Gosto não
se discute. Quando o assunto é o design do interior de um jato
executivo, as possibilidades hoje são infinitas para agradar aos mais
diversos estilos e exigências de um público que compra um avião para ser
usado como ferramenta de trabalho e produtividade ou simplesmente para
ter mais privacidade.
Na Embraer, fabricante que cresceu 15% em receita 2012, enquanto o
restante da indústria amargou uma perda de 2%, o cliente que optar pela
compra de um jato Lineage, o modelo mais caro da empresa, que custa US$
55 milhões, tem à sua disposição 700 opções de tecido, 400 de couro, 60
de carpete e quase 6 mil configurações diferentes para a cabine.
Detalhes como cores, conforto e decoração interna deixaram de ser
sinônimo de luxo, no sentido puro de opulência, e passaram a ter um peso
importante na hora da compra de uma aeronave executiva. É a busca do
chamado "luxo inteligente", um conceito que presta mais atenção aos
detalhes e às necessidades dos usuários, explica o vice-presidente de
Operações da Embraer Aviação Executiva, Marco Túlio Pellegrinni.
"O cliente não olha a máquina de ar condicionado do avião, mas repara
na qualidade do verniz do mobiliário, no tipo de tecido do assento e
nos sistemas de entretenimento disponíveis", destaca.
Foi para atender ao desejo de um dos seus clientes da China, por
exemplo, que a Embraer desenvolveu um carpete com detalhes em seda. Em
algumas situações, mesmo depois de ter participado da escolha de cada
item do interior da aeronave e visualizado o projeto digitalmente, o
cliente decide devolver o avião e arcar com os custos de uma pequena ou
grande mudança.
"Tivemos um cliente que devolveu o avião que acabara de receber e
pediu a troca do carpete por um novo tipo de piso em pedra de mármore,
que ele viu em outra aeronave estacionada no hangar de entrega", relata o
vice-presidente da Embraer. O avião em questão era um Legacy 650,
avaliado em US$ 30 milhões.
A experiência de voar os jatos antes de comprá-los também é uma
prática comum entre os endinheirados. "Num desses voos, o cliente levou a
família e alguns itens de bagagem, como a prancha de surf do filho e
sacolas de golfe, para ver se cabiam na aeronave", conta Pellegrinni.
Pellegrinni comenta que a equipe de engenheiros de designer de
interior de jatos executivos da Embraer já passou semanas tentando fazer
o ajuste de um tom de tinta verde até que ela atingisse o padrão de cor
escolhido pelo cliente.
O serviço de customização do interior da aeronave permite até a
produção de um carpete desenhado inteiro com o logotipo da empresa do
proprietário da aeronave, opção que, inclusive, já foi pedida por um dos
clientes da Embraer, lembra o executivo.
O conceito de luxo inteligente, de acordo com Pellegrinni, significa
ainda uma área interna aconchegante, com mesa de jantar e um sofá que se
transforma em cama, numa região completamente privada. "No caso do
Lineage, esse lugar lembra a suíte de 74 metros quadrados de um quarto
de hotel de luxo em Nova York." É o que a Embraer chama de "home away
from home" (casa longe de casa).
"A ideia é oferecer todas as facilidades de uma casa sem comprometer a
operação, os custos operacionais e a alta confiabilidade da aeronave",
comenta o executivo. O Lineage é o único em sua categoria hoje no mundo
que oferece como opção standard, uma cabine privativa com espaço para
cama de casal e banheiro com chuveiro.
A instalação de um centro de design em Melbourne, na Flórida, sul dos
Estados Unidos, e a expansão da fábrica de móveis de Gavião Peixoto são
exemplos da nova estratégia da Embraer para conquistar clientes de
jatos executivos, afirma Pellegrinni.
A empresa estima um crescimento entre 20% e 25% na receita da aviação
executiva em 2013. No ano passado, esse segmento gerou um faturamento
de nada menos do que US$ 1,3 bilhão. A Embraer já entregou mais de 600
jatos executivos em todo o mundo, sendo 80% deles nos últimos cinco
anos. O Phenom 300, para até 8 passageiros, foi o jato mais entregue no
mundo na sua categoria em 2012.
Quando decidiu entrar com força no mercado de aviação executiva, a
Embraer contratou a BMW Designworks para ajudar a desenvolver o interior
dos jatos Phenom 100 e Phenom 300. Dois anos depois, o Phenom 100 se
tornou o jato executivo mais entregue no mundo e hoje conta com um
número superior a 200 aeronaves em operação.
"A parceria com a BMW provocou uma mudança de paradigma na indústria
de aviação, ao trazer alguém de fora para fazer desenvolvimento do
interior de uma aeronave", lembra. Três anos depois, a francesa Dassault
seguiu o mesmo caminho", lembra Pellegrinni. E isso criou uma "escola".
A fábrica automóveis alemã Porsche, a exemplo da BMW, também decidiu
criar um estúdio para oferecer serviços de design de interiores de
aviões para os fabricantes de jatos.
Hoje, mais estruturada e amadurecida no segmento de aviação
executiva, a Embraer já caminha com as próprias pernas. Conta com uma
equipe de 25 engenheiros no seu novo centro de engenharia de interiores,
criado nos Estados Unidos há cerca de um ano.
"É uma competência tão essencial e estratégica para a empresa que não
podemos mais delegar essa atividade para terceiros", justifica. No
mercado de aviação executiva, segundo ele, a inovação tecnológica é que
faz a diferença e a Embraer, mais do que a BMW, conhece melhor o que os
clientes esperam porque vivencia essa operação no dia a dia do seu
trabalho.
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