Os líderes do grupo dos Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul – reúnem-se a partir desta terça-feira (26/01) em Durban, na África
do Sul, para tentar impulsionar a integração desses países.
Em seu quinto encontro, eles devem acertar a criação de um banco de
desenvolvimento, de um mecanismo para o uso conjunto de reservas
monetárias – Mecanismo de Contigente de Reservas – e o uso de moedas
locais para o pagamento de transações comerciais dentro do bloco.
A instituição financeira que finalmente poderá sair do papel deverá ser
parecida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e terá o objetivo de financiar projetos de infraestrutura dos
países-membros e de nações em desenvolvimento. Para isso, deverá ter à
disposição cerca de 50 bilhões de dólares.
Brasil deverá pedir votos dos colegas para Azevêdo
A proposta ainda sendo discutida no nível técnico, e ainda não é
certo que seja colocada em votação em Durban. "A participação de cada
país no capital inicial ainda não está definida, nem a composição de
voto dentro do banco", declarou o ministro do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, em entrevista à imprensa
internacional.
Mas alguns acordos já deverão ser fechados no encontro, entre eles a
criação de um mecanismo de proteção em que os Bancos Centrais dos países
dos Brics vão se comprometer a disponibilizar parte de seus recursos
para uso de qualquer país do grupo em caso de emergência. O valor
estimado para esse mecanismo é de 100 bilhões de dólares.
Além disso, os cinco países vão tentar avançar no acordo sobre a
utilização de moedas nacionais nas transações comerciais entre eles e,
dessa forma, proteger-se da flutuação do euro e do dólar – acordo nesse
sentido já será assinado entre Brasil e China. Dessa forma, dos 75
bilhões de dólares em transações comerciais em 2012 entre esses dois
países, cerca de 30 bilhões de dólares deverão ser efetuados em moedas
locais.
Acordos como esse, que diminuem o peso do dólar nas transações
comerciais internacionais, são muito positivos, de acordo com Thomas
Matussek, diretor da Sociedade Alfred Herrhausen – uma organização do
banco alemão Deutsche Bank. "É importante
juntar sinergias num mundo que não é mais unipolar. Vemos com bons olhos qualquer aliança de países num mundo globalizado."
Candidatura brasileira à OMC
Será a segunda viagem internacional do novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping
Os países do grupo dos Brics também vão discutir o aumento da
importância dos países em desenvolvimento dentro de organizações
internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a
Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial.
A presidente Dilma Rousseff deverá aproveitar a oportunidade para pedir o
apoio dos colegas ao candidato brasileiro à direção-geral da OMC,
Roberto Azevêdo. Dos cinco países-membro, somente o Brasil lançou um
candidato à sucessão de Pascal Lamy, cujo mandato vence em 31 de agosto.
Dos Brics, o principal parceiro comercial do Brasil é a China, que
realiza 80% das transações comerciais brasileiras. O desafio é aumentar a
participação dos outros quatro países parceiros. De forma geral, o
comércio entre o Brasil e o demais quatro países cresceu mais de dez
vezes em dez anos, passando de 7,6 bilhões de dólares em 2002 para 91
bilhões de dólares em 2012.
Já o comércio total entre os países do Brics alcançou 282 bilhões de
dólares em 2012, sendo que, em 2002, era de 27 bilhões de dólares.
Estima-se que o comércio entre esses países possa chegar a mais de 500
bilhões de dólares até 2015.
Termo criado por economista
O termo Bric – ainda sem a África do Sul – foi criado em 2001 pelo
economista inglês Jim O'Neil, do banco de investimentos Goldman Sachs,
para designar os países que, na opinião dele, iriam impulsionar a
economia mundial nas próximas décadas. Entre 2003 e 2007, o crescimento
dos quatro países representou 65% da expansão do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial e o termo entrou de vez no vocabulário econômico e
geopolítico.
O PIB dos países do Brics, em 2012, somou 15 bilhões de dólares e
representou 21% da economia mundial em valores nominais. Os cinco
membros possuem 42% da população mundial e 45% da força de trabalho,
segundo o Itamaraty.
Apesar de pontos positivos em relação à integração desses países, há,
ainda, muitos problemas para serem resolvidos, não só na parte
econômica, mas também na política, como citou Paulo Carvalho, professor
de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB). Países como a
China e a Rússia são contra o assento permanente do Brasil no Conselho
de Segurança da ONU.
"Os países estão no início da integração e pouco a pouco dedicam-se a
mais temas, tais como o papel do dólar, comércio e criação de um banco.
Portanto, acredito que deverão ser fechados mais acordos nos próximos
anos", afirmou o especialista Christian May, da Universidade de
Frankfurt.
De acordo com um estudo da Fundação Bertelsmann, da Alemanha, os países
"têm modificado o panorama político e econômico do século 21", mas devem
empreender enormes reformas para solucionar problemas como corrupção,
desequilíbrios sociais e questões ambientais que ameaçam o seu
desenvolvimento.