segunda-feira, 22 de abril de 2013

Fiergs reuniu no Sul os economistas Armando Castelar e Samuel Pessôa para discutir como a indústria pode ser mais competitiva. O grau de intervenção do governo, concordam eles, será uma variável importante



Por Pedro Pereira
 
Depois de um 2012 em que a previsão de crescimento do PIB se reduzia a cada semana, 2013 começa um pouco mais animador. Mas para Armando Castelar (foto),  coordenador de economia aplicada  do Instituto Brasileiro  de  Economia  da  Fundação  Getúlio  Vargas  (Ibre-FGV),  mesmo   que a previsão de 3,5% de crescimento seja confirmada no final do ano, a indústria brasileira pode não conseguir surfar nessa onda por muito tempo. “A melhora da indústria pode ser difícil de sustentar se não forem  resolvidos os problemas de infraestrutura e mão-de-obra”, alerta.      

castelar-fiergs-350Segundo ele, o sucesso das concessões públicas em infra-estruturaserá fundamental para mover o investimento, mas para isso o governo precisará recuperar a confiança dos investidores.  “Há um cenário  de  melhora,  mas  os  riscos  são muito mais  evidentes   que   os   aspectos   positivos”, acredita.

Entre  os   maiores  entraves  para  a indústria do país, Castelar  destaca  a própria  infraestrutura e os  custos  ocultos  que  a precariedade logística  acarreta,  como   desgaste   de   caminhões  e  o tempo  parado  a  caminho  dos  portos.   Além, é  claro, da carga tributária – que deveria perder 10 pontos percentuais do peso que representa no PIB,  hoje  em 37%. E sem esquecer, ainda, o ambiente de negócios desfavorável, em função da burocracia .     Armando Castelar lamenta que a implementação de uma agenda positiva, uma solução possível,  seja um processo lento e gradual e, por isso, não esteja entre as prioridades das  autoridades,  simplesmente  porque  não  os   governos  não  podem  pode  colher frutos já no período eleitoral seguinte.

Sobre um possível – e necessário – aumento de competitividade, Castelar acredita em “uma caminhada para indústrias diferentes”.   Ou seja, capacitar o país para fabricar e exportar produtos de maior valor agregado, mesmo que isso exija mão de obra mais qualificada.

Ele  lembra  o exemplo da americana   Apple, que não  produz  seus  equipamentos, mas  exporta  software. “Aqui temos a Embraer, a Natura, entre outras. E o Brasil também exporta software.        Se você analisar o brasileiro por faixa de idade, verá que os mais novos têm mais capital humano.             Então [o aumento da competitividade]  não  é  inviável,  mas  é imprescindível atacar gargalos como os da infraestrutura”, reforça.

Política econômica


Samuel  Pessôa,   pesquisador-associado  do  Instituto Brasileiro  de Economia (Ibre-FGV), salienta o perfil desenvolvimentista da atual equipe econômica  do  governo federal  e  alerta para os riscos que esta postura pode representar.   Ele observa que o ciclo promovido pelo governo militar há cerca de três décadas parece ser reproduzido, hoje, por políticos da esquerda.

Pessôa cita o período “Malocci”, quando o Ministério da Fazenda foi ocupado, respectivamente, por Pedro Malan  e  Antônio  Palocci,  como um tempo marcado pela liberalização econômica, privatização de setores que não tinham motivos  para  serem  estatais,  câmbio  flutuante e lei das concessões, entre outras medidas. “Tudo isso gerou resultados e acelerou o crescimento no período Lula. A grande produtividade permitiu que a economia  crescesse  mesmo  que  seus  insumos  não  tivessem  crescido,  pois  conseguiu   extrair mais”, explica.

Mas,  a exemplo  do que  aconteceu com  o governo  de Geisel, que veio a reboque do desenvolvimentismo praticado por  Castelo Branco  e  Médici, a intervenção do governo hoje começa a crescer para compensar os  problemas  econômicos  causados  pela  mudança  de  postura  desde  a   entrada de Guido Mantega na Fazenda.

Armando Castelar e Samuel Pessôa palestraram no 4º Meeting de Economia, realizado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), nesta sexta-feira, em Porto Alegre.

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