repetindo o ano...
Ou seja, as consequências são minimizadas até o momento em
que esse jovem começará a enfrentar a vida. E aí
o que é
que tem acontecido, historicamente? Nós,
lá nas empresas, vamos ter de reciclar esse pessoal. E isso é preocupante.
Que peso essa situação tem nas carências de mão de obra das empresas? O problema é significativo e está ligado a esta e a outras situações. Existe uma série de mecanismos de proteção que fazem com que, às vezes, a pessoa não queira entrar no mercado de trabalho formal. Vejamos o caso do programa bolsa família. O bolsa família foi criado sem mecanismo de saída, o que é um erro. Não só a bolsa família.
O seguro desemprego também. Só
recentemente, o seguro desemprego passou a exigir como contrapartida que o
trabalhador passe por alguma formação, reciclagem... Na Finlândia, há muito
tempo é assim. Se eu vou para o seguro desemprego, eu não fico em casa.
Tenho de ir para um curso de formação, pois já que o
Estado está me pagando para não trabalhar, eu tenho de estudar e me preparar com outras
competências para que o mercado possa
me absorver.
O que deve mudar nos critérios do bolsa família? O bolsa família tinha de ser repensada de maneira a adotar um mecanismo de saída. Eu acho esse tipo de programa social perfeitamente justo, quero deixar bem claro. Mas apenas enquanto situação temporária. Afinal, esse tipo de programa dá sobrevivência a uma pessoa, a uma família, mas não estabelece a cidadania moderna que nós queremos.
É aí que está a importância de criarmos mecanismos que
estimulem a saída. Com isso, o programa seria
aprimorado no sentido de levar essas pessoas para a
cidadania plena, porque ninguém que
vive de assistência pode ser considerado um cidadão na plenitude do termo.
A inovação é um tema assíduo no discurso empresarial brasileiro e mesmo no âmbito do governo e das universidades. O país está fazendo avanços reais neste campo? Inovação é a coisa mais mal-entendida do Brasil. Eu falo que o que temos aqui é a mística da inovação. Vejamos o que fez a Finlândia, um país que está no topo da lista da inovação. Eles tinham caminhos tradicionais, como o próprio setor florestal, base da economia.
Mas decidiram praticar a
transversalidade da inovação. Inovaram no desenvolvimento de equipamentos
para o setor, em toda a cadeia. A universidade se envolveu fortemente para
apoiar o processo. Inovação é isso, é aplicar na ponta, é buscar resultado.
Aqui, a universidade desenvolve teses, teses e teses. E quantas são
aplicáveis?
Temos de seguir o caminho de
países como Suécia e Finlândia, onde as universidades estão consorciadas aos
negócios, à economia e onde há centros de desenvolvimento de tecnologia discutindo
formas de potencializar a inovação nas cadeias produtivas.
No Brasil, com algumas exceções
notáveis como a TecnoPUC, predomina uma visão ideológica entre as
universidades. Lembro que há uns 15 anos nós tínhamos conseguido estabelecer
convênio com 27 universidades no mundo e eu tive de ouvir de um acadêmico no
Espírito Santo que a universidade não podia se contaminar com o interesse
privado, porque a função dela era desenvolver o conhecimento. Muitas de
nossas universidades continuam assim: geram conhecimento pela pureza do
conhecimento, sem preocupação com a aplicação prática de suas pesquisas.
Explique melhor o que é a transversalidade da inovação. Se eu quero gerar um produto, um processo, e entregar isso à sociedade, eu tenho de mapear o caminho que vou trabalhar. Há tecnologias de foco e há tecnologias transversais que se combinam, e é preciso desenhar todo esse processo – que não é isolacionista, e sim cooperativista, integrador. Agimos assim aqui na empresa para desenvolver uma nova madeira. Integramos todos os elementos da cadeia, o que envolveu universidades de outros países.
Algumas coisas, nós
desenvolvíamos – o material genético inicial era nosso, por exemplo. Mas
outras coisas nós buscávamos, em consórcio com alemães, com chineses... Esta
é a diferença: no exterior, a universidade trabalha com cronograma, com
planejamento e com compromisso com o resultado. Os caras lá são
pragmáticos.
Não quer dizer que não possa
haver renegociação de prazo, mas há objetivos de prazo. Aqui, como o conhecimento
é purista, e o conhecimento purista é algo que não se pode materializar, é
intangível, não se valoriza cronograma, ou resultado, e sim o pensamento
livre. O Brasil tem todos os ingredientes – ótimas empresas, universidades,
financiamento... Mas ainda não temos uma política estruturada de inovação. De
novo, aqui, a solução do problema é uma questão de articulação.
As leis e a atuação dos órgãos reguladores favorecem o investimento privado no Brasil?
O que eu vejo é que o Brasil,
diferentemente de países desenvolvidos, baseia-se no direito romano. E o
nosso sistema regulatório reflete esta realidade, esta opção por regrar tudo,
por criar regras e mais regras todos os dias. Agora, por exemplo, depois
dessa tragédia em Santa Maria, nós vamos criar um monte de regras a mais. E
assim somos nós.
A cada crise, introduzimos mais
leis. E todo aperfeiçoamento do sistema regulatório que nós promovemos é
sempre por adicionalidade, e não por uma atitude de repensar modelos. O
resultado é que as empresas enfrentam, no Brasil, uma burocracia imensa. O
Brasil é, absolutamente, um dos piores ambientes do mundo para se fazer
negócios, do ponto de vista do sistema regulatório.
O que deveria ser revisto no modelo regulatório brasileiro? Em primeiro lugar, reduzir a produção de leis, que é uma coisa imensa no Brasil. Em outros países, não se entende um sistema como o nosso, em que um vereador faz leis. Nesses países, o que há em cidades pequenas é um conselho comunitário que estabelece regras locais. Esse excesso de leis no Brasil torna complexa a fiscalização do comportamento social e a aplicação da norma legal.
Em conseqüência dessa
abundância de leis, o sistema brasileiro não consegue punir com presteza. E
isso beneficia quem? Quem faz as coisas erradas. Então nós temos todo um
sistema regulatório que está ficando impossível de ser cumprido, e de ser
fiscalizado. Além do mais, há sobreposição de órgãos reguladores, falta de
sintonia entre eles, dúvidas sobre competência legal entre União, Estados e
municípios... É um quadro que paralisa os negócios. Por isso o Brasil é
apontado internacionalmente como um país altamente burocrático. E tudo é
agravado pela politização das instituições de governança pública.
Em outros países, um órgão ambiental não dá posições ideológicas sobre qualquer assunto. Dá posições técnicas. Porque quem está atuando ali é profissional de carreira, e não alguém que ocupa cargo em comissão e que foi nomeado por critérios políticos. É impossível o Estado ser eficiente com cargos de alta importância técnica sendo politizados dessa maneira. |
Atuação: Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
segunda-feira, 25 de março de 2013
Os empresários estão omissos
domingo, 24 de março de 2013
POLÍTICA MIGRATÓRIA: BRASIL AVALIA O MODELO CANADENSE
SAE apresenta ações estratégicas para o futuro da política de imigração brasileira a representantes do governo do Canadá.
A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) recebeu, nesta
quarta-feira, 20 de março, a visita de representantes do governo do
Canadá. Eles vieram ao Brasil para conhecer as experiências brasileiras
na formulação de políticas públicas voltadas para áreas estratégicas,
como segurança cibernética, imigração, fronteiras, infraestrutura e
energia, entre outras.
O secretário-executivo da SAE, Roger Leal, disse que existem muitos
pontos comuns de interesse entre os dois países, sobretudo, no que diz
respeito às questões de segurança cibernética e imigração. O secretário
destacou que a SAE tem desenvolvido um debate dentro da estrutura de
governo do Brasil sobre a questão da imigração, justamente em função do
nível elevado que o Brasil tem alcançado do ponto de vista de suas
políticas sociais.
“Isso tem modificado a percepção do Brasil a respeito do fluxo de
pessoas, seja de imigrantes de países fronteiriços, de outros países, ou
de atração de mão de obra qualificada. Temos um projeto que rediscute
essa política internamente, a partir dessa nova posição que o País tem
ocupado no cenário internacional”.
De acordo com a vice-ministra do Conselho Privado do Canadá, Janice
Charrett, o objetivo da comitiva é utilizar as experiências que estão
dando certo em outros países para uma reestruturação dos serviços e
melhoria das políticas públicas canadenses.
“Já visitamos outros ministérios e órgãos do governo brasileiro
porque estamos passando por um processo interno de reformulação.
Pretendemos conhecer melhor as experiências brasileiras para identificar
em que áreas poderemos desenvolver uma agenda de cooperação”, explicou
Janice, como líder do grupo.
A reunião contou ainda com a participação de especialistas da SAE,
que apresentaram um panorama sobre os projetos desenvolvidos pela
Secretaria. A diretora de Projetos, Rosane Mendonça, falou sobre as
ações para a formulação de uma proposta voltada para estimular a entrada
de trabalhadores estrangeiros no Brasil e do programa Fronteira Viva,
que pretende criar condições de permanência e de desenvolvimento
econômico para as populações isoladas na fronteira amazônica.
“O Canadá é um modelo em termos de processos de imigração de
trabalhadores. Nosso principal objetivo com esse projeto é uma mudança
na legislação para facilitar e agilizar a vinda de trabalhadores
qualificados para o País. Estamos trabalhando
em três frentes: desenvolvimento de pesquisa com empresas brasileiras,
para entender as dificuldades e os entraves; criação de um grupo de
trabalho formado por acadêmicos para a elaboração de um dossiê sobre a
situação da imigração no Brasil; e estamos, ainda, mantendo diálogo com
outros ministérios para pensar essas mudanças na legislação”, explicou.
Durante o encontro, temas como segurança tecnológica e ambiental
também foram discutidos pelos representantes da SAE em assuntos de
Defesa e Desenvolvimento Sustentável, Carlos Alberto dos Santos Cruz e
Pérsio Davison, respectivamente. Na área de Defesa, a SAE está estudando
o desenvolvimento de iniciativas para fortalecer o setor cibernético.
Na área ambiental, a Secretaria tem trabalhado com uma série de ações
relacionadas ao meio rural, com projetos focados no uso inteligente do
território para aumentar a produtividade e o desenvolvimento dos
produtores locais.
O órgão conduz, ainda, a formulação de uma Política
Nacional de Florestas Plantadas. A ideia é aumentar a área de florestas
plantadas no Brasil, criar mecanismos de fomento econômico ao setor para
atrair investimentos, reduzir riscos e inserir pequenos e médios
produtores nesse mercado, além de gerar emprego e renda.
(SAE – 21/03/2013)
DIPLOMAS: O AVANÇO DEVE SE TORNAR EXEMPLO
Diplomas portugueses de engenharia e arquitetura poderão ser
reconhecidos praticamente de forma automática no Brasil. A iniciativa
representa um avanço nos debates sobre a validação do diploma de
medicina no País, medida cada vez mais necessária para o suprimento da
demanda por médicos nos municípios brasileiros.
A notícia de que engenheiros e arquitetos formados em Portugal
poderão ter seus diplomas reconhecidos praticamente de forma automática
no Brasil agradou a Associação Brasileira de Municípios (ABM). A
entidade vê a iniciativa como um avanço nos debates sobre a validação do
diploma de medicina no País, medida cada vez mais necessária para o
suprimento da demanda por médicos nos municípios brasileiros.
A mudança no reconhecimento do diploma de engenheiros e arquitetos
ficará restrita inicialmente a um grupo de universidades federais e as
instituições públicas terão a responsabilidade de reconhecer o diploma
de graduação estrangeiro, através de convênio com as universidades
portuguesas.
“Essa iniciativa nos motiva ainda mais a buscar novas
formas de validação do diploma de medicina, já que o problema da falta
de mão de obra nessa área já está afetando intensamente a população
brasileira. É claro que o reconhecimento do diploma de médico deverá seguir as especificidades da profissão”, diz o presidente da Associação Brasileira de Municípios, Eduardo Tadeu Pereira.
O projeto de revalidação para engenheiros e arquitetos estrangeiros
está sendo elaborado porque o ritmo de formação de engenheiros está
abaixo da demanda dos próximos anos, tendo em vista as obras para a
realização da Copa e Olimpíadas. “Esse tipo de raciocínio deve ser
aplicado em relação à formação dos médicos, que tem sido insuficiente
para atender a demanda.
“Precisamos corrigir essa distorção com soluções de curto prazo, o
que implica na realização das chamadas internacionais”, avalia Eduardo.
(ABM – 24/03/2013)
sábado, 23 de março de 2013
Brasil tem de mudar relação com a China, diz ex-embaixador brasileiro
Por Rodrigo Pedroso | Valor
SÃO PAULO - Maior
parceiro comercial do Brasil, a China está confortável na relação
bilateral, de acordo com o ex-embaixador Clodoaldo Hugueney. Falando
sobre o país nesta sexta-feira, ele afirmou que o Brasil precisa pensar
melhor sua relação com os chineses para que ela se torne mais vantajosa
para o país. Atualmente, o Brasil é basicamente fornecedor de
matéria-prima para a indústria chinesa e comprador de manufaturados dos
asiáticos.
“Não estou dizendo que é ruim exportar matéria-prima, mas podemos tirar mais proveito do crescimento chinês. E isso tem que partir da gente. Os chineses estão cuidando de seus interesses, são mestres nisso”, disse.
Segundo Hugueney, falta coordenação entre diferentes atores da sociedade brasileira para que haja uma mudança na relação bilateral. Os chineses, por outro lado, possuem uma estratégia global para o comércio com o Brasil.
“Está faltando coordenação, e ela não pode ser apenas setorial. Temos que ter uma visão onde cada peça se encaixa em um todo, porque é assim que o outro lado raciocina. E isso envolve esforço do governo, empresários e academia para a criação de uma estratégia de todo. Precisamos entender melhor a China”, afirmou.
“Não estou dizendo que é ruim exportar matéria-prima, mas podemos tirar mais proveito do crescimento chinês. E isso tem que partir da gente. Os chineses estão cuidando de seus interesses, são mestres nisso”, disse.
Segundo Hugueney, falta coordenação entre diferentes atores da sociedade brasileira para que haja uma mudança na relação bilateral. Os chineses, por outro lado, possuem uma estratégia global para o comércio com o Brasil.
“Está faltando coordenação, e ela não pode ser apenas setorial. Temos que ter uma visão onde cada peça se encaixa em um todo, porque é assim que o outro lado raciocina. E isso envolve esforço do governo, empresários e academia para a criação de uma estratégia de todo. Precisamos entender melhor a China”, afirmou.
sexta-feira, 22 de março de 2013
Fevereiro registra déficit de US$ 6,6 bi em transação corrente; BC prevê déficit externo de US$ 67 bi em 2013
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Diplomata vê 'momento de ouro" na relação Brasil-EUA
Por Sergio Lamucci | De Washington
A relação entre Brasil e
Estados Unidos vive um momento favorável, com avanços expressivos em
áreas como educação, ciência e tecnologia, inovação e energia, disse
ontem Todd Chapman, ministro-conselheiro da embaixada americana em
Brasília. Ele vê um "momento de ouro" no relacionamento entre os dois
países, discordando da avaliação de que a relação é morna.
Em entrevista a jornalistas brasileiros em Washington, Chapman afirmou que a aprovação, pelo Senado brasileiro, do Acordo de Troca de Informações Tributárias entre Brasil e Estados Unidos, no começo do mês, é "encorajadora", e pode abrir espaço para a negociação de um tratado de bitributação.
Chapman destacou a intensificação dos negócios entre os dois países. Citou a compra da Amil pela American Health, definida em outubro do ano passado, e a da Drogaria Onofre pela CVS, em fevereiro. São investimentos em novas áreas, ressaltou ele,que vão além dos realizados por empresas americanas que há muito tempo têm presença no Brasil. Chapman disse ainda que empresas brasileiras também investem mais nos EUA.
Outro ponto importante, segundo o diplomata americano, é a presença da Embraer nos EUA, que venceu licitação para fornecer aviões para a Força Aérea americana. A parceria entre Embraer e EUA está muito bem estabelecida", disse Chapman, segundo quem não é possível entrar num aeroporto no país em que não haja um avião fabricado pela empresa brasileira.
Sobre as medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro no ano passado, com a elevação de tarifas de importação de cerca de cem produtos industriais, o que desagradou ao governo americano, Chapman disse que "isso pertence mais ao USTR (a secretaria de Comércio dos EUA). Acho que o mais importante é continuar ampliando o comércio entre EUA e Brasil, e trabalhar nos temas que vão facilitar essa expansão", afirmou o conselheiro.
"Há medidas tarifárias sobre as quais talvez não estejamos 100% de acordo, mas há maneiras de conversar sobre isso. O importante é ter os mecanismos para discuti-los. Eles existem e estão sendo utilizados", disse Chapman. "Nós acabamos de ter o diálogo comercial em Washington, no fim de fevereiro, que foi muito construtivo. Vamos continuar conversando sobre esses temas."
Em entrevista a jornalistas brasileiros em Washington, Chapman afirmou que a aprovação, pelo Senado brasileiro, do Acordo de Troca de Informações Tributárias entre Brasil e Estados Unidos, no começo do mês, é "encorajadora", e pode abrir espaço para a negociação de um tratado de bitributação.
Chapman destacou a intensificação dos negócios entre os dois países. Citou a compra da Amil pela American Health, definida em outubro do ano passado, e a da Drogaria Onofre pela CVS, em fevereiro. São investimentos em novas áreas, ressaltou ele,que vão além dos realizados por empresas americanas que há muito tempo têm presença no Brasil. Chapman disse ainda que empresas brasileiras também investem mais nos EUA.
Outro ponto importante, segundo o diplomata americano, é a presença da Embraer nos EUA, que venceu licitação para fornecer aviões para a Força Aérea americana. A parceria entre Embraer e EUA está muito bem estabelecida", disse Chapman, segundo quem não é possível entrar num aeroporto no país em que não haja um avião fabricado pela empresa brasileira.
Sobre as medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro no ano passado, com a elevação de tarifas de importação de cerca de cem produtos industriais, o que desagradou ao governo americano, Chapman disse que "isso pertence mais ao USTR (a secretaria de Comércio dos EUA). Acho que o mais importante é continuar ampliando o comércio entre EUA e Brasil, e trabalhar nos temas que vão facilitar essa expansão", afirmou o conselheiro.
"Há medidas tarifárias sobre as quais talvez não estejamos 100% de acordo, mas há maneiras de conversar sobre isso. O importante é ter os mecanismos para discuti-los. Eles existem e estão sendo utilizados", disse Chapman. "Nós acabamos de ter o diálogo comercial em Washington, no fim de fevereiro, que foi muito construtivo. Vamos continuar conversando sobre esses temas."
Valor Econômico
quinta-feira, 21 de março de 2013
Setor espacial terá R$ 9 bi para formar mão de obra
Por Daniel Rittner | De Brasília
Para evitar um apagão de mão de obra no desenvolvimento de suas
atividades espaciais, o governo pretende acelerar a formação de
profissionais altamente qualificados no setor, com investimentos de R$
9,1 bilhões no período 2012-2021.
Caso todas as promessas de investimentos realmente saiam do papel,
estimativas extraoficiais apontam a necessidade de contratação de mais 3
mil profissionais nos próximos dois anos. O número engloba não só
cientistas e engenheiros aeroespaciais, mas também especialistas
envolvidos em outras áreas da cadeia produtiva, como físicos, químicos e
técnicos de laboratório.
Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José
Raimundo Coelho, pelo menos quatro ações sendo preparadas para atacar o
déficit de engenheiros aeroespaciais: a abertura de cursos de graduação
especializados em universidades federais, o envio ao exterior de 300
estudantes de mestrado e doutorado, a importação de profissionais
estrangeiros e novos concursos públicos.
Hoje existem apenas seis faculdades no país com graduação em
engenharia aeroespacial. "Isso não é suficiente. A demanda por
especialistas vai ser muito grande", diz Coelho. Ele afirma que está
negociando a criação de novos cursos com três universidades federais: a
UFF (Federal Fluminense), a UFCE (Ceará) e a UFRN (Rio Grande do Norte).
"Quando a agência foi instalada, há 19 anos, não
havia nenhum apelo
para esses cursos. Hoje é bem diferente."
Nos níveis de mestrado e doutorado, o plano é enviar cerca de 300 estudantes ao exterior, dentro do programa
Ciência Sem Fronteiras. Até agora, a concessão de bolsas na área se
resume a dez alunos de mestrado da Universidade de Brasília, que foram
completar sua formação em engenharia aeroespacial na Ucrânia.
"Estamos estudando a iniciativa de contratá-los. Parte pela própria
AEB, parte pela Alcântara Cyclone Space (empresa binacional constituída
entre o Brasil e a Ucrânia) e parte pela indústria nacional", diz
Coelho. A fim de ampliar o número de brasileiros estudando em centros de
referência mundial, uma proposta de mandar mais 300 mestrandos e
doutorandos, a partir de 2014, foi levada ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no mês passado. Os
países-alvo são principalmente Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, Japão,
França e Itália.
Até a importação de especialistas, aproveitando a disponibilidade de
mão de obra por causa da crise internacional, entrou no radar do
governo. "Queremos atrair gente de fora. Sabemos até de americanos que
perderam emprego
na Nasa. A Espanha também tem um programa especial muito ativo e possui
mão de obra disponível", observa Coelho. Segundo ele, os estrangeiros
poderão ser alocados em universidades ou em órgãos oficiais envolvidos
com o programa espacial, como o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial
(DCTA).
A estratégia de atacar o risco de déficit de profissionais se
complementa com a abertura de concursos. Na AEB, que funciona com
pessoal cedido de outras instituições, a meta é fazer o primeiro
concurso em quase duas décadas de história. Um projeto de lei foi
aprovado na Câmara dos Deputados, criando um quadro próprio da agência, e
ainda tramita no Senado. O primeiro concurso, tão logo seja autorizado,
abrirá vagas para 120 a 150 pessoas. "Daremos prioridade às áreas mais
técnicas", afirma Coelho, garantindo que pelo menos 80% dos cargos serão
para as atividades-fins.
Para ele, não é mais possível trabalhar apenas com cargos
comissionados, que têm salários relativamente baixos e são muito
instáveis. "É um desastre. No princípio, a AEB se restringia a conversar
com os órgãos executores do programa espacial. Hoje, assumimos
diretamente uma parte do programa. Não concebemos mais uma agência sem
um quadro de pessoal próprio."
Para a Associação Aeroespacial Brasileira, uma entidade civil que
congrega representantes do setor, o governo precisa agir urgentemente
para resolver esses problemas. "Já temos um déficit de quadros", diz o
presidente da entidade, Paulo Moraes Júnior.
De acordo com ele, um tema que aflige o setor é a aposentadoria de
"dezenas" de profissionais no Inpe e no DCTA, agravando a escassez de
mão de obra. "É um processo que tem ocorrido a conta-gotas. Se não
houver uma reposição gradual, o problema vai se tornar crítico até
2015", ressalta Moraes, ele mesmo um engenheiro do DCTA que vai se
aposentar no fim do ano que vem.
A associação vê demanda por mais 3 mil profissionais, nos próximos
dois anos, mas destaca que não basta apenas formar gente. A preocupação é
assegurar também que o programa espacial não será descontinuado e que
não vão faltar oportunidades. "Isso geraria uma desmotivação muito
grande", pondera.
O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), lançado em
janeiro, define prioridades para o período 2012-2021 e busca justamente
dar mais previsibilidade aos principais projetos do setor. Ele prevê
investimentos anuais perto de R$ 900 milhões, não só com base no
orçamento da própria AEB, mas incluindo parcerias internacionais ou com
empresas. É o caso do veículo lançador de satélites Cyclone-4,
desenvolvido com a Ucrânia, e o satélite geoestacionário de defesa e
comunicações estratégicas, que tem recursos da estatal Telebras.
A projeção de investimentos é uma gota no oceano de US$ 276 bilhões
que a indústria espacial de todo o mundo movimentou em 2010 (último dado
disponível). Países como Brasil, Argentina, México, Coreia do Sul,
África do Sul, Cazaquistão e Ucrânia têm investido uma média de US$ 100
milhões a US$ 200 milhões por ano. Novos atores, como Austrália, Taiwan,
Indonésia, Tailândia, Malásia, Bolívia, Chile e Venezuela têm investido
entre US$ 20 milhões e US$ 50 milhões.
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