Sob
um calor siderúrgico, centenas de operários venezuelanos trabalham
sobre e sob uma área de 140 hectares em Ciudad Piar, no estado Bolívar,
a cerca de 700 km a sudeste de Caracas.
Ao chegar ao terreno, apenas parte desses trabalhadores é visível.
Outra
está a até 7 metros abaixo do solo consolidando a planta da Empresa
Básica Socialista Siderúrgica José Inácio Abreu e Lima.
A
siderúrgica leva o nome do brasileiro que foi resgatado à história por
Hugo Chávez e que comandou o jornal e tropas do Exército de Simón
Bolívar no início do século 19.
Também
é brasileira a empresa encarregada do projeto, a Andrade Gutierrez
(AG), responsável pela engenharia, suprimento e construção da planta, além
de buscar o financiamento de US$ 860 milhões do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e grande parte da maquinaria necessária à obra orçada em U$ 3,8 bilhões.
A
aliança estratégica firmada entre Venezuela e Brasil nos governos
Chávez e Lula resultou em um incremento substancial da presença das companhias
brasileiras no país vizinho, cujo portfólio de obras é estimado em US$
20 bilhões, divididos entre Odebrecht, AG, Camargo Correia, Queiroz Galvão e Consilux.
Os
frutos da aliança foram colhidos em outros ramos da economia, já que o
comércio bilateral saltou de US$ 880 milhões em 2003 para cerca de US$ 6 bilhões em 2012.
Como
as importações brasileiras foram de apenas US$ 996 milhões no ano
passado, a Venezuela foi responsável pelo terceiro superávit da balança comercial brasileira, quase US$ 5 bilhões, só atrás da China e da Holanda (porta de entrada de toda a Europa).
“Viemos para ficar”, salienta João Martins Jr., CEO da Queiroz Galvão na Venezuela. A
empresa desenvolve desde junho de 2010 um projeto com foco no
desenvolvimento da soberania alimentar no Vale do Quibor, Estado de
Lara. Projeto da Queiroz Galvão no Vale do Quibor, no Estado de Lara,
busca a autossuficiência na produção de tomate, pimentão e cebola.
Espartano
da Fonseca, CEO em Caracas da Consilux, que desenvolve projeto de
habitação no país, aposta em uma melhora das relações comerciais com a eleição de Maduro.
Para
ele, o fato de o atual presidente interino ter sido chanceler por seis
anos do governo Chávez, mantendo contato estreito com experiências comerciais ao redor do mundo, deve beneficiar especialmente o modo de pensar do governo.
“A palavra final sempre foi de Chávez, e ele tinha capacidade de gerenciar. De uma forma ou de outra, todos os problemas acabavam chegando nele, e ele os resolvia”, afirma Fonseca.
De
acordo com o empresário curitibano, caso eleito, Maduro tem a
oportunidade de alterar a dinâmica de trabalho, como a de delegar
poderes.
“Ele tem a possibilidade de inaugurar uma nova forma de gestão com base nas experiências que conheceu”, opina.
Alberto
Moreira, presidente da AG na Venezuela, salienta que o momento é de
forte comoção pela morte de um líder, mas não de paralisação do país.
“E
a nova eleição também não vai mudar nada. Nós não temos uma ligação
política com nenhum lado. As coisas estão acontecendo normalmente na Venezuela”, destaca.
Moreira ressalta que os contratos foram firmados com um país, não com uma pessoa, não havendo razões para temor.
“Nós confiamos muito na Venezuela”, conclui. Com
a alta do preço do petróleo em 2008 e o apoio do governo brasileiro,
diversas empresas brasileiras se animaram a desenvolver projetos na Venezuela.
Muitas
companhias reclamam do atraso nos pagamentos do governo venezuelano,
cujas divisas dependem quase que exclusivamente do petróleo.
Reclamações
foram direcionadas ao planejamento das obras, por vezes o responsável
direto pela demora na transferência do dinheiro.
No entanto, para as empresas entrevistadas, a Venezuela permanece sendo uma “terra de oportunidades”.
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