No primeiro trimestre
deste ano o Brasil recebeu menos investimento direto estrangeiro do que
em igual período do ano passado. E os recursos externos que entraram no
país para projetos produtivos nos diferentes setores da economia
preferiram o segmento de serviços. De acordo com os dados do Banco
Central, o setor recebeu, somadas as duas modalidades - participação no
capital e investimento intercompanhias - de ingresso de recursos, 45% do
total, enquanto a indústria absorveu 35%, e a agricultura e o setor
extrativista, incluindo petróleo, ficaram com o restante.
No mesmo
período do ano passado, a indústria ficou com 46,4% do total, e
serviços, 29%. Os dados consideram o ingresso de recursos, sem descontar
as saídas.
A troca da indústria pelo setor de serviços, na visão de analistas, indica onde o setor externo está vendo maior rentabilidade.
O investimento ligado à participação no capital caiu 31% no primeiro trimestre, ao atingir US$ 8,7 bilhões. Depois de os estrangeiros investirem US$ 6,5 bilhões no país nos três primeiros meses de 2012, o total para a indústria neste ano encolheu para US$ 2,8 bilhões. O resultado se deve ao menor interesse pela área de insumos mais básicos da indústria.
Metalurgia, que havia recebido quase a metade do total no ano
passado, registrou 77% a menos de investimento do exterior. Recuos
significativos foram observados em produtos alimentícios (40,3%),
químicos (67%) e farmacêuticos (93%), sempre considerando participação
no capital.
O setor de serviços registrou aumento de peso em investimentos no
comércio e nas telecomunicações, conseguindo manter os US$ 4 bilhões do
ano passado. Nenhuma das duas áreas estava na lista de desoneração da
folha de pagamento para o setor anunciada pelo governo no início do mês.
Para Andrea Bastos Damico, economista do Bradesco, os segmentos de
serviços ligados às concessões podem ser promissores para o investimento
estrangeiro direto a partir de 2014, mas, neste ano, sua contribuição
será incipiente, devido aos atrasos nos processos de leilões.
A agricultura e o setor extrativista mineral receberam um pouco menos
de investimento (US$ 1,8 bilhão), mas, em função da queda total,
aumentaram sua participação para 20,5%. Petróleo e gás foram
responsáveis por 75% do investimento no setor.
Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, diz que a redução de investimento na indústria
ocorre principalmente em áreas onde a produção enfrenta substancial
competição externa e os produtos contêm menor valor agregado. "Aos olhos
do capital estrangeiro, a economia brasileira não foi muito atrativa
neste primeiro trimestre. O que se perdeu na indústria, se manteve em
serviços, o que é muito revelador para onde pode estar indo a economia,
já que esse tipo de investimento é de longo prazo e sempre olha a
situação futura esperada."
Os resultados do investimento intercompanhias diferem em relação à
participação da indústria, mas seguem com aumento de espaço por parte de
serviços. Os empréstimos totais de matrizes estrangeiras para filiais
no Brasil cresceram 22% no primeiro trimestre e somaram US$ 7,2 bilhões.
Apesar do incremento, as divisas enviadas às filiais ligadas à
agricultura e ao setor extrativista mineral caíram pela metade (US$ 1,2
bilhão). As remessas destinadas a empresas que atuam em serviços mais
que duplicaram, para US$ 3,3 bilhões. Só no comércio, o montante
triplicou, para US$ 901 milhões. Também em telecomunicações, muito em
função dos investimentos ligados à tecnologia 4G, o montante saltou de
US$ 18 milhões para US$ 703 milhões. Saúde teve progressão similar (de
US$ 3 milhões para US$ 648 milhões), sempre considerando o investimento
intercompanhias. Esse aumento tem a ver com a compra da Amil pelo grupo
United Health.
As indústrias estrangeiras já instaladas em território brasileiro
aumentaram em 5,2 pontos percentuais a participação no total de
investimentos, que somaram US$ 2,7 bilhões. Químicos, veículos e
celulose e papel mais que duplicaram o recebimento de investimentos.
Segundo Andrea, do Bradesco, o maior ingresso via empréstimos
intercompanhias no setor automotivo pode ser um primeiro indício de que o
novo regime do governo, o Inovar-Auto, está de fato surtindo efeito.
Ela nota que a participação de veículos nessa modalidade de investimento
foi de 1,6% na média dos últimos três anos e, neste primeiro trimestre,
saltou para 6,9%. "É preciso que essa participação elevada se mantenha
para confirmarmos essa hipótese", disse.
O investimento intercompanhias é mais volátil, pois tem um prazo
menor de maturação e pode ser retirado com maior facilidade pelo
investidor, de acordo com Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização
Econômica (Sobeet).
Para ele, o fato de esse tipo de investimento crescer e o de
participação no capital cair "não é um bom sinal". O aumento de espaço
de serviços com diminuição da indústria revela "que o país está deixando
cada vez mais de ter uma percepção positiva como plataforma de
exportação, para ser mais visto como um mercado de consumo de bens e
serviços", diz Lima.
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