segunda-feira, 25 de março de 2013

Os empresários estão omissos






O executivo que comanda o maior investimento privado no extremo Sul do brasil cobra uma nova postura do setor privado no debate sobre as ineficiências do país, com menos formalismos e mais mobilização

Por Eugênio Esber





Há quase 40 anos no setor de papel e celulose, o engenheiro mecânico Walter Lídio Nunes se notabilizou por liderar a construção de fábricas exercitando duas habilidades

Uma delas é a de planejador, requisito natural para a missão. A outra, nem tão usual no meio executivo e particularmente incomum entre engenheiros, é a de articulador.

Apreciador de uma boa conversa, com interesse em literatura e sobretudo na composição psicológica dos personagens de Machado de Assis, Walter Lídio passa boa parte do seu tempo fora de Guaíba, cidade próxima a Porto Alegre onde comanda um investimento de quase R$ 5 bilhões do grupo chileno CMPC na expansão da Celulose Riograndense.

E é como um embaixador de indústria que Lídio costura entendimentos com gente de governo, órgãos reguladores, parlamentares – e também com outras empresas que fazem parte da cadeia do setor.  Aos 64 anos, Walter Lídio demonstra na entrevista a seguir alguma impaciência com a falta do que chama de “visão sistêmica de competitividade”,  e distribui críticas contundentes não apenas a políticas públicas mas também ao próprio empresariado brasileiro e sua propensão a produzir meras pautas de reivindicações.

O que trava, no Brasil, a agenda de reformas?

O Brasil não enfrenta o desafio da competitividade de uma forma estruturada. E precisaria, porque este é um tema fragmentado, multifacetado, que exige uma sinergia muito forte de ações e uma liderança forte, uma governança pública muito efetiva, somada a uma participação também muito firme do setor privado. Não temos nada disso, infelizmente. E então o país acaba fazendo opções equivocadas.

Por  exemplo?


Há várias. Uma delas é nossa política de relações exteriores, contaminada por ideologia. Veja, o Paraguai derrubou um presidente dentro da lei e da constituição. O que faz o Brasil?

Apoia a manobra para excluir o Paraguai do Mercosul. Quando, no entanto, Chávez rasgou a constituição do seu país, porque lá diz claramente que ele não poderia assumir, o Brasil o apoiou.

É a ideologia comandando nossas relações exteriores. Não praticamos uma diplomacia comercial, apenas uma diplomacia política. Então eu pergunto: sob o ponto de vista de uma competitividade sistêmica, em quem o Brasil deve ter interesse: na Venezuela ou nos Estados Unidos? A sociedade brasileira não discute isso. Deixa isso lá com os homens do Itamaraty.

O que deveria estar no topo da agenda do país?

Há muitas questões que são urgentes. A começar pela carga tributária, que além de imensa é injusta em vários aspectos. No Brasil se paga imposto até para abrir uma empresa. E não é pouco: 10% ou mais, se não houver planejamento tributário. Aqui perto, no Uruguai, é 1%.  Quer dizer, o governo é sócio de qualquer coisa que eu faça, e um sócio ingrato, porque quer tomar a parte dele no empreendimento antes que eu ponha o negócio para rodar. Tudo isso para custear uma máquina pública que sustenta coisas como a previdência privada de servidores públicos, mas não devolve o que o país mais precisa, infraestrutura para crescer.   Os investimentos em infraestrutura no Brasil são  ridículos.

O governo, em seu esforço para destravar a economia, substituiu a fórmula de estimular o consumo pelo incentivo a investimentos em infraestrutura. É um bom começo?

Não vejo as coisas acontecendo, nesta área, em sintonia com uma visão de competitividade sistêmica. A corrupção e a ineficiência levam os governos a fazer obras fora de prazo e fora de custo, em relação ao que a iniciativa privada consegue fazer. O setor público é incompetente para gastar. 

Mas no Brasil temos tanta carência em infraestrutura que qualquer coisa que se fizer é bem-vinda. Houve algumas medidas mexendo em portos, desoneração de folha de pagamento...  O governo está colocando dinheiro em alguma coisa, mas são medidas do tipo “Melhoral”, que ajudam, mas não são suficientes. Para resolver, o país precisa de reformas, e a primeira delas é a tributária.

Qualquer reforma terá de passar pelo Congresso Nacional. Conhecendo a composição das duas casas, há alguma esperança de mudanças mais profundas em temas como a ordem tributária?


Aí entramos em uma questão básica. Jabuti, se aparece em árvore, não é porque ele tem essa capacidade, é porque alguém pôs ele lá. Então, vamos discutir por que os jabutis estão lá.

A questão da composição do Congresso?

É. Como é que esse pessoal chegou lá? São vários fatores que levam a isso aí. Primeiro, um povo despreparado para a cidadania moderna, e com uma facilidade de vender seu voto. Mas quando nós mesmos, da elite, fazemos coisas que beneficiam os maus políticos, estamos descaracterizando a função política. Nós deveríamos estar contribuindo para pensar e discutir este país.

Deveríamos nos articular, e botar no jogo  as melhores inteligências, aquelas que possam contribuir para o debate. Mas ficamos distantes do jogo político, porque não queremos “nos misturar” com uma atividade que tem um conceito muito ruim. Essa atitude é nefasta para o país. Essa é a grande armadilha que favorece a ineficiência no Brasil: a atividade política se desenvolvendo sem controle social.

Mas há segmentos que atuam junto ao Congresso, pressionam. Quem está ausente especificamente?

O omisso nesse jogo é o empresário, porque ele tem uma visão de mundo, uma capacidade de transformação, de formular propostas, de levar conhecimento. Não falo isso no sentido de que o setor empresarial deveria impor a sua verdade. Não acredito nisso, em imposição. Eu acredito que o mundo moderno tem de ser construído pela convergência. E o segmento empreendedor não pode estar ausente.

Na minha opinião, nós, empresários, entregamos muito pouco em relação à responsabilidade sociopolítica de que nós temos de assumir dentro da sociedade. Se formos olhar o jogo político, quem mais reclama somos nós. Agora, quem mais tem se omitido somos nós.

Entidades empresariais costumam levar propostas ao Congresso. O que está faltando para que essa participação dê resultado?

Não basta levar um documento, um estudo. É preciso interagir com a governança pública, é preciso se mobilizar e se articular para exercer um controle social efetivo da atividade política.

Nós apenas chegamos lá e entregamos uma pauta de reivindicações. E as ONGS vão lá e atingem o Congresso inteiro, algumas vezes com discussões desqualificadas. A relação dos parlamentares é com as bases clientelistas que eles têm. E nós não temos articulação. E se não tivermos, não vamos obter resultado político melhor.

A dificuldade para negociar reformas no âmbito do Congresso valida a ideia de uma assembleia constituinte com fins exclusivos?

Constituinte é outro problema, como se viu. É um grupo de pessoas que se isola. A grande discussão social não é feita. Em 1988, pequenas organizações foram lá e incluíram na constituinte coisas de tudo quanto foi jeito. Quando eu cito para alguém do exterior que turno de 36 horas semanais está na constituição nacional do Brasil, os caras riem de nós.

Como é que algo como o turno de 36 horas, que é matéria típica para uma lei ordinária, foi parar na constituição do país? Isso aconteceu porque tinha um grupinho lá dentro. E o setor empresarial estava onde? Dormindo em casa. Olha, antes de uma constituinte precisamos de uma mobilização social. Precisamos ter movimentos sociais qualificados para uma discussão sobre o que temos de mudar no país.

Esse artificialismo de fazer uma constituinte não muda o país. Nós já temos o exemplo da última constituição. Sem mobilização social, sem essa articulação, sem construir essa nova representatividade para discutir os temas de interesse nacional, a gente não faz mudanças.

A Celulose Riograndense está realizando no sul um investimento de cerca de R$ 5 bilhões e, entre os desafios do empreendimento, está a oferta de mão de obra capacitada. Que dimensão tem este problema no Brasil, atualmente?
 
O Brasil tem bons profissionais, gente com ótima formação. Mas não temos uma oferta massificada de mão de obra especializada. E isso é preocupante.  Acho necessário, em primeiro lugar, uma adequação dos currículos. A atualização dos cursos no Brasil é muito lenta, e precisa ser muito mais ágil, tanto no âmbito do ensino técnico como do ensino superior – inclusive na formação de engenheiros, mas não somente neste curso.

Falando especificamente sobre curso universitário, o que me preocupa é que, além de haver falta de qualidade, estamos introduzindo no Brasil um sistema de cotas que cria fatores de redução de competitividade. A preparação dada aos universitários já é ruim, como sabemos. E nós ainda facilitamos a entrada de pessoas com notas mais baixas no processo de seleção.  Esta é apenas uma das distorções na área do ensino, entre várias outras.

Quais?

Eu me preocupo com este contexto de rebaixamento do nível de exigência, algo que não se vê em outros países. No meu tempo de estudante de engenharia, havia um sistema voltado para a disciplina e para uma avaliação rigorosa, que trazia consequências para o aluno. Em Cálculo, por exemplo, 30% passavam de cara e 70% tomavam pau porque já naquele tempo a base matemática que traziam do ensino médio não era tão sólida. Hoje, o que acontece?

Baixa-se o nível de exigência e o cara passa naquela matéria. Retirou-se da educação um elemento importante, que é a repetência. A repetência é um instrumento de educação para a vida.

No meu tempo, quando a gente repetia, sentia vergonha diante da família, dos vizinhos, ficava no quarto, nem saía muito de casa. Isso, lá pelos 10, 11 anos de idade, era uma tremenda lição social. Hoje, essa lição social foi subvertida.

Qual é a consequência deste novo quadro?

A consequência é que o jovem, na idade das drogas, é jogado na vida com pouca disciplina, com pouco entendimento das consequências do que deixou de fazer, sabendo que pode levar as coisas até o último ano, quando tudo se corrige de algum modo é ele jogado para a frente. 

Ele chega à universidade com pouca base, com pouca disciplina de estudo... e ali também vai encontrar um sistema que flexibiliza, porque as universidades não querem ficar com a faculdade cheia de gente repetindo o ano...

Ou seja, as consequências são minimizadas até o momento em que esse jovem começará a  enfrentar  a  vida.   E   o  que  é que tem acontecido, historicamente?      Nós, lá nas empresas, vamos ter de reciclar esse pessoal. E isso é preocupante.

Que peso essa situação tem nas carências de mão de obra das empresas?
 
O problema é significativo e está ligado a esta e a outras situações. Existe uma série de mecanismos de proteção que fazem com que, às vezes, a pessoa não queira entrar no mercado de trabalho formal. Vejamos o caso do programa bolsa família. O bolsa família foi criado sem mecanismo de saída, o que é um erro. Não só a bolsa família.

O seguro desemprego também. Só recentemente, o seguro desemprego passou a exigir como contrapartida que o trabalhador passe por alguma formação, reciclagem... Na Finlândia, há muito tempo é assim. Se eu vou para o seguro desemprego, eu não fico em casa.

Tenho de ir para um curso de formação, pois já que o Estado está me pagando para não trabalhar,  eu  tenho  de  estudar  e  me  preparar  com  outras  competências para que o mercado possa me absorver.

O que deve mudar nos critérios do bolsa família?

O bolsa família tinha de ser repensada de maneira a adotar um mecanismo de saída. Eu acho esse tipo de programa social perfeitamente justo, quero deixar bem claro. Mas apenas enquanto situação temporária. Afinal, esse tipo de programa dá sobrevivência a uma pessoa, a uma família, mas não estabelece a cidadania moderna que nós queremos.

É aí que está a importância de criarmos mecanismos que estimulem a saída. Com isso, o programa   seria   aprimorado  no sentido de levar essas pessoas para a cidadania  plena, porque ninguém que vive de assistência pode ser considerado um cidadão na plenitude do termo.

A inovação é um tema assíduo no discurso empresarial brasileiro e mesmo no âmbito do governo e das universidades. O país está fazendo avanços reais neste campo?

Inovação é a coisa mais mal-entendida do Brasil. Eu falo que o que temos aqui é a mística da inovação.  Vejamos o que fez a Finlândia, um país que está no topo da lista da inovação. Eles tinham caminhos tradicionais, como o próprio setor florestal, base da economia.

Mas decidiram praticar a transversalidade da inovação. Inovaram no desenvolvimento de equipamentos para o setor, em toda a cadeia. A universidade se envolveu fortemente para apoiar o processo. Inovação é isso, é aplicar na ponta, é buscar resultado. Aqui, a universidade desenvolve teses, teses e teses. E quantas são aplicáveis?

Temos de seguir o caminho de países como Suécia e Finlândia, onde as universidades estão consorciadas aos negócios, à economia e onde há centros de desenvolvimento de tecnologia discutindo formas de potencializar a inovação nas cadeias produtivas.

No Brasil, com algumas exceções notáveis como a TecnoPUC, predomina uma visão ideológica entre as universidades. Lembro que há uns 15 anos nós tínhamos conseguido estabelecer convênio com 27 universidades no mundo e eu tive de ouvir de um acadêmico no Espírito Santo que a universidade não podia se contaminar com o interesse privado, porque a função dela era desenvolver o conhecimento. Muitas de nossas universidades continuam assim: geram conhecimento pela pureza do conhecimento, sem preocupação com a aplicação prática de suas pesquisas.

Explique melhor o que é a transversalidade da inovação.

Se eu quero gerar um produto, um processo, e entregar isso à sociedade, eu tenho de mapear o caminho que vou trabalhar. Há tecnologias de foco e há tecnologias transversais que se combinam, e é preciso desenhar todo esse processo – que não é isolacionista, e sim cooperativista, integrador. Agimos assim aqui na empresa para desenvolver uma nova madeira. Integramos todos os elementos da cadeia, o que envolveu universidades de outros países.

Algumas coisas, nós desenvolvíamos – o material genético inicial era nosso, por exemplo. Mas outras coisas nós buscávamos, em consórcio com alemães, com chineses... Esta é a diferença: no exterior, a universidade trabalha com cronograma, com planejamento e com compromisso com o resultado.  Os caras lá são pragmáticos.

Não quer dizer que não possa haver renegociação de prazo, mas há objetivos de prazo. Aqui, como o conhecimento é purista, e o conhecimento purista é algo que não se pode materializar, é intangível, não se valoriza cronograma, ou resultado, e sim o pensamento livre. O Brasil tem todos os ingredientes – ótimas empresas, universidades, financiamento... Mas ainda não temos uma política estruturada de inovação. De novo, aqui, a solução do problema é uma questão de articulação.

As leis e a atuação dos órgãos reguladores favorecem o investimento privado no Brasil?

O que eu vejo é que o Brasil, diferentemente de países desenvolvidos, baseia-se no direito romano. E o nosso sistema regulatório reflete esta realidade, esta opção por regrar tudo, por criar regras e mais regras todos os dias. Agora, por exemplo, depois dessa tragédia em Santa Maria, nós vamos criar um monte de regras a mais. E assim somos nós.

A cada crise, introduzimos mais leis. E todo aperfeiçoamento do sistema regulatório que nós promovemos é sempre por adicionalidade, e não por uma atitude de repensar modelos. O resultado é que as empresas enfrentam, no Brasil, uma burocracia imensa. O Brasil é, absolutamente, um dos piores ambientes do mundo para se fazer negócios, do ponto de vista do sistema regulatório.

O que deveria ser revisto no modelo regulatório brasileiro?

Em primeiro lugar, reduzir a produção de leis, que é uma coisa imensa no Brasil. Em outros países, não se entende um sistema como o nosso, em que um vereador faz leis. Nesses países, o que há em cidades pequenas é um conselho comunitário que estabelece regras locais. Esse excesso de leis no Brasil torna complexa a fiscalização do comportamento social e a aplicação da norma legal.

Em conseqüência dessa abundância de leis, o sistema brasileiro não consegue punir com presteza. E isso beneficia quem? Quem faz as coisas erradas. Então nós temos todo um sistema regulatório que está ficando impossível de ser cumprido, e de ser fiscalizado. Além do mais, há sobreposição de órgãos reguladores, falta de sintonia entre eles, dúvidas sobre competência legal entre União, Estados e municípios... É um quadro que paralisa os negócios. Por isso o Brasil é apontado internacionalmente como um país altamente burocrático. E tudo é agravado pela politização das instituições de governança pública.

Em outros países, um órgão ambiental não dá posições ideológicas sobre qualquer assunto. Dá posições técnicas. Porque quem está atuando ali é profissional de carreira, e não alguém que ocupa cargo em comissão e que foi nomeado por critérios políticos. É impossível o Estado ser eficiente com cargos de alta importância técnica sendo politizados dessa maneira.



domingo, 24 de março de 2013

POLÍTICA MIGRATÓRIA: BRASIL AVALIA O MODELO CANADENSE

SAE apresenta ações estratégicas para o futuro da política de imigração brasileira a representantes do governo do Canadá.


A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) recebeu, nesta quarta-feira, 20 de março, a visita de representantes do governo do Canadá. Eles vieram ao Brasil para conhecer as experiências brasileiras na formulação de políticas públicas voltadas para áreas estratégicas, como segurança cibernética, imigração, fronteiras, infraestrutura e energia, entre outras.

O secretário-executivo da SAE, Roger Leal, disse que existem muitos pontos comuns de interesse entre os dois países, sobretudo, no que diz respeito às questões de segurança cibernética e imigração. O secretário destacou que a SAE tem desenvolvido um debate dentro da estrutura de governo do Brasil sobre a questão da imigração, justamente em função do nível elevado que o Brasil tem alcançado do ponto de vista de suas políticas sociais.

“Isso tem modificado a percepção do Brasil a respeito do fluxo de pessoas, seja de imigrantes de países fronteiriços, de outros países, ou de atração de mão de obra qualificada. Temos um projeto que rediscute essa política internamente, a partir dessa nova posição que o País tem ocupado no cenário internacional”.

De acordo com a vice-ministra do Conselho Privado do Canadá, Janice Charrett, o objetivo da comitiva é utilizar as experiências que estão dando certo em outros países para uma reestruturação dos serviços e melhoria das políticas públicas canadenses.

“Já visitamos outros ministérios e órgãos do governo brasileiro porque estamos passando por um processo interno de reformulação. Pretendemos conhecer melhor as experiências brasileiras para identificar em que áreas poderemos desenvolver uma agenda de cooperação”, explicou Janice, como líder do grupo.

A reunião contou ainda com a participação de especialistas da SAE, que apresentaram um panorama sobre os projetos desenvolvidos pela Secretaria. A diretora de Projetos, Rosane Mendonça, falou sobre as ações para a formulação de uma proposta voltada para estimular a entrada de trabalhadores estrangeiros no Brasil e do programa Fronteira Viva, que pretende criar condições de permanência e de desenvolvimento econômico para as populações isoladas na fronteira amazônica.

“O Canadá é um modelo em termos de processos de imigração de trabalhadores. Nosso principal objetivo com esse projeto é uma mudança na legislação para facilitar e agilizar a vinda de trabalhadores qualificados para o País. Estamos trabalhando em três frentes: desenvolvimento de pesquisa com empresas brasileiras, para entender as dificuldades e os entraves; criação de um grupo de trabalho formado por acadêmicos para a elaboração de um dossiê sobre a situação da imigração no Brasil; e estamos, ainda, mantendo diálogo com outros ministérios para pensar essas mudanças na legislação”, explicou.

Durante o encontro, temas como segurança tecnológica e ambiental também foram discutidos pelos representantes da SAE em assuntos de Defesa e Desenvolvimento Sustentável, Carlos Alberto dos Santos Cruz e Pérsio Davison, respectivamente. Na área de Defesa, a SAE está estudando o desenvolvimento de iniciativas para fortalecer o setor cibernético. Na área ambiental, a Secretaria tem trabalhado com uma série de ações relacionadas ao meio rural, com projetos focados no uso inteligente do território para aumentar a produtividade e o desenvolvimento dos produtores locais.

 O órgão conduz, ainda, a formulação de uma Política Nacional de Florestas Plantadas. A ideia é aumentar a área de florestas plantadas no Brasil, criar mecanismos de fomento econômico ao setor para atrair investimentos, reduzir riscos e inserir pequenos e médios produtores nesse mercado, além de gerar emprego e renda.

(SAE – 21/03/2013)

DIPLOMAS: O AVANÇO DEVE SE TORNAR EXEMPLO

Diplomas portugueses de engenharia e arquitetura poderão ser reconhecidos praticamente de forma automática no Brasil. A iniciativa representa um avanço nos debates sobre a validação do diploma de medicina no País, medida cada vez mais necessária para o suprimento da demanda por médicos nos municípios brasileiros.

A notícia de que engenheiros e arquitetos formados em Portugal poderão ter seus diplomas reconhecidos praticamente de forma automática no Brasil agradou a Associação Brasileira de Municípios (ABM). A entidade vê a iniciativa como um avanço nos debates sobre a validação do diploma de medicina no País, medida cada vez mais necessária para o suprimento da demanda por médicos nos municípios brasileiros.

A mudança no reconhecimento do diploma de engenheiros e arquitetos ficará restrita inicialmente a um grupo de universidades federais e as instituições públicas terão a responsabilidade de reconhecer o diploma de graduação estrangeiro, através de convênio com as universidades portuguesas. 

“Essa iniciativa nos motiva ainda mais a buscar novas formas de validação do diploma de medicina, já que o problema da falta de mão de obra nessa área já está afetando intensamente a população brasileira. É claro que o reconhecimento do diploma de médico deverá seguir as especificidades da profissão”, diz o presidente da Associação Brasileira de Municípios, Eduardo Tadeu Pereira.

O projeto de revalidação para engenheiros e arquitetos estrangeiros está sendo elaborado porque o ritmo de formação de engenheiros está abaixo da demanda dos próximos anos, tendo em vista as obras para a realização da Copa e Olimpíadas. “Esse tipo de raciocínio deve ser aplicado em relação à formação dos médicos, que tem sido insuficiente para atender a demanda.

“Precisamos corrigir essa distorção com soluções de curto prazo, o que implica na realização das chamadas internacionais”, avalia Eduardo.

(ABM – 24/03/2013)

sábado, 23 de março de 2013

Brasil tem de mudar relação com a China, diz ex-embaixador brasileiro


Por Rodrigo Pedroso | Valor
 
SÃO PAULO - Maior parceiro comercial do Brasil, a China está confortável na relação bilateral, de acordo com o ex-embaixador Clodoaldo Hugueney. Falando sobre o país nesta sexta-feira, ele afirmou que o Brasil precisa pensar melhor sua relação com os chineses para que ela se torne mais vantajosa para o país. Atualmente, o Brasil é basicamente fornecedor de matéria-prima para a indústria chinesa e comprador de manufaturados dos asiáticos.

“Não estou dizendo que é ruim exportar matéria-prima, mas podemos tirar mais proveito do crescimento chinês. E isso tem que partir da gente. Os chineses estão cuidando de seus interesses, são mestres nisso”, disse.

Segundo Hugueney, falta coordenação entre diferentes atores da sociedade brasileira para que haja uma mudança na relação bilateral. Os chineses, por outro lado, possuem uma estratégia global para o comércio com o Brasil.

“Está faltando coordenação, e ela não pode ser apenas setorial. Temos que ter uma visão onde cada peça se encaixa em um todo, porque é assim que o outro lado raciocina. E isso envolve esforço do governo, empresários e academia para a criação de uma estratégia de todo. Precisamos entender melhor a China”, afirmou.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Fevereiro registra déficit de US$ 6,6 bi em transação corrente; BC prevê déficit externo de US$ 67 bi em 2013



 
 
 
O Brasil registrou US$ 6,6 bilhões de deficit em suas transações correntes em fevereiro, informou o Banco Central nesta sexta-feira (22/3). 

O saldo negativo é quase quatro vezes o registrado no mesmo mês do ano passado, quando atingiu US$ 1,7 bilhão.

No acumulado dos últimos doze meses, o rombo chegou a US$ 63,5 bilhões, o equivalente a 2,79% do PIB (Produto Interno Bruto).

Apesar de alto, o resultado negativo veio em linha com a expectativa do BC no mês passado. 
A projeção da instituição era que o deficit cairia à metade do verificado em janeiro, quando chegou ao valor recorde de US$ 11,4 bilhões, o maior desde 1947.

O investimento direto estrangeiro no país (IED) em fevereiro registrou US$ 3,8 bilhões, sendo US$ 2,3 bilhões referentes a ingressos para participação acionária em empresas brasileiras e US$ 1,5 bilhão em empréstimos.

Já os investimentos brasileiros diretos no exterior foram de US$ 819 milhões. Destes, US$ 968 milhões em aquisição líquida de participação em companhias estrangeiras e US$ 155 milhões em amortizações de empréstimos.

No mês passado, a dívida externa brasileira chegou a US 316,3 bilhões, um incremento de US$ 3,4 bilhões em relação ao valor apurado de dezembro.

Já o estoque líquido de reservas internacionais do país teve queda de US$ 1,3 bilhão em fevereiro em relação ao mês anterior, chegando a US$ 376,5 bilhões.O BC informou que elevou a previsão para o déficit de suas transações com o exterior em 2013 dos US$ 65 bilhões inicialmente calculados para US$ 67 bilhões.

Segundo a nova projeção, o déficit em conta corrente superará com folga o recorde de 2012, que foi de US$ 54,2 bilhões, atribuído então à queda da demanda por produtos brasileiros no exterior pela crise econômica internacional.

A diferença entre os recursos que o Brasil enviará este ano para o exterior e os que receberá de outros países equivalerá a 2,76% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo as novas previsões da autoridade monetária.

O déficit em conta corrente de 2012 foi equivalente a 2,41% do PIB.

O BCl revisou para cima sua previsão para o déficit nas transações com o exterior perante a expectativa que o superávit da balança comercial este ano não alcance os US$ 17 bilhões previstos e fique em US$ 15 bilhões.

O BC espera déficit de US$ 43,6 bilhões na conta de serviços (viagens internacionais, transportes, seguros, entre outros) e um saldo negativo de US$ 41,4 bilhões na conta de rendas (remessas de dividendos e pagamentos de juros).

Em contrapartida, o saldo das transferências unilaterais (doações) será positivo para o país em US$ 3 bilhões.

Segundo o Banco Central, o Brasil registrou no primeiro bimestre deste ano um déficit em conta corrente de US$ 17,9 bilhões, praticamente duas vezes o saldo negativo de US$ 8,7 bilhões obtido no mesmo período de 2012.

O déficit de janeiro, de US$ 11,3 bilhões, foi o maior desde que o indicador começou a ser medido, em 1947, e o de fevereiro, de US$ 6,625 bilhões, foi quase quatro vezes superior ao do mesmo mês de 2012.

O Brasil financiou nos últimos anos seu déficit em conta corrente com a crescente entrada de investimento estrangeiro direto, mas neste ano os recursos estrangeiros para projetos produtivos no país, segundo o BC, não serão suficientes para cobrir o saldo negativo.

De acordo com as novas previsões, o investimento estrangeiro direto para este ano chegará a US$ 65 bilhões, ou seja US$ 2 bilhões abaixo do déficit em conta corrente. 

Fonte: Banco Central.


 
 





 
 

Diplomata vê 'momento de ouro" na relação Brasil-EUA


Por Sergio Lamucci | De Washington
 
A relação entre Brasil e Estados Unidos vive um momento favorável, com avanços expressivos em áreas como educação, ciência e tecnologia, inovação e energia, disse ontem Todd Chapman, ministro-conselheiro da embaixada americana em Brasília. Ele vê um "momento de ouro" no relacionamento entre os dois países, discordando da avaliação de que a relação é morna.

Em entrevista a jornalistas brasileiros em Washington, Chapman afirmou que a aprovação, pelo Senado brasileiro, do Acordo de Troca de Informações Tributárias entre Brasil e Estados Unidos, no começo do mês, é "encorajadora", e pode abrir espaço para a negociação de um tratado de bitributação.

Chapman destacou a intensificação dos negócios entre os dois países. Citou a compra da Amil pela American Health, definida em outubro do ano passado, e a da Drogaria Onofre pela CVS, em fevereiro. São investimentos em novas áreas, ressaltou ele,que vão além dos realizados por empresas americanas que há muito tempo têm presença no Brasil. Chapman disse ainda que empresas brasileiras também investem mais nos EUA.

Outro ponto importante, segundo o diplomata americano, é a presença da Embraer nos EUA, que venceu licitação para fornecer aviões para a Força Aérea americana. A parceria entre Embraer e EUA está muito bem estabelecida", disse Chapman, segundo quem não é possível entrar num aeroporto no país em que não haja um avião fabricado pela empresa brasileira.

Sobre as medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro no ano passado, com a elevação de tarifas de importação de cerca de cem produtos industriais, o que desagradou ao governo americano, Chapman disse que "isso pertence mais ao USTR (a secretaria de Comércio dos EUA). Acho que o mais importante é continuar ampliando o comércio entre EUA e Brasil, e trabalhar nos temas que vão facilitar essa expansão", afirmou o conselheiro.

"Há medidas tarifárias sobre as quais talvez não estejamos 100% de acordo, mas há maneiras de conversar sobre isso. O importante é ter os mecanismos para discuti-los. Eles existem e estão sendo utilizados", disse Chapman. "Nós acabamos de ter o diálogo comercial em Washington, no fim de fevereiro, que foi muito construtivo. Vamos continuar conversando sobre esses temas."
 
Valor Econômico

quinta-feira, 21 de março de 2013

Setor espacial terá R$ 9 bi para formar mão de obra


Por Daniel Rittner | De Brasília
Ruy Baron/Valor 
 
José Raimundo Coelho: "A demanda por especialistas vai ser muito grande"
Para evitar um apagão de mão de obra no desenvolvimento de suas atividades espaciais, o governo pretende acelerar a formação de profissionais altamente qualificados no setor, com investimentos de R$ 9,1 bilhões no período 2012-2021.

Caso todas as promessas de investimentos realmente saiam do papel, estimativas extraoficiais apontam a necessidade de contratação de mais 3 mil profissionais nos próximos dois anos. O número engloba não só cientistas e engenheiros aeroespaciais, mas também especialistas envolvidos em outras áreas da cadeia produtiva, como físicos, químicos e técnicos de laboratório.

Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, pelo menos quatro ações sendo preparadas para atacar o déficit de engenheiros aeroespaciais: a abertura de cursos de graduação especializados em universidades federais, o envio ao exterior de 300 estudantes de mestrado e doutorado, a importação de profissionais estrangeiros e novos concursos públicos.

Hoje existem apenas seis faculdades no país com graduação em engenharia aeroespacial. "Isso não é suficiente. A demanda por especialistas vai ser muito grande", diz Coelho. Ele afirma que está negociando a criação de novos cursos com três universidades federais: a UFF (Federal Fluminense), a UFCE (Ceará) e a UFRN (Rio Grande do Norte). "Quando a agência foi instalada, há 19 anos, não 
havia nenhum apelo para esses cursos. Hoje é bem diferente."

Nos níveis de mestrado e doutorado, o plano é enviar cerca de 300 estudantes ao exterior, dentro do programa Ciência Sem Fronteiras. Até agora, a concessão de bolsas na área se resume a dez alunos de mestrado da Universidade de Brasília, que foram completar sua formação em engenharia aeroespacial na Ucrânia.

"Estamos estudando a iniciativa de contratá-los. Parte pela própria AEB, parte pela Alcântara Cyclone Space (empresa binacional constituída entre o Brasil e a Ucrânia) e parte pela indústria nacional", diz Coelho. A fim de ampliar o número de brasileiros estudando em centros de referência mundial, uma proposta de mandar mais 300 mestrandos e doutorandos, a partir de 2014, foi levada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no mês passado. Os países-alvo são principalmente Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, Japão, França e Itália.

Até a importação de especialistas, aproveitando a disponibilidade de mão de obra por causa da crise internacional, entrou no radar do governo. "Queremos atrair gente de fora. Sabemos até de americanos que perderam emprego na Nasa. A Espanha também tem um programa especial muito ativo e possui mão de obra disponível", observa Coelho. Segundo ele, os estrangeiros poderão ser alocados em universidades ou em órgãos oficiais envolvidos com o programa espacial, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

A estratégia de atacar o risco de déficit de profissionais se complementa com a abertura de concursos. Na AEB, que funciona com pessoal cedido de outras instituições, a meta é fazer o primeiro concurso em quase duas décadas de história. Um projeto de lei foi aprovado na Câmara dos Deputados, criando um quadro próprio da agência, e ainda tramita no Senado. O primeiro concurso, tão logo seja autorizado, abrirá vagas para 120 a 150 pessoas. "Daremos prioridade às áreas mais técnicas", afirma Coelho, garantindo que pelo menos 80% dos cargos serão para as atividades-fins.

Para ele, não é mais possível trabalhar apenas com cargos comissionados, que têm salários relativamente baixos e são muito instáveis. "É um desastre. No princípio, a AEB se restringia a conversar com os órgãos executores do programa espacial. Hoje, assumimos diretamente uma parte do programa. Não concebemos mais uma agência sem um quadro de pessoal próprio."


Para a Associação Aeroespacial Brasileira, uma entidade civil que congrega representantes do setor, o governo precisa agir urgentemente para resolver esses problemas. "Já temos um déficit de quadros", diz o presidente da entidade, Paulo Moraes Júnior.

De acordo com ele, um tema que aflige o setor é a aposentadoria de "dezenas" de profissionais no Inpe e no DCTA, agravando a escassez de mão de obra. "É um processo que tem ocorrido a conta-gotas. Se não houver uma reposição gradual, o problema vai se tornar crítico até 2015", ressalta Moraes, ele mesmo um engenheiro do DCTA que vai se aposentar no fim do ano que vem.
A associação vê demanda por mais 3 mil profissionais, nos próximos dois anos, mas destaca que não basta apenas formar gente. A preocupação é assegurar também que o programa espacial não será descontinuado e que não vão faltar oportunidades. "Isso geraria uma desmotivação muito grande", pondera.

O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), lançado em janeiro, define prioridades para o período 2012-2021 e busca justamente dar mais previsibilidade aos principais projetos do setor. Ele prevê investimentos anuais perto de R$ 900 milhões, não só com base no orçamento da própria AEB, mas incluindo parcerias internacionais ou com empresas. É o caso do veículo lançador de satélites Cyclone-4, desenvolvido com a Ucrânia, e o satélite geoestacionário de defesa e comunicações estratégicas, que tem recursos da estatal Telebras.

A projeção de investimentos é uma gota no oceano de US$ 276 bilhões que a indústria espacial de todo o mundo movimentou em 2010 (último dado disponível). Países como Brasil, Argentina, México, Coreia do Sul, África do Sul, Cazaquistão e Ucrânia têm investido uma média de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões por ano. Novos atores, como Austrália, Taiwan, Indonésia, Tailândia, Malásia, Bolívia, Chile e Venezuela têm investido entre US$ 20 milhões e US$ 50 milhões.