A ClearSale provavelmente sabe muito sobre sobre você. Ela armazena
informações sobre os donos de 25 milhões de CPFs --praticamente todos os
que já compraram na web.
Computadores analisam os pedidos das lojas que ela atende. Se parecem
confiáveis, são aprovados automaticamente --um comprador rotineiro, por
exemplo. Se há suspeitas --a ClearSale sabe que o dono do cartão mora
longe do endereço de entrega, digamos--, ele vai à "análise manual".
Isso significa que alguém vai ligar para o suposto comprador.
A Folha visitou a central onde as ligações são feitas. Quem liga
são "analistas de risco", nome pomposo para ex-operadores de call-center
treinados para identificar fraudadores.
Um caso era o de um cliente que comprou uma cara passagem aérea em cima
da hora. Fraudadores fazem isso, pois dá pouco tempo para a verificação.
A operadora tinha nome, CPF, nascimento, endereço, oito telefones,
profissão, escolaridade, endereços anteriores, empresas de que participa
e nome dos pais, filhos e sócios, além de todas as suas compras
anteriores na internet. Ao ver que o cliente mora nos Jardins, ela
brinca: "É rico, deve ter sido ele mesmo".
Os dados têm várias origens. Líder de mercado e com 12 anos, a ClearSale
já acumulou um histórico enorme de cadastros. Além disso, compra dados.
Uma fornecedora é a ZipCode, que se apresenta como vendedora de
"mailing" e de "enriquecimento de dados" para "marketing direto,
crédito, cobrança e antifraude". Há várias outras, com informações de
milhões de brasileiros.
Para Chiamulera, isso não significa ataque à privacidade. "Hoje, não há
isso de meu CPF'. Os dados estão na web. Sem um banco de dados como o
nosso, não haveria e-commerce. Nunca vamos vender dados ou usá-los com
marketing."
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