terça-feira, 23 de abril de 2013

Para candidato brasileiro à OMC, sistema multilateral está 'sob risco de perder relevância'








Com os debates da Rodada Doha suspensos desde 2008 e as grandes negociações praticamente ausentes, o sistema multilateral de comércio regulado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) enfrenta um momento crítico, correndo o risco de perder sua legitimidade e até relevância se não se modernizar.

Esta é a avaliação do diplomata Roberto Azevêdo, representante permanente do Brasil junto à OMC e candidato a substituir o francês Pascal Lamy na direção-geral do órgão que é a principal instância na administração do sistema comercial internacional.

Em uma campanha frenética que já o levou a mais de 50 países, Azevêdo aposta que pragmatismo e criatividade podem ajudar a colocar o sistema "no bom caminho".

"Temos que enfrentar as coisas com realismo, com pragmatismo e tentar conseguir os resultados que são possíveis, não necessariamente os ideais", disse o embaixador em entrevista concedida por telefone, de sua casa em Genebra, na Suíça.

Com 55 anos de idade e quase três décadas de diplomacia, Azevêdo nasceu em Salvador e é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Brasília.

Junto com outros quatro candidatos, ele acaba de passar para a segunda fase da disputa pela direção da OMC, em uma corrida que só deve terminar no final de maio.

Caso seja eleito, Azevêdo será o primeiro brasileiro a liderar aquele que é, junto com ONU, FMI e Banco Mundial, um dos principais organismos da política internacional.

Leia abaixo a entrevista concedida por Azêvedo à BBC Brasil.

A campanha

BBC Brasil - Caso o senhor vença a disputa, será o primeiro brasileiro a ocupar um cargo de linha de frente em uma grande organização multilateral. Em sua avaliação, qual seria o significado disso para o Brasil?

Roberto Azevêdo - Acho que seria um reconhecimento da atuação cada vez mais importante do Brasil no cenário internacional. O Brasil é um país que na área multilateral sempre foi muito ativo, sempre teve quadros muito bons defendendo nossas posições e isso significa que eventualmente chegaríamos a esse ponto. É um reconhecimento dos outros parceiros, dos outros países, de que nós temos funcionários, diplomatas, temos representantes bons, de alta qualidade, que são capazes de ajudar no funcionamento dos sistemas.

O Brasil é um país hoje de grande relevância, está no centro de quase todas as grandes decisões de governança mundial, seja na área política seja na área econômica. É um passo natural, eu acho que é um reconhecimento do trabalho e da dedicação do Brasil nos vários foros internacionais e multilaterais.

BBC Brasil - Como o senhor espera que seja a transição de chefe da missão brasileira a diretor-geral da OMC, caso o senhor seja eleito. Será uma transição difícil?

Azevêdo - São funções sempre muito difíceis, ambas. Você ser representante permanente de um país como o Brasil, que está no centro das negociações em uma organização como a OMC, é uma tarefa muito difícil, pelos desafios que se impõe, pela necessidade de acomodar interesses das nossas variadas constituencies (grupos de interesse) brasileiras, tanto no setor privado como no setor público.

E, na OMC, mais ainda, porque, afinal de contas, é essencialmente esse mesmo tipo de portfólio multiplicado por 159 países. São duas funções muito difíceis, todas as duas com desafios enormes, mas muito gratificantes.

BBC Brasil - Como está a campanha neste momento? O senhor viajou para diversos países para se encontrar com autoridades, foi uma agenda cansativa?

Azevêdo - Foi uma agenda muito cansativa, sobretudo nesse período de viagens. Foram quase 50 países em menos de dois meses, para conseguir cobrir uma parte importante dos membros mais ativos, mais relevantes, mais atuantes.

Mas agora eu estou mais em Genebra, o que não significa que a campanha esteja menos intensa. Só não tenho que viajar. Desde que acordo até a hora de dormir fazendo ligações, falando com pessoas, lendo material, escrevendo coisas, enfim, muito intenso, muito trabalhoso, mas está valendo a pena.

BBC Brasil - Até agora, quais os países que manifestaram apoio a sua candidatura?

Azevêdo - Ah, isso eu não posso falar...

BBC Brasil - Mas tem algum emergente?

Azevêdo - Tem em todas as áreas. Essa é uma coisa muito boa da candidatura, porque ela tem recebido apoios em todas as regiões geográficas e também entre os países de todos os níveis de desenvolvimento.

Desafios

BBC Brasil - Quais serão suas prioridades caso seja eleito diretor-geral da OMC?

Roberto Azevêdo - Acho que o sistema multilateral de comércio está em uma encruzilhada, em um momento muito crítico em que ou ele se atualiza, se moderniza e responde aos anseios do mundo dos negócios atual, ou ele vai perdendo progressivamente legitimidade e até relevância nas suas atuações, embora não vá deixar de ser um dos grandes pilares da governança econômica mundial.

A prioridade, portanto, é recolocar o sistema multilateral no bom caminho, no caminho da relevância, onde os membros encontrem nele um foro negociador, que é a única maneira de você fazer com que as regras da OMC se atualizem, é negociando.

Há uma certa evolução em termos de jurisprudência, porque esses contenciosos que acontecem na OMC vão esclarecendo as regras, e isso em si já é uma evolução do sistema. Mas os grandes saltos qualitativos estão nas negociações, e as negociações não acontecem há mais de 20 anos na OMC, é preciso mudar isso. Essa é a minha maior prioridade.

BBC Brasil - Há algumas limitações ao cargo de diretor-geral quanto às definições de políticas e agendas da instituição. Como o senhor pretende agir para alcançar esses objetivos?

Azevêdo - Os conflitos de agenda dos diversos países são coisas naturais, é a vida cotidiana do sistema multilateral. Nós não podemos, como eu costumo apontar, esperar que exista ou aconteça uma situação ideal, o ambiente ideal (para retomar as negociações).

Por exemplo, no momento em que a economia cresce, no momento em que nós estamos todos em uma expansão econômica global, o argumento é de que nós não conseguimos avançar (nas negociações) porque não há estímulo para isso, não precisamos de uma ajuda do sistema multilateral. Quando há crise, aí (dizem), "ah, fica mais difícil de negociar, fica mais difícil de abrir e liberalizar os nossos mercados".

Eu acho que nós não podemos esperar o momento ideal, nós temos que trabalhar com a agenda diversificada que existe mesmo.

Os países sempre estarão em ciclos econômicos diferentes, estarão sempre em ciclos políticos diferentes e a economia mundial também, de uma maneira geral.

Temos que enfrentar as coisas com realismo, com pragmatismo e tentar conseguir os resultados que são possíveis, não necessariamente os ideais, mas os que são possíveis. E isto é um exercício que não foi feito ainda e é uma coisa que eu gostaria de explorar com os membros se chegar a ser eleito.

BBC Brasil - Tentar retomar a Rodada Doha de liberalização do comércio está entre as prioridades? É possível fazê-lo?

Azevêdo - Eu acho que é possível e deveria ser uma das prioridades. Chegamos a um impasse há mais de quatro anos e passamos um bom tempo tentando trabalhar com o que estava sobre a mesa, e isso não foi possível.

Acho que está na hora de nós sermos um pouco mais criativos, sermos um pouco mais flexíveis em nossa abordagem. Isso não é impossível, tenho absoluta certeza disso. Tenho também certeza de que todos os membros querem que o sistema multilateral continue operante, sabem que encontrar uma solução para a Rodada é uma necessidade para desbloquear o sistema como um todo.

Hoje, as circunstâncias são diferentes, eu acho que a crise econômica já é uma crise mais bem quantificada, já não é aquele animal estranho que nós percebíamos em 2008 e 2009. Nós já temos uma certa expectativa de recuperação, ainda que progressiva, lenta, gradual, mas já há um certo caminho que se imagina que nós possamos trilhar em termos de economia mundial e, do ponto de vista de negociação, ninguém mais espera que o outro mude de ideia.

Então, estamos prontos para tratar dos obstáculos e dos empecilhos como eles são e, como eu disse, de uma maneira pragmática e realista.

Reforma

BBC Brasil - A estrutura de negociação da OMC é alvo de críticas, principalmente em relação a instituições como o single undertaking (compromisso único, regra pela qual todos os itens de uma negociação são parte de um todo, negociados em bloco, não podem ser acordados separadamente). O senhor vislumbra a possibilidade de uma reforma mais ampla para destravar as negociações, possibilitando, por exemplo, a negociação de acordos sobre temas específicos?

Roberto Azevêdo - Não acho que o single undertaking seja um problema. O single undertaking, na verdade, ajuda os membros a negociar sem ter que parar as negociações toda vez que um determinado pilar das conversações não esteja caminhando. Eu acho que é uma percepção equivocada achar que você trabalhar com o single undertaking é um empecilho, na verdade ele até ajuda.

Não acho que o problema que esteja no processo. Eu francamente acho que o problema está na substância. O problema que existe na Rodada Doha, o problema que existe no impasse nas negociações, não está na forma da decisão ou na maneira que nós estamos trabalhando, está na diferença substantiva entre as posições negociadoras.

Uma vez que a gente resolva o problema real das negociações, da substância, do teor das negociações, o processo não vai atrapalhar a conclusão de um resultado positivo.

BBC Brasil - Não sei se é sobre isso a que o senhor se refere, mas um dos grandes desafios do comércio internacional hoje é a resistência dos países desenvolvidos a cortar subsídios agrícolas, por exemplo. Como o senhor pretende lidar com essa questão?

Azevêdo - É sempre muito fácil, às vezes até para passar uma mensagem para a opinião pública, dizer "o problema é que um grupo de países não quer fazer isso, outro grupo de países quer fazer aquilo".

Todos sabemos que as coisas nunca são tão simples assim. É a maneira de explicar para o público que um problema tem uma vertente importante em um determinado problema, mas não é assim que as coisas acontecem, não é tão simples assim.

Há vários fatores, vários elementos, vários componentes nesta equação. Eu prefiro não tentar simplificar muito isso para não passar a mensagem e a ideia erradas.

Barreiras

BBC Brasil - O Brasil foi acusado de adotar medidas protecionistas, por exemplo, ao aumentar as tarifas de importação para alguns produtos no ano passado. Como o senhor avalia essas acusações? O senhor acha que sua eventual eleição pode aumentar o escrutínio internacional sobre as práticas comerciais do Brasil?

Roberto Azevêdo - Acho que as práticas comerciais do Brasil e as práticas comerciais de todos os membros estão sob permanente escrutínio, independente de quem é o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio. O Pascal Lamy é o diretor-geral há oito anos e nem por isso o escrutínio das medidas francesas aumentou ou diminuiu, isso não tem nenhuma relevância.

Estão sob escrutínio porque os próprios mercados, os próprios operadores do mercado, as empresas, as companhias, estão de olho, verificando se medidas incompatíveis com as regras multilaterais estão sendo adotadas ou não. Isto não vai mudar, eu acho que não tem nenhum impacto com relação a isso.

O sistema multilateral existe para isso, para que os membros que estão preocupados com medidas que foram adotadas por parceiros comerciais possam levar ao sistema multilateral essas questões e tentar dirimir as diferenças de maneira amigável, de uma maneira construtiva, evitando, por exemplo, a contaminação de outras áreas de comércio e até uma escalada de retaliações comerciais.

Então é uma maneira de resolver problemas em um foro técnico, em um foro que procura encontrar soluções que sejam aceitáveis para os dois lados, sem contaminar o resto das relações bilaterais.

BBC Brasil - Já faz algum tempo que o governo brasileiro vem insistindo na tese da "guerra cambial", afirmando que alguns países estariam manipulando suas moedas para tornar suas exportações mais competitivas, no que seria uma nova forma de protecionismo. Como o senhor avalia esse tema? O que pode ser feito?

Azevêdo - Acho que é um tema importante, que está sendo discutido em vários foros internacionais, o G-20 financeiro trata desse assunto, mesmo a OMC abriu um grupo de trabalho para conversar sobre esse assunto.

Mas é um tema de extrema complexidade, não é uma coisa que vai ser resolvida da noite para o dia. É um tema que abarca uma quantidade enorme de variáveis, de condicionantes, de regulamentos dentro de uma mesma fronteira e interfronteiras.

As experiências que nós já tivemos sobre esse tema no passado levaram exatamente a essa conclusão, são coisas que precisam de uma coordenação no mais alto nível entre os grandes atores internacionais.

BBC Brasil - Nos últimos tempos, temos visto cada vez mais países levantando barreiras sanitárias a algumas mercadorias como carne e outros produtos agrícolas. Alguns países veem nessas barreiras uma forma disfarçada de praticar protecionismo. Isso pode ser uma nova forma de protecionismo, mais difícil de ser combatida? Como lidar com esse problema?

Azevêdo - Eu não sei se é exatamente uma nova forma de protecionismo, é um tipo de protecionismo que já existe há muito tempo.

O que talvez seja novo nessa situação é que, com a queda das barreiras tarifárias, fica mais difícil, por exemplo, um país que quer impor uma medida de proteção, operar apenas no lado tarifário, no lado monetário do comércio. Então com frequência há países que são acusados de estarem impondo medidas desnecessárias, medidas excessivas na área sanitária, não por uma questão de preocupação sanitária propriamente dita, mas por um protecionismo velado.

Mas o sistema multilateral de comércio, a OMC, está aí para isso, para verificar essas situações e tentar encontrar resultados que sejam satisfatórios para os dois lados, evitando a contaminação das relações bilaterais.

Uol

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um país fora do ritmo

22 de abril de 2013 | 18h00

Rolf Kuntz

O Brasil manterá o passo errado nos próximos cinco anos e avançará bem menos que outros emergentes até 2018, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Sua inflação continuará mais alta e suas contas externas deverão piorar nesse período, com o déficit em transações correntes passando de 2,4% para 3,4% do produto interno bruto (PIB). 

Projeções de prazo longo aparecem no fim do Panorama Econômico Mundial publicado em abril e setembro pelo Fundo, num apêndice pouco visitado e pouco citado pela maior parte da imprensa. 

Estimativas desse tipo são sujeitas a erros importantes. Não são, no entanto, arbitrárias, nem inúteis. Ajudam a ver como poderá ser o futuro, se as tendências dos últimos anos persistirem, se as políticas forem mantidas e se as reformas necessárias forem levadas adiante ou negligenciadas. 

No caso do Brasil, os autores do estudo obviamente esperam poucas mudanças com potencial para tornar a economia mais dinâmica e mais sólida em seus fundamentos.

Segundo as projeções, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 4% no próximo e 4,5% em 2018, puxada, como tem sido há alguns anos, pelos países emergentes e em desenvolvimento. A convalescença europeia será lenta e penosa. 

Os Estados Unidos continuarão avançando com firmeza. Seu PIB crescerá apenas 1,2% em 2013, por causa do arrocho fiscal, mas aumentará 2,2% em 2014 e em 2018 terá atingido um ritmo de expansão 2,5%. 

A média dos emergentes e em desenvolvimento ficará em 5,3%, 5,7% e 6,2% em cada um desses três pontos de referência. Para a Ásia em desenvolvimento, incluída a China, os números estimados são 7,1%, 7,3% e 7,7%. Há uma aposta, portanto, no êxito dos programas de ajuste e de renovação dos modelos já iniciados em algumas dessas economias.

Nesse quadro, o avanço brasileiro continuará mais lento que o de vários países latino-americanos. Segundo o Panorama, o PIB do Brasil aumentará 3% em 2013, 4% no próximo ano e 4,2% em 2018. Se a projeção para este ano for confirmada, o resultado será bem melhor que o de 2012, quando o crescimento ficou em apenas 0,9%, apesar dos estímulos criados pelo governo. Alguns incentivos ao investimento privado poderão finalmente produzir algum efeito neste ano, de acordo com a análise apresentada no capitulo 2 do relatório.

Mas “restrições de oferta podem limitar o ritmo de crescimento a curto prazo”, advertem os autores do trabalho. Em outras palavras: os entraves observados nos últimos anos poderão ainda atrapalhar a economia brasileira em 2013. 

Sem examinar em detalhes a política seguida no Brasil depois da crise de 2008 e especialmente a partir de 2011, os economistas do FMI apontaram, no entanto, o grande problema negligenciado por muito tempo pelo governo brasileiro. Durante dois anos a equipe da presidente Dilma Rousseff insistiu em estimular a demanda, principalmente de consumo, sem dar a atenção necessária ao lado da produção e, portanto, da oferta.

O crescimento de 3% estimado para 2013 ficará muito abaixo do necessário para compensar o baixo desempenho dos dois anos anteriores. É preciso levar também isso em conta ao confrontar os números do Brasil com os de outros países do Hemisfério. Chile, Colômbia, Equador, Peru e México também foram afetados pela crise internacional, mas em pouco tempo voltaram a crescer em ritmo parecido com o dos anos anteriores à recessão no mundo rico. Todos bateram o Brasil com muita folga desde 2010.

Para 2013, 2014 e 2018 as projeções do Fundo indicam as seguintes taxas de expansão para esses países: Chile, 4,9%, 4,6% e 4,6%; Colômbia, 4,1%, 4,5% e 4,5%; Equador, 4,4%, 3,9% e 3,5%; Peru, 6,3%, 6,1% e 6%; México, 3,4%, 3,4% e 3,3%. Entre 2010 e 2012 a economia equatoriana acumulou expansão de 17,14%; a mexicana, de 13,67%; a brasileira, de apenas 11,40%. Em todos esses países a inflação foi menor que a brasileira e assim deverá continuar neste e no próximo ano.

Os economistas do FMI estimam para o Brasil inflação de 5,5% em 2013 e 4,5% em 2014. Para o Chile, a projeção é de 3% em cada um dos dois anos. Para a Colômbia, de 2,4% e 3%. Para o Peru, de 2,1% e 2%. Para o México, de 3,6% e 3,3%. 

A presidente Dilma Rousseff deveria desconhecer esses números quando falou sobre crescimento e inflação em Durban, na África do Sul. Naquele pronunciamento, ela rejeitou uma ação mais forte contra a alta de preços como se fosse incompatível com a expansão do PIB. 

Parece ter esquecido, ou talvez ignorasse, a experiência internacional. Inflação alta e resistente, como a brasileira, dificulta o planejamento empresarial e corrói o poder de compra dos consumidores. Tende a tornar-se, portanto, um obstáculo ao crescimento da economia.

Além disso, inflação mais elevada que a dos outros países desajusta o câmbio e afeta o poder de competição dos produtores nacionais. No entanto, empresários e ilustres economistas brasileiros muito raramente reclamam da inflação, embora esbravejem continuamente contra a valorização cambial. Devem ter esquecido tanto a experiência internacional quanto a nacional.

Durante muito tempo o Brasil se deu mal com o câmbio fixo. O câmbio flexível e ajustado periodicamente pela inflação, adotado em 1968, foi um avanço, mas muito imperfeito. Sem estabilidade monetária, o regime cambial tornou-se uma corrida permanente em busca de ajustes de curta duração. A inflação desarranjava o câmbio e em seguida a correção cambial desarrumava os preços. O sistema passou a funcionar como um cão correndo atrás do próprio rabo. Parece estranho, mas alguns economistas e industriais falam como se tivessem saudade desse tempo.

Os países com melhor desempenho têm combinado controle da inflação, contas públicas em condições razoáveis e integração nos mercados globais. O resto é teimosia, mera insistência em pajelanças bem conhecidas, testadas e desacreditadas.

Brasil exporta US$ 4,631 bi na 3ª semana de abril; manufaturado tem bom desempenho


Brasil exporta US$ 4,631 bi na 3ª semana de abril; manufaturado tem bom desempenho








 


Neste comparativo, houve queda nas exportações de produtos semimanufaturados (-10,8%), com retrações maiores para açúcar em bruto, celulose, ferro fundido e ouro em forma semimanufaturada.

Entre os básicos (-5,2%), minério de ferro, petróleo em bruto, carne bovina e suína, e milho em grão tiveram maior redução nos embarques.

Por outro lado cresceram as vendas de produtos manufaturados (1,5%), em razão de aviões, autopeças, motores e geradores, máquinas para terraplanagem, e polímeros plásticos.

As importações, no período, contabilizaram US$ 6,902 bilhões, com desempenho médio diário de US$ 1,380 bilhão.

Houve aumento de 61,1% sobre a média verificada até segunda semana de abril (US$ 857,1 milhões), explicada, principalmente, pelo crescimento nos gastos com combustíveis e lubrificantes, veículos automóveis e partes, e borracha e partes.

Para combustíveis e lubrificantes, houve aumento de 785,1% nas aquisições em comparação ao movimento das duas primeiras semanas de abril.

Esse crescimento foi consequência da normalização de registros no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), referentes às semanas anteriores de abril e a transações realizadas em 2012, devido a mudanças operacionais implementadas pela Instrução Normativa nº 1282/2012 da Receita Federal do Brasil.

Na terceira semana de abril, o saldo comercial ficou deficitário em US$ 2,271 bilhões, com desempenho médio diário negativo de US$ 454,2 milhões, e a corrente de comércio somou US$ 11,533 bilhões, com resultado médio por dia útil de US$ 2,306 bilhões.


Mês

Nos 15 dias úteis de abril (1° a 21), as exportações foram de US$ 14,140 bilhões, com média diária de US$ 942,7 milhões. Pela média, houve redução de 3,6%, em relação ao resultado de abril de 2012 (US$ 978,3 milhões).

Neste comparativo, houve recrudescimentos nos embarques de produtos manufaturados (-4,8%), por conta de aviões, óleos combustíveis, máquinas para terraplanagem, polímeros plásticos, óxidos e hidróxidos de alumínio, motores e geradores, e autopeças.

Também caíram as vendas de básicos (-3,5%), em razão de petróleo em bruto, trigo em grãos, carne suína, café em grão, fumo em folhas e minério de ferro. Nos semimanufaturados (-1,4%), a queda se explica pela retração nas vendas de semimanufaturados de ferro e aço, óleo de soja em bruto, ferro ligas, ferro fundido, e celulose.

Na comparação com o resultado diário do mês de março passado (US$ 966 milhões), as exportações caíram 2,4%.

Houve diminuição nas vendas produtos semimanufaturados (-15,3%) e manufaturados (-12,7%), enquanto cresceram as exportações de básicos (9,4%).
As aquisições no exterior, em abril, estão em US$ 15,473 bilhões, com média diária de US$ 1,031 bilhão.

O resultado está 10,4% acima da média de abril do ano passado (US$ 934,4 milhões), com crescimento, principalmente, nos gastos com adubos e fertilizantes (99%), plásticos e obras (24,3%), farmacêuticos (23,3%), borracha e obras (16,5%), e instrumentos de ótica e precisão (12,7%).

Sobre o resultado verificado em março passado (US$ 958 milhões), houve acréscimo de 7,7% nas importações, com destaques nos seguintes produtos: combustíveis e lubrificantes (40,1%), plásticos e obras (13%), farmacêuticos (12,3%) e veículos automóveis e partes (7%).

A balança registra saldo negativo no mês de US$ 1,333 bilhão (média diária negativa de US$ 88,9 milhões). A corrente de comércio, no acumulado mensal, está em US$ 29,613 bilhões, com desempenho médio diário de US$ 1,974 bilhão.

Ano

De janeiro à terceira semana de abril deste ano (75 dias úteis), as vendas ao exterior somaram US$ 64,976 bilhões (média diária de US$ 866,3 milhões).

Na comparação com a média diária do período correspondente de 2012 (US$ 888,2 milhões), as exportações decresceram 2,5%.

As importações foram de US$ 71,465 bilhões, com média diária de US$ 952,9 milhões. O valor está 10,9% acima da média registrada no período equivalente de 2012 (US$ 859,1 milhões).

No acumulado do ano, há déficit na balança comercial de US$ 6,489 bilhões, com o resultado médio diário negativo de US$ 86,5 milhões.

Nos dias correspondentes de 2012, houve superávit de US$ 2,243 bilhões, com média de US$ 29,1 milhões. A corrente de comércio totaliza, em 2013, US$ 136,441 bilhões, com média diária de US$ 1,819 bilhão.

O valor é 4,1% maior que a média aferida no período equivalente do ano passado (US$ 1,747 bilhão).



Presidente eleito do Paraguai é convidado para reunião do Mercosul


ASSUNÇÃO - Em uma sinalização de que o Paraguai poderia se reintegrar plenamente em breve ao Mercosul, o presidente José Pepe Mujica felicitou Horacio Cartes pela vitória nas eleições presidenciais de domingo, e o convidou a participar da próxima reunião do bloco, que acontecerá em junho em Montevidéu.

Karel Navarro/AP 
O presidente uruguaio, José Mujica, atual presidente do Mercosul
 
O líder uruguaio, atual presidente do bloco (o cargo é rotativo), disse ainda em comunicado que ficou satisfeito de que o pleito tenha sido concluído com "normalidade" e prometeu participar da cerimônia de posse de Cartes. O Paraguai foi suspenso da aliança comercial em junho de 2012, após o processo que levou ao impeachment do então presidente Fernando Lugo. A exigência para a reintegração do país era a realização de eleições democráticas e a expectativa era que o pleito normalizasse as relações diplomáticas com os vizinhos.

De acordo com o Itamaraty, o Brasil aguardará a chegada dos relatórios das missões de acompanhamento eleitoral para avaliar essa possibilidade. O partido de Fernando Lugo, candidato a senador, ficou em terceiro lugar nas eleições, com 9,59% dos votos.

Segundo um porta-voz da Frente Guasú, a legenda obterá 5 das 45 cadeiras do Senado, uma das quais Lugo ocupará. A vitória de Horacio Cartes leva de volta ao poder o Partido Colorado, que governou o país de 1948 a 2008, quando Lugo ganhou a Presidência. Cartes era favorito em quase todas as pesquisas e sua vitória foi reconhecida pelo opositor, Efraín Alegre, do Partido Liberal. Ao final da contagem, o conservador aparecia com 45,91% dos votos, contra 36,84% do adversário.

Valor Econômico

Governo promove igualdade entre homens e mulheres nas empresas exportadoras






O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) firmou um acordo de cooperação com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para elaborar políticas e ações de igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho das empresas exportadoras.

Na reunião em que o acordo foi celebrado, a secretária de Desenvolvimento da Produção do MDIC, Heloísa Menezes (foto), disse que “o governo deve aumentar as oportunidades em favor da autonomia econômica das mulheres”. Heloísa ressaltou ainda que “este é um primeiro e importante passo em direção a expandir a presença e a participação das mulheres nos diversos setores da nossa economia”.

A secretária de Avaliação e Autonomia Econômica das Mulheres da SPM, Tatau Godinho, afirmou que "o acordo abre um espaço estratégico para viabilizar a igualdade entre homens e mulheres”. “Com esta ação, estamos avançando na promoção da igualdade de gênero no mundo dos negócios”, complementou. 

A diretora de Planejamento e Gestão da Apex-Brasil, Regina Silvério, falou que a agência tem procurado disseminar o empreendedorismo feminino entre as empresas exportadoras. “Promover a igualdade de gênero não é apenas uma questão ética, mas trata-se também de um tema estratégico para o país poder se desenvolver com o bom aproveitamento da capacidade produtiva das mulheres”, considerou.   

Uma das iniciativas já definidas é a criação da categoria ‘promoção da igualdade de gênero nos negócios’ no Prêmio Apex-Brasil, que é concedido a cada dois anos para empresas que se destacam no desenvolvimento do comércio exterior brasileiro. Além disso, as três entidades buscarão estabelecer parcerias com o programa ‘Woman and Trade’ do International Trade Center (ITC). O objetivo das parcerias será fortalecer a competitividade das mulheres empreendedoras e promover à igualdade de gênero no setor.

Fonte: Mdic


Política que não deu certo nos anos 70 fracassou de novo

Míriam Leitão -
22.04.2013


A política de criar "campeões nacionais", que será abandonada pelo BNDES, é errada desde o início. A ideia era a seguinte: o Estado escolhia algumas empresas, que comprariam outras do setor, ficando fortes para ganhar o mercado internacional.

Essa visão paternalista e estatizante já foi experimentada pelo Brasil nos anos 70, no governo militar, mas a receita não deu certo. Muitas das empresas escolhidas à época morreram. As companhias devem jogar o jogo global, mas têm de mostrar na sua estratégia capacidade para isso, não o Estado dizer com qual empresa uma companhia tem de se "casar".

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, disse ao "Estadão" que essa política foi adotada nos segmentos de petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, suco de laranja e cimento. E seria abandonada porque esgotaram-se os setores.

É bom que o banco a abandone; mas não está fazendo isso porque faltou setor. Ela deu errado e foi criticada inclusive dentro do governo.

Quando o BNDES entrou no setor de leite, o banco deu com os "burros n'água". Um ano depois de a Lácteos Brasil (LBR) ter sido criada, quebrou. O banco entra de sócio e faz empréstimos.

No caso dos frigoríficos, eles já vinham se internacionalizando, o país já tinha se tornado o primeiro produtor mundial de carne bovina, quando o BNDES decidiu que teria de haver a concentração. Várias empresas saíram do mercado - a Bertin, por exemplo, por orientação do BNDES, saiu do setor de carne e foi fazer energia, mas errou completamente nessa área, com prejuízos para o país. Ganhou licitações, mas não tinha conhecimento do setor.

Essa é uma estratégia equivocada. Se o empresário é bom, ele conduzirá os seus negócios, o Estado não precisa dizer para ele o que fazer. A concentração de um determinado setor não faz uma empresa forte. É uma política equivocada. Se as empresas não são eficientes sozinhas, não é o "papai" Estado que vai garantir isso.

Ouçam aqui o comentário feito na CBN

Fiergs reuniu no Sul os economistas Armando Castelar e Samuel Pessôa para discutir como a indústria pode ser mais competitiva. O grau de intervenção do governo, concordam eles, será uma variável importante



Por Pedro Pereira
 
Depois de um 2012 em que a previsão de crescimento do PIB se reduzia a cada semana, 2013 começa um pouco mais animador. Mas para Armando Castelar (foto),  coordenador de economia aplicada  do Instituto Brasileiro  de  Economia  da  Fundação  Getúlio  Vargas  (Ibre-FGV),  mesmo   que a previsão de 3,5% de crescimento seja confirmada no final do ano, a indústria brasileira pode não conseguir surfar nessa onda por muito tempo. “A melhora da indústria pode ser difícil de sustentar se não forem  resolvidos os problemas de infraestrutura e mão-de-obra”, alerta.      

castelar-fiergs-350Segundo ele, o sucesso das concessões públicas em infra-estruturaserá fundamental para mover o investimento, mas para isso o governo precisará recuperar a confiança dos investidores.  “Há um cenário  de  melhora,  mas  os  riscos  são muito mais  evidentes   que   os   aspectos   positivos”, acredita.

Entre  os   maiores  entraves  para  a indústria do país, Castelar  destaca  a própria  infraestrutura e os  custos  ocultos  que  a precariedade logística  acarreta,  como   desgaste   de   caminhões  e  o tempo  parado  a  caminho  dos  portos.   Além, é  claro, da carga tributária – que deveria perder 10 pontos percentuais do peso que representa no PIB,  hoje  em 37%. E sem esquecer, ainda, o ambiente de negócios desfavorável, em função da burocracia .     Armando Castelar lamenta que a implementação de uma agenda positiva, uma solução possível,  seja um processo lento e gradual e, por isso, não esteja entre as prioridades das  autoridades,  simplesmente  porque  não  os   governos  não  podem  pode  colher frutos já no período eleitoral seguinte.

Sobre um possível – e necessário – aumento de competitividade, Castelar acredita em “uma caminhada para indústrias diferentes”.   Ou seja, capacitar o país para fabricar e exportar produtos de maior valor agregado, mesmo que isso exija mão de obra mais qualificada.

Ele  lembra  o exemplo da americana   Apple, que não  produz  seus  equipamentos, mas  exporta  software. “Aqui temos a Embraer, a Natura, entre outras. E o Brasil também exporta software.        Se você analisar o brasileiro por faixa de idade, verá que os mais novos têm mais capital humano.             Então [o aumento da competitividade]  não  é  inviável,  mas  é imprescindível atacar gargalos como os da infraestrutura”, reforça.

Política econômica


Samuel  Pessôa,   pesquisador-associado  do  Instituto Brasileiro  de Economia (Ibre-FGV), salienta o perfil desenvolvimentista da atual equipe econômica  do  governo federal  e  alerta para os riscos que esta postura pode representar.   Ele observa que o ciclo promovido pelo governo militar há cerca de três décadas parece ser reproduzido, hoje, por políticos da esquerda.

Pessôa cita o período “Malocci”, quando o Ministério da Fazenda foi ocupado, respectivamente, por Pedro Malan  e  Antônio  Palocci,  como um tempo marcado pela liberalização econômica, privatização de setores que não tinham motivos  para  serem  estatais,  câmbio  flutuante e lei das concessões, entre outras medidas. “Tudo isso gerou resultados e acelerou o crescimento no período Lula. A grande produtividade permitiu que a economia  crescesse  mesmo  que  seus  insumos  não  tivessem  crescido,  pois  conseguiu   extrair mais”, explica.

Mas,  a exemplo  do que  aconteceu com  o governo  de Geisel, que veio a reboque do desenvolvimentismo praticado por  Castelo Branco  e  Médici, a intervenção do governo hoje começa a crescer para compensar os  problemas  econômicos  causados  pela  mudança  de  postura  desde  a   entrada de Guido Mantega na Fazenda.

Armando Castelar e Samuel Pessôa palestraram no 4º Meeting de Economia, realizado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), nesta sexta-feira, em Porto Alegre.